Home   |   Structure   |   Research   |   Resources   |   Members   |   Training   |   Activities   |   Contact

EN | PT

EuPTCVHe1646-69182012000400009

EuPTCVHe1646-69182012000400009

variedadeEu
ano2012
fonteScielo

O script do Java parece estar desligado, ou então houve um erro de comunicação. Ligue o script do Java para mais opções de representação.

Problemática da Cirurgia Bariátrica na Adolescência

INTRODUÇÃO Nas últimas duas décadas a prevalência da obesidade na infância e adolescência aumentou consideravelmente em todo mundo [1]. Apesar de relatos de estabilização em alguns países, a obesidade infantil, suas morbilidades e custos associados, são consideráveis e crescentes em muitos países [2]. Nos Estados Unidos da América (EUA), a prevalência de crianças obesas aumentou de 4% em 1971 para mais de 15% em 2007 [1], sendo, deste modo, um problema de saúde pública em ascensão.

Crianças e adolescentes obesos, quando comparados aos de peso normal, apresentam menor qualidade de vida [3], pois são mais propensos a desenvolver comorbilidades, quer psicossociais, quer médicas (endócrinas, cardiovasculares, pulmonares, ortopédicas), muitas das quais persistem na idade adulta [1-3] - crianças obesas tem 70% probalidade de se tornarem adultos obesos, o que aumenta para 80% se um dos progenitores também for obeso [1].

Embora a prevenção da obesidade deva continuar a ser um objectivo sempre patente na nossa sociedade, o tratamento daqueles que são obesos é uma questão que requer atenção e medidas de solução urgentes [2]. São várias as opções de tratamento para crianças e jovens adolescentes - dieta e exercício físico, bem como cirugia bariátrica [2]. Apesar das medidas dietéticas e comportamentais representarem os principais pilares do tratamento da obesidade na infância e adolescência [5], em virtude da sua eficácia limitada para obesidade mórbida (IMC 40) - apenas 5% perdem peso - e dos benefícios da cirurgia bariátrica nos adultos obesos, cada vez mais a cirurgia bariátrica é uma opção de tratamento nos adolescentes obesos [1,5].

Nos adultos com obesidade mórbida a realização de cirurgia bariátrica é uma opção eficaz, visto reduzir o peso corporal e melhorar as comorbilidades [1], e segura, com critérios e riscos bem definidos [3]. No entanto, nos adolescentes, a realização da cirurgia bariátrica é controversa [2], pois pouca informação fidedigna publicada sobre o tema - quando realizar? Qual a melhor cirurgia? Quais as consequências/riscos a longo prazo? [1].

METODOLOGIA Para a realização do presente artigo, foram consultadas entre outras várias fontes de informação - Official Journal of the American Academy of Pediatrics, New England Journal of Medicine e Pubmed.

Foram seleccionados artigos e guidelinesdos últimos dez anos, que nos pareceram mais relevantes de acordo com actualidade, visto que é uma área em estudo e que ainda permanece sem recomendações firmemente definidas.

RESULTADOS/DISCUSSÃO Apesar de existirem várias recomendações científicas para a realização da cirurgia bariátrica na adolescência, os critérios especificados em cada categoria são pouco consensuais. Deste modo, com o intuito de proporcionar uma orientação o mais completa possível sobre este tema, este artigo tem por base doze guidelines dos últimos seis anos.

Das doze guidelines, dez foram aprovadas por associações nacionais ou comissões de peritos [7,8,10-12,14-18], uma por organizações regionais [9] e uma por uma organização internacional [13]. Todas elas são recomendações para o uso apropriado de procedimentos cirúrgicos no tratamento da obesidade na adolescência, organizadas em várias categorias: critérios de selecção, requisitos da equipa e instituição cirúrgica, protocolos pré e pós-operatórios, bem como o tipo de procedimento cirúrgico.

Critérios de inclusão São vários os critérios de inclusão para a realização da cirurgia bariátrica na adolescência, a maioria abordados em todas as guidelines, porém, com alguma controvérsia. A destacar, idade mínima para a intervenção cirúrgica, maturidade física, IMC, comorbilidades associadas, tentativas de perda de peso e consentimento informado.

Idade A idade adequada para a realização da cirurgia bariátrica na adolescência é um tema ainda muito debatido. Apenas três guidelinesespecificam a idade mínima para a realização desta intervenção (> 11 anos [7], >13 anos [8] e 15 anos ou 14 anos em circunstâncias especiais [9]), sendo as orientações baseadas no desenvolvimento físico do adolescente consideradas as mais consensuais por alguns autores [3].

