Estrutura semântica de –ismo
Introdução
Em língua portuguesa, os nomes em –ismoapresentam uma grande diversidade
semântica, aparentemente atribuível à espessura semântica do sufixo. Para
aferir este pressuposto, o trabalho que se apresenta procura analisar os
significados atestados nos nomes derivados por meio de -ismopor forma a que se
possa compreender o perfil semântico do sufixo, confirmando a existência de uma
estrutura semântica complexa e, portanto, da polissemia de –ismo. Ao confirmar-
se a hipótese de polissemia do sufixo, torna-se necessário avançar para a
compreensão e descrição de como os diversos significados funcionam no seu
interior. Uma unidade polissémica não integra, desorganizadamente, um conjunto
de significados, pelo contrário, assume-se que esses significados coabitam
porque se relacionam, sendo portanto necessário determinar as linhas de
relacionamento das diferentes significações, pelo que se recorrerá à teoria do
protótipo.
Enquadrando a análise num conceito de significado devedor da Semântica
Cognitiva (Geeraerts 2006b, Langacker 2006) e da Semântica Conceptual
(Jackendoff 2010), é possível estabelecer um quadro descritivo que
coerentemente, numa estrutura do protótipo (Cruse 2004, Geeraerts 2006a e
2006b), reflita a complexidade semântica de –ismo; esta complexidade é
observável através dos significados atestados nos seus derivados. A estrutura
derivacional dos nomes em –ismo, que fornecerá os dados sobre os quais
trabalharemos, é concebida dentro da morfologia lexical (Corbin 1987, Rio-Torto
1998).
Inicia-se o trabalho com a apresentação do quadro teórico que sustenta a
análise empreendida (1.). Proceder-se-á à exposição das linhas fundamentais da
morfologia lexical (1.1.), dentro da qual o trabalho se desenrola e dentro da
qual se realizaram trabalhos relevantes para o estudo do sufixo –ismoe que
simultaneamente serão expostos. Conclui-se a exposição do quadro teórico com a
dilucidação do conceito de significado que sustenta o trabalho e que foi tomado
da Semântica Cognitiva e da Semântica Conceptual (1.2.).
Segue-se uma exposição dos significados atestados dos nomes em -ismo(2.), uma
vez que esses dados servirão de base ao trabalho a realizar, e dos tipos de
base encontradas nesses nomes (3.) porque também eles fornecem dados relevantes
para o trabalho a realizar.
Por último, procede-se ao estudo da estrutura semântica de –ismo(4.), entendido
como unidade polissémica. Nesta medida, determinar-se-á o significado central
do sufixo (4.1.), bem como os significados periféricos (4.2.), dados que
permitem definir a estrutura semântica do sufixo (4.3.).
1. Quadro teórico
1.1. O que se sabe sobre os nomes em –ismo
Os nomes em –ismotêm sido consensualmente associados à formação de nomes de
sistemas, crenças, princípios, doutrinas e fenómenos linguísticos (Piel 1940,
Ali 1964, Câmara 1976). Mais recentemente o estudo deste sufixo foi enquadrado
no modelo associativista de formação de palavras e é dentro desse modelo que se
desenrola a análise do mecanismo genolexical de –ismo. Ao adotar-se um modelo
associativista do processo de formação de palavras, deve manter-se em mente a
sua complexidade e o contributo prestado pelos vários intervenientes para a
formação de novas palavras. Corbin sintetiza do seguinte modo este modelo:
l’application d’une RCM associe intimement la construction d’une
structure morphologique et celle d’une structure sémantique: le mot
construit se voit attribuer un ensemble de propriétés d’ordre
syntaxique, morphologique, formel, sémantique, par la RCM et
l’opération morphologique qu’il subie. (Corbin 1987: 469)
Tomam-se, portanto, em consideração as prestações morfológicas e semânticas do
sufixo, da base e da regra que permitem gerar a palavra. Desta forma se
constroem as estruturas morfológica e semântica das palavras complexas. Esta
proposta tem sido desenvolvida e aplicada à língua portuguesa em trabalhos mais
recentes que os já referidos. Em alguns desses trabalhos o sufixo –ismoé
contemplado. Referimo-nos a Correia (1999 e 2004), Rio-Torto (1992 e 1998),
Rio-Torto & Anastácio (2004) e Barbosa (2012).
