Fixação transpedicular percutânea em fraturas toraco-lombares
INTRODUÇÃO
As fraturas da coluna vertebral representam uma grande parte das lesões
músculo-esqueléticas, a nível mundial. Nos Estados Unidos anualmente existem
150.000 lesões traumáticas da coluna vertebral[1]. As fraturas da região
torácica e lombar representam 75-90% de todas as fraturas da coluna vertebral
[2]. As consequências destas lesões podem ser devastadoras tanto do ponto de
vista funcional como físico e psicológico. A longo tempo ter um impacto
negativo na reinserção social e económica do doente. Assim, o tratamento devera
ter como objetivo, obter e manter a estabilidade vertebral e otimizar a função
neurológica, diminuindo com segurança os efeitos secundários da lesão,
melhorando o resultado funcional e qualidade de vida o mais rápido possível. A
escolha de tratamento destas fraturas depende de vários fatores, entre os quais
se destacam: o tipo de lesão vertebral, a existência ou não de lesão
neurológica associada e as condições gerais do doente. O tratamento conservador
implica períodos de incapacidade prolongada, enquanto o tratamento cirúrgico
convencional, com extensa dissecção muscular pode provocar quadros dolorosos
significativos no pós-operatório e fibrose residual da musculatura com
alterações biomecânicas futuras. As técnicas percutâneas de fixação
transpedicular representam um avanço no tratamento de um grupo de fraturas sem
necessidade de redução ou artrodese posterior.
MATERIAL E MÉTODOS
´Foram estudados 11 doentes com um total de 14 fraturas toracolombares, todos
tratados por fixação transpedicular percutânea minimamente invasiva.
O grupo era composto por 6 homens e 5 mulheres, com idades entre os 44 e 69
anos.
Os mecanismos das fraturas foram: quedas em altura (7 doentes -63,6%);
acidentes de viação (3 doentes - 27,2%) e atropelamento (1 doente - 1%).
Todas as fraturas foram classificadas pelo sistema AO-Magerl, sendo que
inicialmente todas foram classificados como fraturas tipo A1.2.
A localização das fraturas variava entre a região lombar, em 7 doentes (63,6%)
e na região toracolombar em 4 doentes (36,3%). As vértebras mais envolvidas
foram L2 (28%) e L3 (28%), seguidas de D12 (14%) e D11 (14%). Em 3 doentes
foram identificadas fraturas a dois níveis, as duas na região lombar.
Todos os doentes foram submetidos a tratamento cirúrgico com fixação percutânea
minimamente invasiva com o sistema de CD Horizontal Longitud (Medtronic)
(Figura_1).
Figura_1
As avaliações radiológicas do pré e pós-operatório tiveram em consideração a
medição do ângulo de cifose segmentar e do ângulo de cifose local da vértebra
afetada.
Não se verificaram intercorrências intra ou pósoperatórias. A média de
internamento foi de 7 dias, com alta hospitalar para domicílio ao segundo dia
do pós-operatório, sem ortotese de contenção externa e sem restrições de
marcha.
RESULTADOS
Todos os casos considerados foram submetidos a seguimento clínico e radiológico
por um período de tempo mínimo de 6 meses.
As avaliações radiológicas efetuadas no pós-operatório imediato, considerando o
ângulo de cifose segmentar e ângulo de cifose local da vértebra afetada,
revelaram a correta implantação do material, sem agravamento do ângulo de
cifose local e com manutenção do ângulo de cifose segmentar.
As avaliações radiológicas efetuadas 6 meses após a cirurgia, revelaram que
oito doentes mantinham o mesmo ângulo de cifose segmentar e local que
apresentavam no pós-operatório imediata (Quadro_I). Três doentes revelaram
agravamento, em média de 6 graus, do ângulo de cifose local e 4 graus do ângulo
de cifose segmentar, em relação ao pós-operatório imediato (Figura_2).
Quadro_I
A avaliação clínica foi realizada utilizando o sistema de ODI e VAS, com
resultados em média de 40% no primeiro sistema e de 1.5 pontos na escala VAS,
avaliado aos 6 meses pós-cirurgia.
Já foi extraído material em dois doentes aos doze meses da cirurgia.
CONCLUSÃO
O objetivo da técnica de fixação minimamente invasiva é reduzir a morbilidade
associada às abordagens convencionais (desinervação iatrogénica muscular,
aumento da pressão intramuscular, isquémia, dor e mobilização retardada).
A avaliação retrospetiva dos casos apresentados levam-nos a considerar a
existência de um erro técnico na classificação inicial das fraturas e indicação
da técnica cirúrgica. Assim, após a revisão clínica verificou-se que os casos
de fracasso, com agravamento do ângulo de cifose local e segmentar as fraturas
eram do tipo A3.1, pelo sistema AO-Magerl. Esse erro levou a uma falta de
sustentação da coluna anterior, tendo-se revelado o sistema de fixação
transpedicular percutâneo, ineficaz, nestes casos.
Evidencia-se que o sistema de fixação transpedicular percutâneo é uma opção
eficaz e segura nas fraturas por compressão (A1) e não nas de tipo esquiroloso
(A3).
O método de fixação transpedicular percutânea da coluna toracolombar revelou
ser uma opção técnica eficaz em fraturas que exijam apenas um "fixador
interno" sem necessidade de grandes reduções e manipulações e que não
impliquem uma artrodese póstero-lateral conseguida através das técnicas
abertas.