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EuPTCVHe1647-21602014000100002

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variedadeEu
ano2014
fonteScielo

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Prevalência da solidão e depressão na população idosa residente na zona histórica da cidade de Portalegre

Introdução O envelhecimento da população é um fenómeno que, apesar de mundial, atinge com particular acutilância as sociedades ocidentais contemporâneas. As estimativas da Organização Mundial de Saúde preveem a existência de 1,2 biliões de pessoas com mais de 60 anos em 2025 (Sousa, Galante e Figueiredo, 2003). Portugal não constitui exceção ao panorama do envelhecimento populacional. As projeções a 50 anos realizadas pelo Instituto Nacional de Estatística (2009) apontam como principais tendências demográficas o aumento do progressivo do índice de envelhecimento (prevendo-se, em 2060, no cenário mais provável um rácio de 271 idoso por cada 100 jovens), uma redução da proporção de jovens (de 15,3% em 2008 para 11,9% em 2060), e um aumento considerável da percentagem de população com 65 ou mais anos de idade (passando de 17,4% em 2008 para 32,3% em 2060).

Estas tendências conferem pertinência à aferição das variáveis ligadas à qualidade de vida dos idosos e das condições que propiciam bem-estar durante o envelhecimento. A identificação e análise dos fatores relacionados com a qualidade de vida e com o funcionamento emocional e social dos idosos constituem um importante instrumento de caraterização do bem-estar possibilitando a implementação de estratégias e práticas clínicas que promovam o envelhecimento bem-sucedido.

Nesta comunicação apresentamos os resultados de uma investigação realizada no âmbito do projeto: Solidão, depressão e qualidade de vida em grupos vulneráveis da Cidade de Portalegre. Este projeto teve como objetivos, numa primeira fase, a avaliação do estado mental, a solidão e a qualidade de vida dos idosos para, posteriormente, numa segunda fase, contribuir, numa vertente interventiva, para a (re)construção de redes sociais de apoio. Os dados apresentados neste texto referem-se à discussão dos fatores biopsicossociais associados ao estado de saúde, ao fenómeno da depressão e ao sentimento de solidão.

Metodologia A metodologia utilizada baseou-se na recolha de informação através de um questionário junto de 123 idosos.

O questionário foi aplicado por heteroavaliação e contém várias medidas: 1) Avaliação Breve do Estado Mental (Grupo de Estudos de Envelhecimento Cerebral e Demência - GEECD, 2008) - Exame Breve do Estado Mental: instrumento de rastreio para uma avaliação breve da Demência. É constituído por uma série de questões e tarefas que permitem a avaliação das seguintes funções cognitivas: orientação (10 pontos), repetição (3 pontos), atenção e cálculo (5 pontos), memória (3 pontos) e linguagem (9 pontos). De acordo com os pontos de corte estabelecidos para a população portuguesa, consideram-se com défice cognitivo os analfabetos com pontuação igual ou inferior a 15, os indivíduos com 1 a 11 anos de escolaridade com pontuação igual ou inferior a 22, e os indivíduos com escolaridade superior a 11 anos com pontuação igual ou inferior a 27.

2) Escala de Depressão Geriátrica (GEECD, 2008), escala de 15 itens para avaliação de sintomas depressivos em populações geriátricas; A escala pode ser aplicada por profissionais não médicos, pois não exige conhecimentos em psicopatologia. Foi utilizada a escala de versão reduzida (15 perguntas) dado o menor tempo gasto na sua aplicação.

Para o preenchimento desta versão reduzida, deve considerar-se que os itens 1, 5, 7, 11 e 13, devem ser pontuados negativamente, isto é, a uma resposta Não corresponde um ponto. Aos itens 2, 3, 4, 6, 8, 9, 10, 12, 14, 15, será atribuído um ponto à resposta positiva Sim.

3) Escala de Solidão da UCLA (Neto, 1989), composta por 18 itens e que avalia a solidão e os sentimentos associados à mesma.

