Os comportamentos sexuais dos universitários portugueses de ambos os sexos em
2010
Introdução
Os indivíduos sexuados alcançam a sua identidade e autonomia na adolescência1.
A adolescência é uma fase da vida em que o ser humano passa por profundas
transformações e vivencia novas experiências no que diz respeito à sexualidade.
Nesta fase é habitual acontecerem as primeiras relações amorosas, que apesar de
não serem sempre planeadas, muitas vezes terminam na primeira experiência
sexual2,3. Não é um processo harmonioso, pois a maturidade emocional nem sempre
acompanha a maturidade física, o que torna a adolescência uma etapa de extrema
vulnerabilidade a riscos ligados à atividade sexual, tais como a gravidez
indesejada, o aborto, o VIH/SIDA e outras infeções sexualmente transmissíveis
(IST), que podem comprometer o projeto de vida ou até mesmo a própria vida do
adolescente1,4.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, em termos mundiais, cerca de 15
milhões de adolescentes são mães anualmente5 e 21,6 milhões de abortos
ocorreram em 2008 em mulheres com idade entre os 15 e os 44 anos6. Em Portugal,
no ano de 2010, 4052 adolescentes entre os 13 e os 19 anos foram mães7 e no ano
de 2010, realizaram-se 19151 interrupções voluntárias da gravidez em mulheres
com idade entre os 15 e os 44 anos, mas a maioria ocorreu em jovens entre os 15
e os 29 anos (55%)8.
Segundo o relatório da UNAIDS9, 34 milhões de pessoas, em todo o mundo, vivem
com VIH/SIDA. Em 2010, foram infetadas mundialmente 2,7 milhões de pessoas e
42% dos novos casos de infeção pelo VIH ocorreram em jovens entre os 15 e os 24
anos9. Em Portugal, os dados de 2010 do Centro de Vigilância Epidemiológica das
Doenças Transmissíveis comprovaram a tendência dos últimos anos, isto é, do
aumento do número de heterossexuais infetados bem como dos indivíduos com
idades compreendidas entre os 20 e os 49 anos, o que significa que um número
significativo terá contraído a infeção ainda durante a adolescência ou início
da idade adulta10.
Assim, a população adolescente e os jovens adultos são considerados grupos de
relevância na prática de ações preventivas e em investigações no âmbito dos
comportamentos sexuais, identificando-se o uso inconsistente ou o não uso de
preservativos, a existência de parceiros sexuais ocasionais, bem como a
associação entre o consumo de álcool e/ou drogas e a atividade sexual como
fatores e comportamentos de risco a prevenir e a analisar11,12,13,14.
É de conhecimento público que o uso do preservativo é o único método que
permite uma dupla prevenção, tanto para as IST quanto para a gravidez
indesejada. No entanto, apesar do aumento da frequência no uso do preservativo
entre os jovens2,15, o uso inconsistente ainda é frequente, principalmente nas
relações eventuais e não planeadas11,12,13,14.
Porém, o uso do preservativo e de métodos contracetivos não está
necessariamente associado ao conhecimento. Um menor índice de uso de métodos
contracetivos não está relacionado diretamente com a falta de informação16,17.
A eficácia do uso do preservativo e de outros métodos contracetivos, para além
do conhecimento, está sujeito a outros fatores psicológicos fundamentais, tais
como a eficácia e intenção do jovem para usá-lo(s), a perceção que este tem da
atitude dos pares e a sua própria capacidade de assertividade17,18,19. E é
ainda importante averiguar a quem é que os jovens recorrem para ter informação
e acesso face aos métodos contracetivos, uma vez que estes podem representar
verdadeiros obstáculos que impedem o seu uso20.
Em Portugal, a prevalência de uso dos métodos contracetivos é alta, porém
concentrada no uso da pílula, utilizada por 85% das mulheres21. Entre os
adolescentes portugueses, os métodos mais utilizados são o preservativo
masculino e a pílula22. No mundo, as estatísticas sugerem que mais de 60% dos
jovens da Europa ocidental, central e de leste2 e dos Estados Unidos15 usam
preservativo. Segundo o estudo de Pirotta e Schor16, realizado a estudantes
universitários de São Paulo, os métodos mais utilizados são o preservativo
masculino e a pílula, relacionando-se o seu uso com o tipo de relacionamento
(esporádico ou namoro), em que o uso da pílula aumenta ou o uso do preservativo
é substituído nos jovens que referiam ter uma relação mais estável e que
designavam de namoro.
