Pico da carreira desportiva em nadadores de nível mundial: análise das idades
dos participantes nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008
A Natação Pura Desportiva é um desporto condicionado por diversos fatores, onde
os pressupostos fisiológicos e os biomecânicos têm um peso determinante na
performance (Barbosa et al., 2009; 2010). Talvez por esses motivos, o início da
carreira desportiva na modalidade seja, por vezes, considerada como se dando
precocemente. Com efeito, a temática da especialização precoce foi
particularmente focada nos debates sobre treino desportivo nos anos oitenta e
noventa (Personne, 1987). Essas discussões incidiram de forma acérrima nas
chamadas modalidades cíclicas e fechadas como é o caso da Natação Pura
Desportiva (Makarenko, 2001; Platonov & Fessenko, 1994; Wilke & Madsen,
1990).
A esta ideia da precocidade do início da carreira desportiva em Natação Pura
Desportiva, aglutinou-se uma outra: A precocidade com que se atinge o pico de
performance, quando balizada pela carreira desportiva planeada. De uma forma
prosaica, não foi raro considerar-se que os praticantes de Natação Pura
Desportiva atingem o pico da carreira desportiva mais cedo do que noutras
modalidades desportivas (Platonov & Fessenko, 1994; Silva et al., 2006;
Silva et al., 2007). Isto apesar de, pelo menos a idade dos finalistas nas
provas olímpicas de Natação Pura Desportiva dos anos oitenta, não serem
diferentes dos restantes desportos (Lavoie & Montpetit, 1986).
Lavoie e Montpetit (1986) descreveram as idades dos participantes nas quatro
edições dos Jogos Olímpicos realizados entre 1964 e 1980. Em ambos os sexos
houve uma tendência de aumento da idade, passando de 19.9 ± 0.96 anos para 20.6
± 0.91 anos para os nadadores e de 17.3 ± 0.97 anos para 17.8 ± 0.97 anos para
as nadadoras durante esse período. Numa outra perspetiva, Platonov e Fessenko
(1994) postularam que as idades para obtenção das melhores marcas estavam
relacionadas com o sexo e a distância nadada. Nas provas de 100 e 200 metros a
maioria dos homens apresentou-se com idades compreendidas entre os 18 e os 22
anos (79.5%), no caso das mulheres entre os 16 e os 20 anos (50%). Nas provas
mais longas (i.e., 400, 800 e 1500 metros), os nadadores apresentaram entre os
17 e os 20 anos (56.7%) e as nadadoras entre os 15 e os 18 anos (70.8%).
Weineck (2002) apresentou a evolução dos tempos dos nadadores de 100 m Livres
durante os anos setenta, sugerindo que a idade de pico de performance foi
aproximadamente os 22 anos.
As competições mais importantes a nível internacional são as mais apropriadas
para se analisar o momento do pico de carreira desportiva dos nadadores de
elite. Os Jogos Olímpicos são a competição mais importante e onde a larga
maioria dos nadadores de nível mundial procura atingir o pico de forma no
quadro de um planeamento e periodização da carreira desportiva (Maglischo,
2003). Com efeito, o próprio processo de identificação de talentos assenta num
modelo operativo que toma em consideração este facto (Silva et al. 2010). Mais
ainda, a idade previsível para obtenção dos melhores resultados é um tópico de
interesse para os envolvidos em Natação Pura Desportiva (Silva et al., 2006;
Silva et al., 2007). Silva et al. (2006; 2007) analisaram a evolução da
carreira em nadadores portugueses do sexo masculino e feminino, respetivamente,
utilizando modelações matemáticas. Com base na análise dos resultados obtidos,
foi possível verificar que, em Portugal, tanto os nadadores como as nadadoras
tendem a obter as suas melhores marcas mais cedo quanto mais longa for a
distância da prova. Isto apesar das nadadoras atingirem as melhores marcas mais
cedo do que os nadadores (provas de 100 m: 19.00 vs. 21.98 anos, provas de 200
m: 18,11 vs. 20,82 anos, 400 m: 17.44 vs. 20.66 anos) (Silva et al., 2006;
2007). Com efeito, estes resultados parecem corroborar a tendência
internacional (Ivkovic, Bojanic & Ivkovic, 2001; Sambanis, Kofotolis,
Kalogeropoulou, Noussios, Sambanis & Kalogeropoulos, 2003; Stafford, 2005).
