O efeito da sucessão no desempenho das empresas familiares: Um estudo regional
A importância das empresas familiares tem gerado nos últimos anos um abundante
debate, expresso na literatura através de inúmeros trabalhos (ex.: La Porta et
al., 2000; Arosa et al., 2010 e García et al., 2011). Um dos propósitos das
empresas familiares é perpetuar o controlo empresarial do fundador por várias
gerações, tendo isto impacto direto no desempenho da empresa.
Na primeira geração, a propriedade está concentrada no núcleo familiar e a
direção normalmente recai no fundador. Contudo, as relações tornam-se mais
complexas à medida que a empresa cresce e fica sujeita a processos de sucessão.
Esta linha de investigação desenvolve-se em torno dos problemas que a separação
de propriedade e controlo originam, constituindo um ponto de partida para as
análises que procuram identificar mecanismos de controlo que possam atenuar os
custos de agência.
Nas pequenas empresas de cariz familiar, o processo sucessório é a decisão
estratégica mais importante que a empresa toma, sendo a escolha do novo líder
fator determinante da expansão ou decadência da atividade empresarial (Neubauer
e Lanke, 2003). Os estudos sobre empresas familiares refletem a importância da
figura do fundador no maior desempenho pelas suas capacidades de gestão
(Barontini e Caprio, 2006; Villalonga et al., 2006; García et al., 2011), ao
contrário dos sucessores que são menos interventivos na produtividade e
eficiência empresarial (Anderson e Reeb, 2003).
Este trabalho tem como objeto de estudo a influência da geração na
rendibilidade das empresas familiares de uma região de Portugal ' Viseu. A
escolha das empresas objeto deste estudo decorre do tecido empresarial ser
maioritariamente constituído por empresas familiares de reduzida dimensão
geridas pelo fundador. Consideramos ainda que a insuficiência de estudos no
contexto das empresas portuguesas, e da região de Viseu, em particular,
constitui um impulso adicional para a realização deste trabalho.
Relativamente à organização do trabalho, encontra-se dividido em cinco secções.
Para além desta introdução, a secção seguinte procura contextualizar a
problemática das relações internas e a sucessão empresarial. A terceira é
dedicada à metodologia, caracterização da amostra e à formulação de hipóteses.
A quarta apresenta os resultados e a última refere-se às conclusões.
Revisão da literatura
O governo da empresa ou corporate governance foi desenvolvido no início da
década de 1990 nos EUA e na Grã-Bretanha, centrado no conflito de interesses
entre investidores (proprietários e credores) e gestores (García, 2005). O
conceito está associado às relações formais e informais estabelecidas entre os
vários intervenientes da empresa, dando a literatura particular relevância às
estabelecidas entre: i) proprietários e gestores; ii) proprietários
maioritários e minoritários; iii) proprietários e credores e, ainda, com
trabalhadores e clientes (Shleifer e Vishny, 1986).
No âmbito da primeira relação (proprietário-gestor), a propriedade e controlo
assumem especial relevância. Quando o papel de proprietário e gestor é
desempenhado pelo mesmo indivíduo, não existem conflitos. No entanto, à medida
que a separação ocorre, surgem ineficiências empresariais, constituindo a
teoria de agência um importante marco conceptual (Jensen e Meckling, 1976). A
relação de agência estabelece-se sempre que um indivíduo depende da ação de
outro (McGuire et al., 1991), estabelecendo-se um contrato entre ambos, que
geralmente incorpora delegação de autoridade, de tal forma que o agente toma
decisões em nome do principal. Os problemas de agência decorrem da assimetria
de informação, da seleção adversa e do risco moral, agravados pelo
comportamento de quem detém a maioria da informação e acesso à informação
privilegiada (Jensen e Meckling, 1976).
