Editorial
Editorial
Ângela Gaspar
Editor da RPIA
Caros Colegas,
O actual número da Revista Portuguesa de Imunoalergologia(RPIA) começa com um
artigo original sobre um tema de grande importância e que tem sido pouco
estudado, a problemática da prescrição off-label na patologia alergológica em
idade pré-escolar, ao qual foi atribuído o prémio SPAIC / Bial-Aristegui 2012.
Os autores foram rever e caracterizar a prescrição de fármacos para asma,
rinite alérgica e eczema atópico num total de 500 crianças em idade pré-
escolar, observadas num ambulatório diferenciado de Imunoalergologia. A
prescrição off-label foi frequente, ocorrendo em cerca de um terço dos casos,
sendo particularmente mais elevada em crianças com menos de 2 anos. Isto deve-
se ao facto de dados sobre segurança e efi cácia dos fármacos nesta idade serem
escassos, por falta de ensaios clínicos, sendo que a maioria dos fármacos
disponíveis no mercado continua a não ser testada especifi camente em crianças,
particularmente nos grupos etários mais jovens.
O segundo artigo original é um estudo latino-americano que avalia a associação
entre o ganho de peso e a prevalência e gravidade de sibilância e asma no
primeiro ano de vida, ao qual foi atribuído o prémio da Sociedade Luso-
Brasileira de Alergia e Imunologia Clínica (SLBAIC) 2012 (ex-aequo). Foram
analisadas as respostas do questionário EISL (Estudio Internacional de
Sibilancias en Lactantes) de 9159 pais residentes em cinco cidades brasileiras,
São Paulo, Recife, Cuiabá, Curitiba e Belém. A maioria dos lactentes apresentou
ganho de peso superior ao esperado durante o primeiro ano de vida. O ganho de
peso acelerado e excessivo foram associados a formas mais graves de sibilância;
o ganho de peso excessivo foi associado ao diagnóstico médico de asma. O
aumento da obesidade infantil evidencia a necessidade da implementação de
medidas de prevenção e orientação nutricional para esta faixa etária. A
identificação de um factor de risco evitável para a asma e para a sibilância
grave pode ser particularmente importante em lactentes de alto risco, nos quais
pouco se pode actuar de forma preventiva, uma vez que os principais factores
envolvidos são genéticos ou de difícil intervenção, como as infecções virais.
O terceiro artigo original, com importantes implicações para os doentes
alérgicos a pólenes, é um estudo que caracteriza a variação intradiária das
concentrações do pólen de gramíneas na atmosfera de Portugal Continental,
incluindo os dados obtidos ao longo de sete anos em cinco estações de
monitorização da Rede Portuguesa de Aerobiologia: Porto, Coimbra, Lisboa, Évora
e Portimão. Os autores demonstram que o risco de exposição varia ao longo do
dia, e entre as diferentes regiões. Durante a Primavera, muito embora o pólen
esteja presente na atmosfera durante 24 horas em todas as localidades, de uma
forma geral as concentrações mais baixas registaram-se entre as 22 e as 6
horas, e as mais elevadas entre as 7 e as 21 horas, com dois picos de
concentrações máximas, um de manhã / início da tarde e outro no final da tarde
/ início da noite. É importante, não só para os profissionais de saúde, como
para os indivíduos sensibilizados ao pólen, conhecer a sua distribuição
intradiária, de modo a adequar de forma mais eficaz medidas de evicção e de
intervenção terapêutica.
O quarto artigo original é um estudo comparativo de métodos de rastreio de
atopia em doentes com rinite, avaliando o desempenho do ImmunoCAP® Rapid em
comparação com a determinação do Phadiatop® inalante, relativamente ao gold
standard, os testes cutâneos por picada. O ImmunoCAP® Rapid é um dispositivo
que permite determinar qualitativamente a presença de anticorpos IgE
específicos no sangue, a partir de uma pequena amostra de sangue capilar, com
resultados imediatos, ao fim de 20 minutos. Os autores utilizaram, em 40
doentes com diagnóstico de rinite alérgica, o dispositivo para avaliação de
adultos, que testa a sensibilização a dez aeroalergénios comuns. Atendendo à
sensibilidade e valor preditivo negativo obtidos, os autores concluem que o
ImmunoCAP® Rapid poderá ser considerado como método para rastreio de atopia em
doentes com rinite, permitindo que o médico proponha de imediato medidas de
evicção alergénica, com planos dirigidos a alergénios específicos; no entanto,
na análise do desempenho por aeroalergénio, comparativamente aos testes
cutâneos, não identificou sensibilização a todos os aeroalergénios relevantes
numa elevada percentagem de doentes.
O caso clínico deste número é de uma criança com asma alérgica e eczema atópico
graves, na qual a utilização do omalizumab, como terapêutica adicional, foi
eficaz, permitindo a suspensão dos corticosteróides orais e o controlo da
patologia alérgica respiratória e cutânea.
Gostaríamos ainda de contar com a vossa atenção para a rubrica dos Artigos
comentados e para a rubrica das Notícias, com destaque para a participação de
colegas portugueses no congresso anual da Associação Brasileira de Alergia e
Imunopatologia (ASBAI) / XV Congresso Luso-Brasileiro de Alergia e Imunologia
Clínica, que decorreu de 10 a 13 de Novembro de 2012, em Guarujá, no Brasil.
Para todos os sócios da SPAIC, no presente número da RPIA, procedemos à
divulgação dos prémios anuais da SPAIC, incluindo o prémio da SLBAIC, que este
ano tem como finalidade estimular a pesquisa e difusão de conhecimentos
específicos sobre o tema Anafilaxia.
Sendo este o primeiro número de 2013 da RPIA, em nome de todo o Corpo Editorial
da RPIA, aproveito para desejar a todos um excelente ano em termos
profissionais e científicos, bem como uma leitura profícua dos artigos
publicados.
Esperando contar para breve com a vossa contribuição para a revista que é de
todos nós,
Ângela Gaspar