Resposta dos Autores: A importância de conhecer a efetividade da vacina
antigripal
CARTA À DIRECTORA
Resposta dos Autores. A importância de conhecer a efetividade da vacina
antigripal
Baltazar Nunes*
(em nome dos autores do artigo “Efetividade da vacina antigripal na época 2010/
2011: resultados do projeto EuroEVA”)
*Departamento de Epidemiologia, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge
Exma. Sra. Directora da Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar:
Em resposta à carta «La nula efectividad de la vacuna contra la gripe», de Juan
Gérvas, esclarecemos:
Ao contrário do que a carta faz crer, na introdução do artigo1 são referidos
outros impactos (não só mortalidade e hospitalizações). Concretamente, são
referidos indicadores de morbilidade como consultas em cuidados primários e
absentismo.
O objetivo do nosso estudo foi estimar a efetividade da vacina contra a infeção
gripe, ou seja, a nossa variável resultado é gripe. Uma vez que nos referimos a
morbilidade específica por gripe, é necessária a confirmação laboratorial da
gripe para podermos ter o diagnóstico correto. Como tal, ao longo do texto
chamamos gripe laboratorialmente confirmada para distinguir do resultado
«síndrome gripal» (onde o agente pode ser outro).
Os autores têm dificuldade em perceber o comentário«Insisto, se induce al
lector a confundir la efectividad de laboratorio con la efectividad propiamente
dicha».Será que Juan Gérvas, ao escrever efetividade de laboratório, se queria
referir à eficácia, cuja definição, segundo Last,2 é «o grau ou medida em
actividade, intervenção específica, regime ou serviço produz um resultado
benéfico, em condições ideais. Idealmente baseia-se nos resultados de um ensaio
aleatorizado e controlado»? E será que o autor, ao escrever efetividade
propriamente dita queria dizer «efetividade» ou «eficácia na prática», cuja
definição2 é «o grau de sucesso de um processo, actividade, intervenção
específica, regime ou serviço, quando utilizado no «terreno» quanto ao
objectivo visado numa população definida»? Salientamos que este estudo pretende
medir a «eficácia na prática».
Apesar de o nosso estudo não ter como objetivo medir o efeito da vacina na
redução do risco de complicações e/ou morte, está demonstrada uma relação entre
infeção por gripe e complicações, tais como pneumonias secundárias bacterianas,
exacerbações de doenças crónicas (cardiovasculares e respiratórias que, por sua
vez, se encontram associadas a um incremento do risco de hospitalização e de
morte).3,4 Como tal, a redução do risco de infeção pelo vírus da gripe poderá
ter como resultado a redução do risco de complicações e morte, ao contrário do
que Juan Gérvas refere.
Julgamos ter havido má compreensão quanto à questão da revacinação; em parte
alguma se refere que a imunidade proporcionada pela vacina dura mais do que uma
época. A ideia a transmitir é que é importante medir a efetividade da vacina
todas as épocas porque a vacina muda quase todos os anos, por recomendação da
Organização Mundial de Saúde. O que se refere é que a constante mutação do
vírus obriga à alteração da composição da vacina quase todos os anos (argumento
para medir a efetividade da vacina todos os anos). Em parte alguma se falou das
razões para a revacinação.
Em relação aos graus de efetividade da vacina nos diferentes resultados de
saúde, Juan Gérvas faz afirmações que não são consensuais e que induzem em erro
ao referir a total ausência de efetividade da vacina para além da redução do
risco de infeção. Uma leitura cuidada das referências citadas mostra que não
foi possível provar as associações citadas, i.e., não foi encontrada evidência
de efeito da vacina, o que não significa que o efeito da vacina não exista. De
facto, como referido por Altman e Bland,5«the absence of evidence is not
evidence of absence».
Assim, lamentamos a escolha do título da carta«La nula efectividad de la vacuna
contra la gripe»,uma vez que induz em erro ao classificar como nula a
efetividade desta vacina. Na realidade, esta afirmação não é mais do que um
erro típico de quem confunde ausência de evidência (por falta de potência do
estudo) com evidência de ausência de efeito da vacina. Além disso, entra em
contradição com o referido no primeiro ponto de síntese sobre a efetividade da
vacina «se asocia a menos infección gripal», ou seja, a vacina tem o efeito
pretendido de reduzir o risco da infeção.
Quanto à efetividade da vacina, os autores não têm qualquer ideia preconcebida
sobre a mesma e apenas pretendem olhar, de forma independente, para a
capacidade da vacina na redução do risco de doença e suas complicações,
contribuindo com mais conhecimento para uma tomada de decisão informada.
Na comunidade científica este tema mantém-se em debate, uma vez que a vacina
contra a gripe é reformulada todas as épocas e recomendada todos os anos por
profissionais de saúde nacionais e internacionais, com custos suportados pelo
erário público, reforçando a importância de novos estudos de efetividade da
vacina contra a gripe.