A literatura refere a existência de assimetrias de informação quando um dos
elementos possui informação que o outro não detém, ou seja, a informação é
distribuída de forma imperfeita pelos agentes, sendo assim fonte de conflitos
(Stiglitz, 1985; Milgrom e Roberts, 1992). A assimetria dá origem a: i)
informação oculta ou seleção adversa (adverse selection) ' uma das partes
dispõe a priori de informação privada, sobre determinados estados de natureza
não observáveis pela outra e ii) ações ocultas ou risco moral (moral hazard) '
ações a posteriori não observáveis, adotadas por uma das partes com o propósito
de maximizar a sua utilidade em detrimento da outra (Williamson, 1985). O
principal pode reduzir o comportamento desviante do agente em relação ao
contratualmente estabelecido, instituindo um sistema de incentivos ou
suportando custos de agência. De acordo com Jensen e Meckling (1976), os custos
de agência decorrem da elaboração dos contratos entre o principal e o agente,
da supervisão e controlo da atividade do agente, da sua honestidade e das
perdas que decorrem da não maximização do valor empresarial.
A teoria de agência constitui um importante referencial teórico para analisar
os problemas de: i) agência ' que decorrem das relações entre investidores
(proprietários e credores) e os gestores, e ii) discricionariedade diretiva '
comportamento oportunista dos gestores (Eisenhardt, 1985). Estes problemas
podem ser reduzidos através do controlo da informação privilegiada e do
desempenho da empresa [Jensen e Meckling, 1976; Fama e Jensen, 1983(a); Demsetz
e Lehn, 1985].
No contexto da teoria da agência, os conflitos entre os vários intervenientes
da empresa originam custos, pelo que devem ser desenvolvidos mecanismos de
controlo empresarial que os minimizem. A literatura permite agregá-los em dois
grupos: um que engloba os mecanismos de controlo externo e outro denominado de
controlo interno. Os mecanismos externos são descritos por Jensen (1993), como
a presença da empresa num mercado de aquisição hostil e pela existência de um
mercado de trabalho competitivo. Por outro lado, os mecanismos internos são
utilizados como meios de monitorizar o comportamento dos gestores e criar
incentivos, para que atuem no sentido de maximizar o valor da empresa, tais
como sistemas de incentivos, composição do conselho de administração e
estrutura de propriedade (Silva, 2009).
Os gestores devem ter presente na sua atuação os interesses da empresa; no
entanto, quando os objetivos não são comuns geram-se conflitos. A propriedade
detida pela gestão pode desenvolver um fenómeno de imunidade designado na
literatura por «entrincheiramento» (Costa, 2008). De acordo com Berger et al.
(1997), o «entrincheiramento» traduz a situação na qual os gestores ficam
imunes à disciplina imposta por um vasto conjunto de mecanismos de controlo.
Neste sentido, devem ser implementados mecanismos de controlo que impeçam o
gestor de tomar decisões que prejudiquem a rendibilidade empresarial (Costa,
2008). De acordo com Berger et al. (1997), «entrincheiramento» reflete a
situação em que os gestores ficam imunes à disciplina imposta por um vasto
conjunto de mecanismos de controlo. O nível de «entrincheiramento» pode ser
controlado por vias distintas, sendo de realçar o peso da propriedade detida
pelos gestores e pelo poder de voto na tomada de decisões [Demsetz, 1983; Fama
e Jensen, 1983(b); Bebchuk et al., 2009].
O conceito Corporate Governance (governança empresarial) é apreendido de forma
diversa, reportando-se a pessoas ou instituições distintas e a naturezas
distintas em função do sistema político/legal (ex.: proteção legal dos
investidores) (Shleifer e Vishny, 1997). Apesar das diferenças, existe consenso
na literatura em agregar os sistemas de governo empresarial em torno de dois
modelos: i) modelo anglo-saxónico (Outsider System ou Market Oriented) e ii)
modelo continental europeu e japonês (Insider System ou Bank Oriented).
No âmbito dos mecanismos de controlo interno, a estrutura de propriedade
constitui um elemento fundamental da governança empresarial, apresentando
características distintas em cada um dos diferentes modelos.
No modelo anglo-saxónico, as empresas apresentam maior dimensão e elevada
dispersão de capital, com uma clara separação entre propriedade e gestão
(Kaplan, 1997; Franks e Mayer, 1998). O mercado exerce um papel de controlo
relevante face aos mecanismos internos. Neste sistema, a maior concentração de
capital faz-se acompanhar por um maior número de participações cruzadas como
instrumento de controlo (González e González, 2008).
