Análise da gestão ambiental nos hotéis portugueses
O Turismo, a par de outras atividades económicas, tem revelado uma crescente
preocupação com o ambiente, num contexto em que as ameaças ambientais ao futuro
da Humanidade constituem uma das maiores preocupações da sociedade moderna.
Além de ser uma indústria fortemente dependente da qualidade dos recursos
naturais e da qualidade ambiental (Knowles et al., 1999; Partidário, 1999), é
um setor que nas últimas décadas tem registado um elevado crescimento. Estes
fatores contribuem para que a adoção de práticas de gestão ambiental por parte
das empresas turísticas em geral e, em particular, da hotelaria, seja uma
condição necessária para o desenvolvimento desta indústria.
A gestão ambiental nos hotéis é um passo importante para alcançar a
sustentabilidade do Turismo e contribuir para um desenvolvimento sustentável
(Kirk, 1995; Knowles et al., 1999). Esta temática tem assumido cada vez mais
pertinência, principalmente quando se analisam os impactos gerados no ambiente
pelo conjunto das empresas do setor (Tzschenke et al., 2008).
Diversos estudos demonstram que going green tem sido uma prática comum nas
empresas turísticas, principalmente nas unidades hoteleiras (Bohdanowicz,
2006a; Kirk, 1998; Le et al., 2006;Tzschenke et al., 2008). A adoção de medidas
de proteção ambiental em hotéis tem merecido a atenção de vários investigadores
ao longo das últimas duas décadas (Bohdanowicz, 2005; Bohdanowicz, 2006a;
Bohdanowicz, 2006b; Enz e Siguaw, 1999; Enz e Siguaw, 2003; Gil et al., 2001;
Kirk, 1995; Kirk, 1998; Knowles, 1998; Knowles et al., 1999; Le et al., 2006;
Lima, 2006; Stabler e Brian, 1997; Tzschentke et al., 2004; Tzschenke et al.,
2008; Viegas, 2008).
Apesar destas evidências, o número de estudos realizados em Portugal sobre esta
temática é ainda limitado. Lima (2006), por exemplo, identifica as empresas que
adotam práticas de responsabilidade ambiental e analisa o seu desempenho
ambiental. O estudo do Turismo Portugal, IP (2008) sobre boas práticas
ambientais nos Hotéis e Pousadas, incide sobre três principais áreas de
atuação: gestão de energia, de água e resíduos sólidos. Viegas (2008) averigua
as práticas ambientais mais aplicadas no setor hoteleiro do Algarve, bem como o
seu nível de desenvolvimento ambiental.
No sentido de aumentar o conhecimento nesta área, pretende-se neste estudo
analisar as práticas de gestão ambiental (PGA) adotadas pelos hotéis
localizados em Portugal continental e verificar se existem diferenças na adoção
dessas práticas, de acordo com a categoria do hotel. Esta análise compreende a
adoção de práticas individuais, a adoção de políticas formais de gestão
ambiental e a implementação de sistemas de certificação ambiental.
A gestão ambiental na hotelaria
* Relevância da adoção de práticas de gestão ambiental na indústria hoteleira
A hotelaria constitui o setor mais representativo da oferta turística, quer
pelo facto de ser um dos maiores empregadores e geradores de receitas, quer
pela dimensão que a atividade atinge. Este facto acentua a necessidade e a
urgência das empresas hoteleiras estipularem metas, implementarem,
monitorizarem e certificarem ações de proteção ambiental, de forma a garantir a
sua sustentabilidade.
Os impactos causados pela indústria hoteleira no ambiente são significativos:
os hotéis são responsáveis por 21% das emissões de dióxido de carbono totais da
indústria turística (UNWTO/OMT, 2009). A diversidade de serviços e consequente
consumo de recursos inerentes à atividade hoteleira, aliados à crescente
procura de elevados níveis de conforto e qualidade por parte dos turistas,
explicam o facto de os hotéis terem um consumo energético intensivo, sendo um
dos setores da indústria turística que mais energia consome (UNWTO/OMT, 2009).
Outro aspeto relevante é o consumo de água, agravado pelo facto de existir uma
forte relação entre o consumo de energia e o consumo de água, pois a maioria da
utilização de água nos hotéis é sob a forma de água quente (Kirk, 1996). As
características referidas fazem com que a indústria hoteleira seja uma das
indústrias do Turismo com mais impactos ambientais negativos (Lee et al.,
2006). Por outro lado, a consciência e respeito pelo ambiente natural têm
produzido modificações na procura e no comportamento dos turistas que, cada vez
mais, optam por produtos turísticos que integrem valores ambientais e
ecológicos (Poon, 1993).
Assiste-se, assim, à emergência de um segmento de mercado exigente em matéria
de qualidade ambiental dos destinos turísticos (Poon, 1993; Schütz e Santos,
2009). No estudo de Bohdanowicz (2003), 90% dos hóspedes inquiridos percecionam
o ambiente como um fator importante no desenvolvimento e sucesso da indústria
turística. Estudos recentes realizados pela International Hotels Environment
Initiative (IHEI) sugerem que os consumidores estão cada vez mais predispostos
a pagar preços mais elevados em hotéis que sejam pró-ativos na defesa do
ambiente (Tzschentke et al., 2004). Ciente desta realidade, a indústria
hoteleira começou a reconhecer e a valorizar a importância dos movimentos
«verdes» e do potencial deste segmento de mercado.
Em resposta aos desafios enunciados, as unidades hoteleiras têm adotado algumas
iniciativas voluntárias com o intuito de demonstrar o seu compromisso para com
o desenvolvimento sustentável, adotando uma atitude mais amiga do ambiente.
Neste contexto, é fundamental perceber qual é o estado atual em termos de
implementação de práticas de gestão ambiental por parte da indústria hoteleira
a nível internacional e, no caso particular, de Portugal.
