A Cultura em Lisboa. Competitividade e Desenvolvimento Territorial
Pedro Costa,A Cultura em Lisboa. Competitividade e Desenvolvimento Territorial,
Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2007, 475 páginas.
A Cultura em Lisboaé um estudo muito sério, útil e inovador. Primeiro, porque
apresenta e discute simultaneamente os conceitos de cultura, economia,
território e inovação. Depois, trata-se de um livro que surge no momento em que
na literatura internacional se reforça a importância das actividades culturais,
criativas e artísticas para o desenvolvimento das sociedades (Richard Caves,
Creative Industries: Contracts between Art and Commerce,Cambridge e Londres,
Harvard University Press, 2002; Terry Clark et al., Culture is on the Rise
Why? Theories of Cultural Participation and Empirical Evidence, 2008, texto
policopiado). Por fim, faz-nos reflectir sobre as mais recentes dinâmicas
associadas aos mundos das artes, da cultura e dos mercados culturais, tendo
ainda o mérito de se destinar aos especialistas, aos decisores políticos, aos
alunos, mas também ao público em geral.
Este estudo organiza-se em sete capítulos: do teatro à ópera, dos concertos à
dança (artes performativas), da pintura e da escultura (artes visuais) à
música, dos museus à fotografia e ao cinema, Pedro Costa compilou um vasto
conjunto de informações que organizou tendo em conta as características da
oferta e da procura (do público) em cada um destes mundos culturais, assim como
as práticas e as políticas públicas que lhes estão associadas e as suas
principais tendências de evolução.
Importa agora revisitar sucintamente cada um dos capítulos deste livro,
enunciando as suas principais contribuições. Em primeiro lugar, a abordagem
pluri/transdisciplinar escolhida pelo autor, que atravessa uma multiplicidade
de perspectivas: da economia à sociologia, à geografia e ao planeamento
territorial. É desta forma que Pedro Costa apresenta, com muito interesse,
diversas visões do conceito de cultura (capítulos 1 a 3). Em seguida, a sua
análise das actividades culturais é de carácter integrado e impulsiona o estudo
da relação dessas mesmas actividades com o território e a promoção do seu
desenvolvimento e competitividade (capítulo 4). Finalmente, o autor faz uma
aplicação prática do seu modelo à Área Metropolitana de Lisboa e ao Bairro
Alto, em particular, avaliando os benefícios da actividade cultural para o
território, bem como os principais problemas encontrados para as actividades
culturais aí desenvolvidas (capítulos 5 e 6).
A sua tipologia de análise das actividades culturais e da relação com o
território tem inúmeras potencialidades para as investigações que hoje
desenvolvemos no domínio da sociologia das artes e da cultura. A saber, os seis
perfis-tipo de actividades, que aqui apenas enunciamos, remetendo para a
leitura na obra da sua definição mais completa: o coredas indústrias culturais;
a cultura cultivada, institucional, legitimada; a cultura popular (assente em
sociabilidades urbanas); a salvaguarda do património e da identidade histórico-
cultural; as actividades técnico-criativas (para outros clusters); as práticas
"criativas" amadoras e de sociabilidades culturais.
Ao longo do livro, Pedro Costa mostra-nos ainda em que medida é que a cultura
deve ser entendida como geradora de valor económico, de emprego, mas, acima de
tudo, como uma forma de dinamização e integração das populações. A cultura deve
ser um veículo e um fim dos processos de desenvolvimento, na medida em que
promove a qualidade de vida e o bem--estar dos cidadãos, preserva a memória
colectiva e consubstancia a expressividade criativa dos agentes e grupos
sociais. Enfim, a cultura permite a afirmação de identidades e de
especificidades territoriais, cada vez mais valorizadas num contexto de
globalização e estandardização dos mercados culturais.
É por todas estas razões que repito o que de melhor se pode dizer de um livro:
A Cultura em Lisboa é um estudo muito sério, útil e inovador.
Vera Borges
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa