Clube Português do Pâncreas - 31 anos de actividade
Clube Português do Pâncreas ' 31 anos de actividade
Maria Teresa Antunes
Presidente do Clube Português do Pâncreas; E-mail:
teresa.antunes@cppancreas.com
O Clube Portugês do Pâncreas (CPP) é uma Associação de médicos interessados na
patologia pancreática. Fundado há 31 anos (1979), tem-se mantido em actividade,
sobretudo pela vontade dos seus membros em promover e difundir o avanço do
conhecimento nesta área.
Vem de longe a curiosidade por este órgão. A primeira observação do pâncreas
foi provavelmente feita em animais, havendo uma referência no Talmude da
Babilónia ao dedo do fígado. No século III A.C., Herophilus, Erasistratos e
Eudemus, naturais de Alexandria, fazem as primeiras descrições anatómicas do
órgão, de que temos memória. E descreviam-no como um órgão estranho, sem
cartilagem ou osso, pelo que foi designado por Ruphus de Efeso (100 A.C.) por
pâncreas (do Grego pan: todo + kreas: carne). Já no século XVI André Vesalius
refere-se ao pâncreas no 5º livro da sua obra (De humani corporis fabrica) e
descreve-o como um órgão glandular que cresce no omentum e continua protege
o estômago actuando como um colchão onde este descansa.
Desde então, passo a passo, o conhecimento foi avançando e a pancreatologia
tem-se mantido em permanente crescimento. É já no século XX que se assiste à
diferenciação da função endócrina e exócrina e que, em 1902, William Bayliss e
Ernest Starling demonstram que a secreção pancreática depende sobretudo da
acção de um mediador químico, o que os leva a introduzir o termo hormona e a
nomear a Secretina.
A investigação básica e clínica têm sido a fonte que constantemente enriquece
este conhecimento, alimentando a nossa visão sobre a patologia pancreática e
sua terapêutica.
No entanto, o pâncreas continua a ser considerado, em alguns aspectos, um órgão
escondido. As doenças pancreáticas são frequentemente difíceis de diagnosticar
ou tratar e o resultado das terapêuticas que adoptamos é por vezes
decepcionante.
A mortalidade da pancreatite aguda ainda é elevada, o diagnóstico da
pancreatite crónica, nas fases precoces constitui ainda um desafio e o
carcinoma do pâncreas mantem, na maioria dos casos, um comportamento biológico
agressivo e incontrolável.
Estas dificuldades foram o incentivo para a formação das várias Associações
interessadas nesta Patologia que se foram desenvolvendo em todo o mundo. Em
1979 nasceu o Clube Português do Pâncreas, tendo como Presidente o Professor
Orlando Bordalo. A capacidade dinamizadora do seu fundador foi determinante
para o crescimento do Clube, para o relacionamento com os parceiros de outras
latitudes, tendo tido um papel fundamental na fundação da
InternationalAssociation of Pancreatology, entidade que agrega hoje as mais
significativas Associações para o estudo do Pâncreas e difunde regularmente
grande parte da produção científica nesta área através da revista
Pancreatology.
O carácter multidisciplinar da patologia pancreática levou à convergência de
especialistas de diferentes áreas no CPP, o que desde logo se tornou uma mais
valia. O CPP tem por objectivo fomentar o conhecimento do pâncreas, normal e
patológico, exócrino e endócrino, encorajando a investigação básica e clínica.
É nesta linha e com estes objectivos que se foi mantendo a actividade do Clube.
O apoio e actualização dos médicos que diariamente estão em contacto com a
população nas suas funções de Médico de Família, foi sempre uma preocupação do
CPP. Nesse sentido esforçamo-nos por realizar, com alguma regularidade,
reuniões em diferentes zonas do país, orientadas para a revisão de grandes
temas e discutindo aspectos clínicos do dia-a dia. A contribuição para a
formação dos internos tambem está presente nos nossos objectivos. A realização
de Reuniões e Cursos em que se abordam quer temas fundamentais para a
consolidação dos conhecimentos bem como outros que, pela sua actualidade e
controvérsia merecem atenção, tem sido uma das actividades preferenciais do
Clube. Assim nos propomos continuar.
Nesse sentido é com o maior prazer que podemos anunciar, desde já, a criação do
Prémio Clube Português do Pâncreas a atribuir durante a Semana de
Gastrenterologia, já em 2011, à melhor comunicação apresentada nesta área.
Em 2005, decorreu em Lisboa a 4ª Reunião das Sociedades de Pancreatologia dos
Países Mediterrânicos, com organização do CPP. A Epidemiologia da Pancreatite
Aguda nos países da área mediterrânica foi um dos temas aborda dos. Na referida
reunião foram apresentados os resultados de um estudo retrospectivo,
multicêntrico, elaborado sob a égide do CPP efectuado com o objectivo de
avaliar uma grande amostra de doentes internados em hospitais portugueses com o
diagnóstico de Pancreatite Aguda. Foram avaliados 1547 doentes, internados em
13 hospitais (Continente e Açores) durante o biénio 2003-2004. Os resultados
obtidos não apresentaram grandes diferenças em relação aos reportados na mesma
reunião por representantes de outros países da área mediterrânica. No entanto,
a análise dos resultados enfatizou a importância da standardização de
procedimentos na prevenção e prática clínica nas diferentes zonas do país.
Temos em preparação um novo estudo multicêntrico cujo objectivo é avaliar a
realidade da Pancreatite Crónica em Portugal.
Para além das actividades científicas, não podemos deixar de referir um outro
aspecto dos nossos objectivos. A divulgação da patologia pancreáticas junto da
população, tornou-se uma prioridade. Levar ao grande público alguns aspectos
destas doenças, identificar factores de risco e alertar para alguma
sintomatologia, pensamos ser um contributo para a prevenção e diagnóstico mais
precoce.
Tudo isto não faria sentido sem os nossos doentes. É sobretudo para eles que
existimos. Para que possam ter acesso aos melhores procedimentos, à terapêutica
mais precisa e actualizada usufruindo assim dos respectivos benefícios.
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