Optou-se por desenvolver um estudo nacional com uma amostra da população de
jovens adultos, pois por um lado estes encontram-se num período importante de
transição da vida, e por outro lado há necessidade de maior conhecimento
científico em relação aos comportamentos sexuais. De entre os jovens adultos,
considerou-se o subgrupo dos jovens que frequentam o ensino superior dada a
elevada percentagem dos mesmos (entre 30-35%, segundo o EACEA23) e por ser uma
amostra mais fácil de recolher de modo sistemático e controlado.
É crucial existirem investigações sobre o comportamento sexual dos
universitários para orientar o planeamento de ações na área da saúde e educação
sexual desses jovens.
Deste modo, é objetivo do presente estudo aprofundar o conhecimento da
sexualidade dos jovens universitários portugueses, nomeadamente: 1)
caracterizar a 1.º relação sexual, comportamentos relativos à contraceção
(informação, acesso e utilização) e comportamentos sexuais de risco; 2)
analisar diferenças entre géneros face às variáveis mencionadas; e 3) analisar
diferenças entre grupos de idade para a utilização de métodos contracetivos e
comportamentos sexuais de risco.
Método
Amostra
A amostra do estudo nacional HBSC/SSREU é constituída por 3278 estudantes
universitários portugueses, entre os 18 e os 35 anos, selecionados
aleatoriamente dos jovens que frequentavam o ensino superior português no ano
letivo 2009/2010. A amostra incluiu 30,3% do género masculino e 69,7% do género
feminino (distribuição esta que é aproximadamente a encontrada na população
universitária portuguesa24), com uma média de idades de 21 anos (DP=3,00). A
maioria dos participantes é de nacionalidade portuguesa (97,3%), de religião
católica (71,9%), solteira (95,5%) e refere ser heterossexual (96,4%).
Procedimento
O estudo nacional «Saúde sexual e reprodutiva dos estudantes universitários»
(HBSC/SSREU) foi feito pela primeira vez em 2010 ' é uma extensão do estudo
HBSC. O Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) é um estudo feito em
colaboração com a Organização Mundial de Saúde (www.hbsc.org) que pretende
estudar os comportamentos de saúde em adolescentes em idade escolar e está
inscrito numa rede internacional de investigação constituída por 43 países
europeus, entre os quais Portugal, através da equipa do Projeto Aventura
Social, da Faculdade de Motricidade Humana25.
De modo a obter uma amostra representativa da população que frequenta o ensino
superior em Portugal, efetuou-se uma seleção aleatória, estratificada pelas 5
regiões do país, das universidades e institutos politécnicos, quer do ensino
público quer do privado.
A técnica de recolha da amostra foi a «cluster sampling», considerando-se a
turma o «cluster» ou unidade de análise. Assim, recolheram-se questionários em
124 turmas num total de 3278 alunos inscritos no ano letivo de 2009/2010. A
administração dos questionários realizou-se no contexto da sala de aula e o
preenchimento dos questionários foi supervisionado pelo investigador
responsável pelo estudo. Antes do preenchimento, os estudantes foram informados
que a resposta ao questionário era voluntária, confidencial e anónima. O tempo
de preenchimento do questionário situou-se entre os 60 e os 90min.
Esta pesquisa nacional foi realizada em 2010 para o Ministério da Saúde e para
a Coordenação Nacional para a Infeção do VIH/SIDA. Teve a aprovação de uma
Comissão Científica, da Comissão Nacional de Ética e da Comissão Nacional de
Proteção de Dados e seguiu à risca todas as recomendações de Helsínquia para a
implementação da investigação.
Medidas
O questionário internacional do HBSC/OMS é desenvolvido numa lógica de
cooperação pelos investigadores dos países que integram a rede. O questionário
«Saúde sexual e reprodutiva dos estudantes universitários» (HBSC/SSREU)26
utilizado neste estudo resultou do protocolo internacional no que diz respeito
às questões aplicáveis a nível demográfico, bem como nas relacionadas com o
comportamento sexual, atitudes e conhecimentos face ao VIH/SIDA25. Para além
dessas, acrescentaram-se outras, nomeadamente no que diz respeito aos
conhecimentos e atitudes face à contraceção, às atitudes sexuais, às
competências relativas ao preservativo e aos comportamentos de risco, e
acrescentaram-se, também, questões sobre educação sexual.