Maturidade física Uma vez que a maturação óssea e neuroendócrina é acelerada durante a adolescência, e que se desconhece as repercurssões dos procedimentos restritivos ou mal-absortivos sobre estes processos, muitos defendem a idade baseada no desenvolvimento, um critério de inclusão mais importante que a idade cronológica [3]. Deste modo, a cirurgia bariátrica pode realizar-se se o adolescente estiver no estadio III [10], IV ou V [11,9] de Tanner; na pós- puberdade [12]; se tiver atingido a altura próxima ou final do adulto [11,9,13], ou a maturidade e desenvolvimento físico (definida como> 13 anos para raparigas e> 15anos para rapazes). Também a idade óssea é referida em duas guidelinescomo critério de inclusão, sendo que uma recomenda> 13 anos para as raparigas e> 15anos para rapazes [8], e outra ≥13 anos para raparigas e ≥15anos para rapazes [9] - guidelinemais actual.

Índice de Massa Corporal (IMC) Embora seja o critério de inclusão mais citado em toda a pesquisa bibliográfica (em dez das doze guidelines), ainda existe alguma controvérsia relativamente ao valor ideal a partir do qual a cirurgia bariátrica está indicada nos adolescentes (Tabela_1). Porém, o critério mais prevalente actualmente é IMC> 40 kg/m2 / 40 kg/m2 e IMC> 35 kg/m2 / 35 kg/m2 na presença de comorbilidades.

Comorbilidades Adolescentes obesos são mais propensos a desenvolver comorbilidades, comparativamente aos de peso normal [3]. As comorbilidades, que podem ser agrupadas em duas categorias [5] - "graves" (Diabetes Mellitus tipo 2, Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono moderada a grave, Pseudotumor Cerebri e Esteatopatia não alcoólica) e "outras" (Dislipidémia, Intolerância à glicose, Resistência à insulina, Hipertensão, Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono leve), são mencionadas como critérios obrigatórios em duas guidelines(9,12) na elegibilidade para a intervenção cirúrgica.

Tentativa prévia de perda de peso A tentativa prévia de perda de peso é um critério debatido promenorizadamente na maioria da guidelines[7-11,13-15]. Muitas definem seis meses como duração mínima [7-9,11,15], reforçando a ideia de modificação do estilo de vida [7,11,14], bem como a supervisão precisa e organizada da perda de peso [9,13], se possível, acompanhada pela família [8].

Consentimento e apoio familiar Dada a valência risco-benefício da cirurgia bariátrica na adolescência, o consentimento informado é um critério de inclusão bem definido na bibliografia consultada [3, 5, 8, 13,15].

A compreensão completa, pelo adolescente e seu representante legal, dos métodos cirúrgicos e não cirúrgicos alternativos, das possíveis complicações a curto e a longo prazo e das modificações necessárias no estilo de vida para alcançar um resultado positivo (ex: cumprir orientações pós-operatórios e vigilância prolongada), devem ficar bem documentadas [5]. Deste modo, para a realização da cirurgia bariátrica no adolescente, é necessário o parecer favorável do adolescente [8,13], o seu consentimento informado [9,15] e do seu representante legal [9].

Também o suporte familiar é um critério fundamental para a realização da cirurgia [6]. Um suporte familiar emocionalmente [7] e psicologicamente estável [9,10,13,15] disposto a todas a mudanças necessárias no pós-operatório [1], é um impulsionador para o sucesso desta cirurgia.

Critérios de exclusão À semelhança da cirurgia da obesidade nos adultos, também na dos adolescentes, existem algumas contra-indicações/critérios de exclusão definidos em várias publicações. Gravidez ou amamentação [3,9-11], jovens com problemas de abuso de substâncias ou álcool [10,14,15], Síndrome de Prader-Willi ou outras condições hiperfágicas [9,11] são critérios de exclusão referidos na maioria das publicações.

Porém, uma abordagem mais cautelosa desaconselha a cirurgia bariática nos adolescentes com HIV não controlado, insuficiência respiratória e hipercápnia, infecção sistémica activa, neoplasia/metastização, disfunção endócrina não tratada [10], causas clinicamente corrigíveis de obesidade [13], perturbações alimentares, bem como falta de adesão familiar [15].

