Análise das metodologias de avaliação da empregabilidade dos Graduados em
Desporto de Portugal
Dinâmicas dos Mercados de Trabalho
No início do século XX o conceito de empregabilidade servia para distinguir o
potencial que as pessoas tinham de vir a estar empregadas numa sociedade
industrial na altura pujante. Após a 2ª Grande Guerra Mundial, a valorização
pessoal através da obtenção de um curso superior era a garantia de entrada no
mercado de trabalho, qualificado e seguro, considerando-se que a formação
inicial era a necessária e suficiente para um emprego vitalício.
A crise económica, política e cultural nos anos 60, nomeadamente a revolução
estudantil, a crise do petróleo nos anos 70 e as inovações sociais e
tecnológicas resultantes criaram um novo paradigma, levando os quadros mais
qualificados a sentir necessidade de aperfeiçoar conhecimentos e as empresas a
exercer uma forte pressão sobre as escolas superiores para que os seus cursos
sejam adaptados e mais capazes de fornecerem treino essencial para a integração
dos licenciados nas novas dinâmicas do mercado de trabalho. Tratou-se de um
período de intensificação das mobilidades de pessoas, bens e capitais e os
meios de comunicação retiram muitos países do isolamento.
Após a desregulamentação neoliberal dos mercados e da revolução tecnológica
global (anos 80), o conceito de empregabilidade assume outra relevância; as
pessoas tomaram consciência de que as suas qualificações não são eternas, que
um curso ou profissão já não bastavam para a vida e que a sociedade e o mercado
de trabalho lhes exigiam uma aprendizagem permanente se não quisessem ser
excluídos.
Ficar desempregado com meia-idade colocava novos problemas à sociedade, agora
dominada pelas novas tecnologias e por novas actividades económicas nas mais
diversas organizações, incluídas as empresas e as universidades.
Para aqueles que se graduaram antes dos anos 80, a sensação de que nada se
sabia após o curso era a mesma de hoje em dia; contudo, essa mesma sensação era
depressa ultrapassada com a experiência profissional, que rapidamente
determinaria o rumo profissional. Após essa década, a sensação de nada saber
torna-se mais generalizada uma vez que mesmo durante os cursos (na altura com a
duração de 5 anos) se sentia bem a mudança rápida de conceitos trabalhados e
das novas formas de vida social e profissional. É por essa altura que emergem
os estudos destinados a seguir o percurso profissional dos estudantes que saem
do Ensino Superior, reflectindo exactamente a necessidade de as organizações
avaliarem a forma como formavam/educavam/treinavam. Contudo, a maior parte
desses estudos converteram-se numa quase arma de arremesso de marketing' no
mercado competitivo da formação superior; serão poucos os estudos que concluem
pelo não sucesso da formação que realizam, ou seja, o indicador de
empregabilidade é sempre positivo e faz parte da avaliação externa das escolas;
quando conveniente, passa a fazer parte do marketing externo das escolas que
procuram atrair estudantes com melhores médias de classificação de entrada.
São diversos os estudos que se têm baseado em conceptualizações completamente
diferenciadas, pelo que a validade dos mesmos (ou seja, saber se estão a medir
exactamente o que querem medir) pode ser posta em causa; por maioria de razão
pode ser posta em causa a sua comparabilidade com outros estudos nacionais e
muito menos poderão ser utilizados para comparabilidade internacional.
O Conceito de Empregabilidade
Actualmente é questionável se a principal razão que leva os alunos a escolher
determinada Universidade está relacionado com as possibilidades de
empregabilidade que poderão ter, como resultado do estatuto que esta detém.
Através de uma interpretação económica pode concluir-se que a empregabilidade
será sempre maior nas grandes áreas metropolitanas, uma vez que se relaciona
mais com o ambiente e dinâmica socioeconómica regional do que com a qualidade
do ensino ministrado.
É por isso importante que se definam os conceitos que se querem medir, sob pena
de se estar a designar da mesma forma, coisas muito diferenciadas.
