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EuPTCVHe0874-02832013000200005

EuPTCVHe0874-02832013000200005

variedadeEu
ano2013
fonteScielo

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Desmame precoce: aspetos da realidade de trabalhadoras informais

Introdução O leite materno previne contra doenças, processos infeciosos e evita morte prematura. Os benefícios da amamentação se estendem ao longo da vida evitando riscos e doenças que venha aparecer mais tarde como diabetes, obesidade e outras doenças crônicas (Marques et al., 2010).

Nos primeiros seis meses de vida, o leite materno é naturalmente adequado para atender às necessidades biológicas do crescimento e desenvolvimento do ser humano, pois este leite proporciona efeito protetor imunológico, principalmente contra infeções em lactentes (Barbosa et al., 2007).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam aleitamento materno exclusivo por seis meses e complementado até aos dois anos ou mais. Não vantagens em se iniciar os alimentos complementares antes dos seis meses, podendo, inclusive, haver prejuízos para a saúde da criança, pois a introdução precoce de outros alimentos está associada a prejuízos nutricionais.

Segundo Souza e Rodrigues (2010), as mulheres inseridas no mercado de trabalho dividem suas tarefas entre o trabalho doméstico e o trabalho pago, pois com a maternidade passam a exercer um novo papel na sociedade, o de mãe. A maioria das mães não trabalha fora do lar, portanto esse motivo não as impede desse procedimento. as mulheres que trabalham fora e não têm outro meio de sobrevivência para o sustento do bebê necessitam de condições favoráveis à manutenção do aleitamento no horário e local de trabalho para que as dificuldades, mesmo com o amplo conhecimento dos benefícios do leite materno, não levem ao desmame precoce.

Pesquisas realizadas por Faleiros, Trezza e Caradina (2006), alertam sobre a importância da carga horária de trabalho da mulher como influência para o desmame precoce se excedente a 20 horas semanais. Nesta mesma linha de raciocínio, os autores referem que a maioria das mulheres não trabalha fora, portanto não constitui esse evento o motivo maior do desmame precoce, mas por outro lado alguns autores concluem que o retorno ao trabalho não é empecilho se houver condições favoráveis para a manutenção do aleitamento exclusivo. A falta de condições e a falta de conhecimentos sobre a amamentação aumenta ainda mais o índice do desmame precoce.

Em 1943, a Consolidação das Leis do Trabalhistas (CLT), no artigo 396, concede à mulher, durante a jornada de trabalho, o direito a dois descansos especiais, de meia hora cada um, para amamentar o próprio filho até que este complete seis meses de idade. Este período de seis meses poderá ser dilatado, a critério do médico, dependendo das condições de saúde da criança (Souza e Rodrigues, 2010).

Torna-se preocupante observar que grande parte das instituições empregatícias não executa as obrigações, mesmo existindo a lei que dispõe direitos à mulher trabalhadora para aleitar seu filho por pelo menos seis meses de vida. Estudo mostra que instituições de médio e grande porte executam parcialmente as leis de proteção à maternidade. Porém a CLT não inclui as mulheres trabalhadoras informais que não contribuem com a previdência social, deixando-as sem respaldo sob os direitos à amamentação, cabendo ao empregador a opção sobre essa concessão ao direito (Silva e Davim, 2012).

Frente ao exposto, emergiram as questões que subsidiaram o estudo: Qual o entendimento das trabalhadoras informais sobre o aleitamento materno? Quanto tempo depois do parto elas voltaram a trabalhar? Elas tiveram apoio da família para conseguir amamentar? O trabalho prejudicou a amamentação e/ou contribuiu para o desmame precoce? Assim, para elucidar os questionamentos expostos, esta pesquisa teve como objetivo verificar o entendimento e a realidade das trabalhadoras informais em relação à amamentação na cidade de João Pessoa - PB.

Metodologia Este estudo tratou-se de uma pesquisa exploratória, descritiva e com abordagem quanti-qualitativa, realizada no Mercado Central situado na cidade de João Pessoa - PB. A população do estudo foi composta por todas as mulheres que trabalham de maneira informal no Mercado Central e a amostra foi constituída por 30 trabalhadoras que concordaram em participar da pesquisa.

