Editorial
EDITORIAL
Editorial
Carlos Manuel Gonçalves e Marta Lima 2014
O número XXVIII da Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade
do Portocompõe-se de um leque de textos que oscilam entre um registo mais de
natureza teórica e um outro em que subsiste um entrosamento entre teoria e
empiria. Ambos os registos são importantes para uma permanente renovação do
campo analítico da Sociologia, mormente da que se produz entre nós.
As relações entre os desempenhos de cargos políticos e os de cargos
administrativos constituem o tema central do artigo de João Bilhim. Alicerçado
numa análise da situação portuguesa, no período recente, o autor regista e
problematiza, num plano sociológico, o tema que tem sido notoriamente objeto de
discussão e de controvérsias em particular no campo político.
O texto de Ricardo Noronha propõe uma leitura das relações entre classe, valor
e conflito social, tendo por base as teses de Mário Tronti, filósofo e político
italiano. Mais especificamente apresenta-se uma proposta de análise que assenta
numa releitura que o autor faz de dois momentos históricos do movimento
operário, a revolução de 1848, em França, e a Comuna de Paris passados vinte e
três anos.
Ainda no plano das lutas sociais, mas num momento histórico bastante recente da
sociedade portuguesa, José Soeiro lança um olhar sobre as mobilizações da
Geração à Rascae Que se Lixe a Troika!. A par de enunciar as características de
tais mobilizações, o autor avança com um conjunto de considerações, de natureza
hipotética, que deixam ao leitor um elenco de pistas, que ganham uma maior
acuidade se atendermos ao contexto e à crise socioeconómica que trespassa, na
atualidade, a sociedade portuguesa.
Apontando a insuficiência de algumas das teorias acionadas para a análise das
famílias, Rosalina Costa envereda por estruturar o seu texto em torno de uma
questão ' quais são, como se caracterizam e que lugar ocupam os rituais
familiares na construção da família contemporânea?. Baseando-se numa
investigação empírica, conclui da importância dos rituais para a construção da
família na contemporaneidade.
Magda Nico apresenta-nos um estudo sobre mobilidade residencial na Área
Metropolitana de Lisboa, sustentado em dois prismas analíticos. Um primeiro
relacionado com os traços distintivos dos processos de mudança de casa dos
indivíduos, abordando as razões, as circunstâncias e os estatutos de cursos de
vida subjacentes à mobilidade residencial, bem como as suas variações ao longo
do tempo, tanto no plano individual, como social. Por outro lado, e partindo de
uma visão holística, a autora analisa os padrões de mobilidade habitacional,
lançando um olhar atento sobre os regimes de ocupação residencial e o lugar de
classe dos indivíduos inquiridos.
Tendo por base a fotografia enquanto retrato societal, Ana Rita Bastos propõe-
nos, no seu artigo, uma leitura sociológica de vários factos e acontecimentos
sociais a partir da imagem, concedendo uma atenção especial ao retrato, à
fotografia documental e ao fotojornalismo. Paralelamente, a autora apresenta-
nos uma perspetiva histórica da fotografia, abordando os principais momentos
que potenciaram a evolução da imagem fotográfica e a ampliação da sua
importância, desde a sua origem até aos nossos dias.
Paula Guerra e Mónica Santos apresentam-nos um artigo que se centra na temática
das relações entre o Estado e as organizações do Terceiro Setor no quadro da
atual sociedade portuguesa. Em particular as autoras analisam, a partir dos
discursos de atores-chave, as posições destes quanto às políticas de
desenvolvimento do empreendedorismo social e às ações governamentais face a
este domínio.
Identificar as razões para a escolha de um curso universitário (formação de
professores de educação física) pelos alunos, bem como os agentes de
socialização que prevaleceram nessa escolha são dois objetivos temáticos do
texto de Patrícia Gomes, Paula Queirós e Paula Batista. Objetivos que se
materializam, em termos empíricos, num estudo, que entrecruza uma leitura de
cariz mais quantitativo com outra de cariz qualitativo, e que possibilita, por
sua vez, a construção tipológica das razões expressas pelos estudantes e o
destacar da relevância da influência da família na escolha do curso e da futura
profissão.
O artigo de Filipa M. Ribeiro versa a relação entre as redes sociais e os
fundos de conhecimento de investigadores e professores do ensino superior.
Baseando-se numa análise interdisciplinar, a autora avança a tese de que a
criação de conhecimento e a sua disseminação podem ser pensadas como e através
de processos de tradução.
Por último, a Revista apresenta um texto de Rui Santos, em que se exploram as
condições enformadoras de um percurso profissional de sucesso para os jovens
diplomados pelo ensino superior.