A Interacção do Utente com a Plataforma de Dados em Saúde
CARTA À DIRECTORA
A Interacção do Utente com a Plataforma de Dados em Saúde
Patient interaction with the health data platform
Jorge Crespo
Médico Internista, Hospitais da Universidade de Coimbra – CHUC
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Cara Colega, Dr.ª Raquel Braga,
Ilustre Directora da Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (RPMGF)
Li, com atenção, o seu artigo publicado como editorial no número de Janeiro/
Fevereiro de 2013 da vossa prestigiada RPMGF.1
Concordo com quase tudo quanto diz, no que concerne à Plataforma de Dados em
Saúde (PDS). Discordo, porém, quando afirma não lhe parecer útil que os utentes
possam nela inscrever dados pela sua própria mão.
Pelo contrário, confesso-lhe achar que esta possibilidade deve ser das que mais
deveremos procurar estimular.
Acredito que, quando se referiu àqueles dados, estivesse a pensar em dados de
diagnóstico que, não triados por médico, podem dar azo a informações
incorrectas ou confusas para os profissionais de saúde. Quanto a esses concordo
também consigo, mas não é a eles que me refiro.
Quando diz que «os diversos médicos que fazem a anamnese do doente, a fazem de
forma exaustiva e sistemática, inquirindo toda a informação importante, negando
toda a informação necessária e triando a informação realista e útil do ponto de
vista médico», acredito que o esteja a dizer com a sinceridade de quem o faz
como regra. Porém, sabe tão bem quanto eu que na pressão do tempo que temos
para concretizar as consultas, por mais que queiramos respeitar estes
princípios, nem sempre isso acontece.
Esta exaustividade obriga a uma rotina, que pode ser demasiado longa quando
estabelecida em conversa. No entanto, se algumas questões forem colocadas para
ser respondidas em casa, com todo o tempo para o fazer, através de um
formulário que cada médico (ou grupo médico) adaptará ao tipo de patologia que
segue mais frequentemente, isso pode facilitar, quando da consulta, a ida mais
directa aos problemas apresentados. Simultaneamente, o doente sente-se
correctamente apreciado com a certeza de que não deixou escapar nada do que é
importante para o seu médico poder tomar decisões.
Também no que à medicação diz respeito, pode o utente actualizar a sua tabela
pessoal de prescrição, à medida que outros médicos a vão modificando em virtude
de intercorrências, idas a uma Consulta Aberta, a um Serviço de Urgência, a uma
outra consulta ou até de qualquer efeito secundário que tenha levado o próprio
a ajustá-la ou suspendê-la. Uma tabela devidamente actualizada pelo utente
antes de uma consulta, sabe-o bem, é a forma mais eficaz de saber da realidade
da prescrição e não da que julgamos estar a ser cumprida. E o tempo que essa
avaliação por vezes demora...
Dir-me-á que isto é uma fantasia, face ao número dos infoexcluídos da nossa
população. É verdade que são muitos! Porém, não esqueça que se não puder ser o
avô, pode ser o filho ou até o neto que, com outro à-vontade, sente estar assim
a ajudar o seu familiar mais próximo, preenchendo esses dados por ele. As
reservas de confidencialidade, essas ficam na esfera da família, tal como
quando qualquer um dos seus elementos acompanha aquele que precisa a uma
consulta médica.
Claro está que estes registos são para ficar em espaço próprio do usuário,
independente daqueles em que o médico e outros profissionais de saúde fazem os
seus. O utilizador poderá ter acesso aos relatórios dos seus contactos com o
Serviço Nacional de Saúde, mas não poderá introduzir nada naqueles registos
profissionais.
Fica este alvitre, no momento em que todos queremos deixar linhas de reflexão
que levem a conseguir uma PDS mais adequada para os profissionais de saúde e,
acima de tudo o mais, capaz de servir melhor os utentes.
Com os meus melhores cumprimentos,