Nestes trabalhos procede-se ou recorre-se ao enquadramento dos afixos em
paradigmas, as Regras de Formação de Palavras, RFP. Estabelecer esse
enquadramento possibilita a formalização de determinadas regularidades
procedimentais, como as que dizem respeito ao tipo de operadores afixais, à
operação semântica realizada, à tipologia das bases, à categoria gramatical do
produto e ao seu significado. Nas palavras de Rio-Torto:
É, pois, da conjugação de determinado tipo semântico de base e de
determinado afixo que decorrem significações convencionais que
caracterizam os produtos de uma regra e as variantes que esta
recobre. Só a consideração destes dois factores permite reconhecer o
estatuto das regularidades semânticas e/ ou das significações
convencionais que os derivados apresentam. (Rio-Torto 1998: 123)
Dentro deste quadro teórico, a autora enquadra o sufixo –ismona RFP ESSIV, a
regra que permite gerar nomes essivos a partir de bases geralmente adjetivais,
mas que também podem ser “um nome (...), atributivamente considerado” (Rio-
Torto 1998: 122). Os nomes essivos “são parafraseáveis por “o facto de ser x”,
“propriedade/qualidade de ser x”” (Rio-Torto 1998: 122).
Numa leitura muito próxima, Correia enquadra os nomes em –ismonos nomes de
qualidade, tendo por paráfrase “o facto de ser objectivamente X” (Correia 2004:
294) e acoplando-se a bases adjetivais.
O trabalho de Barbosa (2012), devedor dos anteriores e que aqui será seguido de
perto, afasta-se deles ao considerar que “o fator que melhor permite descrever
as bases de –ismoé de natureza semântica e que percorre transversalmente as
categorias de nome, adjetivo e verbo” (Barbosa 2012: 336) secundarizando a
relevância do valor categorial das bases para o comportamento derivacional de
–ismo.
Em suma, considera-se que as palavras construídas são estruturas formal e
semanticamente complexas, devedoras de informações contidas nos diversos
intervenientes do processo genolexical. Neste quadro, o sufixo –ismoé
considerado como um dos sufixos formadores de nomes essivos (Rio-Torto 1998) ou
nomes de qualidade (Correia 1999, 2004).
1.2. Que significado?
O trabalho dentro do modelo associativista de formação de palavras será
conciliado com a conceção de que a construção do significado das palavras se
reveste de contornos mais complexos do que os que a exposição supra pode levar
a supor. De facto,
temos que abandonar o princípio da composicionalidade (estrita). O
significado de uma expressão complexa não é simplesmente nem
necessariamente a soma (função composicional) dos significados das
suas partes mais as regras de combinação que derivam directamente
delas; isto é, uma estrutura pode apresentar características não
derivadas dos seus constituintes ou pode perder características que
estes possuem (Silva 2010: 359)
Ao longo deste trabalho, na linha da Semântica Cognitiva, o significado é
concebido como um constructo resultante de um processo de conceptualização,
“Meaning is equated with conceptualization” (Langacker 2006: 30). Desta forma,
o significado de uma unidade decorre sempre da atividade mental dos indivíduos
e não, exclusivamente, de fatores linguísticos. É precisamente este pressuposto
que leva Jackendoff a apresentar a Semântica Conceptual como “a theory of the
information in a language user’s mind/ brain that is involved in understanding
utterances, connecting them to perceptual evidence, and making inferences”
(Jackendoff 2010: 655). Neste quadro, “Word meanings must be composite in order
to encode relations among word meanings and in order to state properly general
rules of inference” (Jackendoff 2010: 657). O significado das unidades
constrói-se por fios informativos flexíveis e conceptualmente concebidos e
articulados.
Deve então entender-se o significado como uma entidade dinâmica e flexível que
se alcança por mecanismos de conceptualização. Na realidade, deve ser entendido
não tanto como uma entidade mas sobretudo como um processo de criação de
sentido, “The tremendous flexibility that we observe in lexical semantics
suggests a procedural (or perhaps ‘processual’) rather than a reified
conception of meaning; instead of meanings as things, meaning as a process of
sense creation would seem to become our primary focus of attention” (Geeraerts
2006b: 137). Portanto, considera-se o significado como um processo de criação
de sentido, dinâmico e flexível, que se realiza por meio de mecanismos
conceptuais e de diversos fios informacionais.
Os trabalhos referidos para a conceção de significado centram-se principalmente
no significado da palavra. Contudo, estas conceções podem ser transpostas para
o nível dos afixos que podem ser entendidos como unidades semanticamente
complexas, “À semelhança de um item lexical, também um sufixo derivacional
tende a exibir um conjunto de sentidos conceptualmente relacionados entre si
pelos mesmos mecanismos cognitivos” (Silva 2006: 241). Como se verá, o sufixo
–ismoexemplifica bem o nível de complexidade semântica passível de ser
encontrado nas unidades afixais.