Gazier sistematiza o conceito de empregabilidade em sete dimensões que
evoluíram ao longo do tempo, retrato/reflexo das novas configurações dos
mercados de trabalho. As sete dimensões são designadas como a empregabilidade
dicotómica, a empregabilidade sociomédica, a empregabilidade da política da
força de trabalho, a empregabilidade de fluxo, a empregabilidade da performance
no mercado de trabalho, a empregabilidade de iniciativa e a empregabilidade
interactiva. Tendo como base o conceito de empregabilidade interactiva, que
parte do princípio que a empregabilidade não depende unicamente dos indivíduos,
McQuaid & Lindsay propõem-nos uma abordagem holística que contempla três
componentes inter-relacionadas: os factores individuais, as circunstâncias
pessoais e os factores externos. Nesta abordagem, os factores individuais estão
directamente associados às competências e aos saber-fazer; os factores pessoais
dizem respeito aos valores e meio social envolvente (necessidade de ganhar um
rendimento, ao tipo de cultura de trabalho e ao acesso aos recursos) e os
factores externos dependerão essencialmente do ciclo económico e do contexto da
região/país (associados às dinâmicas do mercado de trabalho). Uma síntese
destas abordagens pode ser consultada na figura 1.
Figura 1. Conceitos de Empregabilidade
Em grande medida, esta conceptualização encaixa em teorias vindas de outras
áreas disciplinares como a teoria do capital humano em Becker e as da
psicologia sobre a forma de aquisição de competências e desenvolvimento de
(oito) formas de inteligência em Gardner.
Nesta mesma linha de pensamento estamos de acordo com Almeida quando afirma que
a empregabilidade individual é condicionada pelas regras de funcionamento do
mercado de trabalho, pelas dinâmicas dos ciclos económicos e depende,
igualmente, da empregabilidade dos restantes membros do grupo profissional de
pertença.
Cada vez mais a empregabilidade estará baseada no trabalhador enquanto
profissional reflexivo e não nos conteúdos iniciais da sua formação. A
'learning organization será entendida como a organização onde os trabalhadores
se desenvolvem constantemente aprendendo como se aprende.
Na mesma linha de raciocínio Almeida menciona Terssac que em 1994 refere que
as organizações que se baseiam no primado da qualificação dos seus actores
assentam em três características básicas: (i) são organizações em que se torna
possível gerir a incerteza própria de sociedades em mutação, opondo-se por isso
as organizações prescritivas como são as tayloristas que pressupõem a
existência de ambientes estáveis; (ii) são organizações dominadas por sistemas
de comunicação horizontal entre os diferentes serviços e os diferentes centros
de decisão, por oposição às organizações dominadas por sistemas de comunicação
vertical centrados num único pólo de decisão e de produção de valores; (iii)
são organizações nas quais os seus membros dispõem de autonomia e de capacidade
de iniciativa para tomar decisões relativas ao trabalho a realizar. Deste
modo, as organizações que apostam nesta conduta, ampliam a possibilidade de
aumentar a empregabilidade dos seus trabalhadores.
Implicações do Conceito de Empregabilidade na Dinâmica Organizacional
Assim sendo, todas as organizações cuja principal missão é a de formar
indivíduos e cidadãos, são parte interveniente de políticas públicas de emprego
de cujo sucesso dependerá também a sua sustentabilidade no mercado das
entidades de formação. É nesse contexto que analisamos a actual política de
educação e ciência em Portugal e na UE, onde as avaliações externas funcionam
como elementos de condicionamento financeiro das universidades e escolas
públicas, obrigando-as a lutarem pela sua capacidade competitiva nacional e
europeia.
Em suma, o conceito de trabalho alterou-se profundamente com o fim das linhas
de produção em série; o que hoje existe são tarefas para serem feitas de forma
rotineira e as principais tarefas de criação e inovação, para serem feitas por
pessoas qualificadas e curiosas que pretendem encontrar novas formas de
resolver problemas. Isso levou a que as actividades não tenham que ser
exactamente realizadas num só local específico e que a empregabilidade seja uma
capacidade de utilizar as suas competências e valores, seja qual for o ramo e o
local para o qual seja necessário.
Num mundo cada vez mais especializado, começam também a ser necessárias as
pessoas que sejam especialistas no todo, as que são capazes de se distanciarem
das tarefas demasiadamente minuciosas para estudarem novos métodos e formas de
abordar e resolver problemas em trabalho com outros, e de outras
especialidades.