Perícia e Instituição Cirúrgica A perícia do cirurgião/ equipa cirúrgica neste procedimento é fundamental para alcançar o sucesso do mesmo. Deste modo, o adolescente deve ser acompanhado por uma equipa multidisciplinar [7,8,12-15], experiente [14-16], que o acompanhe pré e pós-operatório, proporcionando assim uma avaliação optimizada (melhor selecção pré-operatória bem como resultados pós-operatórios) [5]. A equipa ideal deverá ser constituída, inicialmente, por quatro a cinco elementos (cirurgião, pediatra, psicólogo, nutricionista, e um coordenador) que se reunam, pelo menos uma vez no pré-operatório, para estabelecer um plano de tratamento para o adolescente [5]. Especialistas em fisioterapia pediátrica, pneumologia, gastroenterologia, endocrinologia, cardiologia, hematologia e anestesia, devem estar disponíveis, para consultas, quando necessário [5].

Também o acompanhamento da familia, por parte da equipa, é recomendado [11], uma vez que é o apoio de excelência do adolescente.

Por último, recomenda-se que o cirurgião tenha conhecimento abrangente [9,14,13], experiência [11,13,14] e credencial em cirurgia bariátrica [3,9,13,14], isto é, que seja "altamente especializado" [13,17].

Paralelamente, a experiência da instituição em cirurgia bariátrica [15] e a capacidade de resposta às necessidades especiais dos pacientes bariátricos são requisitos fundamentais para a realização da intervenção cirúrgica (camas, roupas, cadeiras de rodas adequadas e confortáveis) [14].

Avaliação Pré-operatória Das guidelinesencontradas quatro fazem referência a Critérios de Avaliação Pré- Operatórios [7,9,13,15] que devem ser alvo de uma avaliação rigorosa antes do procedimento cirúrgico:

* Estado geral de saúde do doente, nomeadamente comorbilidades relacionadas com a obesidade, tais como distúrbios do sono, respiratórios, gastro-intestinais, endócrinos, do sistema nervoso, ortopédicos, dermatológicos e factores de risco cardio-vascular; * Estado de Desenvolvimento; * Condição Psicológica; * Estado Nutricional; * Motivação e potencial para adesão aos cuidados pós-operatórios; * Conhecimento do procedimento cirúrgico a realizar, bem como dos requisitos pós-operatórios.

Adicionalmente à própria avaliação do doente, recomenda-se a avaliação da própria família para a motivação e adesão ao follow-up, condição psicológica/ psiquiátrica que confirmem estabilidade e competência da mesma, capacidade de cuidar e conhecimento do procedimento cirúrgico, bem como dos requisitos pós- operatórios [9]. O tratamento das comorbilidades associadas à obesidade é recomendado no âmbito da avaliação pré-operatória [15].

Educação Pré-Operatória Os doentes devem ser informados, esclarecidos e educados sobre outcomes, possíveis riscos e complicações inerentes ao procedimento cirúrgico [9,10,12,13,15], bem como sobre a possibilidade de tratamento com alternativas ao procedimento cirúrgico inicial [10,13]. Recomenda-se a abordagem simultânea na instrução do doente e da família na educação pré-operatória [12,13]. A discussão do procedimento cirúrgico [9], das consequências do não seguimento do tratamento [9], bem como dos benefícios do mesmo [15] são recomendações que também constam de algumas guidelines.

Tipo de Procedimento Cirúrgico Actualmente não um consenso universal sobre o tipo de procedimento cirúrgico mais indicado na Cirurgia Bariátrica da adolescência. Das guidelinesencontradas apenas duas fazem referência aos diferentes tipos de cirurgia. As guidelinesAustralianas [9], publicadas em 2010, recomendam a Banda Gástrica Ajustável Laparoscópica (BGAL), argumentando bons outcomesa nível de perda de peso, baixa taxa de complicações e o facto de ser potencialmente reversível. As guidelinesdo Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica [17] (NICE) publicadas em 2006, referem que não evidência sobre qual procedimento cirúrgico é o mais eficaz na perda de peso em adolescentes.

Actualmente os dois tipos de cirurgia bariátrica mais comumente realizados são a Banda Gástrica Ajustável Laparoscópica1 (BGAL) e o Bypass Gástrico em Y de Roux [1] (BGYR). A gastrectomia linear (Gastric Sleeve) [34-37], procedimento cirúrgico por nós utilizado carece de investigação. Outras cirurgias como as derivações bíliopancreática entram no mesmo âmbito.