Utilizou-se para versão portuguesa validada por Neto (1989). A versão portuguesa possui 18 itens. É um questionário que avalia a solidão e os sentimentos associados à mesma. As respostas de cada item fazem-se através de uma escala de tipo Likert com 4 pontos, desde nunca (1) até muitas vezes (4). A pontuação mínima possível é de 18 pontos e a máxima de 72 pontos. A pontuação total é obtida através da soma dos itens, metade dos quais formulados da forma inversa (itens 1,4,5,8,9,13,14,17 e 18), e reflete o índice de solidão. Assim, um resultado mais elevado traduz solidão, enquanto um resultado mais baixo traduz satisfação social (ausência de solidão).

A aplicação decorreu em duas zonas geográficas delimitadas da zona histórica da cidade de Portalegre, Portugal entre os dias 21 de janeiro e 2 de fevereiro de 2013.Os inquiridos foram identificados após consentimento livre e esclarecido permitindo a relação direta com os dados inquiridos. Os dados apresentados resultam de um estudo de caráter quantitativo, correlacional, observacional e transversal.

De acordo com as caraterísticas das variáveis em estudo são apresentadas as várias análises e os resultados obtidos na investigação. Os dados foram trabalhados através do Software SPSS (Statistical Package the Social Sciences) versão 18.0 usando o teste do Qui-quadrado ou o teste de correlação conforme a natureza das variáveis, sendo consideradas estatisticamente significativas as análises estatísticas cuja probabilidade de significância, p-value, do teste fosse inferior ou igual a 0.05.

Dos 123 idosos inquiridos a maioria (69,9%) era do sexo feminino, sendo 30,1% do sexo masculino. A média de idades situou-se nos 77 anos. A tabela_1 permite a descrição da amostra através das principais variáveis de caracterização: grupo etário, estado civil e habilitações literárias.

Os idosos residentes na zona histórica da cidade de Portalegre e incluídos na amostra apresentam características idênticas àquelas tipicamente associadas à população idosa portuguesa. A maioria dos idosos de sexo masculino é casado e a situação de viuvez atinge, sobretudo, as mulheres. Em termos de qualificações pode observar-se que se trata de uma população com baixos níveis de habilitações escolares.

Resultados O conceito de autoperceção do estado de saúde, ainda que reconhecidamente envolva processos ilógicos e irracionais no procedimento de aferição introspetiva da avaliação do estado de saúde, constitui hoje um preditor consistente de morbilidade. Este indicador é uma medida holística da saúde percebida que engloba uma síntese das perceções físicas, mentais e emocionais da saúde e capta a intuição do inquirido acerca de quão bem está (Jylha, 2009).

A autora conclui que a utilização da autoperceção do estado de saúde para comparar o estado de saúde de diferentes grupos beneficia da sua natureza compreensiva e inclusiva. Na presente investigação consideraram-se três indicadores do estado de saúde: autoavaliação do estado de saúde; autoavaliação da existência de alterações ao estado de saúde e autonomia na realização de tarefas diárias.

Os resultados obtidos indiciam que o género constitui um fator determinante na perceção do estado de saúde. A análise da tabela_2 permite observar que as mulheres tendem a ter uma pior consideração do seu estado de saúde quando comparadas com os homens. Como refere Vintém (2008, p. 14) o géneroafigura-se como fator importante na maneira como cada pessoa aprecia o seu próprio estado de saúde. Relativamente à idade podemos verificar que não se identificaram diferenças estatisticamente significativas na forma como cada grupo etário aprecia o seu estado de saúde.

A tabela_3 contempla os resultados à questão considera que atualmente existem alterações na sua saúde?. Os valores estão em consonância com os resultados apresentados no quadro 2: são as mulheres que mais alterações identificam no estado de saúde, quando comparadas com os homens. Relativamente à idade as diferenças identificadas entre os distintos grupos etários não são estatisticamente significativas (p=0,558).

A análise da tabela_4 permite constatar que não se verificam diferenças de género em termos de limitações funcionais na autonomia no desempenho de atividades de vida diária. No que diz respeito à idade foram identificas evidências de que o seu aumento tem impacto na diminuição da autonomia dos idosos (Χ2(3)=10,644; p=0,014).

A depressão é considerada hoje em dia, um problema de saúde importante que atinge pessoas de todas as idades, conduzindo a sentimentos de tristeza e isolamento social (Martins, 2008). A depressão é muito mais do que um sentimento. Ela pode ser uma doença mental grave e incapacitante, interferindo em todos os aspetos do dia-a-dia dos indivíduos. Nesta investigação foram avaliadas a solidão (através da escala de solidão da UCLA [Neto, 1989]) e a depressão (através da escala de depressão Geriátrica [GEECD, 2008]) junto da população idosa.