A maior precocidade das nadadoras face aos nadadores será explicável pelo facto
de também elas apresentarem uma maior precocidade do ponto de vista da
maturação biológica. Contudo, salvo melhor opinião, não parece que exista na
literatura qualquer trabalho revisitando ou atualizando os estudos citados
anteriormente sobre a idade de pico de carreira desportiva em nadadores de
elevado nível competitivo.
No que se refere às idades ótimas de obtenção dos resultados desportivos, Silva
et al. (2006) apela à necessidade da estruturação racional da preparação da
carreira desportiva, visando o alcance dos melhores resultados desportivos,
justificando-se a alteração da estrutura de programação desportiva a longo e
médio prazo, de tal forma que: (i) a estrutura do processo de treino esteja em
estreita correspondência com as particularidades individuais dos nadadores
(velocistas, meio-fundistas e fundistas); (ii) se verifique um redirecionamento
da orientação dos conteúdos de treino e sua magnitude, face aos
condicionalismos existentes e; (iii) sejam viabilizadas medidas de promoção e
enquadramento institucional especiais face à especificidade da preparação
desportiva.
Desde logo emerge a questão se na entrada da segunda década do século XXI, a
perspetiva de precocidade no alcance do pico de carreira desportiva em Natação
Pura se mantêm, como postulado nas décadas anteriores. Mais ainda, sendo a
Natação Pura uma das modalidades desportivas com uma maior mutabilidade nos
anos recentes, expressa pela facilidade e quantidade de recordes do mundo
batidos, faz com que o conhecimento da idade de pico de carreira permite aos
treinadores de escalões de formação e de escalões absolutos balizar e definir
uma plano de carreira otimizado para que os seus nadadores atinjam também eles
o pico na idade adequada. Assim, visa-se fornecer aos técnicos no terreno
informações úteis e da máxima relevância para a maximização do rendimento dos
seus nadadores.
Foi objetivo deste trabalho efetuar: (i) uma análise descritiva das idades de
todos os participantes nas provas de Natação Pura Desportiva nos Jogos
Olímpicos de Pequim 2008 e; (ii) uma análise comparativa das idades com base no
sexo. Definiu-se como hipóteses que os nadadores das provas mais curtas seriam
mais velhos do que os das provas mais longas e, que os nadadores seriam mais
velhos do que as nadadoras.
MÉTODO
Amostra
Foram analisadas 1101 inscrições (588 masculinas e 513 femininas) em todas as
provas dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008. No caso das provas masculinas de 50
metros livres (L50), 100 metros livres (L100), 200 metros livres (L200), 400
metros livres (L400), 1500 metros livres (L1500), 100 metros costas (C100), 200
metros costas (C200), 100 metros bruços (B100), 200 metros bruços (B200), 100
metros mariposa (M100) e 200 metros mariposa (M200) inscreveram-se
respetivamente 97, 64, 55, 36, 35, 45, 40, 64, 52, 65 e 45 nadadores. Nas
competições femininas nas provas de L50, L100, L200, L400, 800 metros livres
(L800), C100, C200, B100, B200, M100 e M200 foram inscritas respetivamente 90,
48, 46, 41, 35, 47, 34, 50, 40, 48 e 34 nadadoras.