* Caracterização da adoção de práticas de gestão ambiental a nível
internacional e nacional
A partir de 1990, a indústria hoteleira começou a implementar medidas de
proteção ambiental, mas foram principalmente as grandes empresas, à semelhança
dos outros setores de atividade, que tomaram a iniciativa (Middleton e Hawkins,
1998). As grandes cadeias hoteleiras, como a Hilton International,
InterContinental Hotel Group (IHG), Accor, entre outras, demonstram alguns
sinais de preocupação com o meio ambiente. Mas, segundo Middleton e Hawkins,
(1998), o IHG, em conjunto com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo, foi
pioneiro na aplicação dos princípios do desenvolvimento sustentável.
A International Hotels Environment Initiative (IHEI), fundada em 1992 pelas
maiores cadeias hoteleiras internacionais, desde cedo revelou ser uma
organização pró-ativa na aplicação da gestão ambiental nas unidades hoteleiras.
De acordo com Kirk (1998), esta organização, atualmente denominada
International Tourism Partnership (ITP), desenvolveu vários manuais para
gestores hoteleiros e colabora em ações de formação em diversos hotéis.
Seguindo as pisadas da ITP, tem proliferado a publicação de manuais e guias
práticos promovidos por diversas organizações, associações hoteleiras e cadeias
de hotéis.
A par deste aumento de publicações técnicas relacionadas com a adoção de
práticas de gestão ambiental por parte da indústria hoteleira, foram realizados
vários estudos sobre a adoção de práticas de gestão ambiental nesta indústria
(Bohdanowicz, 2005; Bohdanowicz, 2006a; Bohdanowicz, 2006b; Enz e Siguaw, 1999;
Enz e Siguaw, 2003; Gil et al., 2001; Kirk, 1995; Kirk, 1998; Knowles, 1998;
Knowles et al., 1999; Le et al., 2006; Lima, 2006; Stabler e Brian, 1997;
Turismo Portugal, IP, 2008; Tzschentke et al. , 2004; Tzschenke et al., 2008;
Viegas, 2008). Um número considerável destes estudos destaca a relevância em
adotar práticas de gestão ambiental na hotelaria, não só por questões
relacionadas com a contenção de custos, mas também para desenvolverem uma
imagem de empresas amigas do ambiente, junto dos vários stakeholders.
Um estudo, conduzido em hotéis de Edimburgo, revelou que apenas uma minoria
tinha uma política de gestão ambiental formal (Kirk, 1995). Mas o Green Tourism
Business Scheme (GTBS) – um sistema de certificação ambiental desenvolvido para
empresas turísticas de adesão voluntária – tinha em 2007 mais de 500 membros no
Reino Unido (Tzschenke et al., 2008).
Outro estudo, realizado pela PricewaterhouseCoopers em hotéis europeus, revela
que 80% dos respondentes afirmaram ter uma política ambiental (Clark e Siddall,
2001, citado por Bohdanowicz, 2006a). No entanto, a investigação conduzida por
Bohdanowicz (2006a), que contemplou cerca de 4000 hotéis europeus, conclui que
apenas 1% tem certificação ambiental.
Também um estudo realizado em hotéis vietnamitas concluiu que a adoção de
práticas de proteção ambiental está ainda numa fase inicial (Le et al., 2006).
Isto revela que a resposta da indústria hoteleira aos problemas ambientais tem
sido lenta, cingindo-se praticamente a algumas cadeias de hotéis internacionais
de maior dimensão (Lima, 2008).
Em Portugal, a investigação de Viegas (2008) considera que o estado de
implementação da maioria das práticas ambientais nos hotéis algarvios é
deficitário. Um outro estudo sobre boas práticas ambientais nos Hotéis e
Pousadas de Portugal revela que apenas 5% dos estabelecimentos são detentores
de uma certificação ambiental (Turismo de Portugal, IP, 2008).
Os estudos que têm sido realizados a nível internacional, e no caso particular
de Portugal, demonstram que, apesar de existir uma maior consciencialização por
parte dos responsáveis pelas unidades hoteleiras da relevância em adotar
práticas de gestão ambiental, ainda há espaço para grandes melhorias neste
domínio. Neste contexto, é fundamental perceber quais as práticas de gestão
ambiental que poderão ser adotadas na indústria hoteleira.
* Práticas de gestão ambiental (PGA) adotadas pela indústria hoteleira
A implementação de PGA, a certificação ambiental e outros sistemas de
reconhecimento da qualidade ambiental, tais como os rótulos ecológicos e os
prémios de desempenho ambiental, têm sido os instrumentos utilizados pela
indústria hoteleira para minimizar os impactos gerados pela sua atividade. O
nível de adoção destas práticas poderá ser influenciado pelas características
das unidades hoteleiras.
Genericamente considera-se que os hotéis de categoria superior dispõem de mais
recursos materiais e humanos, o que se traduz em colaboradores com maior nível
de formação e sensibilização para satisfazer as necessidades e preferências dos
clientes, incluindo a proteção do ambiente natural (Enz e Siguaw, 1999; Viegas,
2008). O estudo conduzido por Viegas (2008) demonstra que os hotéis de quatro e
cinco estrelas se distinguem pela positiva, relativamente aos hotéis de duas e
três estrelas em termos de adoção de práticas de gestão ambiental. No entanto,
a investigação conduzida por Kirk (1998) conclui que não existe uma associação
entre as características dos hotéis (dimensão, tipo de propriedade e categoria)
e a presença de uma política formal de gestão ambiental. Também no estudo de Le
et al. (2006), os resultados revelam uma relação ténue entre as características
dos hotéis e a adoção de PGA.
A gestão ambiental na hotelaria abrange diversas áreas, como a gestão do
consumo energético, a gestão do consumo de água, a gestão de resíduos,
efluentes e materiais tóxicos, política de compras, ruído, impacto
paisagístico, entre outras.