Do questionário, foram selecionadas para este estudo específico as seguintes
questões: 1) ter relações sexuais, 2) primeira relação sexual (idade,
utilização, escolha de método contracetivo usado pelo próprio ou pelo parceiro
e motivos para ter a primeira relação sexual), 3) comportamentos face à
contraceção e preservativo (fontes de informação, acesso, utilização de métodos
contracetivos e frequência do uso do preservativo) e 4) comportamentos sexuais
de risco (ter relações sexuais com outra pessoa durante o relacionamento
amoroso, ter parceiros sexuais ocasionais, número de parceiros sexuais
ocasionais no último ano, ter relações sexuais associadas ao álcool e às
drogas, ter uma IST, ter efetuado uma IVG e ter engravidado sem desejar).
Análise de dados
As análises e procedimentos estatísticos foram efetuados através do programa
Statistical Package for Social Sciences (SPSS, versão 19.0 para Windows).
Utilizou-se uma estatística descritiva (com apresentação de frequências e
percentagens para descrever as diferentes variáveis nominais) e, para analisar
as diferenças entre géneros e grupos de idade, utilizou-se o teste do qui-
quadrado - χ2 (com análise de residuais ajustados para localização dos valores
significativos). O nível de significância estatística foi determinado para p <
0,05.
Resultados
Primeira relação sexual ' Diferenças entre géneros
Verificou-se que do total da amostra, 83,3% (n=2730) dos jovens universitários
de ambos os sexos mencionaram já ter tido relações sexuais. Os homens (88,6%)
relataram mais frequentemente do que as mulheres (81%) que tiveram relações
sexuais (χ2(1)=29,15, p=0,000). Dos jovens universitários de ambos os sexos que
mencionaram ter tido relações sexuais, 79,2% referiram que tiveram a sua
primeira relação sexual aos 16 ou mais tarde e 90,3% usou contraceção na
primeira relação sexual, designadamente o preservativo (86,8%).
Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os géneros
para a idade da primeira relação sexual (χ2(3)=60,05; p=0,000) e para a
utilização e escolha do método contracetivo (preservativo e pílula) (χ2
(1)=59,10, p=0,000; χ2(1)=18,56; p=0,000; χ2(1)=91,19; p=0,000, respetivamente)
na primeira relação sexual.
Os resultados mostraram que apesar de a maioria quer de homens (72%) quer de
mulheres (82,5%), ter tido a primeira relação sexual aos 16 aos ou mais tarde,
os homens mais frequentemente mencionaram ter iniciado mais cedo (aos 11 anos
ou menos, entre os 12 e os 13 anos, e entre os 14 e 15 anos).
Quanto à utilização ou não de método contracetivo na primeira relação sexual
(usado pelo próprio ou pelo parceiro), homens (84%) e mulheres (93,3%) usaram-
no, mas os homens (16%) mais frequentemente que as mulheres (6,7%) referiram
não usar.
Relativamente à escolha do método contracetivo (usado pelo próprio ou pelo
parceiro) na primeira relação sexual, as mulheres (88,7%, 26,2%) mais
frequentemente que os homens (82,7%, 10,2%) mencionaram o preservativo e a
pílula.
Quando inquiridos sobre as razões para a primeira relação sexual, os jovens de
ambos os sexos que referiram já ter tido relações sexuais afirmaram
maioritariamente que foi uma decisão por consentimento mútuo (74%), em especial
as mulheres ([77,8%], [χ2(1)=42,08, p=0,000]). Destacou-se, ainda, estarem
muito apaixonado/as (30,7%), novamente em particular as mulheres ([35,4%], [χ2
(1)=57,51, p=0,000]). Estas mencionam ainda, e mais frequentemente que os
homens, que tiveram a primeira relação sexual porque se sentiram pressionadas (
[3,2%], [χ2(1)=7,85, p=0,005]). Os homens mais frequentemente mencionaram ter
tido a primeira relação sexual por acaso (14,7%) e tomarem eles próprios a
iniciativa (10,1%) (χ2(1)=70,72, p=0,000; χ2(1)=70,73, p=0,000, respetivamente)
(tabela_1).