Instrumentos e Procedimentos
Identificação dos nadadores
Considerou-se como fator de inclusão o sujeito: (i) participar nos Jogos
Olímpicos de Pequim 2008; (ii) estar inscrito em pelo menos uma prova do
calendário olímpico de Natação Pura Desportiva; (iii) a inscrição ter sido
efetuada pelo respetivo Comité Olímpico nacional com base em tempos mínimos de
admissão, competições eliminatórias de nível nacional (i.e. National Trials) ou
através de admissão livre (i.e., Wild cards) previstos em casos particulares
pelo Comité Olímpico Internacional; (iv) o site oficial da competição
disponibilizar cumulativamente a classificação final, a identificação do
nadador e a sua idade cronológica (dia, mês e ano de nascimento), o tempo de
prova, bem como, a data de realização das eliminatórias (dia, mês e ano).
Para identificação das identidades, idade cronológica (ano, mês e dia de
nascimento) e respetiva classificação final dos nadadores em cada prova nadada,
recorreu-se às listas finais de resultados disponibilizadas no site oficial dos
Jogos Olímpicos de Pequim 2008 (http://results.beijing2008.cn) acedidos em
junho de 2009.
Cálculo da idade decimal
A idade cronológica foi convertida em idade decimal. O cálculo da idade decimal
foi efetuada de acordo com o procedimento largamente difundido na literatura
(Brown, & Barrett, 1969; Markuske, 1971) em que:
Onde DA é a data de avaliação e DN a data do nascimento. O cálculo da idade
decimal também é adotado em determinados tipos de investigações em Natação Pura
Desportiva (Taylor, Stratton, Lees, Atkinson & MacLaren, 2001). A idade
decimal de cada nadador foi calculada considerando como DA o dia das
eliminatórias das provas em que se encontrava inscrito. Todas as eliminatórias
das provas decorreram entre os dias 09 e 15 de agosto de 2008.
Análise Estatística
A análise exploratória dos dados incluiu a determinação dos pressupostos de
normalidade através do teste de Shapiro-Wilk, testando a hipótese nula que os
dados selecionados têm uma distribuição normal. Foram calculadas diversas
estatísticas descritivas (média, 1 desvio-padrão, variância, quartis) para
todas as provas de Natação Pura Desportiva do calendário olímpico em ambos os
sexos. Para análise da variância das idades decimais entre sexos para cada
prova recorreu-se à ANOVA a um fator (sexo: masculino vs feminino). Em todas as
situações o nível de significância foi determinado para p ≤ .05.
RESULTADOS
As figuras 1 e 2 apresentam respetivamente os boxplot simples para distribuição
quartílica das idades decimais de todas as provas masculinas e femininas em
estudo. Em ambos os casos verifica-se uma tendência para a mediana da idade
decimal, bem como a variância, diminuírem ligeiramente com o aumento da
distância nadada em todos os estilos. Para as provas masculinas de L50, L100,
L200, L400 e L800 a variância foi de 20.34, 13.70, 12.37, 11.47 e 15.59. A
variância foi de 27.26, 17.81, 11.33, 10.03 e 13.11 para as provas femininas de
L50, L100, L200, L400 e L800 respetivamente.
Figura 1. Percentis das idades decimais dos participantes masculinos nas provas
de Natação Pura Desportiva nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008.
Figura 2. Percentis das idades decimais das participantes femininas nas provas
de Natação Pura Desportiva nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008.
A tabela 1 apresenta as médias e os desvios-padrão das idades decimais de ambos
os sexos. Para o sexo masculino, a prova onde os nadadores inscritos
apresentaram uma média de idades mais reduzida foi a L200 (22.53 ± 3.51 anos) e
mais elevada a C100 (24.29 ± 3.70 anos). Para o caso do sexo feminino, a prova
com a média etária mais reduzida foi a C200 (20.43 ± 2.93 anos) e a mais
elevada a M100 (22.61 ± 4.05 anos).
Tabela 1
Média e 1 desvio-padrão das idades decimais de ambos os sexos nas provas de
Natação Pura Desportiva dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008.