São diversos os estudos europeus, americanos, canadianos e australianos que
abordam este assunto da empregabilidade, sempre na perspectiva da política do
mercado de emprego. Estudos ora mais centrados no lado da procura por parte dos
empregadores, ora na oferta por parte dos formadores. Mas o que acontece é que
as características acima referidas por Terssac em 1994, mudam em função dos
contextos, nomeadamente o maior ou menor desejo de os membros das organizações
aceitarem certas condições de trabalho.
Seguindo esta linha de raciocínio parece imperioso reflectir sobre as nossas
próprias experiências e descortinar as implicações que estas alterações de
significação de conceitos devem ter nas organizações que formam cidadãos na
área do desporto.
Pensar a escola que hoje forma profissionais na área do Desporto obriga-nos a
ter estes aspectos organizacionais em consideração para nos tornarmos mais
competitivos e, mais do que saber se os nossos alunos estão empregados ou se
obtiveram um primeiro emprego/profissão no tempo X, importa saber qual a
percepção que todos os actores envolvidos (universidade, estudantes,
empregadores) têm sobre quanto da sua preparação para a autonomia lhes foi
proporcionada na organização onde passaram uma parte importante da sua vida.
Nesse sentido julgamos mais adequado que as metodologias a utilizar para
estudos sobre a empregabilidade incluam um estudo profundo e qualitativo de
ambos os lados do mercado de trabalho.
Análise Económica da Obtenção de uma Graduação em Desporto
Da análise de inquéritos sobre empregabilidade, aplicados por entidades
oficiais, foi possível verificar que uma das preocupações centrais é
identificar se os seus alunos têm tido sucesso no mercado de trabalho através
do estudo do período de tempo que demoram a encontrar o seu 1º emprego após a
formação inicial; identificar qual a sua remuneração; qual a mobilidade (por
vezes), etc.
Por outro lado, em desporto, ainda não se deixou de considerar que o sucesso
vem sobretudo da prática e que a formação só tem importância para quem quiser
ensinar nas escolas básicas e secundárias, uma vez que todos os cursos que
habilitam para treinar (uma das especialidades do ensino), são obtidas nas
associações e federações de modalidade que não exigem pré-requisitos de ensino
superior.
É verdade que o mundo do desporto começa a modificar-se e que,
progressivamente, mais treinadores e desportistas de várias modalidades começam
a ser pessoas com formação média e superior. Mas essa constatação ainda não se
generalizou.
Saber se vale a pena obter formação em desporto não é mais do que uma
preocupação estudada em torno do conceito económico de custo de oportunidade
representado no gráfico 1.
Gráfico 1. A escolha entre rendimento atual ou futuro
Se considerarmos o eixo vertical como representativo do rendimento que se pode
auferir com o exercício de uma profissão e o eixo horizontal como a idade de
dois indivíduos A e B, podem comparar-se as diferentes trajectórias.
(i) O sujeito A optou por entrar no mercado de trabalho quando tinha 18 anos e
manteve o seu percurso profissional com um rendimento que cresce marginalmente
a taxa decrescente.
(ii) O sujeito B optou por estudar 5 anos no ensino superior, suportando os
custos do estudo (área tracejada abaixo do eixo horizontal) e do não-emprego
durante 5 anos (área tracejada acima do eixo horizontal); contudo obteve uma
maior remuneração ao longo da vida (representada pela área tracejada entre as
duas linhas).
Da comparação destas duas áreas representadas a trama diferente, estaria a
solução do problema, isto é, valeu a pena a licenciatura se a área de ganho
acrescido mais que compensar a área de custo suportado. Os números que se
apresentam no eixo vertical são os que foram apresentados no estudo de Portugal
e expressos em contos/mês.
Num estudo mais recente, Torres corrobora esta análise, recordando as teorias
do capital humano de Becker e da sinalização de Spence, que postulam que a
educação é um investimento que mais tarde vai permitir aumentos de
produtividade e quem tem um diploma, sinaliza as suas competências junto dos
empregadores potenciais. Neste estudo, que cobre o período de 1998 ' 2007 para
Portugal, Torres conclui que a correlação entre nível de estudos e rendimento
auferido é positiva e que este é de cerca de 2.38 vezes superior (cerca de €
1.368,00) ao dos empregados com níveis inferiores de formação.
Mas hoje em dia as coisas podem estar a alterar-se substancialmente, uma vez
que nem sempre a formação superior garante as competências e atributos
necessários para a obtenção de empregos numa determinada área. Mais ainda,
estes estudos ainda não cobrem os graduados após licenciatura de Bolonha (3
anos).