Para consubstanciar a pesquisa foram utilizados os seguintes critérios: ser maior de 18 anos; trabalhar no local da coleta; ter tido filho nos últimos dois anos; ter desmamado precocemente antes dos 6 meses; residir no município da investigação.

A coleta de dados foi realizada no mês de abril de 2010 em horários previamente agendados. Ao início de cada entrevista foi explicitado o objetivo da pesquisa, com a finalidade de obter maior aproximação entre entrevistador-informante e também um maior esclarecimento sobre o que estava sendo realizado. Para a realização da coleta foi utilizado um roteiro de entrevista semi-estruturado, o qual foi dividido em duas partes: dados socioeconómicos das trabalhadoras informais e questões relacionadas à temática estudada, o desmame precoce. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas de forma literal a fim de garantir a sua originalidade.

A análise dos dados foi realizada através da técnica de análise de conteúdo utilizando-se a modalidade temática. Foram adotados, para a análise de conteúdo das falas, os seguintes passos propostos por Bardin (2009): leitura do material para entendimento do todo; identificação dos pontos convergentes nos questionamentos; agrupamentos de ideias semelhantes; e identificação de categorias que foram denominadas de acordo com os significados em cada agrupamento.

A colheita de dados somente foi iniciada após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Enfermagem e Medicina Nova Esperança ' FACENE/ FAMENE, sob o número de protocolo 25/2010 e CAAE 0249.0.000.351-10, levando em consideração a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que trata de pesquisa envolvendo seres humanos.

Resultados e discussão Caracterização sócio-demográfica da população e amostra Para a caracterização da amostra foram utilizadas as seguintes variáveis: idade, estado civil, escolaridade, renda familiar, religião, quantidade de filhos e carga horária de trabalho. No que diz respeito à variável idade, constatou-se que 13 (43%) mulheres se encontravam na faixa etária compreendida entre 19 e 34 anos. A distribuição da amostragem em relação à variável estado civil demonstra a prevalência no status de solteira, correspondendo a um total de 40%. Com relação aos dados obtidos na variável escolaridade observa-se que 18 (60%) entrevistadas possuem ensino fundamental incompleto. Relativamente à variável renda familiar, verificou-se que 19 (63%) entrevistadas ganham entre 1 e 3 salários mínimos. Sobre a variável religião constatou-se que 17 (57%) participantes afirmaram ser católicas. Com relação à variável quantidade de filhos, visualizamos que 13 (43%) entrevistadas possuem dois filhos. No que diz respeito à variável carga horária trabalhada por dia, verificou-se que 10 (33%) participantes trabalham mais de 14h/dia, como demonstrado na (Tabela_1).

Com relação à idade, o estudo feito por Bruschini (2007) revelou que diversos fatores, como a expansão da escolaridade e o ingresso nas universidades, contribuíram para que tanto o crescimento da atividade feminina quanto o perfil da força de trabalho sofresse transformações ao longo dos anos. As mulheres no final dos anos 70, em sua maioria, eram jovens, solteiras e sem filhos.No início do século 21, estas passaram a ser mais velhas, casadas e mães. Em 2005, a mais alta taxa de atividade feminina (74%) é encontrada entre mulheres de 30 a 39 anos.

Os dados obtidos com relação ao estado civil são importantes, pois sabe-se que o apoio do companheiro nesse processo pode representar um elemento significativo de apoio emocional à nutriz. O estudo de Silva, Santiago e Lamonier (2012) citou que dentro de todos os familiares e pessoas próximas à puérpera, o pai presente e atuante é considerado o suporte de maior relevância para o aleitamento na visão da mãe.

A influência do pai foi considerada como um dos principais motivos para que a mulher decidisse amamentar e persistisse nessa condição, ou seja, o pai contribuiu fortemente para o aumento da incidência e prevalência do aleitamento materno, é por isso necessário que possua conhecimento sobre a amamentação.