A tabela 2 descreve a análise da variância das idades decimais entre as mesmas
provas entre os dois sexos. No caso da distância mais longa no estilo livre,
optou-se pela comparação entre a L1500 do sexo masculino com a L800 do sexo
feminino. Verificaram-se variações significativas na idade decimal nas provas
de L400, L1500/L800, C100, C200, B100, B200, M100 e M200. Em todos estes casos,
a idade decimal foi significativamente superior nos nadadores do que nas
nadadoras.
Tabela 2
Análise da variância das idades decimais entre sexos.
DISCUSSÃO
O presente estudo teve como objetivo realizar uma análise descritiva das idades
de todos os participantes nas provas de Natação Pura Desportiva nos Jogos
Olímpicos de Pequim 2008 e uma comparação das mesmas com base no sexo.
Constatou-se que existe uma tendência para os nadadores das provas mais curtas
serem mais velhos do que os das provas mais longas em ambos os sexos, e os
nadadores serem mais velhos do que as nadadoras.
Verifica-se uma tendência para a mediana da idade decimal diminuir ligeiramente
com o aumento da distância nadada em todos os estilos nos dois sexos. Na
realidade, alguns autores estudaram outras variáveis de tendência central que
não a mediana. Antes, optaram pela média (Lavoie & Montpetit, 1986;
Platonov & Fessenko, 1994) ou a moda (Platonov & Fessenko, 1994;
Weineck, 2002). Todavia, dada a natureza do estudo em causa, parece ser mais
pertinente averiguar a mediana das idades, já que esta indica até que idade
decimal se encontravam 50% dos nadadores(as) participantes em cada prova do
calendário olímpico (i.e. o percentil 50). A adoção exclusiva quer da média,
quer a moda, implicava uma análise de variáveis de dispersão. Desta forma,
optou-se pela descrição dos valores de mediana, média e desvio-padrão.
A figura 3 apresenta a comparação do pico que carreira dos nadadores olímpicos
aqui analisados com a previsão efetuada para nadadores portugueses dos sexo
masculino (Silva et al., 2006) e sexo feminino (Silva et al., 2007). Da
comparação transparece que, de forma genérica, o pico de forma na realidade
portuguesa ocorre mais cedo do que nos nadadores olímpicos. Este facto pode
estar associado a questões mais de índole sócio-cultural e não tanto do treino
desportivo propriamente dito. A realidade da natação portuguesa é distinta da
verificada nos países que são potências da natação mundial. Em Portugal os
nadadores não são semiprofissionais nem tão pouco se dedicam a cem por cento à
modalidade. A prática da Natação Pura faz-se em articulação com outras
atividades como a académica ou a laboral. Consequentemente, a entrada para o
ensino superior por volta dos 18 a 20 anos leva a que uma parte substancial dos
nadadores ou abandone a modalidade ou lhe passe a dedicar menos tempo. Seria
interessante uma reflexão análoga para outras realidades como a brasileira, a
angolana, a moçambicana ou qualquer outro dos PALOPs. Todavia, salvo melhor
opinião não existe na literatura qualquer estudo a este respeito. O mais
próximo foi o estudo de Darido e Farinha (1995) que verificaram na realidade
brasileira um abandono da modalidade entre os 17 e os 21 anos. Este facto
parece ser similar à realidade portuguesa como descrito anteriormente.
Figura 3. Comparação do pico de carreira dos nadadores participantes nos Jogos
Olímpicos de Pequim 2008 com os nadadores portugueses do sexo masculino (Silva
et al., 2006) e do sexo feminino (Silva et al., 2007).