Comportamentos face à contraceção e preservativo: informação, acesso e
utilização pelo próprio ou pelo parceiro ' Diferenças entre géneros
Quando inquiridos acerca das diferentes fontes onde obtiveram informação sobre
os métodos contracetivos que costumam utilizar, a maioria apontou os técnicos
de saúde (58,9%), folhetos/livros (52,9%) e amigos (52,2%). Foram encontradas
diferenças estatisticamente significativas entre os géneros para as seguintes
fontes de informação: técnicos de saúde (χ2(1)=281,76; p=0,000), comunicação
social (mass media) (χ2(1)=37,61; p=0,000), mãe (χ2(1)=13,05; p=0,000),
Internet (χ2(1)=13,21; p=0,000), professores (χ2(1)=16,64; p=0,000), pai (χ2
(1)=134,45; p=0,000) e associações (χ2(1)=5,28; p=0,022).
As mulheres mais frequentemente referiram utilizar os técnicos de saúde (69,8%)
e a mãe (42,6%) como fontes de informação, ao passo que os homens mais
frequentemente referiram utilizar a comunicação social (mass media) (50,1%), a
Internet (43,1%), os professores (42,4%), o pai (31,6%) e as associações
(7,7%). Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre os
géneros para os amigos nem para os folhetos/livros.
Relativamente à questão sobre o acesso à contraceção e ao preservativo, a
maioria dos jovens inquiridos de ambos os sexos adquiriu os métodos
contracetivos que utiliza na farmácia (70,1%). Em relação a este local, não se
constataram diferenças estatisticamente significativas entre os géneros. No
entanto, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os
géneros para os seguintes locais: supermercado (χ2(1)=76,38; p=0,000),
planeamento familiar (χ2(1)=111,09; p=0,000), centro de saúde (χ2(1)=15,73;
p=0,000) e médico de família (χ2(1)=39,97; p=0,000).
Os homens adquiriram os métodos contracetivos mais frequentemente no
supermercado (38,8%) e as mulheres no planeamento familiar (29,3%), centro de
saúde (21%) e médico de família (11,9%). Estas diferenças relativamente ao
local de acesso dos métodos contracetivos possivelmente devem-se ao tipo de
método usado pelos jovens ser diferente, ou seja, os preservativos podem
comprar-se em supermercados, ao contrário da pílula.
Quanto aos métodos contracetivos usados habitualmente (pelo próprio ou pelo
parceiro)ª, a maioria dos jovens de ambos os sexos mencionou a pílula (70,4%) e
o preservativo (69%). Foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas entre os géneros em relação à pílula e ao preservativo (χ2
(1)=63,60, p=0,000; χ2 (1)=4,41, p=0,036, respetivamente).
As mulheres (75,2%) referiram usar a pílula com mais frequência do que os
homens (60,3%). Enquanto os homens mencionaram mais frequentemente o uso do
preservativo (71,7%) do que as mulheres (67,7%).
Na questão efetuada para avaliar a frequência do uso do preservativo durante as
relações sexuais nos últimos 12 meses, a maioria dos jovens de ambos os sexos
mencionou não usar sempre (67,4%) e não se verificaram diferenças
estatisticamente significativas entre os géneros (Tabela_2).
Utilização de métodos contracetivos ' Diferenças entre grupos de idade
A análise das diferenças entre os 3 grupos de idade e a utilização de métodos
contracetivos revelou diferenças estatisticamente significativas para a pílula
e o preservativo (χ2(1)=26.604, p =0,000; χ2(1)=81.356, p=0,000,
respetivamente).
O grupo de jovens com idades entre os 20 e os 24 anos (74,1%) referiu usar a
pílula com mais frequência do que o grupo de jovens mais novos (18 e 19 anos) e
mais velhos (entre os 25 e os 35 anos). E o grupo de jovens mais novos (18 e 19
anos) mencionou mais frequentemente o uso do preservativo (78,9%) do que os
outros 2 grupos de jovens mais velhos.