Uma das áreas que requer uma atuação urgente é a da energia, pois a utilização
de energias renováveis é ainda marginal, assim como a utilização de
equipamentos e tecnologias eficientes (UNWTO/OMT, 2009). A gestão de energia,
água e resíduos sólidos são as áreas mais visadas pela maioria das soluções de
proteção ambiental, o que explica o facto da maioria das medidas implementadas
nos hotéis que adotam PGA estarem relacionadas com aquelas áreas (Bohdanowicz,
2006a; Bohdanowicz, 2006b;Kirk, 1995; Viegas, 2008). Os fatores que motivam a
adoção destas medidas justificam esta preferência, uma vez que são os que
permitem reduzir mais custos operacionais e os que revelam ter mais impacto no
meio ambiente (Lima, 2006; Bohdanowicz, 2006a; Le et al., 2006; Kirk, 1996;
Kirk, 1998; Viegas, 2008).
As ações menos populares estão relacionadas com a comunicação ambiental,
principalmente a sensibilização e colaboração dos hóspedes na economia de
recursos (Bohdanowicz, 2006a).
Conservação de energia
Os hotéis recorrem, cada vez mais, à implementação de sistemas de gestão
energética, que incluem a certificação energética, a monitorização dos consumos
de energia, análise e controlo de dados sobre consumos energéticos, otimização
de energia, que permitem melhorar o desempenho energético e operacional de
diversos equipamentos e sistemas, e a instalação de equipamentos eficientes.
De acordo com Kirk (1996) e Bohdanowicz (2006a), alguns hotéis estão já munidos
de programas informáticos específicos, habitualmente designados por Building
Energy Management Systems. Estes sistemas permitem reduções significativas no
consumo energético.
Citam-se os exemplos mais comuns de equipamentos e materiais eficientes, do
ponto de vista energético: lâmpadas de baixo consumo energético; sensores de
deteção de movimento para controlo da iluminação; interruptor geral no quarto
de hóspedes (master switch); isolamento térmico, como por exemplo a instalação
de janelas com vidros duplos, caixilharias com corte térmico e vidros
eficientes, de baixa emissividade; sistema solar térmico para aquecimento de
água utilizada na cozinha, casas de banho, piscina, etc.; sistemas de
recuperação de calor e sistemas de energias renováveis (Bohdanowicz, 2006a; Enz
e Siguaw, 1999; Kirk, 1996; Kirk, 1998; Knowles et al., 1999; Le et al., 2006;
Pinheiro, 2006).
A utilização de cores claras no exterior dos edifícios é uma das PGA citadas
por Pinheiro (2006) para obter melhores efeitos térmicos. A colocação de
prospetos informativos sobre economia de energia nos quartos dos hóspedes é
outra iniciativa dos hotéis para reduzir os gastos energéticos (Bohdanowicz,
2005).
Conservação de água
Uma das medidas de conservação de água muito comum nos hotéis é a existência de
programas de reutilização de roupa de banho e de cama (Bohdanowizc, 2006a;Enz e
Siguaw, 1999; Kirk, 1995; Knowles, 1995; Knowles et al., 1999). Para além da
redução do consumo de água, economiza eletricidade e mão-de-obra, reduz a
utilização de detergentes e prolonga a vida dos têxteis e equipamentos de
lavandaria (Bohdanowizc, 2006a).
A adesão dos clientes a este programa tem sido evidente: os hotéis relatam que
se situa entre os 70-90% (Griffin, 2002). O sucesso desta iniciativa ganha
maior relevância quando se constata que os consumos mais elevados numa unidade
hoteleira ocorrem precisamente nos quartos de hóspedes, para além da lavandaria
e cozinha. Segundo Kirk (1999), cerca de 30% do consumo de energia e água do
hotel provém dos quartos dos hóspedes. Este facto motiva a instalação de
equipamentos eficientes para minimizar o consumo de água, como por exemplo
autoclismos com cargas diferenciadas, torneiras com sensores ou temporizadores,
torneiras com regulação automática de temperatura e redutores de caudal em
torneiras.
A utilização das máquinas de lavar louça e roupa na sua capacidade máxima é
outra medida que permite reduzir significativamente o consumo de água e o
consumo inerente de energia e detergentes (Enz e Siguaw, 1999), o que permitirá
uma diminuição dos impactos ambientais negativos das unidades hoteleiras.
Para além das medidas descritas, os estudos realizados nesta área (e.g., Enz e
Siguaw, 1999) referem também a instalação de um sistema de rega automático
subterrâneo e com temporizador, diminuindo a evaporação de água, como uma
medida muito relevante para diminuir o consumo de água das unidades hoteleiras.
Por fim, salienta-se a colocação de prospetos informativos para clientes sobre
economia de água, como sendo uma prática já utilizada em algumas unidades
hoteleiras, embora esta prática não seja tão popular como a colocação de
prospetos para sensibilizar os hóspedes sobre os consumos energéticos
(Bohdanowicz, 2006a).
Gestão de resíduos sólidos
Uma das medidas mais implementada nos hotéis é a separação e reciclagem dos
resíduos devido à sua relativa simplicidade, baixo investimento em equipamento
e aos proveitos que podem decorrer da venda de alguns resíduos (Enz e Siguaw,
1999). Contudo, este procedimento é mais frequente nas áreas técnicas, como
escritórios e cozinhas.
A doação de mobiliário, têxteis e outros materiais – por exemplo a instituições
de assistência e à comunidade local –, é uma das práticas que permite prolongar
o tempo de vida dos materiais e reduzir a produção de resíduos sólidos, o que
se traduzirá em efeitos positivos no ambiente (Bohdanowizc, 2006a;Middleton e
Hawkins, 1998; Pinheiro, 2006).
Por sua vez, Enz e Siguaw (1999) referem também a reconversão de lençóis e
toalhas usados em panos de limpeza como uma prática que contribui para a
diminuição dos resíduos sólidos nas unidades hoteleiras.