Foram encontrados 9 estudos [19-27] que reportam outcomessobre a utilização da Banda Gástrica Ajustável Laparoscópica (BGAL) como procedimento cirúrgico bariátrico em adolescentes. Desses, três foram realizados nos EUA, dois na Austrália, dois em Israel, um na Áustria e por último, um em Itália. O primeiro procedimento cirúrgico bariátrico com BGAL em adolescentes foi realizado em 1996. De realçar que, apesar das recomendações e estudos crescentes sobre este tipo de cirurgia, esta ainda não está aprovada no EUA pela Food and Drug Administration (FDA)nos adolescentes (idade < 18 anos). Relativamente ao Bypass Gástrico em Y de Roux (BGYR), foram encontrados cinco estudos [28,32], tendo sido todos realizados nos EUA. Salienta-se que, destes cinco estudos que constam da nossa pesquisa bibliográfica, três [28,29,31] utilizaram uma abordagem por Laparoscopia, um [32] uma abordagem por Laparotomia, e, por último, o estudo de Lawson et alutilizou na sua maioria uma abordagem Laparoscópica (34/39). O primeiro procedimento cirúrgico bariátrico com BGYR em adolescentes foi realizado em 1970. Apenas este procedimento está aprovado pela FDAna sua utilização em adolescentes.

Com o objectivo de perceber e inferir qual dos dois tipos de procedimentos cirúrgicos mais utilizados (BGAL e BGYR) é o mais indicado/eficaz na utilização da cirurgia bariátrica da adolescência procedemos a uma análise comparativa de vários estudos, avaliando determinados parâmetros, nomeadamente: redução do IMC, resolução de comorbilidades e complicações associadas ao próprio procedimento cirúrgico.

Redução do IMC Banda Gástrica Ajustável Laparoscópica A Tabela_número_2 pretende fazer um resumo dos resultados dos vários estudos encontrados com os IMCs pré e pós operatórios, assim como os períodos de follow-up.O tempo de follow-upnos nove estudos que abordam este tipo de cirurgia variou entre os 1 e 84 meses. Os IMCs pré e pós-operatórios foram registados, tendo-se verificado uma média de redução de IMC que varia entre 8.5 e 16.4 unidades de IMC.

Bypass Gástrico em Y de Roux Na Tabela_número_3 podemos observar os resultados dos cinco estudos encontrados com BGYR, abordando os valores de IMCs pré e pós operatórios, assim como períodos de follow-up. O tempo de follow-upvariou entre os 3 e 156 meses.

Os Índices de Massa Corporais pré e pós-operatórios foram registados, tendo-se verificado uma média de redução de IMC que varia entre 17.2 e 22.5 unidades de IMC.

Resolução das comorbilidades Banda Gástrica Ajustável Laparoscópica Dos nove estudos abordados, seis [19,20,21,23,24,27] referem taxas de resolução pós-cirúrgicas de comorbilidades associadas à obesidade. A Tabela_4 permite observar, nos diferentes estudos, as taxas de resolução das comorbilidades específicas associadas a este tipo de cirurgia.

Pela análise da tabela, podemos verificar que para a Diabetes dois estudos reportam taxas de resolução de 100% [24] e 80% [23]. No que respeita à Hipertensão (HTA) quatro estudos reportam taxas de resolução de 100% [20,21,24] e 50% [23]. A Asma apresenta taxas de resolução de 100% [23,24] e 33,3% [21].

Dislipidémia/Síndrome Metabólica tiveram taxas de resolução entre 67% e 100% em cinco estudos [19,20,21,23,27]. Relativamente à Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) revelou taxas de resolução de 25% [21] e 100% [24].

Bypass Gástrico em Y de Roux Dos cinco estudos com este tipo de procedimento cirúrgico, quatro [29-32] revelam taxas de resolução pós-operatórias de comorbilidades associadas à obesidade. A Diabetes teve uma taxa de resolução de 50% (3/6) [29]. Dois estudos demonstraram taxas de resolução para a HTA de 100% (3/3) [32] e 50% (3/ 6) [29]. A SAOS apresentou taxas de resolução de 100% (10/10) [30], (2/2) [32] e 75% (3/4) [31]. O estudo Stanford et al revelou a resolução de todas as comorbilidades inicias dos doentes (n=4), entre elas Dislipidémia, SAOS, Asma e Doença do Refluxo Gastro-Esofágico (DRGE).