Na questão efetuada para avaliar a frequência do uso do preservativo durante as
relações sexuais nos últimos 12 meses, foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas nos 3 grupos de idade (χ2(1)=71.499, p=0,000).
Os jovens mais novos mencionaram com mais frequência usar sempre (43,4%) e os
outros 2 grupos de jovens mais velhos referiram mais frequentemente não usar
sempre (70 e 81,1%, respetivamente) (Tabela_3).
Comportamentos sexuais de risco ' Diferenças entre géneros e grupos de idade
Considerando os potenciais comportamentos sexuais de risco, os resultados
mostraram existir uma minoria de jovens em risco que afirmaram ter tido
relações sexuais com outra pessoa durante o relacionamento amoroso (7,7%),
parceiros sexuais ocasionais (33%), relações sexuais associadas ao álcool
(35,5%) e às drogas (5,7%), uma infeção sexualmente transmissível (3,3%), uma
gravidez indesejada (4,2%) e ter efetuado uma interrupção voluntária da
gravidez (3,2%).
Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os géneros
para ter tido relações sexuais com outra pessoa durante o relacionamento
amoroso (χ2(1)=136,73; p=0,000), parceiros sexuais ocasionais (χ2(1)=333,11;
p=0,000), número de parceiros sexuais ocasionais no último ano (χ2(1)=63,60;
p=0,000) e ter relações sexuais associadas ao álcool e às drogas (χ2(1)=166,52;
p=0,000; χ2(1)=57,22; p=0,000, respetivamente).
Consideradas as diferenças entre os géneros, são os homens quem mais referiram
ter tido relações sexuais com outra pessoa durante o relacionamento amoroso
(16,6%), parceiros sexuais ocasionais (57,4%), mais de 3 parceiros sexuais
ocasionais no último ano (33,3%) e relações sexuais associadas ao álcool e às
drogas (53,1 e 10,7%, respetivamente) (Tabela_4).
A análise das diferenças entre os 3 grupos de idade e os comportamentos sexuais
de risco revelou diferenças estatisticamente significativas para ter tido
relações sexuais com outra pessoa durante o relacionamento amoroso (χ2
(2)=14.615; p=0,001), parceiros sexuais ocasionais (χ2(2)=24.258; p=0,000), ter
relações sexuais associadas ao álcool e às drogas (χ2(2)=29.239; p=0,000; χ2
(2)=22.420; p=0,000, respetivamente), ter tido uma infeção sexualmente
transmissível (χ2(2)=23.861; p=0,000), ter efetuado uma interrupção voluntária
da gravidez (χ2(2)=25.379; p=0,000) e ter engravidado sem desejar (χ2
(2)=69.514; p=0,000).
Verificou-se, ainda, que o grupo de jovens mais velhos (dos 25 aos 35 anos)
mais frequentemente mencionou ter tido relações sexuais com outra pessoa
durante o relacionamento amoroso (12,1%), parceiros sexuais ocasionais (41,2%),
relações sexuais associadas ao álcool e às drogas (42,7 e 11,3%,
respetivamente), uma infeção sexualmente transmissível (5,7%), uma gravidez não
desejada (13,1%) e ter efetuado uma interrupção voluntária da gravidez (7,4%).
O grupo de jovens mais novos mencionou ter menos comportamentos de risco
(Tabela_5).Discussão
O presente estudo teve como objetivo central conhecer a sexualidade dos jovens
estudantes universitários portugueses de ambos os sexos, designadamente
caracterizar a primeira relação sexual, comportamentos relativos à contraceção
e ao preservativo (informação, acesso e utilização) e comportamentos sexuais de
risco, analisar diferenças entre géneros face às variáveis mencionadas e
analisar diferenças entre grupos de idade para a utilização de métodos
contracetivos e comportamentos sexuais de risco.
Os resultados permitem-nos afirmar que a maioria dos jovens universitários de
ambos os sexos mencionou já ter tido relações sexuais, teve a sua primeira
relação sexual aos 16 anos ou mais tarde e utilizou como primeira contraceção o
preservativo. Estes resultados confirmam as tendências encontradas noutros
estudos2,15,22.