No modelo continental europeu, a propriedade está muito concentrada e existe um
forte domínio familiar (La Porta et al., 1999; Facio e Lang 2002). Este modelo
caracteriza-se por uma certa passividade dos detentores de capital e
investidores institucionais, pelo facto de o conselho de administração nem
sempre ser independente da direção (impedindo uma eficaz fiscalização) e pela
ausência de um controlo ativo do mercado empresarial (Jensen, 1993; Gedajlovic
e Shapiro, 2002). Neste modelo prevalece a empresa familiar com origem numa
organização controlada e dirigida por um empreendedor (Gersick et al., 1997).
Na literatura existem várias definições de empresa familiar. Desde o trabalho
seminal de Christensen (1953), tem sido difícil reunir consenso em torno deste
conceito, sintoma provável da sua complexidade e abrangência. Pode, no entanto,
ser identificado um conjunto de características na empresa familiar: i) um dos
membros está na sua origem e participa na propriedade; ii) os valores
institucionais identificam-se com a figura do fundador; iii) a sucessão está
ligada ao fator hereditário (Leone, 1991); iv) é gerida numa base de
transmissão de geração em geração, sendo propriedade de uma única família ou de
um pequeno número de famílias (Sharma et al., 1999); v) o proprietário detém
pelo menos 50% da propriedade (Anderson e Reeb, 2003 e Wang, 2006).
Do exposto identificam-se algumas características que prevalecem, nomeadamente,
a relação familiar, a propriedade, a gestão ativa do negócio e a necessidade em
assegurar a continuidade geracional.
As empresas familiares, como as restantes, são influenciadas pelas relações
empresariais; no entanto, têm associadas laços de interdependência familiar
muito fortes (Correia, 2003). Os estudos empíricos revelam que o desempenho
sofre alterações significativas em função da geração (Arosa et al., 2010).
Na primeira geração centrada no fundador e no núcleo familiar prevalece uma
convergência de interesses muito forte, pelo que os custos de agência assumem
pouca relevância (Lester e Canella, 2006). A concentração de propriedade reduz
os conflitos, a tomada de decisão tem horizontes temporais dilatados
(Bartholomeuz e Tanewski, 2006) e a presença do controlo familiar garante uma
maior supervisão da gestão, reduzindo os inconvenientes associados à separação
da propriedade e controlo [Fama e Jensen, 1983(b)].
A relação entre a família e a empresa condiciona, em muitas circunstâncias, as
decisões mais importantes no seio da organização, na medida em que estas duas
realidades se sobrepõem (Ussman, 2004).
Como principais vantagens da empresa familiar, há a referir: i) prevalência de
interesses comuns (os laços afetivos entre as pessoas e a forma como atuam em
prol de um objetivo comum); ii) confiança mútua e autoridade definida e
reconhecida (minimiza as lutas pelo poder e as intenções menos claras, quer
entre trabalhadores e linhas hierárquicas); iii) facilidade de transmissão da
informação (comunicação intensa e fluida, sem barreiras e com confiança entre
as pessoas); iv) flexibilidade de processos (maior simplicidade da estrutura da
organização, contribuindo para a delegação de funções, autonomia e
flexibilização dos sistemas de informação e de controlo; v) execução de
projetos a longo prazo (planos elaborados para o futuro, a pensar na família e
sucessores que garantam a continuidade do negócio) e iv) permanência da cultura
e valores (organizações marcadas pela cultura e pelos valores definidos pelo
seu fundador) (Gallo e Ribeiro, 1996; Martins, 1999).
No entanto, estas empresas deparam-se com alguns constrangimentos,
nomeadamente: i) coincidência entre propriedade e gestão (ausência de
competências para a continuidade do negócio); ii) maior isolamento do meio
envolvente (ignora as alterações do meio, dos produtos e dos clientes); iii)
dificuldade em acompanhar as regras do mercado (a empresa é pouco flexível na
capacidade de adaptação ao mercado, fruto da elevada centralização de poder no
fundador); iv) forte interdependência entre laços afetivos e contratuais (não
existe distinção clara entre a vida familiar e empresarial); v) problemas de
sucessão (a falta de «sangue novo» pode comprometer a capacidade de inovação da
empresa, verificando-se uma forte resistência à saída do fundador) e vi)
ausência de clareza nos processos (o controlo e supervisão da gestão é menos
rigoroso) (Gallo e Ribeiro, 1996; Martins, 1999).