Um caso exemplificativo no desporto poderia ser identificado como a comparação
entre os treinadores que optaram por seguir a carreira logo a seguir a uma
carreira como desportista e aqueles que entraram na carreira de treinador pela
via académica. Está por se descobrir qual deles ganha hoje mais; contudo, é
cada vez mais evidente que qualquer treinador, com e sem formação académica
superior, não prescinde de novos profissionais detentores de áreas de
conhecimento e experiências profissionais diversificadas.
Por outro lado, com a adequação das licenciaturas a Bolonha, o tempo de
formação inicial tornou-se ainda mais curto e importa adequar estes estudos à
nova realidade do mercado de trabalho nacional e internacional. Também na área
do desporto essa reflexão se deve fazer, não se podendo ignorar o facto de as
profissões na área do desporto terem ganho novas configurações ao longo dos
tempos conduzindo diferentes países da Europa a níveis tão diferenciados.
Neste sentido não podemos deixar de mencionar o trabalho desenvolvido pelo
European Observatory of Sports Occupations onde se sugere uma classificação em
que distingue actividades do desporto e actividades relacionadas com o
desporto. Esta proposta resultou da participação de representantes de diversos
países da Europa (incluindo Portugal) e a European Network of Sport Sciences in
Higher Education. A definição de uma classificação única não é fácil uma vez
que é necessário salvaguardar as especificidades do contexto de cada país do
ponto de vista das actividades económicas relacionadas com o desporto. A forma
encontrada por esta comissão é expressa do seguinte modo: We will adopt a
broad definition of sport, which means that we will take into account not only
the activities run within the organized sport movement but also the physical
activities developed as a mean of education, of recreation, of health
development or care, of performance including the production of spectacles.
Following this perspective, sport can be considered both as a product of
consumption (good or service) and as an investment good (human capital).
A proposta tem como base a Classificação de Actividades da Europa Comunitária
(NACE), que integra as actividades desportivas na secção O (outras Comunidades,
serviços pessoais e sociais), divisão 92 (actividades recreativas, culturais e
desportivas) e no grupo 92.6 que enquadra as actividades desportivas e as
desagrega em duas classes: classe 92.61 (funcionamento de campos e estádios) e
classe 92.62 (outras actividades desportivas). Porém, sugere-se a necessidade
de se fazer uma maior desagregação das classes até aos 6 dígitos. Deste modo a
classificação sugerida resulta nos seguintes dados: (i) Actividades do
Desporto: 1 secção, 1 Divisão, 1 grupo e em 66 classes; (ii) Actividades
Relacionadas com Desporto: 9 secções, 8 sub-secções, 29 divisões, 51 grupos, 99
classes. Esta proposta reflecte a complexidade e a dimensão das actividades
económicas que envolvem o desporto e que traduzem a amplitude e oportunidade
profissional desta área para além das profissões convencionais mais
consideradas.
Lacunas Metodológicas Encontradas nos Estudos Nacionais e Internacionais sobre
Empregabilidade
Com base no exposto analisaram-se trabalhos empíricos sobre a temática do
emprego e empregabilidade desenvolvidos por entidades nacionais e
internacionais que passaremos a indicar. O Inquérito ao Emprego foi elaborado
pelo Instituto Nacional de Estatística com o objectivo central de obter
informação sobre o estado de emprego/desemprego da população activa, bem como o
de conseguir o registo da população inactiva.
Em território nacional a monitorização e análise do emprego de forma
sistemática surge em 1974, através do inquérito ao emprego que foi sendo
actualizado ao longo de várias décadas, como resultado de alterações sobre o
entendimento deste tema. Em virtude da necessidade de comparabilidade
internacional do emprego em 1983 foi feita uma aproximação com os indicadores
utilizados no inquérito comunitário (Labour Force Survey) e em 1998 através do
regulamento nº 577/98 proferido pelo Conselho da União Europeia é finalizado o
processo de integração de variáveis obrigatórias para a análise do emprego em
espaço Europeu e seguindo os conceitos recomendamos pela Organização
Internacional do Trabalho (OIT). Existem actualmente quatro séries temporais
do Inquérito ao Emprego: Série74 (1974-1982), Série83 (1983-1991), Série92
(1992-1997) e Série98 (a partir de 1998).