Porém, tem sido evidenciado que existem dúvidas frequentes, o que demonstra a importância da intervenção profissional; que a maioria das mulheres sente o desejo de amamentar no primeiro trimestre da gestação, considerando a influência do pai nesta decisão; e uma maior prevalência da amamentação nas mulheres casadas ou com relacionamento estável, o que nos permite concluir que existe uma relação com a presença cotidiana do pai/companheira (Silva, Santiago e Lamonier, 2012).

Os resultados encontrados sobre a escolaridade são semelhantes a um estudo realizado em 2007 na Paraíba, em que constatou-se que quanto à escolaridade 9,3% das mulheres declararam ser analfabetas, 64,1% com o primeiro grau incompleto, 19,8% com escolaridade entre primeiro e segundo graus e somente 1,1% das mães declarou ter o terceiro grau (Vianna et al., 2007).

Sobre a renda familiar, Bruschini (2007) verificou que os mais baixos salários recebidos pelas mulheres, quando comparados aos dos homens, são reafirmados quando se considera a quantidade de horas de trabalho, a posição na ocupação, a escolaridade e os setores económicos. Em 2005, a maioria das mulheres (35,9%) recebia menos de um salário mínimo, enquanto que a maioria dos homens ganhava entre 1 e 2 salários mínimos.

Com relação à religião, percebemos que diante do constante crescimento dos evangélicos no Brasil, o catolicismo ainda opera em primeiro lugar na amostra, embora a porcentagem de evangélicos neste estudo tenha sido mais alta do que a média nacional. Podemos perceber estes dados no estudo de Campos (2008), visto que ele compara os resultados do censo de 1960 e 2000, constatando a queda na porcentagem de católicos de 95,2% da população para 73,9%; enquanto que os evangélicos subiram de 2,6% para 15,6%; os sem religião, que eram apenas 0,2% da população, atingiram a marca dos 7,4%.

A respeito da quantidade de filhos, percebe-se que um dos motivos para a redução do número da natalidade são os gastos com a educação infantil, que podem estar influenciando essa estratégia de formação das famílias, pois nos dias atuais a maioria dos casais preferem ter no máximo 3 filhos. A princípio, o declínio do número de filhos significa uma redução do trabalho reprodutivo e pode repercutiu-se positivamente na capacidade das mulheres de aumentarem a sua inserção no mercado de trabalho e em conciliarem trabalho e responsabilidades familiares (Sorj, Fontes e Machado, 2007).

A análise da longa duração da jornada de trabalho é um bom indicador do peso que as responsabilidades familiares têm para as mulheres. Segundo Bruschini (2007), é de suma importância que o tempo que a mulher gasta nos afazeres domésticos também seja contabilizado, visto que em seu estudo foi constatado que as desigualdades de gênero são bastantes evidentes, que enquanto 90% das mulheres responderam que são responsáveis pelos afazeres domésticos, pouco menos de 45% dos homens deram respostas semelhantes. Quando se analisou o tempo de dedicação a este trabalho, segundo o tempo médio de horas semanais, o das mulheres foi de 27 horas semanais e o dos homens pouco mais de 10 horas.

Sorj, Fontes e Machado (2007) observaram que as mulheres, na maior parte das vezes, ocupam postos de trabalho informais, sem carteira assinada, ou estão em empregos sem remuneração. Um grande número de mulheres casadas também se ocupa do trabalho doméstico.

Unidade temática central A Unidade Temática Central configurou-se a partir dos depoimentos das participantes, nomeando-se em: A correlação entre o Trabalho Informal e a Amamentação.

É importante relatar que todas as profissionais entrevistadas foram caracterizadas em, respectivamente como: Trabalhadora 1 (T1), Trabalhadora 2 (T2)... Trabalhadora 30 (T30). E, de acordo com as respostas fornecidas, classificaram-se as seguintes categorias: A duração da amamentação em foco; Amamentar o filho: mitos e dificuldades; A família como alicerce da mulher que trabalha; A importância da amamentação sob o olhar materno; e A influência do trabalho na amamentação.

Categoria 1: A duração da amamentação em foco As evidências epidemiológicas das vantagens do aleitamento materno são inúmeras. Estudos comprovam a proteção do leite materno contra infeções respiratórias, além de reduzir a mortalidade infantil. Relatos na literatura confirmam a importância do leite materno na diminuição do risco de doenças autoimunes, doença celíaca, doença de Crohn, diabetes mellitus, colite ulcerosa e linfoma. Por isso deve-se preconizar o aleitamento materno exclusivo até pelo menos os 6 meses de idade (Nelas, Ferreira e Duarte, 2008).