A gestão das empresas familiares está inicialmente nas mãos do seu fundador e,
gradualmente, os sucessores vão desempenhando um papel cada vez mais relevante.
Para Miller e Rice (1988), estas tendem a manter a gestão do negócio no seio do
agregado familiar; no entanto, à medida que ganham dimensão, os problemas
tornam-se mais complexos e, na ausência de resposta interna, recrutam no
exterior as capacidades necessárias, sob pena de não poderem garantir a sua
sobrevivência. Acompanhando o crescimento da estrutura da empresa, estabelecem-
se e desenvolvem-se novas relações no seu seio, tendencialmente mais complexas,
ampliadas com os problemas de sucessão.
Os estudos centrados nestas empresas referem que a sua sobrevivência está
diretamente relacionada com o processo sucessório, a profissionalização da
gestão e com os conflitos familiares gerados (Fujioka, 2002). Quando o fundador
transmite para a geração seguinte a cultura e a filosofia da vida familiar,
condiciona o modo como a gestão é exercida. Em muitas circunstâncias, a
experiência acumulada não é absorvida pelos sucessores e a separação do
património pessoal e empresarial é pouco nítida, estando na sua origem a: i)
utilização indevida dos recursos empresariais; ii) ausência de sistemas de
planeamento financeiro; iii) resistência à modernização, e, por fim, iv)
contratação de pessoas por afinidade pessoal e não pela sua competência técnica
(Lodi, 1998). As dificuldades na sucessão decorrem da ausência de fronteiras
nítidas entre o domínio familiar e empresarial (Magretta, 1998; Matthews et
al., 1999).
Os estudos empíricos (Fritz, 1993; Morris et al., 1998; Oliveira, 1999; Venter
et al., 2005) revelam que cerca de 30% das empresas familiares sobrevivem na
segunda geração e apenas 14% na terceira. A transferência de poder não é
imediata, carece de tempo de maturação, pelo que deve ser levado em conta um
conjunto de aspetos, a saber: o processo de aprendizagem dos descendentes, o
relacionamento que se estabelece com o fundador, a confiança mútua e o
planeamento do processo sucessório (Lodi, 1987; Morris et al., 1998). Para
garantir o seu êxito, tornar-se-á necessário preparar a geração seguinte que
vai assumir a gestão, sendo esta determinante na sobrevivência empresarial
(Ward, 2011; Venter et al., 2005).
Hipóteses e metodologia de investigação
Com base no referencial teórico desenvolvido na secção anterior, pretende-se
avaliar a influência do efeito geracional no desempenho empresarial. Isto é,
perceber de que forma os problemas de agência criados com a sucessão
condicionam a rendibilidade.
Em 2012 as empresas individuais não financeiras representavam 67% do total das
empresas não financeiras (PORDATA, 2014). Um estudo de 2011 da Associação
Empresarial de Portugal ' Câmara de Comércio/Indústria concluiu que, em
Portugal, metade das empresas familiares não passam para a segunda geração e
apenas 20% atingem a terceira.
O nosso estudo incide sobre pequenas e médias empresas familiares de uma região
de Portugal ' Viseu, considerando-se como empresa familiar aquela em que pelo
menos 50% da propriedade é detida pela família, à semelhança de Anderson e Reeb
(2003) e Wang (2006), entre outros.
Os dados utilizados na elaboração deste estudo compreendem duas fontes: i)
consulta direta às empresas para recolher informação sobre a geração
responsável pela gestão e ii) SABI (Sistema de Análise de Balanços Ibéricos)
para extrair dados económico-financeiros, relativos ao ano de 2012.
A amostra foi selecionada da seguinte forma: i) eliminaram-se da base de dados
as empresas que não tinham informação contabilística; ii) retiveram-se as
empresas do distrito de Viseu e iii) incluíram-se aquelas para as quais foi
possível obter informação sobre a geração. Tendo em conta estas condicionantes,
a amostra é constituída por 141 empresas.
