Publish or Perish
EDITORIAL
Publish or Perish
Rui Alves
Editor-in-Chief
Writing is thinking. To write well is to think clearly. That´s why it´s so
hard.
' DAVID MCCULLOUGH
A frase lapidar que intitula este editorial, inúmeras vezes utilizada em
reflexões, foi alvo de um curioso comentário publicado em 19961 na revista The
Scientist pelo Professor Eugene Garfield ' seu Presidente, Editor-fundador, e
também fundador do Institute for Scientific Information (ISI). Eugene Garfield
foi pioneiro no campo da análise de citações e responsável por muitos
instrumentos inovadores na área da bibliografia, incluindo o CurrentContents, e
o ScienceCitation Indexque tornou possível calcular o fator de impacto das
revistas, bem como outras bases de citação que hoje constituem a ferramenta de
pesquisa online chamada Web of Knowledge.
A frase Publish or Perish embora utilizada num contexto não académico parece
ter sido primordialmente citada pela primeira vez em 19322 e depressa se tornou
uma reconhecida, e até severa advertência adoptada pelo meio académico. Na sua
essência pretende obviamente focar que o trabalho intelectual deve ter sempre
por objectivo final a publicação. Esta verdadeira pressão, quase obsessiva,
sobre quem estuda e trabalha, desde há muito que é difundida nas escolas
médicas dos EUA, mas não só, e reflete a ideia absolutamente vital de
competir publicando. Diríamos que esta competição significa em síntese,
trabalhar para conquistar notoriedade, assegurar um bom emprego, e se possível
contribuir em alguma coisa para a evolução da ciência, em suma, fazer
curriculume progredir na carreira. Os cépticos desta visão, que os há e muitos,
questionam a bondade deste frenesim e apontam o risco da valorização da
quantidade em prejuízo do conteúdo poder conduzir à produção científica de má e
até subvertida qualidade.
Entre nós o Portuguese Journal of Nephrology and Hypertension nasceu com um
propósito fundamental do seu fundador ' o de servir. Servir os autores,
sobretudo os mais jovens, ensinando-os a dar os primeiros passos na elaboração
de um manuscrito científico e terem a oportunidade de ver publicitado o seu
trabalho; servir os leitores e dar-lhes a conhecer as experiências dos seus
pares; depois congregar massa crítica e dinamizar o trabalho e a investigação
procurando projetar a nefrologia nacional em torno de um ideal e símbolo comuns
' a revista. Mais tarde, a conversão em língua inglesa procurou sonhar mais
alto e ultrapassar fronteiras.
Passaram vinte e sete anos e o progresso da investigação e produção científica
internacional é surpreendente.
A este facto não é alheio a capacidade financeira dos países que têm um rumo
determinado no domínio da investigação onde são alocadas verbas vultuosas,
dinamizando assim a produção científica.
Por seu lado o mundo editorial é uma máquina recheada de extraordinária
complexidade, e em Nefrologia são várias as revistas científicas que graças ao
seu prestígio, condição principal que motiva a submissão de um manuscrito,
recebem mensalmente centenas de artigos para publicação, apresentando por
consequência taxas de aceitação entre os 5 e os 10%. Este prestígio depende em
muito do famoso fator de impacto, que reflete a média das citações de artigos
científicos contidos numa revista. Este indicador tornou-se assim numa
característica muito importante e extraordinariamente apelativa para os
autores, não significando todavia que publicar um artigo numa revista de maior
impacto implique, necessariamente, um maior número de citações do artigo.
Como é evidente falamos de revistas indexadas nas grandes plataformas
internacionais que exigem critérios apertados no rigor e metodologia da
publicação. Para além da incontornável qualidade científica, também nós sabemos
que o cumprimento por parte dos autores dos critérios exigidos na construção e
submissão de um manuscrito, a avaliação cuidadosa, criteriosa e pedagógica dos
revisores, a par do cumprimento dos prazos no processo de publicação, são
pedras basilares de uma boa publicação científica. A este propósito e com a
devida distância, o trabalho que temos procurado desenvolver no PJNH, com vista
a uma maior expressão, tem tido sempre esses objetivos. É certo que gostaríamos
que nos fossem remetidos um maior número de manuscritos, mas nem por isso tem
sido descuidada a qualidade na grande medida à qualidade dos nossos revisores.
Ao longo destes dois últimos anos, e já com o objectivo da indexação, o número
de artigos publicados aumentou e criámos novas secções temáticas como a
Nephropathology Quiz, Top-article-a comment e já no presente número a
Focus on. Conseguimos também a importante indexação na ScieloCitation Index
(Web of Knowledge), foi criada uma plataforma eletrónica para submissão dos
manuscritos, e continuaremos a trabalhar até final do nosso mandato com o mesmo
empenho e entusiasmo na senda dos desafios a que nos propusemos quando
assumimos estas funções. Todavia, neste virar de ano a comunidade nefrológica
portuguesa tem de se questionar sobre o que pretende da nossa revista no futuro
próximo. Atentos às dificuldades financeiras do nosso País, com impacto direto
e indirecto muito negativo na investigação e produção científicas; a
desmotivação e falta de perspectivas para um grande número de profissionais,
confinados à procura de um emprego e sem alento para a escrita científica; num
mundo de grandes e complexas exigências na edição de uma revista que pertence a
uma comunidade médica de pequena dimensão, com limitações financeiras, e que
luta por obter uma maior expressão internacional que funcione como motivador à
publicação. Precisa-se com urgência que reflictamos e nos questionemos.
À semelhança do ano anterior não posso terminar estas palavras sem dirigir o
meu muito obrigado por toda a colaboração, empenho e disponibilidade que me tem
sido prestada pelas Publicações Ciência e Vida na pessoa da sua Diretora, Drª
Sofia Carrondo e à Drª Lila Rebelo, revisora linguística, cujo trabalho e
dedicação têm sido inexcedíveis. A todo o corpo editorial da revista, aos
nossos revisores cuja função altamente meritória tem tornado a revista uma
realidade, e em particular a todos os autores que nos escolhem para publicar o
seu trabalho, estendo também as minhas saudações e agradecimentos.
Votos de Bom trabalho e um Bom Ano 2015!