Complicações Banda Gástrica Ajustável Laparoscópica Nos nove estudos acerca deste tipo de procedimento cirúrgico não foi reportada nenhuma mortalidade intra-hospitalar ou pós-operatória.

Relativamente às complicações específicas da BGAL, estas foram mencionadas em sete estudos. A Dilatação da Bolsa Gástrica foi a complicação mais frequente, tendo ocorrido em 25% (6/24) [22], 24% (6/25) [19], e 3,4% (2/58) [25]. O deslizamento da banda (Band Slippage) foi a segunda complicação mais frequente, tendo sido verificado em quatro estudos - 13,3% (8/60) [24], 3,8% (2/53) [21], 2,4% (1/41) [26] e 1,7% (1/58) [25].

O Funcionamento Inadequado do port/tubo ocorreu em quatro estudos - 15% (3/20) [20], 4% (1/24) [22], 2,4% (1/41) [26] e 2% (1/50) [23].

A deficiência de ferro foi uma complicação referida em dois estudos, ocorrendo em 36,3% (4/11) [27] e 7,5% (4/53) [21].

Bypass Gástrico em Y de Roux Nenhuma mortalidade intra-hospitalar foi registada. Um doente, no estudo de Lawson e tal.,morreu nove meses depois da cirurgia com uma colite a Clostridium difficilee choque hipovolémico.

Relativamente às complicações específicas do BGYR, estas foram mencionadas em quatro estudos. A complicação mais frequente foi a nutrição calórico- proteica e a deficiência de micronutrientes. A anemia por deficiência de ferro ocorreu em 50% (5/10) [32] e 10,3% (4/39) [30] dos casos. O défice de ácido fólico atingiu os 30% (3/10) [32]. A neuropatia periférica secundária ao défice de ácido fólico atingiu os 23% (9/39) [30].

Outras complicações são mencionadas ao longo dos vários estudos, tais como: desidratação [28,30], úlceras marginais [28,329], estenose da anastomose gastrojejunal [28, 30], obstrução intestinal [28,30], diarreia [30], hipocaliémia [30], hérnia interna [30], hérnia incisional [32], colelitíase [32].

Análise comparativa dos dois tipos de procedimentos cirúrgicos mais utilizados: Analisando comparativamente os dois tipos de cirurgia podemos verificar que nos estudos sobre o Bypass Gástrico em Y de Rouxo intervalo de tempo do período de follow-upfoi maior (3-156 m) que nos estudos que abordam a Banda Gástrica Ajustável Laparoscópica(1-84 m). A média de redução do IMC foi maior nos estudos que contemplam o Bypass Gástrico em Y de Roux(17.2-22.5 unidades de IMC) comparativamente com os que abordam a Banda Gástrica Ajustável Laparoscópica(8.5-16.4). A média do IMC pré-operatório foi, igualmente, maior nos estudos que abordam o Bypass Gástrico em Y de Roux(52.4-60.2 kg/ m2), comparativamente com os que abordam a Banda Gástrica Ajustável Laparoscópica (42.3-50 kg/m2).

Relativamente às taxas de resolução das comorbilidades associadas estas revelaram-se relativamente semelhantes.

No que respeita às complicações específicas de cada procedimento cirúrgico, na Banda Gástrica Ajustável Laparoscópicaas complicações mais frequentes foram a dilatação da bolsa gástrica e o deslizamento da banda (Band Slippage), enquanto que a nutrição calórico-proteica e a deficiência de micronutrientes foram as complicações mais frequentes associadas ao Bypass Gástrico em Y de Roux.

Apesar de ainda não estar aprovada pela Food and Drug Administrationna cirurgia bariátrica em adolescentes e, de haver uma maior necessidade de outomesa longo prazo, a Banda Gástrica Ajustável Laparoscópicaé considerada a cirurgia mais segura e a mais regularmente utilizada na Europa [2,33] e Austrália [33]. Este tipo de procedimento cirúrgico está associado a uma baixa morbilidade e a um carácter de reversibilidade [3], o que o torna uma alternativa atractiva para a obesidade grave em adolescentes [3].