A análise comparativa entre géneros demonstrou existirem diferenças
estatisticamente significativas em relação à idade, ao uso de métodos
contracetivos, à escolha do método contracetivo e aos motivos para ter tido a
primeira relação sexual. Verificou-se que mais frequentemente os homens tiveram
a primeira relação sexual mais cedo que as mulheres e não utilizaram qualquer
método contracetivo, o que sugere um elevado risco para contrair uma IST ou uma
gravidez não desejada.
Relativamente à escolha do método contracetivo pelo parceiro ou pelo próprio na
primeira relação sexual, as mulheres mais frequentemente que os homens
referiram o preservativo e a pílula. Em relação à pílula, como é a mulher que
engravida e é esta que a toma, aceita-se que seja ela a demonstrar maior
preocupação e responsabilidade contracetiva. Quanto ao preservativo, apesar de
ser o homem a usá-lo, os estudos apontam para a dificuldade dos homens
recusarem ter relações sexuais sem o preservativo e as mulheres mencionarem
melhores competências no sentido de convencerem o parceiro a usar o
preservativo ou na ausência de preservativo a recusarem ter relações sexuais,
pelo que as mulheres têm demonstrado mais competências também face à prevenção
das IST27.
Quanto às razões para a primeira relação sexual, os jovens adultos de ambos os
sexos, em especial as mulheres, afirmaram maioritariamente que foi uma decisão
por consentimento mútuo. No entanto, há uma minoria de jovens a referir que a
tiveram por acaso (mais frequentemente os homens) e que foram pressionados
(mais frequentemente as mulheres), denotando-se uma possível influência do
duplo padrão, isto é, que os homens mais frequentemente procurem ter relações
sexuais, independentemente de terem uma relação afetiva enquanto se espera que
as mulheres mais frequentemente não queiram envolver-se em relações sexuais
pois priorizam o envolvimento emocional28. Daqui decorre a necessidade de se
realizarem intervenções específicas, adaptadas aos géneros, no âmbito das
competências pessoais e sociais, nomeadamente no que diz respeito ao
planeamento do futuro, à importância das questões psicoafetivas e à eficácia e
assertividade na recusa das relações sexuais indesejadas. Estes dados
corroboram os encontrados noutros estudos18,19.
No que se refere aos comportamentos face à contraceção e ao preservativo, a
maioria aponta os técnicos de saúde, folhetos/livros e amigos como principais
fontes onde obtiveram informação sobre os métodos contracetivos que costumam
utilizar. Mas, as mulheres mais frequentemente que os homens recorreram aos
técnicos de saúde, sugerindo, mais uma vez, que as mulheres têm maior
preocupação contracetiva, profilática e maior familiaridade com os
profissionais e serviços de saúde26,27.
Relativamente às questões sobre o acesso e uso habitual dos métodos
contracetivos, a maioria dos jovens inquiridos mencionou adquirir os métodos
contracetivos que utiliza na farmácia e, habitualmente, usar a pílula e o
preservativo. Estes resultados confirmam as tendências encontradas noutros
estudos2,15,16,22. Porém, a maioria dos estudantes universitários portugueses
de ambos os sexos mencionou usar de forma inconsistente o preservativo. Estes
dados corroboram os encontrados noutros estudos14.
A análise comparativa entre os 3 grupos de idade revelou diferenças
estatisticamente significativas para a utilização de métodos contracetivos e a
frequência do uso do preservativo durante as relações sexuais nos últimos 12
meses. O grupo de jovens com idades entre os 20 e os 24 anos refere usar a
pílula com mais frequência do que o grupo de jovens mais novos (18 e 19 anos) e
mais velhos (entre os 25 e os 35 anos). E o grupo de jovens mais novos (18 e 19
anos) menciona mais frequentemente o uso do preservativo e o uso consistente do
preservativo nos últimos 12 meses do que os outros 2 grupos, o que sugere que
os jovens no início das relações amorosas recorrem ao preservativo e, à medida
que a duração do relacionamento aumenta, existe uma mudança na escolha do
método contracetivo. As investigações apontam para o facto de que quando os
jovens estão envolvidos em relacionamentos com uma duração mais longa, isso
pode constituir uma barreira à promoção de comportamentos sexuais saudáveis e
seguros uma vez que, nesta área, parece existir uma associação entre o
envolvimento afetivo e a desvalorização dos comportamentos de prevenção face à
doença, talvez porque acreditem que ao solicitarem a um parceiro de longa data
a utilização do preservativo, poderá gerar-se um sentimento de desconfiança em
relação à fidelidade do casal16.
