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variedadeEu
ano2014
fonteScielo

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Ser Cirurgião EDITORIAL

Ser Cirurgião Being a Surgeon

Jorge Penedo Editor Chefe da Revista Portuguesa de Cirurgia Correspondência

Mais um número da Revista Portuguesa de Cirurgia que chega a vossa casa.

Um número com as habituais secções. Com a habitual regularidade. Com a habitual imagem. Um número tranquilo como costumam ser os números de Verão.

Artigos vários, Diversos. Com origem em vários hospitais. Versando sobre temas vários. Uma palavra especial para o artigo do Professor Carlos Fiolhais. Depois da magnifica conferência dada no nosso último congresso deu igual resposta à nossa solicitação para materializar em escrita as palavras que a todos encantaram.

Aos poucos a nossa revista vai crescendo e ganhando a confiança de muitos.

Temos ainda um longo caminho pela frente. Temos de ser mais exigentes e dar melhores respostas. Temos de ser mais interactivos. Temos de estar mais presentes.

Os tempos que se aproximam para os cirurgiões não serão tempos fáceis.

Paul Valéry afirmava no seu magnifico Discour aux Chirurgiens: Vous êtes les ministres les plus entreprenants de la volontê de vivre e acrescentava je vois dans la chirurgie moderne un des aspects les plus nobles et les plus passionants de cette extraordinaire aventure de la race humaine.

Estavamos em 1938 e o ilustre filósofo, escritor e poeta francês discursava no Anfiteatro da Faculdade de Medicina de Paris na sessão inaugural do Congresso de Cirurgia na sua qualidade de Presidente Honorário do Congresso.

Temos uma profissão de séculos. Juntamos arte e saber, ciência e empirismo, arrojo e sensatez, trabalho e lazer, loucura e sabedoria, prática e inteligência. Somos artesãos altamente diferenciados. Mexemos no corpo e na alma. Amputamos para salvar. Reparamos. Reconstruimos. Modificamos. Salvamos.

Fazêmo-lo sempre mantendo o sentido de unidade que o corpo deve ter. Mantendo uma preocupação com o equilíbrio do ser.

Diariamente lutamos hora após hora no bloco operatório ou serviço de urgência, na consulta, nas enfermarias ou no apoio a outras especialidades com um fim único. Dar saúde a quem está doente. Dar esperança a quem está a beira de a perder. Lutar contra um destino que por vezes surge inexoravelmente. Nem sempre ganhamos a guerra mas ganhamos muitas batalhas.

Assim fomos. Assim somos. E assim devemos continuar a ser. Ser cirurgião é um modo de estar na vida. Mas infelizmente muitos são aqueles que nos querem modificar.

Que nos querem levar a simples técnicos contratados para a execução de tarefas antecipadamente calendarizadas.

Que nos querem transformar em simples humanos altamente treinados na repetição de gestos. Que nos querem transformar em elementos anónimos de uma engrenagem incógnita.

Operar é muito mais do que a simples conjugação de gestos sistemáticos. Para operar que ter alma. Operamos um corpo com alma. Não atuamos numa qualquer máquina, mudando peças e alterando circuitos.

Querer fazer da nossa Arte um simples exercício técnico é um insulto aquilo que somos e que é nossa Arte.

Pretender avaliar o nosso desempenho somente pelo conhecimento do número de cirurgias feitas é um profundo erro.

Querer dividir o nosso trabalho em pequenas unidades de tempo que somadas devem constituir um horário é ignorar o nosso modo de existir.

Querer liquidar o tempo de ensino, de formação, de investigação.

Querer levar a especialização a um limite de dispersão do que é ser cirurgião pode ser mais um passo em direção ao abismo.

Não apostar na educação e na formação rigorosa e exigente significa liquidar o futuro.

Não se leiam destas palavras que somos Deuses intangíveis. Para além de qualquer avaliação ou julgamento. Que somos seres perfeitos e poços de virtudes Não. Bem pelo contrário. Mas que exigir que a nossa avaliação deve ser feita tendo em conta a essência da nossa profissão.

O Futuro da Cirurgia Geral é essencial para o nosso futuro enquanto Cirurgiões.

Nunca como agora estivemos tão perto de deixar de ser o que ainda somos. A pressão de uma sociedade imediatista, onde o tempo de reflexão é coartado pela necessidade da ação é hoje tremendo.

Refletir sobre a Cirurgia Geral é pois essencial para garantir o nosso futuro enquanto classe. Devemos defender o que somos em direção a um futuro novo.

O projeto o O Futuro da Cirurgia Geral está em fase quase final. recebemos várias dezenas de contributos de muitos países e de várias nacionalidades.

Cirurgiões de várias nacionalidades juntaram-se a nós neste debate essencial para o nosso futuro. Lanço pois um último apelo a todos aqueles que entenderem dar o seu contributo para o fazerem o mais brevemente possível.

Boas férias e até Setembro.

Correspondência JORGE PENEDO e-mail: editorchefe@spcir.com


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