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EuPTCVHe1646-21222012000300013

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variedadeEu
ano2012
fonteScielo

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Fractura da apófise coracoide associada a luxação acrómio-clavicular

INTRODUÇÃO As fracturas isoladas da apófise coracoide são lesões pouco comuns. Quando associadas a luxações acrómio-clavicular constituem lesões raras e são escassos os casos publicados.

O objectivo do trabalho é apresentar um caso clínico e rever a literatura publicada.

Da literatura revista constata-se que a luxação acrómio-clavicular com fractura da apófise coracoide concomitante é um acontecimento pouco frequente. A maioria dos artigos descreve um caso singular [1,2,3] , sendo que Bernard descreve uma série de 4 casos clínicos a maioria deles em adolescentes[4].

Urist descreve numa série de 41 luxações acrómio-claviculares 2 fracturas da coracoide associadas[5] e Jacobs noutra série de 116 luxações apenas uma fractura da coracoide associada[6].

CASO CLÍNICO Doente de 33 anos de idade do sexo masculino vitima de acidente de trabalho com queda de cerca de 3 metros de altura com traumatismo do ombro direito do qual resultou dor e edema sobre a região acrómio-clavicular ipsilateral.

Ao exame objectivo apresentava deformidade sobre a articulação acrómio- clavicular com dor à palpação da articulação supra-citada e da apófise coracoide.

Arco de mobilidade gleno-umeral com dor acima dos 90º de abdução e 60º de elevação anterior.

Não apresentava alterações ao exame neuro-vascular do membro superior direito.

O estudo imagiológico realizado (Rx e TAC) revelou luxação acrómio-clavicular (GIII na classificação de Rockwood [7]) com fractura concomitante da apófise coracoide pela base da mesma (GIII na classificação de Eyres[8]) (Figura_1)

Figura_1

Realizada exploração cirúrgica com tenotomia do subescapular (Figura_2) o que permitiu confirmar fractura com desvio da base da apófise coracoide (proximal aos ligamentos coraco-claviculares e com integridade dos mesmos). Efectuou-se redução aberta e fixação da coracoide com parafuso canulado 3.5 mm e transfixação da articulação acrómio-clavicular com 2 fios de Kirschner (Figura 2). 

Figura_2

Imobilizado com suspensor braquial durante 6 semanas (período em que foi permitido o uso do cotovelo, punho e mão). Após as 6 semanas retirou os fios de Kirschner e iniciou programa de reabilitação funcional para ganho de mobilidade e reforço muscular.

Seis meses após a cirurgia apresenta bom resultado funcional, arco de mobilidade gleno-umeral completo (com dor residual nos extremos de mobilidade), sem dor à palpação da articulação acrómio-clavicular, apresentando apenas deformidade discreta e bem tolerada, tendo retomado a actividade laboral.

O estudo imagiológico demonstra subluxação acrómio-clavicular e correcta consolidação da fractura da coracoide (Figura_3).

Figura_3

DISCUSSÃO Mecanismo de lesão O mecanismo da lesão permanece sobre discussão sendo que na maioria dos casos acontece após acidentes desportivos, motorizados ou traumatismos directos de alta energia da região acrómio-clavicular [4] A coracoide constitui ponto de ancoragem dos ligamentos estabilizadores da clavícula (conoide e trapezóide). Nos adolescentes, os ligamentos coraco- claviculares são mais resistentes que a placa epifisária não fundida (situada junto da base da apófise e cujo encerramento se entre os 15 e os 18 anos de idade) pelo que a fractura da apófise coracoide corresponde a uma avulsão provocada pela luxação acrómio-clavicular com ligamentos conoide e trapezóide intactos o que pode explicar a maior ocorrência desta lesão combinada nas primeiras décadas de vida [4,9] Nos adultos jovens (tal como no caso apresentado) a tracção súbita e intensa exercida por esses mesmos ligamentos aquando da luxação acrómio-clavicular concomitante associado às forças combinadas do tendão conjunto e do tendão do peitoral minor, aquando de uma contracção simultânea súbita e violenta parecem estar envolvidos no mecanismo de fractura da apófise coracoide [2] Devido à protecção oferecida pela clavícula o trauma directo da apófise coracoide é um mecanismo de lesão pouco comum.

Diagnóstico Na presença de luxação acrómio-clavicular resultante de um traumatismo de alta energia do ombro a fractura da apófise coracoide deve ser tida em consideração (sobretudo em doentes nas entre a e a décadas de vida).

Sendo a luxação acrómio-clavicular mais frequente, a fractura da apófise coracoide é subvalorizada e poderá ser  negligenciada face à maior atenção dada à articulação acrómio-clavicular.

A clínica sugestiva com deformidade sobre a articulação acrómio-clavicular associada a dor sobre o ombro que limita as mobilidades da articulação gleno- umeral deve ser complementada com Rx e TAC para correcta caracterização da lesão, avaliação do desvio dos fragmentos ósseos e elaboração do plano cirúrgico[10].

Tratamento Estão descritas várias formas de tratamento cirúrgico sendo a mais consensual a redução aberta da fractura da coracoide e sua fixação com parafuso associada ou não a transfixação acrómio-clavicular. [2,3,11] O tratamento cirúrgico produz bons resultados, no entanto a literatura publicada revela que o tratamento conservador (que pode ser realizado com suspensor braquial ou cruzado posterior entre 3 a 6 semanas) obtêm igualmente bons resultados funcionais, sendo que esteticamente o resultado é inferior nos casos tratados conservadoramente pela deformidade resultante da luxação acrómio-clavicular [4,9].

No caso apresentado a existência de desvio da apófise coracoide obrigou ao tratamento cirúrgico e simultâneo das duas lesões diagnosticadas.

A opção por uma abordagem cirúrgica com tenotomia do subescapular permitiu uma correcta visualização e redução da fractura da apófise coracoide tendo contribuído para o bom resultado funcional deste caso revestido de particular interesse pela raridade clínica que representa.


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