2. Os dados: os significados atestados dos nomes em –ismo
A análise semântica do sufixo –ismoque se empreende parte da observação dos
significados encontrados nos nomes por ele derivados. Como referido, estes
nomes não se constituem como o objeto de estudo do presente trabalho, mas sim
como o seu ponto de partida, fornecendo os dados iniciais para a análise a
desenvolver. A observação das diferentes significações atestadas nos nomes
derivados fornecerá as informações necessárias para a análise da configuração
semântica de –ismo, sendo este o foco de estudo. Como significados atestados
nos nomes portugueses em –ismoencontramos os seguintes:
Quadro 1:Significados atestados dos nomes em –ismo
________________________________________________________________________________________________
|Significados____________|Exemplos_______________________________________________________________|
|‘qualidade’_________|amadorismo,_amorfismo,_camaleonismo,_catonismo,_poliglotismo___________|
|‘princípio |jacobinismo, luteranismo, molinismo, pancalismo, transformismo, |
|epistemológico’______|vulcanismo_____________________________________________________________|
|‘prátic|[1]__________|canibalismo,_deambulismo,_gregarismo,_onanismo,_tabaquismo_____________|
| |‘práxis’|cateterismo,_dialogismo,_divisionismo,_pontilhismo,_tantrismo__________|
| |‘prática |faquirismo, funambulismo, ilusionismo, modelismo |
| |profissional??______________________________________________________________________|
| |‘prática |alpinismo, hipismo, pára-quedismo |
| |desportiva’|_______________________________________________________________________|
| |‘modo de |bandoleirismo, inquilinismo, missionarismo, nomadismo |
|__________|vida’______|_______________________________________________________________________|
|‘atitude’ |benfiquismo, companheirismo, eleitoralismo, estrelismo, fanatismo, |
|________________________|liberalismo,_orientalismo,_servilismo__________________________________|
|‘fenóme|[2]?_________|endomorfismo,_galvanismo,_magmatismo,_microbismo,_paralelismo__________|
| |‘intoxicaç|alcalinismo, anilismo, barbiturismo, cantaridismo, nicotinismo, |
| |_____________|saturnismo_____________________________________________________________|
| |‘fenómeno |adenóidismo, albinismo, ananismo, daltonismo, gigantismo, traumatismo,|
|__________|patológico?tromboembolismo,_uterismo______________________________________________|
|‘locução’_________|brasileirismo,_galicismo,_grecismo,_italianismo,_latinismo_____________|
Os significados apresentados no Quadro_1 tomam por referência o estudo
realizado em Barbosa (2012), trabalho onde se procedeu ao levantamento dos
nomes em –ismoatestados na edição de 2006 do Dicionário da Porto Editora
complementados com fontes onlineavulsas. A análise da significação de cada um
dos nomes sustenta-se na informação dicionarística complementada e/ou
corroborada com a informação fornecida pela observação da palavra em contextos
de uso. Estes contextos foram significativamente fornecidos pelo CETEMPúblico
e, sempre que este se revelou insuficiente, por diversas outras fontes online.
2.1. Nomes de qualidade
O primeiro significado apresentado para os nomes em –ismoé o de ‘qualidade’.
Nomes como os exemplificados no Quadro_1 são considerados formas de denominação
de uma qualidade porque “se caracterizam pelo facto de serem substantivos
predicativos, sincategoremáticos, não-contáveis, polissémicos, denominando
entidades referencialmente dependentes e com ocorrências múltiplas” (Correia
1999: 140). Efetivamente, as propriedades evocadas nesses nomes apenas são
observáveis nas entidades que as apresentam, pelo que não podem ser contadas e
prestam-se a atualizar valores semânticos além do de ‘qualidade’. Tome-se como
exemplo camaleonismo, nome para o qual se encontram os seguintes significados:
“zoologia faculdade de certos animais, entre eles o camaleão, de mudarem
bruscamente de pigmentação” (DPE 2006); “A justificação que dá para este
camaleonismomilitante tem o mérito de não esconder nada” (CETEMPúblico
par=ext911942-nd-93b-2).
Neste nome, a entidade denominada, ‘a faculdade de mudar a cor da pigmentação
da pele de acordo com o ambiente circundante’, é observável apenas nas suas
ocorrências, dependendo delas para existir e ser observável, por conseguinte,
apenas essas ocorrências, e não a faculdade em si, são suscetíveis de ser
contadas. A segunda citação apresentada mostra a capacidade polissémica deste
nome, que, partindo da denominação de uma propriedade morfológica de certos
animais, consegue passar para a denominação de um traço psicológico, a
capacidade de mutação atitudinal e de caráter aplicável a indivíduos
caracterizáveis como humanos.
Seguindo a proposta de Rio-Torto (1998), estes nomes podem ser enquadrados na
RFP ESSIV, apresentando as seguintes paráfrases para o seu significado: ‘o
facto de ser x’ ou ‘propriedade/qualidade de ser x’ (Rio-Torto 1998: 122),
sendo que x representa a base predicativa.