A implementação de programas de redução de consumo de embalagens é, também, uma
prática cada vez mais comum nas unidades hoteleiras (Bohdanowizc, 2006a;Enz e
Siguaw, 1999; Pinheiro, 2006). Os resultados do estudo conduzido por
Bohdanowizc (2006a) revelam que pelo menos 50% dos respondentes implementam
esta medida. Neste domínio, referem-se como exemplos: a substituição de
produtos de higiene disponíveis em embalagens individuais por dispensadores,
permitindo reduzir significativamente o consumo de embalagens e evitar o
desperdício dos produtos que não são consumidos na totalidade; a alteração de
embalagens individuais de agentes de limpeza por outras de maior capacidade,
reduzindo, desta forma, a produção de resíduos.
A redução e substituição de embalagens plásticas por papel é outra PGA adotada,
bem como a utilização, por exemplo, de blocos de notas, papel de carta, e
envelopes em papel reciclado (Bohdanowizc, 2006a; Enz e Siguaw, 1999; Pinheiro,
2006).
Aliado aos programas de redução de consumo de embalagens (plástico, alumínio e
vidro), o consumo de papel também tem sido uma das preocupações dos hotéis (Enz
e Siguaw, 1999). Algumas empresas implementam a política paperless,
privilegiando os meios informáticos e digitais em detrimento da informação
impressa em papel.
A compostagem de resíduos alimentares e a sua posterior utilização como
fertilizante e produção de biogás são práticas implementadas por alguns hotéis,
embora pouco frequentes (cerca de 1,4% dos respondentes, no estudo de
Bohdanowicz, 2006a), assim como compactar papel (cerca de 0,6% dos
respondentes, no estudo de Bohdanowicz, 2006a).
Por fim, faz-se referência à recolha diferenciada de resíduos especiais, como
óleo alimentar usado, pilhas e tinteiros (Kirk, 1996). Apesar de, em
determinadas situações, algumas destas medidas serem de caráter obrigatório –
como no caso do óleo alimentar usado para a hotelaria e restauração portuguesa
(Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento
Regional, 2009) e destes produtos poderem ser utilizados, por exemplo, para a
produção de cosméticos (Kirk, 1996) –, nem sempre é feita a sua separação.
Outras práticas
Apesar das práticas de gestão ambiental relacionadas com a conservação de
energia, conservação de água e de gestão de resíduos sólidos serem as que
apresentam um maior nível de utilização na hotelaria (Bohdanowicz, 2006a;
Bohdanowicz, 2006b; Kirk, 1995; Viegas, 2008), as unidades hoteleiras têm
vindo, cada vez mais, a adotar outras práticas de gestão ambiental.
O controlo de substâncias perigosas é uma prática comum nos hotéis, até porque
se trata também de uma questão de segurança laboral. A utilização de agentes
químicos no tratamento de jardins e campos de golfe deve ser substituída pelo
controlo biológico (através da introdução de espécies predadoras) e por
técnicas tradicionais, em alternativa aos pesticidas e herbicidas (Le et al.,
2006; Kirk, 1996).
O tratamento de efluentes é uma das áreas que tem merecido cada vez mais
atenção. A gestão das águas residuais é a principal área de intervenção. Uma
das iniciativas inovadoras reside na colocação de sistemas que retêm a gordura
na canalização da cozinha (Bohdanowicz, 2006a). A recolha de águas pluviais ou
a reutilização de águas usadas – como por exemplo o aproveitamento da água
proveniente da lavandaria do hotel para rega dos jardins –, têm sido práticas
comuns nas operações de alguns hotéis (Kirk, 1996; Le et al., 2006; Pinheiro,
2006). Refere-se, também, como uma das práticas utilizadas, a aquisição de
detergentes biodegradáveis (Bohdanowicz, 2006a; Enz e Siguaw, 1999; Kirk, 1996;
Middleton e Hawkins, 1998).
A adoção de uma política de compras orientada pelo ambiente constitui-se como
uma prática importante e com impactos ambientais positivos (Bohdanowicz,
2006a;Enz e Siguaw, 1999;Kirk, 1996; Knowles, 1998; Knowles et al., 1999). A
aquisição de bens produzidos no local contribui igualmente para a melhoria da
economia e consequente melhoria das condições sociais da comunidade local, ao
contribuir para um aumento do efeito multiplicador das despesas efetuadas pelos
hóspedes nas unidades hoteleiras. Por sua vez, a adoção desta política também
contribui para a diminuição dos efeitos ambientais negativos associados ao
transporte desses produtos.
Para além destas medidas terem impactos económicos positivos e contribuírem
para a diminuição dos impactos ambientais, a aquisição, por exemplo, de
produtos alimentares, ainda proporciona a diferenciação do produto, ao
incorporar produtos endógenos da região de destino (Enz e Siguaw, 1999). A
compra de alimentos provenientes de cultura biológica também é uma prática cada
vez mais comum nas unidades hoteleiras (Bohdanowicz, 2006a). Neste sentido, os
hotéis recorrem cada vez mais a produtores e fornecedores que detenham
certificação ambiental e de qualidade (para produtos de cultura biológica,
entre outros). A adesão ao comércio justo para a compra de alguns bens, como
café e chocolate, são práticas que começam a despoletar no setor hoteleiro
(Bohdanowicz, 2006a). No entanto, a sua adoção ainda é diminuta, o que revela,
claramente, que ainda existe um percurso muito longo a percorrer pelas unidades
hoteleiras neste domínio.