Lavoie e Montpetit (1986) descreveram que as idades dos participantes nas
quatro edições dos Jogos Olímpicos entre 1964 e 1980 variaram entre os 19.9 ±
0.96 anos para os 20.6 ± 0.91 anos no caso dos nadadores e dos 17.3 ± 0.97 anos
para os 17.8 ± 0.97 anos no caso das nadadoras. Tentando uma comparação mais
qualitativa dos dados destes dois autores com os do presente estudo, parece
que os nadadores de elite do século XXI são claramente mais velhos do que os
dos anos 60, 70 e 80 do século XX. Mais ainda, alguns autores tendiam a sugerir
que a idade de pico de forma da carreira seria atingida bem mais cedo do que se
verifica hoje em dia (Platonov & Fessenko, 1994; Weineck, 2002). Todavia,
pode acontecer que a idade em que se atinja o pico de carreira, aconteça dentro
dos limites balizados pela literatura. Diversos autores consideram esse facto,
não só no contexto da natação Portuguesa (Silva et al., 2006; 2007) mas também
da natação internacional (Ivkovic, Bojanic, & Ivkovic, 2001; Sambanis,
Kofotolis, Kalogeropoulou, Noussios, Sambanis, & Kalogeropoulos, 2003;
Stafford, 2005). Assim, poder-se-á especular que apesar da idade de obtenção do
pico de carreira não se ter alterado de forma decisiva, o que possibilitou aos
nadadores manterem-se durante mais tempo ao mais alto nível competitivo.
Esta manutenção durante mais tempo em competições de nível internacional pode
ser constatada pela análise da variância das idades decimais. No atual estudo
constatou-se uma tendência para a variância diminuir com o aumento da distância
do nado em todos os estilos em ambos os sexos. A maior variância nas provas
mais curtas será explicada pela participação nessas provas de nadadores(as) de
idades mais avançadas, o que aumenta a variância e o desvio-padrão. Não se
querendo fazer generalizações a partir de casos particulares, foi
particularmente mediática a participação em finais olímpicas de alguns
nadadores, de ambos os sexos, na casa dos trinta e muitos anos conseguindo
obter em alguns casos lugares no pódio. Este prolongar da carreira desportiva
parece ser uma premência dos debates decorridos nos anos oitenta e noventa
sobre a especialização precoce de atletas e a consequente entrada em burn out
também ela mais cedo do que desejável (Makarenko, 2001; Personne, 1987;
Platonov & Fessenko, 1994; Wilke, & Madsen, 1990). Todo esse debate
terá levado ao interesse de se desenvolver modelos de treino e periodização que
permitissem em circunstâncias particulares a perpetuação dos atletas na
carreira desportiva ao mais alto nível (Maglischo, 2003). Isto apesar da
tendência para a diminuição da performance com o aumento da idade (Rubin &
Rahe, 2010). Mais ainda, os próprio processo de treino e de periodização para
as provas mais curtas parece ser especialmente favorável à perpetuação dos
nadadores em atividade, já que tem um caráter distinto do ponto de vista da
carga interna e externa de treino das restantes especialidades (Maglischo,
2003; Silva et al., 2010).
A capacidade dos jovens para os esforços anaeróbios é inferior aos adultos.
Isto deve-se a um menor nível da atividade da glicólise anaeróbia, já que a
atividade das enzimas glicolíticas também é inferior nos jovens (Reis, 1996). A
potência anaeróbia e a capacidade anaeróbia aumentam progressivamente durante o
crescimento e maturação. Mais ainda, as curtas distâncias (50 e 100 m) requerem
mais potência muscular e velocidade que atingem o pico máximo no término do
salto pubertário, aproximadamente aos 16 anos (Silva et al., 2007).
Consequentemente a possibilidade de evolução do rendimento nas provas de curta
distância é maior do que nas provas de longa distância numa perspetiva de
carreira desportiva.
Ao comparar-se a idade decimal com base no sexo, esta foi sempre
significativamente superior nos nadadores do que nas nadadoras com exceção das
provas de L50, L100 e L200. Mesmo nesses três casos os nadadores foram em média
mais velhos do que as nadadoras. Com efeito, a literatura parece ser
consistente nesta ideia de, ao longo das décadas, os nadadores tenderem a ser
mais velhos do que os seus pares do sexo feminino para determinada distância/
prova nadada (Lavoie & Montpetit, 1986; Platonov & Fessenko, 1994).