Para além disso, acresce que a fase de jovem adulto caracteriza-se por um
estabelecimento estável da identidade pessoal e sexual, uma certa independência
dos pais e marca o início da fundação de uma escala de valores ou um de código
ético próprio desenvolvido através do contexto sociocultural em que esse jovem
cresceu.
Relativamente aos comportamentos sexuais de risco, observou-se que uma minoria
dos participantes mencionou ter relações sexuais com outra pessoa durante o
relacionamento amoroso, parceiros sexuais ocasionais, relações sexuais sob o
efeito do álcool ou drogas, uma infeção sexualmente transmissível, uma gravidez
indesejada e ter efetuado uma interrupção voluntária da gravidez.
A comparação entre os géneros e os seus comportamentos sexuais atuais revelou
diferenças estatisticamente significativas, em que os homens apresentaram mais
comportamentos de risco, pois mais frequentemente mencionam ter relações
sexuais com outra pessoa durante o relacionamento amoroso, parceiros sexuais
ocasionais, mais de 3 parceiros sexuais ocasionais no último ano e relações
sexuais sob o efeito do álcool ou drogas. Estes resultados estão de acordo com
a literatura11,12,13.
Consideradas as diferenças entre os grupos de idade, são os jovens do grupo de
idades mais velho (25 aos 35 anos) que mencionam ter mais comportamentos
sexuais de risco, nomeadamente ter relações sexuais com outra pessoa durante o
relacionamento amoroso, parceiros sexuais ocasionais, relações sexuais sob o
efeito do álcool ou drogas, uma infeção sexualmente transmissível, uma gravidez
não desejada e ter efetuado uma interrupção voluntária da gravidez. Por sua
vez, o grupo de jovens mais novos mencionou ter menos comportamentos de risco.
Face a estes resultados, observa-se que temos uma minoria de jovens em risco e
isso sugere que os comportamentos sexuais saudáveis não são consistentes ou são
abandonados ao longo do tempo. Depreende-se também que os jovens adultos
portugueses continuam a constituir, na atualidade, um grupo prioritário a nível
de prevenção em termos de saúde sexual e reprodutiva.
Considerações finais
Os resultados refletem a necessidade de implementar políticas educacionais no
âmbito da sexualidade, visando a orientação dos jovens quanto às práticas
sexuais saudáveis com o objetivo de reduzir a incidência de IST e gravidezes
não desejadas nesta população. É imprescindível tornar os jovens mais
responsáveis e mais atentos quanto aos cuidados com a sua saúde sexual, bem
como a dos seus parceiros.
Dada a grande diversidade dos métodos contracetivos disponíveis, os jovens
precisam de ser esclarecidos sobre as vantagens e desvantagens de todos os
métodos de forma a poderem escolher o método que melhor se adequa a si. E
porque nem todos os jovens universitários vão aos centros de saúde, é
imperativo criar um espaço na universidade para essa troca de informações da
população estudantil em geral. O desenvolvimento de estratégias mais voltadas
para esta população, como por exemplo, o uso da Internet, a existência de
gabinetes próprios para esclarecimento e as campanhas de sensibilização (quer
no campus universitário quer nas residências) devem ser sistemáticas e
contínuas, pois podem ser recursos valiosos.
É necessário desenvolver a responsabilidade individual e grupal para que sejam
possíveis mudanças de comportamento, baseando-se em aceitação e não em
obrigação. É importante a educação sexual sistematizada, que desmistifica as
crenças negativas e associa o uso dos métodos contracetivos ao prazer
resultante da segurança que eles proporcionam. As pessoas precisam de ser
sensibilizadas quanto aos riscos reais que elas correm, para que ocorram
mudanças de comportamentos e atitudes.
Espera-se que esta investigação possa ter contribuído para a compreensão da
sexualidade dos jovens estudantes universitários portugueses e, sobretudo, para
a necessidade de sensibilizar a comunidade no geral, para a importância da
promoção da educação para a saúde e sexualidade.