Na senda de uma nova (con)vivência
Na senda de uma nova (con)vivência
In the wake of a new (co)existence
Paulo Bento
Director
director.gemr.ibs@iscte.pt
O mundo dito desenvolvido e, por arrasto, o emergente e o imergido, encontra-se
numa encruzilhada, que só é nova na forma e que, de inesperada, tem pouco ou
nada. No entanto, poucos arriscam antecipar o próximo equilíbrio de forças.
Neste caso, «poucos» exclui os opinion makers do status quo (nobres na arte de
se inspirarem entre si), a maioria dos políticos profissionais (incluindo os
dos partidos fora do eixo da governação) e os arautos da desgraça (que nestas
alturas proliferam como videntes credíveis, ofuscando cartomantes e
astrólogos). Por outro lado, o «equilíbrio de forças» não significa entre ' ou
intra-mundos, nem entre ' ou intra-regiões/países, mas entre-classes (a «velha
luta de classes») ou entre-vivências (a «quási luta de classes» ' aqui cunhada
com o «quase» de Camões, sobretudo por ser latente, mas também pela sua própria
natureza e pela dúvida de que substitua a «velha luta» nas próximas décadas).
A «velha luta de classes» está (timidamente) de volta, pois a desigualdade de
distribuição da riqueza tem aumentado na generalidade dos países, em particular
nas últimas três décadas. Entre os três factores de produção, o capital parece
ter destronado a terra, na tentativa de domínio sobre o trabalho. Com o capital
cada vez mais apátrida, a luta ficou ainda mais desigual.
Apesar disso, ou talvez por isso, o capital-material ganhou dois irmãos: o
capital-social e o capital-espiritual. Embora largamente desconhecidos, estes
têm condições para potenciar um capitalismo sustentável, pois são fortes
contributos para novos limiares do desenvolvimento e da própria condição
humana, na senda de outros no passado, «estranhamente» marginalizados.
São vários os exemplos de pessoas ' muito diferentes, na origem e no percurso '
que têm preconizado a evolução do «ter» para o «ser» e do «ver» para o
«sentir», como forma de obtenção de uma vivência, individual e colectiva, de
patamar superior.
Recorrendo a alguns nados no primeiro terço do Séc. XX tem-se: Erich Fromm,
Hannah Arendt e Noam Chomsky, mas também Agostinho da Silva e, vide ensaio,
Mário Murteira.
P.S. 1 ' Este número marca uma mudança na vida da Revista, que consiste na
substituição do seu Director-fundador. Apesar do legado valiosíssimo, procurar-
se-á que a alteração seja o menos perceptível possível. Ao novo timoneiro abona
a aprendizagem de três anos com o Mestre e contar com a sua presença preciosa
no Conselho Editorial.
P.S. 2 ' A partir do próximo número serão adoptados os códigos JEL (3 dígitos)
e o acordo ortográfico da língua portuguesa (artigos em português).
Complexo INDEG/ISCTE
Avª Prof. Aníbal Bettencourt
Campo Grande
1600-189 LISBOA
revistas.indeg@iscte.pt