Neste estudo, a variável dependente é o desempenho, aferido pela rendibilidade
operacional do ativo (ROA). Consideram-se como variáveis independentes o efeito
geracional, avaliado pela geração, e a estrutura de propriedade, expressa pela
propriedade de gestão. A propriedade de gestão é uma das características que
melhor identificam a estrutura de propriedade. Estudos empíricos revelam que a
propriedade de gestão contribui para a estabilidade do negócio e para a
definição das decisões estratégicas (Mishra et al., 2001). A propriedade de
gestão constituiu um importante mecanismo de controlo interno, configurando-se
como um dos principais determinantes do desempenho empresarial (La Porta et
al., 1996). Na Tabela_1 apresenta-se uma descrição sumária das medidas
utilizadas, tendo por base as sugestões de diversos estudos empíricos que se
têm dedicado a esta temática.
Com o intuito de investigar de que modo a rendibilidade se relaciona com a
geração e com a propriedade de gestão, formulou-se a seguinte hipótese:
H1: A geração e a propriedade de gestão condicionam a rendibilidade.
Resultados
Das 141 empresas que constituem a amostra, 79 (56,03%) são geridas pelo seu
fundador, isto é encontram-se na primeira geração. Quanto à dimensão, a amostra
é constituída por 49 microempresas (36,30%) e 86 «não micro» (63,70%)
(considera-se «microempresa» aquela que tem menos de seis trabalhadores '
Decreto-Lei n.º 35/2010, de 2 de setembro).
A Tabela_2 apresenta os resultados provenientes da análise da rendibilidade,
face à geração presente nas empresas, considerando separadamente as empresas
«micro» e as empresas «não micro».
Constatamos que a rendibilidade das empresas é superior para as empresas na
primeira geração, contudo a diferença só é significativa para as empresas «não
micro». Os resultados obtidos nas empresas «não micro» encontram-se em sintonia
com Kang (1998) e Villalongaet al. (2006) que realçam o papel do fundador nas
empresas familiares de primeira geração.
De acordo com estes resultados, a primeira geração tem efeito na rendibilidade,
mas apenas nas empresas «não micro». Como tal, para aprofundar a relação entre
a rendibilidade e a geração, consideramos apenas as empresas «não micro».
A hipótese H1 será avaliada, numa primeira fase, pelo seguinte modelo:
ROA = β0 + β1G + β2PG + β3PGxG + ε
(Modelo 1)
O modelo proposto para avaliar a hipótese em investigação será estimado com as
86 empresas «não micro» da amostra.
Na Tabela_3 apresentam-se os resultados da estimação do Modelo 1.
O modelo estimado evidencia que a geração tem um efeito significativo na
rendibilidade e que as empresas de primeira geração, em média, têm uma
rendibilidade acrescida. Em suma, as empresas de primeira geração apresentam um
ROA superior face às restantes. O coeficiente de determinação é de 26,5%, ou
seja, o modelo estimado explica cerca de 26,5% das variações no ROA.
Os resultados obtidos estão em sintonia com o que estudos anteriores têm
evidenciado (ex.: Wang, 2006; Martikainen et al., 2009), quando referem que a
presença a longo prazo de membros da primeira geração na empresa pode aumentar
a qualidade dos resultados, melhorando assim o desempenho. Andres (2008) refere
que as empresas familiares apresentam um melhor desempenho, nomeadamente quando
o seu fundador detém uma participação ativa na gestão. Nesta linha, estudos
recentes (Barontini e Caprio, 2006; Villalonga et al., 2006; García et al.
2011) validam o papel do fundador na melhoria do desempenho, isto é, o fundador
concede à empresa capacidades de gestão, ao contrário dos seus sucessores que
contribuem em menor grau para a eficiência e produtividade da empresa.
Os resultados expostos na Tabela 3 permitem ainda verificar que o efeito da
interação entre a geração e a propriedade de gestão é significativo. Mais
precisamente, o modelo estimado dá indicação de que a propriedade de gestão só
tem efeito significativo sobre o ROA nas empresas de primeira geração (já que o
coeficiente associado a PG não é significativo). Sugere ainda que, nas empresas
de primeira geração, a propriedade de gestão tem efeito negativo sobre o ROA, o
que significa que, em média, quanto mais elevada for a propriedade de gestão,
menor será a rendibilidade da empresa. Os resultados obtidos vão ao encontro de
Cronqvist e Nilsson (2003), quando referem que a participação do proprietário
maioritário na gestão tem efeitos negativos sobre o desempenho da empresa. No
entanto, outros autores (ex.: Renneboog, 2000) defendem que a participação
significativa no capital, por parte da família, permite um controlo mais eficaz
com efeitos positivos ao nível do desempenho empresarial.
Em suma, os resultados validam a hipótese formulada na secção anterior e
encontram-se em sintonia com Andres (2008) quando argumenta que as empresas
familiares têm um melhor desempenho, nomeadamente quando o fundador participa
ativamente na gestão. Por sua vez, Demsetz e Lehn (1985) não identificam
qualquer relação entre a rendibilidade e a propriedade de gestão.
Considerou-se um segundo modelo para validar a hipótese H1, estabelecendo uma
relação quadrática entre a propriedade de gestão e a rendibilidade:
ROA = β0 + β1G + β2PG2 + β3PG2xG + ε
(Modelo 2)
Os resultados da estimação são apresentados na Tabela_4.
As conclusões retiradas do Modelo 1 são confirmadas pelo Modelo 2. Mais uma
vez, a propriedade de gestão só tem efeito significativo sobre a rendibilidade
nas empresas de primeira geração e nestas verifica‑se uma tendência para um
decréscimo na rendibilidade com o aumento da propriedade de gestão. De facto,
dado que a propriedade de gestão toma apenas valores positivos, a relação
quadrática estabelecida pelo modelo estimado entre a propriedade de gestão e a
rendibilidade, nas empresas de primeira geração, define um arco de parábola que
é função decrescente da propriedade de gestão (já que quando G=1 o modelo
estimado é ROA=0,223-1,97x10-5PG2). A validade da hipótese formulada é, pois,
reforçada pelos resultados da estimação do Modelo 2. Refira-se ainda que o R2
mantém-se nos 27%, ou seja, uma boa parte da variação da ROA é explicada pelas
variáveis, geração, propriedade de gestão e a interação entre ambas.
Para terminar, sublinhe-se que 2 das 86 empresas consideradas na estimação dos
modelos apresentavam resíduos elevados, sendo potencialmente influentes na
estimação dos coeficientes. Dada a reduzida dimensão da amostra, foi feito um
estudo sobre a influência destas observações (empresas) através das medidas
usualmente consideradas para o efeito, os DFFits, DFBetas e a distância de
Cook. Apesar dos valores relativamente elevados destas medidas de influência
para as duas observações em causa, verificou-se que os modelos estimados sem
estas duas empresas não eram substancialmente diferentes e conduziam às mesmas
conclusões.
Conclusões
O objetivo principal deste trabalho foi compreender a influência do efeito
geracional na rendibilidade da empresa, ou seja, perceber de que forma os
problemas gerados com a sucessão empresarial condicionam o desempenho.
Tendo por base as empresas familiares da região de Viseu, em Portugal,
investigou-se de que modo a geração é fator condicionante da rendibilidade.
Concluiu-se que a geração só tem efeito significativo nas empresas com mais de
cinco trabalhadores («não micro»), observando-se uma maior rendibilidade nas
que se encontram na primeira geração.
Considerando apenas as empresas com mais de cinco trabalhadores, a análise dos
modelos de regressão sugere que a geração é um fator explicativo da
rendibilidade da empresa, sendo que a primeira geração apresenta um ROA
superior. Quanto à propriedade detida por quem desempenha cargos de gestão,
observou-se um impacto negativo mas apenas nas empresas de primeira geração.
Em síntese, os resultados obtidos indicam que a geração é um fator importante
na explicação da rendibilidade das empresas «não micro».
Como principal limitação deste estudo, realça-se o número reduzido de empresas
em análise e o enquadramento estritamente regional, já que o estudo se centra
apenas em dados de uma região portuguesa. Um maior número de empresas e um
enquadramento mais amplo iria permitir aferir com maior precisão o efeito da
geração na rendibilidade das empresas.
Em investigações futuras seria interessante avaliar, para uma amostra de maior
dimensão, os fatores que influenciam a rendibilidade das empresas, nomeadamente
explorar a prevalência da obtenção de «benefícios privados».