Em relação à duração da amamentação, as participantes do estudo revelaram tempos diferentes, que variaram desde 6 meses até cinco anos, o que caracteriza as particularidades de cada uma: [...] todos os dois mamaram até os sete meses [...]. (T25 [...] todos eles mamaram até os dois anos [...]. (T17) [...]mamaram até os cinco anos e ainda tive três filhos de leite [...]. (T8) Segundo a Organização Mundial de Saúde (2009) uma criança é considerada em aleitamento materno exclusivo quando se alimenta somente do leite materno, diretamente da sua mãe ou ama de leite, ou ordenhado, não sendo ofertado nenhum outro líquido ou sólido. Atualmente sabe-se que a administração de outros líquidos, além do leite materno, nos primeiros quatro meses de vida da criança, pode interferir negativamente na absorção de nutrientes causando consequências negativas para o bebê (Nelas, Ferreira e Duarte, 2008).

Mesmo diante deste fato, casos de mulheres que não amamentam até aos seis meses, como é preconizado pelo Ministério da Saúde (2009), como podemos observar nas falas a seguir: [...] meu primeiro filho não mamou, porque nasceu um caroço no meu peito tive que fazer uma cirurgia e não pude amamentar [...]. (T20) [...] mamou até os dois meses , porque tive que voltar ao trabalho. (T21) [...] todos mamaram até quatro meses [...]. (T7) Existem diversos motivos que podem levar as mulheres a não amamentarem seus filhos, como o regresso ao trabalho, a solidão para enfrentar dores e dificuldades, as inseguranças, a preocupação estética, o desejo de voltar a tomar pílula, dentre outros. Todas as entrevistadas amamentaram, com exceção de uma que referiu não amamentar os seus filhos: [...] nenhum mamou, porque eu tinha que trabalhar o dia todo [...]. (T29) Categoria 2: Amamentar o filho: mitos e dificuldades Corroborando com o que foi citado na categoria anterior, sabe-se que existem várias dificuldades que levam as mulheres a não amamentar os filhos, como questões sociais, culturais, religiosas, estéticas, dentre outras. Além disso, algumas doenças inerentes à gestação e ao puerpério muitas vezes fazem com que o ato de amamentar, por afetarem diretamente a saúde da mulher, seja impedido.

As doenças mamárias mais comuns que podem aparecer durante o puerpério são: mastite, ingurgitamento mamário, trauma mamilares (eritema, edema, fissuras, bolhas), dentre outros.

Nessa perspetiva, as participantes do estudo revelaram as dificuldades encontradas na realidade delas: [...] nasceu uma ferida que doía e eu não conseguia amamentar [...]. (T14) [...] no meu primeiro filho meu peito não queria fazer bico, dificultou a amamentação [...]. (T18) [...] no começo tive dificuldade, meu filho não conseguia sugar o peito e chorava muito [...]. (T23) Oliveira et al. (2011) dizem que as crenças e tabus são capazes de determinar a prática do aleitamento materno, visto que a crença da nutriz pode influenciar positiva ou negativamente a continuidade da amamentação. Em nosso contexto, a palavra mito quer dizer história ou conjunto de histórias que fazem parte da cultura de um povo. Tais histórias tentam explicar fenômenos incompreendidos ou sem resposta comprovada, como pode ser percebido nas falas a seguir: [...] como eu dava de mamar no meio da feira, o leite ficava quente, mandavam eu tomar água pra esfriar o leite [...]. (T3) [...] a única dificuldade era quando eles não queriam o peito porque tava salgado, eu me aperreava e dava outras comidas [...]. (T7) [...] eu dava de mamar muito tempo ai por isso eu vivia desmaiando [...]. (T1) É visto ainda a permanência da falta de informação da população com relação à amamentação, talvez pela baixa escolaridade ou até mesmo pela falta de orientação sobre como viabilizar esse ato, desmotivando a mãe a insistir em dar o peito a seu filho.