Perante novas configurações do mercado de trabalho passa a ser necessário
definir indicadores mais específicos, para reunir elementos que servissem para
uma intervenção e monitorização de políticas no mercado de trabalho. Deste modo
foram projectados vários inquéritos, designados de modelos ad hoc, por um grupo
de trabalho constituído por diversas entidades internacionais como o Eurostat,
Organização Internacional do Trabalho (OTI), Banco Central Europeu, entre
outras, das quais resultou um plano para aplicar entre 1999 e 2012. Desses
modelos importa destacar: (i) Aprendizagem ao longo da vida, aplicado em 2003;
(ii) Entrada dos jovens no mercado de trabalho, aplicado em 2009.
O inquérito ao trabalho aplicado à população portuguesa pelo Instituto Nacional
de Estatística actualmente em vigor (2008-2010), está organizado em 14
dimensões de análise. No âmbito deste trabalho importa analisar particularmente
a Educação/Formação ' Aprendizagem Formal e Educação/Formação ' Aprendizagem
não Formal, uma vez tratarem-se de dimensões relacionadas com as qualificações
formativas obtidas ao longo da vida permitindo-nos analisar estes dados, com os
dados recolhidos pela Instituições de Ensino Superior e por outro lado,
analisar a relevância desta informação para uma melhor compreensão da
empregabilidade.
A dimensão Educação/Formação ' Aprendizagem Formal está organizada para obter
de informação sobre a formação dos inquiridos em duas fases temporais
distintas:
(i) Por um lado saber qual a formação anteriormente obtida pelo inquirido, no
que se refere ao nível de escolaridade, ano de conclusão, intenção de o ter
feito e indicação de qual a área de Educação/Formação em que se inseriu o curso
(perguntas 85, 86, 87, 88). Acontece que as opções possíveis de assinalar nesta
última são: Formação de professores/formadores e ciências de educação; Artes e
humanidades; Línguas e literaturas estrangeiras; Ciências sociais, comércio e
direito; Ciências da vida; Ciências físicas; Matemática e estatística; Ciências
informáticas; Informática na óptica do utilizador; Engenharia, indústrias
transformadoras e construção; Agricultura, silvicultura, pescas e ciências
veterinárias; Saúde e protecção social; Serviços; Não consegue classificar;
Grande Grupo: Ciências, Matemática e Informática.
Ora, mais uma vez se constata a forma como são tratadas estatisticamente, as
profissões da área do desporto; tal classificação não permite a comparabilidade
com outros estudos, nomeadamente com o relatório publicado pelo Gabinete de
Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais do Ministério da
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior sobre a procura de emprego dos diplomados
com habilitação superior, onde se utiliza outra sistematização das áreas de
formação. Como será possível avaliar especificamente qual a informação
correspondente aos inquiridos com formação na área do desporto?
Por sua vez, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior distingue a
classificação de serviços em pessoais, sociais, de transporte e segurança,
classificando os cursos de Ciências do Desporto e Educação Física como Área 81
' Serviços Pessoais, em que se inclui também a Gestão Hoteleira e Turismo.
Perante o exposto considera-se que a utilização de classificações diferenciadas
e que incluem várias áreas em simultâneo não permite distinguir rigorosamente,
de entre os resultados sobre o emprego nacional, quais os que se referem
especificamente ao desporto.
(ii) A outra fase temporal referenciada no Inquérito ao Emprego tem como
finalidade saber se o inquirido, no momento da aplicação do questionário ou nas
3 semanas anteriores, está a frequentar (ou não) algum nível de escolaridade ou
curso com equivalência escolar e saber se a intenção de frequentar é para
prosseguir os estudos ou para inserção na vida profissional (perguntas 90, 91,
92). Esta informação permite saber de uma forma global se o indivíduo está a
apostar na formação ao longo da vida, contudo, o que poderá apenas ser
concluído é a percentagem (%) de pessoas que o estão a fazer (ou não), qual o
nível de escolaridade que estão a frequentar e a intenção de o fazer.
O mesmo se passa em relação à dimensão Educação/Formação ' Aprendizagem não
Formal que procura saber se o inquirido naquele momento ou nas 3 semanas
anteriores frequentou algum curso fora do sistema de educação e formação, como
seminários, conferências, entre outras; a quantidade de horas passadas nas
actividades leccionadas; e qual o motivo pelo qual o inquirido frequentou o
curso (razões profissionais/razões pessoais ou sociais) (perguntas 93, 94, 95).