Por outro lado, apesar das complicações serem mais frequentes, ocorrendo numa taxa de 20-30% [2], e dos riscos nutricionais a longo prazo serem maiores [33], a aprovação do Bypass Gástrico em Y de Rouxpela Food and Drug Administration (EUA) na cirurgia bariátrica em adolescentes, bem como a existência de outcomesa longo-prazo que comprovam a segurança e eficácia, tornam este procedimento cirúrgico o mais realizado nos EUA [2,5,33]. A natureza do procedimento cirúrgico requer uma selecção meticulosa dos doentes e um follow- up durante toda a vida [3].

Gastric Sleeve Laparoscópico Na Tabela_número_5 podemos observar os resultados de três [34-36] estudos encontrados. O tempo de follow-upvariou entre os 6 e 19 meses. Os IMCs pré e pós-operatórios foram registados, tendo-se verificado uma média de redução de 9.2 a 19.85 unidades de IMC.

Relativamente à resolução das comorbilidades associadas, esta foi referida em dois estudos, com melhoramento da hipertensão [35] e saúde mental [36]. Não foram reportadas complicações intra e pós-operatórias em nenhum dos estudos em causa.

Apesar de ter sido demonstrado, nestes estudos, a eficácia e segurança do Sleeve Laparoscópico,é necessária a realização de mais estudos com um período de follow-upsuperior para estabelecer um estudo comparativo com os outros tipos de procedimento cirúrgico mais utilizados, de modo a obter resultados mais fidedignos.

Seguimento/Cuidados Pós-Operatório Das guidelinesque constam da nossa pesquisa bibliográfica, cinco [7,9,10,15,17] reconhecem a importância do seguimento pós-operatório para o sucesso da cirurgia bariátrica como tratamento para a obesidade grave em adolescentes, especificando determinados critérios para serem aplicados no follow- upcirúrgico. O seguimento pós-operatório com a avaliação das deficiências nutricionais é frequentemente referido em várias guidelines[7,10,15,17], seguido de uma necessidade de vigilância idealmente para toda a vida [7,9,15], com um follow-upde 4-6 semanas de base [9]. Após o Bypass Gástrico em Y de Rouxrecomenda-se a adesão do adolescente a um regime de suplementos [37] devido ao risco da absorção de micronutrientes constituído por:

* Multivitaminas standardcom ácido fólico e ferro; * Vitamina B12 - 500 microgramas per osdiariamente; * Cálcio - 1200 a 1500 mg/dia com 800 mg Vitamina D.

Suplementos adicionais podem ser necessários durante a gravidez ou conforme os resultados laboratoriais. Se ocorrer vómito pós-operatório grave pode desenvolver-se uma deficiência de vitamina B1 com necessidade de reposição da mesma.

O programa de follow-upmultidisciplinar deve incluir várias vertentes essenciais, nomeadamente nutricional [7,9,10,15], psicológica [7,9,15], médica [10,15] e comportamental [9,10]. Potenciais problemas a longo prazo tais como o aumento da fertilidade após perda de peso, bem como a necessidade de contracepção devem ser considerados [9].

CONCLUSÃO A cirurgia bariátrica na adolescência é um tema muito em exploração. Nos últimos dez anos foram desenvolvidas doze guidelinese recolhemos vinte e cinco artigos, que consistem em recomendações para o uso adequado desta intervenção.

Apesar das categorias abordadas nas várias recomendações serem muito semelhantes, pouco consenso nos critérios especificados em cada uma delas, entre eles, idade e IMC. Porém, a realização da cirurgia bariátrica, depois de tentativas falhadas de perda de peso, é um critério consensual e bem definido, abordado na maioria das guidelines, sobretudo nas mais actuais. Paralelamente, a presença de uma equipa multidisciplinar (cirurgião, pediatra, psicólogo, anestesista, entre outras especialidades) experiente, que acompanhe o adolescente e respectiva família pré e pós operatoriamente com um plano individualizado, bem como um ambiente familiar emocional e psicologicamente estável, é consensual e considerado fulcral para o sucesso da cirurgia. A motivação do doente, bem como a importância de um follow-upa longo prazo são critérios abordados em algumas guidelines. A ambiguidade que existe nesta área indica a natureza complexa que existe no tratamento cirúrgico da obesidade em adolescentes. Enquanto que as recomendações são necessárias para orientar e actualizar os clínicos, a falta de consensualidade relembra que os adolescentes obesos requerem uma avaliação e cuidados individualizados.


transferir texto