Os estudos realizados sobre as práticas ambientais na hotelaria também fazem
referência a um conjunto de medidas que as unidades hoteleiras podem adotar,
contribuindo, em simultâneo, para o aumento da qualidade do produto oferecido e
para a diminuição dos impactos ambientais negativos. O controlo da concentração
da humidade e condensação, a manutenção de uma temperatura de conforto, a
remoção de micro-organismos, a renovação do ar, através de ventilação natural e
mecânica, e o controlo dos níveis de ruído, são exemplos de algumas dessas
práticas amigas do ambiente que contribuem para aumentar a qualidade do
ambiente interior das unidades hoteleiras (Kirk, 1996; Pinheiro, 2006).
O controlo da poluição sonora pode ser feito a nível interno e externo, através
da insonorização dos quartos de hóspedes, instalação de janelas de vidro/
caixilharia duplos, do isolamento sonoro de equipamento ruidoso ou substituição
por outro mais silencioso, bem como pela restrição da circulação de veículos
motorizados (Kirk, 1996).
A preferência por materiais reciclados é uma medida cada vez mais implementada.
O restauro de mobiliário é outra prática que tem vindo a ser implementada por
alguns hotéis, para além da compra de peças usadas em antiquários. Bohdanowicz
(2006a) refere que uma cadeia hoteleira anuncia ter quartos equipados com 97%
de materiais reciclados.
A sensibilização e formação ambiental dos colaboradores, assim como a
informação sobre consumos de energia, água e emissões de carbono são medidas
que revelam ser muito importantes na gestão ambiental dos hotéis. No entanto,
segundo Bohdanowicz (2006a), estas ações não são ainda muito regulares na
hotelaria.
O desenvolvimento de programas que promovam a divulgação das melhores práticas
das empresas que lideram o setor (benchmarking) revela ser fundamental para a
implementação de PGA (Stabler e Brian, 1997). Comparar o desempenho das
empresas que adotam PGA permite que os hotéis possam partilhar informações e
experiências, para que a atividade hoteleira se torne mais sustentável
(Bohdanowicz, 2005).
Práticas de gestão ambiental nos hotéis portugueses
* Metodologia
Pretende-se com este estudo analisar a adoção de PGA nos hotéis portugueses, a
presença de uma política formal de gestão ambiental e a implementação de
sistemas de certificação ambiental. Pretende-se também verificar se existem
diferenças na adoção de PGA por parte das unidades hoteleiras localizadas em
Portugal, de acordo com a sua categoria.
Para cumprir estes objetivos utilizou-se um inquérito por questionário como
instrumento de recolha de dados, aplicado a todos os responsáveis pela gestão
dos hotéis de Portugal continental. Foram inquiridos todos os hotéis de
Portugal continental, classificados pelo Turismo de Portugal, com endereço
eletrónico válido. A população do estudo é, então, composta por 512 hotéis.
O questionário administrado foi elaborado com base na revisão da literatura. As
questões relacionadas com a gestão ambiental do hotel encontram-se divididas em
dois grupos.
No grupo I as questões têm como objetivo conhecer as ações que os hotéis
portugueses adotam na proteção do ambiente, tentando perceber se implementam
medidas, como a existência de uma política formal de gestão ambiental, de um
certificado ou rótulo de qualidade ambiental, entre outras. O tipo de questões
requer, genericamente, respostas afirmativas ou negativas.
O grupo II pretende identificar as PGA implementadas pelos hotéis. As práticas
consideradas no questionário foram analisadas na revisão bibliográfica, tendo
como base os estudos de Bohdanowicz (2005), Bohdanowicz (2006a), Bohdanowicz
(2006b), Enz e Siguaw (1999), Kirk (1995), Kirk (1998), Knowles (1998), Knowles
et al. (1999), Le et al. (2006), Middleton e Hawkins (1998), Pinheiro (2006)
Stabler e Brian (1997) e Viegas (2008).
As PGA encontram-se categorizadas em nove áreas: gestão do consumo de energia;
gestão de consumo de água; gestão de resíduos sólidos; gestão de materiais
perigosos; gestão de efluentes e emissões; gestão do ambiente interior; gestão
do ambiente exterior e biodiversidade; política de compras orientada pelo
ambiente e comunicação ambiental. Assim, solicitou-se aos respondentes que, de
uma lista de 62 exemplos de PGA, indicassem aquelas que são praticadas nos
hotéis que dirigem. O questionário foi testado com quatro diretores de hotel,
através de entrevistas pessoais.
O questionário foi preenchido pelos próprios inquiridos e foi enviado por
correio eletrónico, à semelhança de diversos estudos desta natureza, atendendo
à dimensão e dispersão geográfica do universo de análise e às restrições
temporais e financeiras. De entre diversas ferramentas testadas, foi utilizado
o LimeSurvey (Schmitz, 2009) para a construção do questionário, uma vez que
este satisfaz os requisitos necessários para o preenchimento do mesmo, via
correio eletrónico.
A aplicação do questionário ocorreu entre os meses de janeiro e fevereiro de
2010 – época considerada «baixa» na atividade hoteleira – para aumentar a taxa
de resposta. O número de respostas foi, inicialmente, baixo: 48 questionários
completos e 31 incompletos, pelo que os responsáveis pelas unidades hoteleiras
– que ainda não tinham respondido ao questionário – foram contactados por
telefone para solicitar o seu preenchimento. Quando o inquérito foi encerrado,
obteve-se um total de 159 respostas consideradas válidas (31% do universo de
análise).
Na Tabela_1 referem-se as taxas de resposta de acordo com a categoria dos
hotéis inquiridos. Em termos globais, a taxa de resposta foi de 31%,
verificando-se taxas de resposta superiores nas categorias de quatro e cinco
estrelas e taxas de resposta inferiores nas restantes categorias. Este
resultado poderá refletir uma maior sensibilidade por parte dos responsáveis
pelos hotéis de categoria superior para as questões relacionadas com o
ambiente. Este fato deverá ser tido em consideração na interpretação dos
resultados.