Os resultados obtidos relativamente ao nível de solidão dos idosos (tabela_5) estão em consonância com outros estudos que utilizaram a escala de solidão da UCLA. Não se registam diferenças estatisticamente significativas em função do sexo (p=0,225) corroborando os resultados obtidos em investigações anteriores (Neto, 1989). No que diz respeito à idade não verificaram, igualmente, diferenças significativas. Refira-se que esta escala não questiona diretamente os sujeitos sobre se se sentem sós, mas procura avaliar a solidão indiretamente.

Discussão Os resultados obtidos indicam que os idosos residentes na zona histórica da cidade de Portalegre percecionam o seu estado de saúde de forma diferenciada em função do género. São as mulheres quem apresentam uma pior conceção da sua saúde quando comparadas com os homens. Estes resultados são concordantes com os obtidos em outras investigações (Vintém, 2008; Araújo, Ramos e Lopes, 2011) que uma maior propensão para as mulheres idosas percecionarem o seu estado de saúde como mais fraco comparativamente com os homens. A perceção do estado de saúde não se revelou, contudo, influenciada pela idade dos idosos. Os resultados obtidos devem ser interpretados como uma perceção individual da saúde e não como uma medida exata do estado de saúde. As respostas obtidas são, necessariamente, o resultado do conjunto de informações relevantes sobre saúde que os inquiridos possuem. O seu posicionamento varia, assim, em função da informação de que dispõe e da sua conceção de saúde.

No que diz respeito à realização das atividades de vida diária podemos identificar um elevado grau de autonomia nos idosos incluídos na amostra. Ainda assim, foram identificadas evidências de que o aumento da idade está relacionado com uma progressiva perda da autonomia.

Sabemos hoje que, também no idoso, a depressão afeta a perceção de si mesmo e também a forma como o mundo que o rodeia. Assim esta variável pode influenciar varias dimensões do dia-a-dia do Idoso como alterações fisiológicas como no apetite, o sono ou níveis de energia assim como nas relações interpessoais, atividades laborais ou sociais (Alexopulos, Katz, Reynolds, Carpenter & Docherty, 2001; Hell, 2009).

É frequente na população idosa, sinais e sintomas depressivos, sobretudo na imagem negativa de si mesmos, pensamentos involuntários negativos do self,e uma imagem negativado mundo que os rodeia e do futuro que se avizinha,(Gotlib & Joorman, 2010).

Associado ao envelhecimento, surgem por vezes, patologias como a depressão (Huang, Dond, Lu, Yue & Liu, 2010; Mead et al., 2008) considerada hoje uma das maiores causas de sofrimento emocional, relacionando-se muitas vezes, sobretudo nesta fase do ciclo de vida, com sentimentos de solidão.

Conclusões A perda de capacidades funcionais associada ao processo de envelhecimento e o consequente aumento dos níveis de dependência pode tornar-se particularmente problemático no atual contexto social em que se alteram as formas tradicionais de convivência de solidariedade intrafamiliar. Neste sentido, é espectável um aumento progressivo da procura de cuidados formais por parte da população idosa. Relativamente aos cuidados de enfermagem, como demonstra Costa (2011), podem ser influenciados pelas representações sociais acerca do envelhecimento, estando associados mitos e estereótipos, e levar à desvalorização da individualidade e autonomia da pessoa idosa.

Os dados apresentados permitem caracterizar a condição sénior dos idosos residentes na zona histórica de Portalegre. As diferentes condições de vida na velhice apresentadas nesta investigação indiciam a necessidade de perspetivar formas distintas de intervenção e de promoção do envelhecimento positivo, devidamente adequadas e ajustadas à realidade social do idoso. Desta forma, preconiza-se que, no exercício da prática clinica, se envolva a pessoa idosa e se tome em consideração as especificidades da sua situação, este será, certamente, um importante contributo na promoção da autonomia e do empowerment dos idosos. Apenas através da análise das causas associadas ao estado de saúde e à prevalência da depressão e solidão se pode romper com as tradicionais formas simplistas de categorização da velhice dos seus problemas e das suas situações.


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