Não deixando de os considerar importantes, não podemos deixar de mencionar que,
do ponto de vista da tomada de decisões estratégicas para a empregabilidade,
estes resultados ajudam muito pouco. Qual a relevância de saber quantas horas
os inquiridos utilizaram naquela semana para a sua aprendizagem e qual o
significado desta informação em relação às competências ganhas e sua implicação
na empregabilidade dos inquiridos?
Perante o exposto podemos concluir que os inquéritos que recolhem elementos
sobre o emprego em Portugal não permitem retirar elementos específicos sobre a
empregabilidade da área específica do Desporto.
A empregabilidade também tem vindo a ser seguida pelos designados Observatórios
de Estágios e Emprego incorporados nas Instituições de Ensino Superior que, de
forma independente, se organizam para monitorar a empregabilidade dos seus
licenciados. Contudo, os resultados destes trabalhos confinam-se essencialmente
a uma utilização interna das Instituições.
A Universidade da Beira Interior (UBI) é um desses exemplos, e através do seu
observatório tem aplicado um inquérito (2008) organizado em 4 dimensões de
análise: (1) Identificação pessoal; (2) Dados Referentes à UBI; (3) Percurso
Profissional; (4) Grau de Satisfação Relativo à Permanência na UBI.
Da análise feita a este inquérito importa destacar alguns aspectos relevantes
sobre a importância da metodologia a utilizar para monitorar e analisar a
empregabilidade. A referência teórica utilizada é a de Field que recorda que a
eficiência de um questionário deve contemplar três elementos: Validade,
Fiabilidade e Discriminação. Deste modo serão utilizados alguns exemplos para
demonstrar que a utilidade dos dados obtidos através de um inquérito deverá ser
salvaguardada aquando da sua elaboração.
Em inquéritos aplicados pelos Observatórios de Emprego integrados nas
instituições formadoras é comum perguntar-se sobre qual a adequação dos
conteúdos leccionados no curso frequentado às necessidades do mercado de
trabalho. Repare-se que as respostas a esta questão podem trazer informação
importantíssima para a redefinição dos planos pedagógicos a utilizar nos
cursos. Contudo, esta pergunta só terá utilidade efectiva se identificar o
mercado de trabalho onde o inquirido está a trabalhar e registada a opinião do
empregador sobre o seu desempenho. Deste modo, consideramos conveniente que
esta variável seja analisada do ponto de vista das competências, distinguindo
entre competências técnicas e competências transversais. Se em alguns casos o
inquirido pode ter desempenhado funções profissionais em diversos mercados de
trabalho e considera que as competências técnicas apreendidas no seu curso
estão desajustadas, não se pode deixar de fazer uma avaliação das competências
transversais (ex: comunicação, línguas, autonomia, entre outras) que poderão
ser utilizadas em outras profissões, mesmo que sejam fora da área específica
de formação e neste caso, o curso teve igualmente uma interferência
importante, como pode ser visto num estudo recente de Cabral-Cardoso, Estêvão
& Silva, sobre a avaliação de empregadores e diplomados sobre a importância
das competências transversais desenvolvidas nas instituições de ensino superior
para o desempenho profissional.
Por outro lado, no tratamento dos dados sobre este tipo de questões é
necessário acautelar dois elementos importantes: identificar qual o programa em
vigor para cada uma das Unidades Curriculares que compôs um curso em
determinado ano lectivo e considerar a eficiência pedagógica do corpo docente
nesse período de tempo. Tal deverá ser feito através de uma metodologia de
triangulação de dados e investigadores.
Na dimensão de registo do percurso profissional quando se procura saber se o
inquirido se mantém no primeiro emprego ou se já passou por vários, quanto
tempo demorou a obter emprego e em que região do país está a trabalhar, importa
referir que estas respostas não estão directamente dependentes do que se
designa ser a credibilidade da instituição de ensino superior detentora de
cursos com boas saídas profissionais, mas também da conjuntura económica e de
factores individuais como referido por Almeida. Deste modo, mais do que saber
quantos empregos o inquirido já teve, importa fazer uma análise qualitativa das
razões que estiveram associadas a este acontecimento.