* Análise e discussão de resultados
Caracterização da amostra
No que diz respeito ao tipo de propriedade, a maioria dos hotéis inquiridos são
classificados como hotéis independentes (54%). Os que pertencem a uma cadeia
hoteleira representam 43% da amostra e os hotéis cujo modelo de gestão é um
consórcio representam apenas 1%. Quanto à categoria, a amostra é constituída
maioritariamente por hotéis de quatro estrelas (46%). Os hotéis que compõem a
amostra têm uma dimensão média de 114 quartos. Em termos de antiguidade, o ano
médio de construção dos hotéis inquiridos é de 1987; quanto ao ano de
remodelação, a média dos hotéis sofreu obras de reestruturação em 2006, o que
demonstra a importância da qualificação das infraestruturas físicas.
Práticas de gestão ambiental de acordo com a categoria do hotel
Na análise das ações que estão a ser implementadas pelos hotéis portugueses
para proteger o ambiente, verifica-se que 87% dos respondentes afirma
implementar PGA (140 das unidades hoteleiras inquiridas) e 13% afirma não
adotar nenhuma PGA. Dos hotéis que implementam PGA, 46% tem uma política formal
de gestão ambiental e 22% detém ou procura a certificação ambiental por parte
de entidades competentes para o efeito.
Comparativamente aos resultados de Turismo de Portugal, IP (2008), em que
apenas 5% dos estabelecimentos são detentores de uma certificação ambiental, os
resultados obtidos neste estudo revelam uma maior percentagem de hotéis a
adotar uma política formal de gestão ambiental. Estes resultados poderão
indicar que os hotéis portugueses estão, cada vez mais, a enveredar pela
certificação ambiental. No entanto, salienta-se também o fato de que, neste
estudo, a taxa de resposta dos hotéis de quatro e cinco estrelas foi superior à
taxa de resposta das restantes categorias, o que poderá estar a influenciar os
resultados obtidos.
Dos hotéis analisados neste estudo, que possuem uma política formal de gestão
ambiental, 45% são certificados pela NP EN ISO 14001, 39% pelo Sistema
Integrado de Gestão da Qualidade, Ambiente, Segurança e Saúde no Trabalho, 29%
pelo sistema Eco-Hotel, 16% pelo programa Chave Verde, 3% pelo Sistema
Comunitário de Ecogestão e Auditoria, 3% pelo Sistema LiderA e 23% indicaram
outros sistemas/rótulos de qualidade ambiental, tais como Verdoreca, Green
Globe e Carbon Free. Alguns hotéis são certificados, ou estão em processo de
certificação, por mais do que um dos sistemas de certificação referidos.
Apenas cinco hotéis do total da amostra foram distinguidos com um prémio pelo
seu desempenho ambiental. Também se observou que as pessoas responsáveis pela
implementação da gestão ambiental nos hotéis pertencem, na sua maioria, à
Administração/Direção (64%). O departamento de Qualidade é o segundo mais
citado (16%), seguindo-se o dos Serviços Técnicos (5%), o Alojamento (4%) e o
Comercial (2%). Apenas um hotel mencionou que a pessoa que assume esta função
está afeta ao departamento de Gestão Ambiental e 7% mencionaram outros cargos.
Estes resultados revelam, claramente, que a gestão ambiental nas atividades
hoteleiras ainda não é considerada uma atividade de grande relevância, para a
qual seja necessário criar um departamento específico.
Em termos de tipo de PGA adotadas pelas unidades hoteleiras que foram objeto de
análise neste estudo, apresenta-se em seguida uma análise detalhada por tipo de
prática. Pretende-se, também, nesta análise verificar se existe uma associação
estatisticamente significativa entre a adoção de um determinado tipo de prática
de gestão ambiental e a categoria da unidade hoteleira. Para dar resposta a
este objetivo foram categorizados os hotéis inquiridos em dois grupos: hotéis
com duas e três estrelas; e hotéis com quatro e cinco estrelas. Foi, também,
utilizado o teste do Qui-quadrado para verificar se existe uma associação
estatisticamente significativa entre a adoção de uma determinada prática de
gestão ambiental e a categoria da unidade hoteleira.
Esta análise permitirá, não só identificar as práticas de gestão ambiental mais
utilizadas nos hotéis de Portugal – e comparar estes resultados com os obtidos
em outros estudos realizados a nível internacional –, como também identificar
práticas de gestão ambiental que apresentam um grande potencial para tornar os
hotéis mais amigos do ambiente, práticas que ainda apresentam um nível de
implementação muito baixo por parte da hotelaria portuguesa.
Em termos de tipos de PGA, os resultados apresentados nas Tabelas 2 e 3 revelam
que as mais adotadas pelos hotéis portugueses são as práticas relacionadas com
a gestão do consumo energético (adotada por 83% das unidades), com o consumo de
águas (81,1%) e com a gestão dos resíduos sólidos (83,6%). Por sua vez, as
práticas menos utilizadas são as relacionadas com a gestão de efluentes e
emissões (45,3%) e as práticas relacionadas com a gestão do ambiente exterior e
biodiversidade (42,1%).
Uma análise mais detalhada sobre o tipo de práticas adotadas nas unidades
hoteleiras em cada um dos grupos referidos evidencia algumas diferenças na
adoção destas práticas, de acordo com a categoria da unidade hoteleira.
No domínio da gestão do consumo de energia, a instalação de «lâmpadas de baixo
consumo energético» é a prática mais popular, sendo utilizada por 80,5 das
unidades hoteleiras inquiridas; este resultado corrobora o resultado obtido
pelo estudo de Turismo de Portugal, IP (2008). A «exploração de energias
renováveis» constitui-se como a prática menos implementada (11,3%), pois, tal
como refere a UNWTO (2009), a utilização de energias renováveis por parte das
unidades hoteleiras é ainda uma prática pouco significativa.