Inclusive esta tendência internacional para as nadadoras serem mais novas do
que os nadadores também é constatável na realidade da natação Portuguesa (Silva
et al., 2006; 2007). Este facto está claramente relacionado com questões de
índole maturacional onde os sujeitos do sexo feminino tendem a apresentar uma
maior precocidade desenvolvimentista do que os sujeitos do sexo masculino
(Duke, Liff & Gross, 1980). Com efeito, este fenómeno transborda para o
contexto da Natação Pura Desportiva já que as nadadoras são tidas como mais
desenvolvidas maturacionalmente do que os nadadores para uma determinada idade
cronológica durante o período pubertário (Lavoie & Montpetit, 1986,
Sokolovas, 1999). Este facto leva a que os modelos de plano de carreira das
nadadoras considerem uma maior precocidade nas etapas de desenvolvimento
desportivo do que nos nadadores (Silva et al., 2010).
Enquanto implicação prática para os técnicos no terreno emerge que a carreira
desportiva dos nadadores velocistas é mais longa do que a dos fundistas. O pico
de carreira desportiva deve ser planeado para ser atingida sensivelmente entre
os 23 e os 27 anos em nadadores de provas curtas e entre os 19 e 24 anos para
nadadores de provas longas. Assim sendo, o plano de carreira de um velocista
pode e deve ser estruturado sem uma exagerada centralização no primado do
rendimento durante os escalões de formação já que a carreira quer-se mais
prolongada do que no caso dos nadadores de provas mais longas. A excessiva
focalização no rendimento em escalões de formação pode-se revestir de uma
pressão extra para o nadador, levando a quadros de sobretreino e/ou burnout
inviabilizando o alcance do pico de carreira em idades próximas das verificadas
nos nadadores de elite.
Comparando a idade de obtenção do pico de carreira por técnica de nado, para
distâncias comuns (L100 vs C100 vs B100 vs M100 e L200 vs C200 vs B200 vs M200)
a tendência é a mesma para ambos os sexos. Constata-se que as idades de pico
para as provas de 200 metros são inferiores às provas de 100 metros pelos
motivos explanados previamente. Para cada distância em apreço (100 metros e 200
metros) não se verificam diferencias substanciais entre as quatro técnicas de
nado. Desta forma, enquanto implicação prática para os técnicos sugere-se que o
plano de carreira a desenhar pode ser muito similar independentemente da
especialização técnica que é feita por volta dos escalões de juvenil e júnior.
Dito isto, há a sublinhar que se podem configurar como limitações deste estudo:
(i) a análise se cingir a nadadores de nível mundial, pelo que a sua
extrapolação para outros níveis competitivos e/ou contextos deve ser efetuada
com cautela; (ii) haver nadadores que participam em mais de uma prova, pelo que
o número de inscrições não representa de forma válida o número de atletas
participantes no calendário olímpico; (iii) a necessidade de futuramente se
tentar uma abordagem determinística, compreendendo as hipotéticas relações
entre a idade e a performance obtida ou outras características pertinentes,
estabelecendo inclusive grupos de coorte por prova se isso for viável.
CONCLUSÕES
Pode-se então concluir que: (i) em ambos os sexos existe uma tendência para os
nadadores das provas mais curtas serem mais velhos do que os das provas mais
longas; (ii) a dispersão das idades é superior nas provas mais curtas e; (iii)
por prova, os nadadores são mais velhos do que as nadadoras.
Assim sendo, os treinadores podem desenhar um plano de carreira sem um excesso
de preocupação com o rendimento nos escalões de formação, evitando as
principais causas de desistência de forma precoce da carreira desportiva, sem
que se chegue a atingir o momento de máxima performance. Mais ainda, este
estudo corrobora a necessidade de se considerar os pressupostos da maturação
biológica e da respetiva precocidade das nadadoras em comparação com os
nadadores.