Categoria 3: A família como alicerce da mulher que trabalha Segundo Nelas, Ferreira e Duarte (2008), a mulher assumiu um papel na sociedade contemporânea de extrema importância; se a mulher em determinada sociedade tem uma alta participação no mercado de trabalho, o seu papel materno pode ser pouco valorizado, logo a amamentação pouco fomentada.

Porém, a família pode assumir um papel importante na adesão e continuidade da amamentação, como afirmam Brant, Affonso e Vargas (2009), ao considerarem que a família aparece como a grande incentivadora da amamentação exclusiva, assim como, aquela que auxiliará na construção do vínculo entre a mãe e o bebê.

Quando a mãe é cercada de pessoas que realmente conseguem apoiá-la e ajudá-la, os sentimentos de autoconfiança, satisfação emocional tendem a aumentar, assim como a disposição de dar afeto ao bebê.

Desse modo, os depoimentos confirmam o que dizem os autores, evidenciando que a família auxilia diretamente na amamentação: [...] minha mãe influenciou, ela me ajudou muito com o primeiro filho, porque eu era muito nova e tinha que estudar e trabalhar. (T24) [...] quando engravidei minha mãe me levava nas palestras do bairro pra aprender como amamentar direito, qual a importância do leite da mãe pro filho e ela sempre me apoiou nesse sentido [...]. (T30) [...] Influenciaram (familiares) para que eu não deixasse de dar de mamar até que eles recusassem o peito. (T4) Diante disso, é fato que a família é de fundamental importância para o sucesso do aleitamento materno, devendo apoiar a mãe que amamenta e ser uma fonte de encorajamento para auxiliar na construção do vínculo entre a mãe e o bebê. Sem o apoio da família, o aleitamento materno pode não ter sucesso e o desmame pode acontecer mais precocemente.

Categoria 4: A importância da amamentação sob o olhar materno Como dito anteriormente, o leite materno, além de possuir custo zero, proporciona incontáveis benefícios para a criança e para a mãe sendo, assim, o alimento de melhor custo-beneficio para a família em todos os aspetos (Oliveira et al., 2011).

Cabe ressaltar que a amamentação envolve um padrão mais complexo, um elo de comunicação psicossocial entre mãe e bebê. Portanto, esse processo não está ligado somente a fatores de ordem biológica, mas a mulher vivencia esse momento com grandes transformações psicológicas e emocionais que determinam a sua decisão de amamentar (Brant, Affonso e Vargas, 2009).

Portanto, essa decisão está integrada na sua história de vida e no sentido que atribui a esse ato. Assim, essa opção pessoal da nutriz passa por diversas questões socioculturais, biológicas, psicológicas e emocionais (Carvalho e Tamez, 2010).

Diante disto, foi evidenciado que o leite materno é percebido como um elemento benéfico e imprescindível à saúde da criança, particularmente nos primeiros meses de vida. Quando questionadas a respeito da importância da amamentação a maioria relatou: [...] acho importante demais amamentar, porque o leite da mãe é mais forte pra eles do que o leite de lata [...]. (T3) [...] é um gesto de carinho da mãe com os filhos, e previne doenças [...]. (T4) [...] todo bebê que mama cresce mais saudável, e como precisam do leite da mãe até os seis meses, [...] é uma economia pra gente, porque não precisa comprar outros alimentos [...]. (T24) Categoria 5: A influência do trabalho na amamentação Estudos revelam que o trabalho materno fora do domicílio apresenta maior risco para o oferecimento de leite de vaca e outros alimentos ao bebê. Portanto, é possível especular que a crescente participação da mulher no mercado de trabalho tem aumentado o risco do oferecimento precoce de alimentos diferentes do leite materno, em especial, o leite de vaca, tornando o regime alimentar incompatível com as diretrizes da alimentação saudável nos dois primeiros anos de vida (Demétrio, Pinto e Assis, 2012).

Os autores supracitados comentam sobre a importância de se criarem espaços para a prática da amamentação no ambiente de trabalho, visto que esta estratégia contribuiria para a maior duração do aleitamento materno. Porém, o nosso estudo ocorre num local público, onde os trabalhadores são informais, dificultando a criação de um local que tenha essa finalidade.