Observou-se também que as unidades hoteleiras de categoria superior (quatro e
cinco estrelas) tendem a adotar mais as seguintes práticas de gestão do consumo
energético do que as unidades hoteleiras de duas e três estrelas (Tabela_2):
«interruptor geral no quarto dos hóspedes»; «sistema de ventilação eficiente»;
«sistema de gestão de energia»; «monitorização diferenciada de todo o consumo
energético» e «sistema de recuperação de calor».
Em termos de gestão do consumo de água, as PGA mais populares são a instalação
de «redutores de caudal de água em torneiras» (81,1%) e de «autoclismos de
baixo consumo», a par da «otimização de cargas das máquinas de lavar louça»
(52,8%). Por sua vez, a «utilização de sistemas de rega automática com controlo
de humidade» é ainda uma prática ambiental pouco utilizada nas unidades
hoteleiras inquiridas. No entanto, existe uma maior tendência para as unidades
hoteleiras de categoria superior adotarem esta prática de gestão ambiental
quando comparadas com as unidades hoteleiras de duas e três estrelas (Tabela
2).
Quanto à gestão de resíduos sólidos, verificou-se que a «recolha e eliminação
de resíduos especiais» tem a maior taxa de adoção (medida utilizada por 81,1%
dos hotéis inquiridos), o que poderá estar relacionado com a imposição da
regulamentação. Apesar da «recolha seletiva de lixos» ser a segunda PGA mais
adotada e a cozinha ser o departamento que mais implementa esta prática
(79,9%), observou-se que a «compostagem de resíduos orgânicos» é a PGA menos
adotada, o que revela que ainda existe um grande percurso a percorrer em termos
de gestão de resíduos sólidos para tornar as unidades hoteleiras mais amigas do
ambiente (Tabela_2).
No domínio da gestão de materiais perigosos, a PGA mais popular prende-se com
questões de segurança e saúde laboral, sendo esta prática adotada por 52,8% das
unidades hoteleiras inquiridas. Por sua vez, «a definição de procedimentos para
manuseamento, utilização, armazenagem e eliminação dos materiais» é a prática
menos adotada, mas, mesmo assim, é utilizada por cerca de 42% das unidades
hoteleiras (Tabela_2).
Na gestão de efluentes e emissões, o «planeamento da redução de consumos»
constitui-se como a PGA mais comum, comprovando que as PGA mais adotadas são as
que se traduzem em proveitos financeiros. Apesar da «reutilização de águas
usadas» ser ainda uma prática ambiental pouco utilizada pelas unidades
hoteleiras inquiridas neste estudo, observou-se, através do teste do Qui-
quadrado, que existe uma maior tendência para as unidades hoteleiras de quatro
e cinco estrelas adotarem esta prática. No que diz respeito à gestão do
ambiente interior, as PGA mais implementadas prendem-se com o conforto e bem-
estar: «insonorização dos quartos de hóspedes» e «isolamento térmico». No
entanto, a «restrição do uso de veículos motorizados em determinados horários»
adotada por apenas 8,25% dos inquiridos, revela uma fraca sensibilidade para
este assunto. Em termos de categoria das unidades hoteleiras, observou-se uma
maior tendência para as unidades hoteleiras de quatro e cinco estrelas adotarem
as seguintes práticas relacionadas com a gestão do ambiente interior:
«insonorização dos quartos de hóspedes» e «isolamento sonoro de equipamento
ruidoso» (Tabela_3).
A «valorização do enquadramento paisagístico» e a «plantação de árvores» são as
PGA mais adotadas na área da gestão do ambiente exterior e biodiversidade. O
«financiamento da preservação e reabilitação de atrativos turísticos» é a
prática menos popular, sendo implementada por apenas 6,9% dos respondentes.
Também se salienta a fraca «colaboração com associações ambientais locais»,
como a limpeza de praias (14,5%). Estes resultados revelam que, apesar das
unidades hoteleiras de categoria superior apresentarem uma maior tendência para
adotar as práticas de gestão do ambiente exterior, quando comparadas com as
unidades hoteleiras de duas e três estrelas, as unidades hoteleiras inquiridas
devem intensificar a adoção deste tipo de PGA (Tabela_3).
A PGA mais adotada relacionada com a política de compras orientada pelo
ambiente, prende-se com a «preferência por fornecedores com certificação de
qualidade e ambiente» (46,5%). A «preferência por produtos de cultura
biológica», «preferência por produtos biodegradáveis» e «preferência por
madeiras provenientes de florestas certificadas» são PGA ainda pouco utilizadas
pelos hotéis portugueses inquiridos.
Por último, relativamente à comunicação ambiental, destaca-se a «informação aos
colaboradores sobre consumos de recursos» (52,2% dos respondentes implementam
esta prática), que vem comprovar a importância atribuída à redução de custos. A
prática de «benchmarking» não é muito implementada (apenas por 15,7% dos
inquiridos), sendo esta prática mais adotada pelos hotéis de quatro e cinco
estrelas. No entanto, independentemente da categoria do hotel, a comparação com
as melhores práticas do setor hoteleiro revela-se de extrema importância, uma
vez que pode motivar a adoção de PGA por outras unidades hoteleiras. A fraca
adoção desta prática é ainda mais acentuada quando comparada com os resultados
do estudo de Viegas (2008), onde se observa que 47% dos respondentes praticam
«benchmarking» (Tabela_3).
Conclusões e implicações
Relativamente à adoção de PGA, verifica-se que, dos hotéis inquiridos, 87%
implementam práticas e destes 46% tem uma política formal de gestão ambiental.
Comparativamente a um estudo realizado com hotéis na Europa, conduzido por
Bohdanowicz (2005), onde aproximadamente 35% dos hotéis respondentes afirmaram
ter uma política formal de gestão ambiental, os resultados da presente
investigação sugerem que Portugal poderá situar-se acima da média dos hotéis
europeus.
