Dados Objectivos Sobre a Produção Científica do Hospital de S.João/Faculdade de
Medicina no Intervalo 1997-2010
COMENTÁRIO
Dados Objectivos Sobre a Produção Científica do Hospital de S.João/Faculdade de
Medicina no Intervalo 1997-2010
Serafim Guimarães1, Susana Leitão(Apoio logístico)
1Professor Catedrático Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade do
Porto
Correspondência
Correspondendo ao pedido do Presidente do Conselho de Administração do Hospital
de S. João, Prof. António Ferreira, aceitei organizar um Observatório
destinado a inventariar a produção científica dessa unidade hospitalar, através
do eco que as publicações feitas originaram no mundo científico, e referenciar
os agentes responsáveis por essa produção. Contudo, a íntima unidade orgânica e
funcional que o Hospital de S. João constitui com a Faculdade de Medicina do
Porto, tornava impraticável essa avaliação. Não era só porque havia elementos
de cada uma das duas instituições que dão o braço para executar tarefas comuns,
mas era a coincidência das duas qualidades ' hospitalar e universitária -nas
mesmas pessoas. Em seu lugar, surgiu, assim, uma análise da produção do
conjunto Hospital/Faculdade que, aos olhos de muita gente e aos meus,
constituiu, desde sempre, uma entidade indissociavelmente unitária.
Este estudo não visa fazer propaganda da ciência. Faz-se hoje, a meu ver,
excessiva propaganda da ciência e a ciência não existe para isso. Que se
respeite, que se valorize, que se apoie, que o público a reconheça e que os
ministros a considerem é justo e conveniente, mas sem que os cientistas entrem,
abertamente, nesse jogo.
À ciência baste-lhe dominar a vida moderna. Ninguém duvida hoje que o futuro
dos homens, pelo menos no que diz respeito ao seu bem-estar material, depende
muito dos cientistas. E isso chega. Não são precisos gritos nem foguetes. Não
contribui para a sua elevada dignidade ver nos meios de comunicação social a
ciência a competir com os detergentes para lavar roupa. Como diz F. Hoveyda, o
prestígio da ciência é incontestável e torna-se evidente até na linguagem de
toda a gente que, sem dar por ela, o vai confirmando. Expressões como: miopia
intelectual, auscultar a opinião pública, fazer bombardeamentos cirúrgicos,
estar no mesmo comprimento de onda, encontrar um denominador comum o que é
senão a demonstração da influência dominadora da ciência.
Mas não gostar de ver cientistas em bicos de pés não é o mesmo que defender que
se esconda a ciência, que se omitam os seus êxitos ou se calem os seus
insucessos. É preciso, é útil, é serio que se dê conta, de forma objectiva e
rigorosa, daquilo que ela nos vai dando e que se olhe com atenção para os
números que a revelam, porque eles reflectem o potencial científico de um País
que é, hoje, justamente considerado o motor mais credível do seu
desenvolvimento e ainda porque, com a sua clareza, além de não mentirem, esses
números são uma base segura para estabelecer comparações que devem ser feitas e
consideradas, se não se quiser ser acusado de praticar injustiças ou de pactuar
com elas, de exercer favoritismos, de ser agente de pecados de que nem sempre e
fácil lavar as mãos.
As publicações que resultam do trabalho científico e que o revelam constituíram
sempre uma base fundamental, insubstituível para a avaliação do mérito dos seus
autores.2
Quando há cerca de 50 anos iniciei a minha carreira académica, a grande maioria
das publicações que serviam para fazer a avaliação de méritos científicos e
para classificar candidatos era feita em revistas nacionais. Ser autor de um
trabalho publicado numa revista internacional era uma coisa rara que
distinguia! Com o alargamento do número de cultores dessa actividade e o
incremento da consciencialização do significado da investigação ocorrido no
nosso País, na década de setenta do século passado, cresceu o número de autores
portugueses a publicarem, regularmente, em revistas internacionais. E, como
consequência natural desta tendência e à medida que ela se foi generalizando, o
padrão do êxito passou a ser o número dos trabalhos publicados em revistas
arbitradas que compunham os curricula. Mas este critério, que ainda conta para
alguns dos seus utilizadores, já não é muito convincente, porque há muita gente
atenta que, com razão, olha mais para o índice de impacto das revistas em que
as publicações são feitas, do que para o número total de páginas escritas.
Porém, o índice de impacto de uma revista, sendo já um indicador de qualidade
anunciador de um sucesso potencial, fica, ainda aquém de definir o justo mérito
de cada um dos trabalhos que a integram, porque só revela uma média geral
construída a partir de um somatório, mas diz pouco quanto ao valor de cada uma
das publicações que contribuíram para essa média. Esse sucesso individual só
pode ser avaliado pelo consumo que, a comunidade fizer de cada um desses
trabalhos, e esse consumo só pode ser medido pelo número dos consumidores,
explicitado no número de citações que esses trabalhos vierem a obter. Foi,
portanto, o número de citações ' último elo de uma cadeia que vai do produtor
ao utilizador -o critério que adoptamos para observar o trabalho produzido
pela unidade Hospital de S. João/Faculdade de Medicina do Porto.3
No fim deste primeiro exercício que, seguramente, contém falhas por defeito,
não podemos deixar de nos impressionar com a realidade revelada pelo estudo. No
último ano analisado, 2010, o número total de citações feitas dos trabalhos
científicos publicados por autores do Hospital de S. João/ Faculdade de
Medicina do Porto foi de 5084 o que significa que de 1,7 em 1,7 horas alguém,
no Mundo, cita um trabalho saído desta Instituição Portuguesa. A que distância
nos encontramos dos míseros 55 trabalhos anuais produzidos por todas as
instituições do País (dois e meio por mês!) do meu primeiro olhar sobre este
mundo!
Talvez alguém possa pensar que esta inventariação significa um trabalho
semiinútil. Admito que haja quem assim pense. A esses lembro que é um trabalho
que se adequa perfeitamente à semi-inutilidade de um jubilado.
Tabela_1
Correspondência:
Serafim Guimarães Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Al. Prof.
Hernâni Monteiro 4200-319 Porto. Email: sguimara@med.up.pt
Notas:
2
Sempre que há autores portugueses em publicações oriundas de centros de outros
países e em que os autores estrangeiros predominam, foi considerado autor
principal o autor português no caso de ele ser único, ou aquele que é
academicamente mais representativo, no caso de haver mais do que um. Nas
publicações em que os autores são todos portugueses, considerámos autor
principal o que possui grau académico mais elevado. Para evitar repetição na
contagem das publicações, o autor principal é apresentado em negrito e só esse
conta para o cômputo geral.
3
Os dados aqui apresentados e que pecarão sempre por defeito, foram obtidos a
partir do Web of knowledge do ISI. Mais recentemente, a Europa criou o seu
próprio centro (Scopus) que cobre mais jornais do que o Web of knowledge de
Philadelphia. Por isso, os números obtidos a partir desta nova fonte não
coincidem com os doWeb. Se houver tempo e paciência continuaremos esta tarefa e
passaremos a confrontar os dados fornecidos pelos dois centros.