A avaliação do grau de satisfação do inquirido sobre a sua permanência na
instituição também é comum ser considerada nestes inquéritos. Sobre esta
dimensão importa referir que, apesar de ser importante avaliar qual a
satisfação do inquirido em relação a aspectos como o ambiente académico, as
infra-estruturas e a capacidade pedagógicas dos docentes, uma vez que estes
elementos podem ajudar os decisores institucionais a melhorar a qualidade dos
seus serviços, não se pode esquecer que a avaliação deste 'circuito de
produção deve ter também o registo de qual a percepção das entidades
empregadoras sobre as competências dos licenciados que acolhem. Deste modo
importa saber quais são os atributos que as entidades empregadoras valorizam no
recrutamento dos seus profissionais: estarão mais associadas às competências
transversais? Às competências técnicas? Qual o peso atribuído ao facto de o
candidato ter feito a sua formação na instituição de ensino superior X ou Y.
Estudos Nacionais sobre a Empregabilidade na Área do Desporto
No que se refere a informação específica e que esteja divulgada sobre a
empregabilidade na área do desporto em Portugal foram escassos os elementos
obtidos, destacando-se a seguinte informação retirada de três fontes distintas:
(i) Instituto de Desporto de Portugal no qual não consta nenhuma base de dados
para o efeito.
(ii) Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física ' Coimbra em que é
feita a divulgação das percentagens de emprego obtidas pelos seus licenciados
entre o período de 1999/2003 e com indicação adicional de que se trata de uma
elevada taxa de empregabilidade. A variável de referência utilizada é tempo
entre a conclusão de curso e obtenção do 1º Emprego (6, 12, 18 meses).
(iii) Trabalho desenvolvido por Dinis, que incide no estudo das perspectivas de
emprego e empregabilidade de alunos que ainda se encontram inscritos em cursos
de Ciências do Desporto das Universidade: Ciências do Desporto e Educação
Física da Universidade de Coimbra, Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto, Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa,
Universidade da Madeira e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, mas que
não permite obter informação sobre a empregabilidade efectiva destes alunos.
Uma Proposta Metodológica Baseada na Triangulação
Por todo o exposto sentimos que não se conseguirá prosseguir estudos nesta área
da empregabilidade sem um esforço/projecto interdisciplinar e inter-
institucional que possibilite encarar o problema de uma forma
internacionalizada. Em nosso entender os próximos anos irão trazer novos
elementos para a compreensão da competitividade das diversas escolas de
formação em desporto em Portugal.
Sugere-se a utilização de uma metodologia que contemple a visão da
empregabilidade do lado da oferta, do lado da procura e ao longo de vários
anos, fazendo assim um estudo longitudinal, em profundidade e considerando as
orientações de McQuaid & Lindsay, quando mencionam que a compreensão
holística da empregabilidade passa pela inter-relação de três elementos: os
factores individuais, as circunstâncias pessoais e os factores externos.
Para esse efeito será necessário desenhar uma metodologia operativa em que se
faça a triangulação de dados e investigadores, utilizando métodos quantitativos
e qualitativos, de forma a avaliar qual é o posicionamento de diversos agentes
(instituições formadoras, estudantes/licenciados, empregadores) sobre a
problemática da empregabilidade. A opção de se propor uma metodologia em que se
faz a triangulação quer de dados, quer de investigadores, resulta da
necessidade de validação dos resultados.
CONCLUSÕES
Da literatura revista concluiu-se que a significação do conceito de
empregabilidade tem sofrido alterações ao longo dos tempos. A divergência de
utilização do mesmo conceito resulta na impossibilidade de comparabilidade
entre diversos estudos produzidos sobre esta matéria, por entidades nacionais e
internacionais. Sobre a empregabilidade em Portugal particularmente na área do
desporto, para além da carência de estudos produzidos e publicados sobre esta
matéria, constatou-se que os estudos produzidos por instituições públicas
indiciam problemas de ordem metodológica. Os resultados apontam para a
necessidade de desenvolvimento de uma metodologia de triangulação (dados e
investigadores) envolvendo os diferentes actores intervenientes (instituições
formadoras, estudantes/licenciados, empregadores), uma vez que a evolução do
mercado competitivo exige que não se aborde a temática da empregabilidade
apenas na escala nacional incentivando a uma cooperação inter-institucional
para que se consiga projectar a formação portuguesa em desporto no mercado
internacional.