Health-Led Interventions in the Early Years to Enhance Infant and Maternal
Mental Health: A Review of Reviews
COMENTÁRIOS
O artigo procede a uma revisão das intervenções que a investigação reconhece
como eficazes no apoio aos pais e à relação pais-criança no período pós-natal,
período considerado determinante para a saúde física e mental da criança. Por
sua vez esta está dependente do estabelecimento de uma relação de boa qualidade
entre o bebé e os cuidadores.
São já reconhecidos e comprovados os efeitos nocivos da exposição ao stress nos
primeiros anos de vida sobre o eixo hipotalâmico-pituitária-adrenal, sistema
regulador das hormonas de stress em desenvolvimento, afectando a arquitectura e
química cerebral, com a possibilidade de manifestação de problemas de
aprendizagem e de comportamento de longa duração.
Os problemas de saúde mental maternos ' como a depressão pós-parto ' são um
factor que pode afectar de modo adverso a relação com o bebé, sendo fundamental
o seu reconhecimento e tratamento. Embora ainda não seja possível prevenir a
depressão pós-parto, podem ser eficazes no tratamento, várias formas de
psicoterapia bem como visitas domiciliárias para ouvir as mães. Também estará
recomendado o dar oportunidade à mãe para falar da sua experiência com o parto
' sobretudo se foi de cesariana ou se o bebé esteve em unidade de cuidados
especiais, usando apenas técnicas de escuta. A detecção da violência doméstica
e o consumo de álcool e drogas é também fundamental.
Relativamente a problemas precoces, verificou-se que a orientação antecipatória
' que consiste em aconselhar preventivamente ' e o dar instruções escritas,
podem ser eficazes em promover melhores padrões de sono no bebé, reduzindo o
stress e aumentando a auto-confiança dos pais nos primeiros meses de vida. A
relação entre bebé e cuidador também beneficia com o incentivo da proximidade,
tal como é obtida no contacto pele-a-pele ou nos transportadores de bebés,
recomendando-se o método mãe-canguru. Também foram estudadas e confirmadas as
vantagens de informar os pais acerca das competências sensoriais e perceptivas
do bebé, por exemplo, através do uso da escala de Brazelton. A utilização da
massagem (o cuidador passa a mão suavemente no bebé fazendo movimentos de
rotação e às vezes com óleos) pode melhorar a interacção mãe-criança, o sono e
relaxamento, reduzir o choro, e tem um impacto positivo nas hormonas de
controlo do stress.
Os serviços deveriam também ser capazes de identificar as famílias mais
complexas e articular-se com os serviços de saúde mental. A grande aposta para
diminuir e/ou prevenir os problemas de desenvolvimento e de saúde mental deve
ser feita então nos primeiros anos de vida.
Entretanto, verificamos que, crianças que cresceram em ambientes de risco, com
progenitores com doença psiquiátrica, pobreza e exclusão social, entre outros,
são frequentemente acometidas de problemas emocionais e de comportamento, com
uma evolução crónica, que os recursos colocados à sua disposição,
frequentemente no período escolar, atenuam mas não resolvem ' educação especial
e apoios pedagógicos, acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico, apoio
familiar, intervenção de comissões de protecção e outras entidades que intervêm
nas crianças e suas famílias, por vezes em paralelo e com fraca interligação.
Entre nós(1), as dificuldades sociais e financeiras, as doenças psiquiátricas e
o abuso de substâncias, com particular destaque para o consumo de álcool, são
os principais factores de perturbação da vida familiar, com o uso de práticas
educativas inadequadas, que propiciam as situações de negligência e abuso
emocional e físico.
Estes problemas podem ser observados por todos os profissionais de saúde que
contactam com crianças e as práticas educativas e os estilos parentais
inadequados podem ser reconhecidos por inúmeros detalhes ' um discurso
frequentemente negativo e desvalorizante acerca das qualidades da criança, um
tom afectivo repetidamente frio e/ou ríspido, uma postura que ignora os sinais
de comunicação ou responde de forma pouco apropriada, uma interacção marcada
por uma insatisfação e tensão permanentes.
As intervenções na pediatria não são insignificantes: os técnicos podem
constituir um modelo junto dos pais de práticas educativas mais positivas
quando se dirigem à criança num tom de voz calmo mas firme quando há
necessidade de controlar o seu comportamento; quando valorizam os seus esforços
e as suas atitudes apropriadas, como cumprimentar, cooperar na consulta,
permanecer sentado, etc. Não desperdiçando oportunidades para alertar os pais
para a necessidade do estabelecer de consequências, não agressivas ou
desproporcionadas, para os comportamentos inadequados. Quando reconhecem
problemas familiares, e incentivam os pais a procurar ajuda: económica, junto
das estruturas de apoio social, tratamento psiquiátrico, tratamento para a
dependência do álcool, ou até orientação para programas que ajudem os pais a
desenvolver as suas competências parentais. Seremos mais úteis às crianças se
adoptarmos uma atitude mais interventiva, envolvendo‑nos na resolução de
problemas com os quais as famílias se confrontam.
Já são reconhecidos os factores de protecção(2) para um desenvolvimento
saudável, alguns dos quais estão ao alcance dos profissionais de saúde para a
sua promoção:
' Um estilo autoritativo parental, combinado com uma relação calorosa e
afectuosa, construída precocemente entre a criança e o cuidador.
' Envolvimento parental na aprendizagem.
' Comportamentos de protecção da saúde como cessar de fumar durante a gravidez.
' Amamentação.
' Recursos psicológicos, incluindo auto‑estima.