Contudo, não é possível estabelecer comparações objetivas, pois distam cinco
anos entre os dois estudos. Mas, no que diz respeito aos sistemas de
certificação ambiental, 19% dos hotéis inquiridos são detentores de um sistema
de certificação ambiental ou procuram a certificação ambiental por parte de
entidades competentes para o efeito.
Este dado é considerado muito positivo, comparativamente aos resultados do
recente estudo nacional do Turismo de Portugal, IP (2008), em que apenas 5% dos
estabelecimentos são detentores de uma certificação ambiental, permitindo
concluir que os hotéis portugueses estão a enveredar pela certificação. No
entanto, é importante também observar que a taxa de resposta das unidades
hoteleiras de quatro e cinco estrelas neste estudo foi superior à taxa de
resposta das restantes categorias. Este fato poderá ter contribuído para que a
percentagem de unidades hoteleiras com certificação ambiental analisadas neste
estudo seja superior à percentagem verificada no estudo do Turismo de Portugal,
IP (2008), uma vez que os resultados obtidos nesta investigação demonstram que
existe uma maior tendência para as unidades hoteleiras de categoria superior
adotarem, em maior número, determinados tipos de práticas de gestão ambiental.
Verificou-se também que a certificação pela NP EN ISO 14001 é o sistema de
certificação ambiental mais comum.
Nesta investigação identificam-se as áreas de atuação mais relevantes na adoção
de PGA.
A gestão do consumo de energia, a gestão do consumo de água e a gestão de
resíduos sólidos são as áreas onde se identifica a adoção de mais PGA. A fraca
implementação de PGA nos domínios da gestão de materiais perigosos, gestão de
efluentes e emissões, gestão do ambiente interior, gestão do ambiente exterior
e biodiversidade, política de compras orientada pelo ambiente e comunicação
ambiental, revela que ainda existe um longo caminho a percorrer no que diz
respeito à proteção do ambiente.
As PGA relacionadas com a gestão do consumo de energia e de água estão
normalmente associadas à redução de custos em vez da proteção ambiental (Le et
al., 2006). Por este motivo, observou-se que as PGA mais populares nos hotéis
portugueses estão relacionadas com a gestão de recursos, com as que requerem um
baixo investimento e com as que revelam ter maior impacto no meio ambiente.
Aquelas que exigem a disponibilidade de verbas, quer seja para investir em
equipamentos mais dispendiosos ou para financiamento da preservação de
atrativos turísticos, são práticas com uma taxa de adoção muito reduzida. Tais
resultados são coincidentes com os obtidos em diversos estudos, como os de Kirk
(1995), Stabler e Brian (1997), Knowles (1998), Tzschentke et al.(2004) e
Bohdanowicz (2005, 2006a).
Também se identificaram práticas que, apesar de não exigirem um esforço
financeiro relevante, são pouco implementadas, como por exemplo: a recolha e
utilização de águas pluviais ou águas usadas; a preferência por produtos de
cultura biológica; a compostagem de resíduos orgânicos; e outras medidas que
nem sequer estão relacionadas com questões financeiras, como a restrição de
horários para a utilização de veículos motorizados e a colaboração com
associações ambientais locais. Os motivos que justificam tal situação podem ser
explicados pelo contexto sociocultural do nosso país, onde não existe grande
tradição no envolvimento ativo em iniciativas de proteção ambiental.
A par deste aspeto surge, igualmente, o contexto geopolítico e económico
(Bohdanowicz, 2006a), que explica as divergências na adoção de medidas por
parte de unidades hoteleiras em países com realidades diferentes.
Nesta investigação também se conclui que os hotéis de categoria superior tendem
a adotar mais medidas de proteção ambiental que os hotéis de categoria
inferior. O estudo de Viegas (2008) verifica igualmente que os hotéis de quatro
e cinco estrelas se distinguem pela positiva, relativamente aos hotéis de duas
e três estrelas, na maioria das PGA implementadas. Estes dados podem estar
relacionados com o fato dos hotéis de categoria superior disporem de mais
recursos materiais e humanos (Enz e Siguaw, 1999; Viegas, 2008) que facilitam a
adoção de PGA.
Os resultados apresentados neste estudo são contributos relevantes para a
gestão das unidades hoteleiras e para o desenvolvimento sustentável do Turismo
em Portugal.
A adoção das melhores PGA revela ser o percurso a seguir pelas empresas
hoteleiras. O setor tem de apostar mais na proteção ambiental, de forma a dar
um contributo positivo e significativo para a sustentabilidade turística do
país.
Mas a proteção ambiental não deve ser encarada como um custo; afigura-se,
antes, como uma oportunidade de negócio para satisfazer um novo segmento de
mercado, caracterizado por clientes cada vez mais exigentes em matéria de
qualidade ambiental. A preferência dos clientes por hotéis «verdes» é um fator
decisivo para que as empresas do setor implementem PGA, até porque a procura
tem aumentado (Bohdanowicz, 2006b), tal como o interesse pela certificação
ambiental (Schütz e Santos, 2009). Estudos recentes, realizados pela IHEI,
sugerem que os consumidores estão cada vez mais predispostos a pagar preços
mais elevados em hotéis que sejam pró-ativos na defesa do ambiente (Tzschentke
et al., 2004).
Este estudo, representado por 31% dos hotéis de Portugal continental,
identifica as PGA mais adotadas e verifica a existência de diferenças na adoção
de algumas dessas práticas, de acordo com a categoria do hotel. Neste sentido,
devido à pertinência da temática analisada neste artigo para o desenvolvimento
sustentável da atividade turística, considera-se que novos estudos nesta área
devem ser realizados.
A avaliação do nível de frequência com que essas práticas são adotadas é um
tema a explorar em futuras investigações. Estes estudos deverão incorporar um
maior número de hotéis portugueses. Refere-se, também, o interesse em
desenvolver estudos que analisem os fatores que influenciam a adoção de PGA na
hotelaria e estudos que permitam comparar a adoção de práticas de gestão
ambiental a nível internacional.