Editorial
EDITORIAL
Editorial
Por João Teixeira Lopes
Muito se tem falado sobre o reacender dos movimentos emigratórios em Portugal,
depois de uma década em que a imigração parecia ter conquistado a agenda
mediática e a prioridade nas políticas públicas. Ora, o artigo de Jorge
Portugal Branco, que há muito analisa esta temática, oferece um olhar
consolidado e atual, a partir de França, sobre reconfigurações e permanências,
apontando para uma forte persistência de perfis emigratórios de inserção
precária e tendencialmente desqualificada.
Antônio Gonçalves e Daniella Santos Alves partem da grande teoria de Anthony
Giddens sobre a modernidade tardia, que articula os fenómenos mais íntimos a
vastas tendências e dinâmicas societais, para uma breve mas acutilante reflexão
sobre autoidentidade e matrimónio. No domínio do divórcio, Sofia Gaspar,
Madalena Ramos e Ana Cristina Ferreira comparam tal realidade em casais
nacionais e bi-nacionais, iluminando, sob este ângulo, a sociedade portuguesa
da última década.
Um conjunto de artigos analisa movimentos sociais e glocalismos, quer pela
banda da religião (Massimo Introvigne), quer pelo prisma da cultura (Marcelo de
Souza Marques e Vinicius de Aguiar Caloti), quer pelo ângulo dos feminismos
artísticos (Rui Pedro Fonseca), quer ainda pelo lado da produção científica
(Caetano De´ Carli e Elizardo Scarpati Costa).
Richard Lachmann, da Universidade Nova-Yorquina At Albany, propõe-nos uma
digressão histórica sobre as perspetivas sociológicas a propósito da riqueza,
enquanto Marta Martins analisa uma dimensão espacializada da sua (desigual)
distribuição: os condomínios fechados.
Hernâni Veloso Neto, por outro lado, demonstra, pelo seu artigo, uma das
características mais enraizadas da sociologia portuguesa: a reflexão crítica
sobre si mesma.
Finalmente, com a recensão de Miguel Quaresma Brandão, homenageamos, in
memoriam , o Professor Mário Murteira, um dos economistas portugueses que mais
proficuamente dialogou com a sociologia.Este é o último número da Sociologia
sob minha direção. Quero, por isso, agradecer a dedicação e competência da Dr.a
Marta Lima na coordenação editorial, bem como o acompanhamento e apoio dos
conselhos de redação e editorial. Devo, ainda, um particular agradecimento à
Diretora da FLUP e à Reitoria da UP por terem suportado financeiramente este
projeto e aos serviços da Biblioteca da FLUP, particularmente ao Dr. João Leite
e à Dr.a Ana Paula Soares, pela ajuda técnica e constante procura de projeção
nacional e internacional da Sociologia . Ao seu novo Diretor, Carlos Manuel
Gonçalves, desejo as maiores felicidades e ofereço desde já o meu modesto
contributo para a prossecução renovada deste projeto, tão aliciante quanto
ligado à divulgação do que de melhor a sociologia vai fazendo na investigação
científica ' afinal, uma das formas mais sólidas de intervir no e sobre o
mundo.