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variedadeEu
ano2011
fonteScielo

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A necessidade de nos afirmarmos na investigação A necessidade de nos afirmarmos na investigação

Raquel Braga* *Directora da Revista Portuguesa de Clínica Geral

No Editorial anterior reflectíamos acerca da qualidade da investigação que publicamos na nossa Revista. Congratulamo-nos com o nível do que se vai fazendo em Portugal e orgulhamo-nos do rigor metodológico de alguns trabalhos de investigação efectuados a nível dos Cuidados de Saúde Primários (CSP). Sentimos que a Revista Portuguesa de Clínica Geral poderá ser um veículo e um incentivo à investigação e publicação.

Sabemos que, ao contrário do que se passa na formação pós-graduada em outras especialidades médicas, no Internato de Medicina Geral e Familiar (MGF), desde muito que zelamos por incluir no programa cursos obrigatórios de introdução às metodologias da investigação que desenvolvam a apetência, a motivação e as ferramentas básicas para investigar. Em escolas, cursos e congressos de MGF as temáticas da investigação estão sempre presentes e são muito procuradas, quer por internos, quer por especialistas.

Mas, de alguma forma, quando pretendemos ter uma visão de topo acerca do que se passa na investigação em CSP em Portugal, apercebemo-nos que falta algo que nos faça dar um salto qualitativo definitivo.

Terminado o congresso do European General Practice Research Network (EGPRN), que decorreu em Nice, França, de 19 a 22 de Maio, dada a relevância que este evento assume no panorama de investigação a nível europeu, importa comentar que muitos dos trabalhos que vimos ser apresentados não se encontram seguramente a um nível mais elevado do que os que produzimos por . A representação portuguesa fez-se respeitar e ouvir interpares. Suscitou interesse e admiração, sobretudo pelo rigor metodológico dos comentários efectuados a outros trabalhos, mas também pela robustez e valor dos trabalhos apresentados por Portugal. À nossa presença, no entanto, poderá ter faltado o brilho de uma maior dimensão e da internacionalização...

Em alguns países da Europa, sobretudo nos países do noroeste, as estruturas que sustentam a investigação e os grupos que a elaboram são diferentes dos nossos.

O trabalho é desenvolvidos em departamentos universitários, que não se restringem apenas ao ensino, mas também ao desenvolvimento de grandes projectos de investigação, obedecendo a programas e utilizando fundos específicos.1 Os nossos colegas que desenvolvem investigação têm, na sua maioria, tempo privilegiado e recursos para a concretizar.

A França, país anfitrião desta última Edição do EGPRN, é o exemplo de um país que iniciou a implementação da MGF mais tardiamente que nós,2 apresentando-se actualmente num nível de investigação mais ou menos semelhante ao nosso. No entanto, o peso da sua representação em número de trabalhos apresentados fez- nos a todos reflectir sobre o enorme avanço dado recentemente no caminho que estão a percorrer. Apesar das dificuldades relativas à entrada dos departamentos de MGF nas universidades, a sua disseminação se concretizou e consubstanciou com a graduação académica de muitos colegas nossos que são agora os bastiões do desenvolvimento no terreno da investigação em CSP.2 Em Portugal, é necessário que o internato de MGF procure pontes e parcerias com as universidades. Se em CSP um bom investigador não pode intervir distanciado da clínica, ao clínico não pode faltar o rigor académico da investigação. A nossa realidade, que mantém a carreira académica e carreira clínica em caminhos geralmente separados, não facilita, provavelmente, o desenvolvimento da investigação nos serviços de saúde e clínicos. Sem este desenvolvimento a nível da investigação diminui o factor de atracção dos estudantes e dos jovens licenciados em Medicina pela carreira de MGF.1 É preciso desenvolver uma agenda, que deve ultrapassar a adaptação ou tradução da Agenda Europeia de Investigação, que tem de ser inovadora e adaptada às particularidades da reforma dos CSP em curso no nosso país e ao momento de grandes transformações que vivemos. A investigação em CSP em Portugal tem de estar na vanguarda das inovações e na retaguarda do que de novo está a ser feito... A agenda tem de ser não cumprida mas estendida.3 Nos últimos dois anos muito se evoluiu em Portugal relativamente aos sistemas de informação e relativamente à possibilidade de extracção de dados. Sem dúvida que esse será um passo fundamental que nos poderá ajudar a obter resultados.

Esperemos haver quem saiba fazer boas e originais perguntas pertinentes, relevantes e com impacto na prática clínica e quem saiba analisar os resultados e discuti-los com elevação.

Construir competências e confiança, desenvolver parcerias, assegurar que a investigação se encontra perto da prática clínica, disseminar a investigação, investir em infra-estruturas, bem como construir elementos de sustentabilidade e de continuidade, são alguns pontos que podemos avaliar num sistema de saúde para objectivarmos a sua capacidade de desenvolver investigação.4 Para fazermos crescer a investigação em CSP em Portugal é preciso ver em quais destes factores é necessário intervir mais e melhor. É importante ser visionário e procurar a fórmula certa. É preciso pensar globalmente, em vez de nos dedicarmos apenas a desenvolver estudos locais, é necessário procurar e estabelecer as parcerias certas e encontrar os suportes financeiros e estruturais necessários. Estamos a um pequeno passo de saltar para o último patamar...

Seria, provavelmente, interessante avançarmos no campo da investigação qualitativa, na qual temos tão pouca tradição (mas que tanto se adequa à nossa especialidade).

É importante arriscar e não ter medo de ousar a caminho da afirmação. A Revista Portuguesa de Clínica Geral deverá ser um motor, um apoio, um estímulo e também um espelho do desenvolvimento dessa fórmula certa que nos permitirá crescer e afirmarmo-nos na investigação.


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