Como podemos perceber através dos discursos apresentados abaixo, a maioria das mães não desistiu de amamentar os seus filhos devido ao trabalho: [...] eu deixava eles em casa e vinha trabalhar, mamavam antes que eu saísse. Mas de doze horas eu mandava uma mamadeira cheia de leite, e voltavam a mamar à noite [...]. (T2) [...] no começo eu trazia eles pra (feira), mas depois não deu certo, tive que deixar as crianças em casa, e mamavam quando eu chegava [...].

(T14) [...] tive que trabalhar e deixar eles em casa com alguém tomando conta, deixava leite em mamadeira, mas não era o suficiente, eles foram se acostumando com mingau. (T16) Alguns estudos afirmam que influência do trabalho na amamentação, no entanto 22 trabalhadoras entre as 30 entrevistadas, responderam que o trabalho não influenciou na amamentação dos seus filhos: [...] meu trabalho nunca atrapalhou em nada, porque eu trazia eles pra (feira), foram praticamente criados aqui dentro [...]. (T2) [...] parava o trabalho rapidinho enquanto dava o peito, mas sempre recebia ajuda [...]. (T7) [...] deixava a mamadeira cheia de leite enquanto trabalhava, na hora do almoço voltava pra casa, dava o peito e deixava mais leite na mamadeira. Foi corrido, mas ele mamou direitinho [...]. (T22) Tais resultados demonstram uma interface positiva da amamentação para mulheres- mães-trabalhadoras, trazendo à tona a questão do desejo de continuar amamentando mesmo no período pós licença maternidade, quebrando o paradigma de que esse fator influencia de maneira limitante e direta o desmame precoce e que se pode, apesar das dificuldades encontradas e do sacrifício pessoal de encontrar alternativas para essa prática, conciliar o prazer de amamentar com a responsabilidade de permanecer ativa laboralmente.

Conclusão À guisa dos resultados, observou-se que a amamentação é um processo natural e seus benefícios, tanto para o bebê quanto para a mãe, são inúmeros, promovendo o seu desenvolvimento físico e o bem estar emocional. Porém, mesmo conhecendo o valor do leite materno e do ato de amamentar, o desmame precoce se destaca por sua frequência, muitas vezes em decorrência das dificuldades enfrentadas pelas mães em relação ao aleitamento materno.

O presente estudo reforçou as evidências sobre os benefícios da amamentação, enfatizando que a experiência da maternidade traz muitas mudanças, especialmente para a mãe, que tende a responder a esta nova fase de acordo com as suas características pessoais e a sua habilidade de solicitar e aceitar apoio de outras pessoas.

Conhecer o comportamento das mães trabalhadoras informais em relação à temática proposta traçou um perfil real situacional diante do fato que conciliar o trabalho com amamentação aflige muitas dessas mulheres. Muitas reconhecem a importância do leite para o bebê e não querem privá-lo desse benefício, criando assim alternativas para continuar com o aleitamento, das quais se destacam: transportar o lactente para o local de trabalho, alternando o trabalho com o horário das mamadas; e realizar a ordenha e deixar armazenados em casa recipientes que contenham a quantidade suficiente para saciar o bebê.

Dessa forma, é visto que o problema do desmame precoce entre as trabalhadoras informais que participaram deste estudo não condiz com a realidade de muitas mulheres brasileiras, pois ao contrário do que esperávamos a maioria das mulheres não desmamou precocemente seus filhos.

É de suma importância que haja incentivos do governo nesse sentido e maior disponibilidade de emprego formal para todos, visto que apenas assim a realidade no nosso país seria diferente, isto é, todas as mulheres teriam o direito de cuidar dos seus filhos de maneira digna e adequada, podendo colocar em prática um ato tão sublime e importante para a saúde e vida de uma criança, a amamentação. Entendendo que nenhum trabalho científico encerra verdades absolutas, esta pesquisa abre um leque de possibilidades para que futuros pesquisadores se apoiem nessa ideia e desenvolvam novas pesquisas sobre esta temática, que é relevante e de suma importância para a diminuição da mortalidade infantil.


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