2.2. Nomes de princípio epistemológico
Como segundo significado apresentado no Quadro_1, encontra-se o de ‘princípio
epistemológico’. Esta designação procura cobrir aquele que, em língua
portuguesa, é provavelmente o significado mais imediatamente associado aos
nomes em –ismo, ou seja, aquele que permite fazer a denominação de sistemas,
doutrinas, teorias, ideologias, conceções, escolas, correntes, movimentos, etc.
Muitos dos nomes em –ismoque apresentam esta significação são enquadráveis em
linguagens técnicas e de especialidade, comportando um significado que pode
requerer conhecimentos específicos dentro da área do conhecimento em questão
para ser cabalmente compreendido. Tome-se o nome vulcanismocomo exemplo:
1 GEOLOGIA conjunto de fenómenos vulcânicos; 2 geologia teoria que
pretende explicar as causas das manifestações vulcânicas; 3 geologia
hipótese que atribui ao fogo a formação da primitiva crusta
terrestre; 4 geologia expulsão de lavas fundidas, fragmentos de lavas
e gases, das partes profundas da Terra; plutonismo; 5 [fig.] erupção
calamitosa (DPE 2006)
2.3. Nomes de prática
Este significado comporta uma dimensão acional, isto é, os nomes de prática
pressupõem a realização continuada de determinada ação, denominando “um hábito,
um uso, um costume, uma atividade ou o estudo sobre determinado assunto, uma
vez que todos partilham precisamente a ideia de realização ou prática regular
de determinada ação” (Barbosa 2012: 210211). Apresenta-se como exemplo o nome
canibalismo, isto é, a prática recorrente do consumo de carne humana, como
claramente se atesta na sua definição: “1hábito de comer carne humana;
antropofagia; 2acto de um animal comer outro da mesma espécie” (DPE 2006).
O conceito de prática impõe a consideração das suas diferentes manifestações e
realizações, resultantes em práticas específicas. Assim, é possível pensar numa
prática sujeita a um modus operandiespecífico, numa prática associada a um
desporto, a uma atividade profissional ou mesmo a um modo de vida. Ao
considerar estas diferentes manifestações ou aceções de ‘prática’ definem-se
subgrupos de nomes de prática que especificam as variantes identificadas. Por
esta via se reconhece a especificidade dos nomes de práxis, dos nomes de
prática profissional, dos nomes de prática desportiva e dos nomes de modo de
vida.
2.3.1. Nomes de práxis
Estes nomes, enquadrando-se nos de prática mas apresentando especificidades,
denominam um tipo de prática continuada que leva a ou requer o desenvolvimento
ou utilização de uma técnica, método ou procedimento específicos. Trata-se de
um tipo de prática para a realização do qual é necessário um desempenho
específico e, de certa forma, regulamentado, pelo que o seu exercício requer
algum nível de aprendizagem, de formação, de treino. Exemplifica este tipo de
significado o nome tantrismo: “técnica de coordenação subtil entre a mente e o
corpo humanos inspirada nos livros esotéricos hindus” (DPE 2006). Portanto, uma
prática que só se alcançará depois de alguma aprendizagem e treino. A prática
de tantrismorequer um conjunto de conhecimentos e treinos reiterados que levam
à utilização de determinadas práticas e técnicas. Estes requisitos permitem a
diferenciação do tantrismorelativamente a outras práticas de coordenação.
2.3.2. Nomes de prática pro?ssional
Também em língua portuguesa estes nomes identificam uma prática com
condicionantes específicas no que toca às suas finalidades, bem como no que
toca a modos, locais e momentos de execução. Deste facto decorre que o
exercício de determinada prática profissional só possa ser assegurado por quem
tenha desenvolvido as apetências necessárias à sua execução, isto é, por um
profissional. Estes nomes foram definidos como constituindo a:
atividade principal realizada por um indivíduo e que serve como sua
principal ou única fonte de rendimento, assumindo, por essa razão, um
certo caráter de obrigatoriedade. Este caráter obrigatório decorre da
necessidade que o indivíduo tem de garantir uma fonte de rendimento.
O exercício da atividade em questão decorre de necessidades
individuais, ainda que as normas desse exercício não sejam
determinadas pelo próprio indivíduo mas antes resultem de uma
imposição externa. Outro aspeto que ajuda a definir estes nomes é o
facto de a ‘atividade profissional’ ser exercida não de forma
permanente e continuada ao longo do dia, mas em horário e/ou local
previamente definido(s) (Barbosa 2012: 215)
Os nomes de prática profissional podem ser exemplificados através do nome
ilusionismo: “1arte de produzir ilusões; 2prática artística assente na
ligeireza dos movimentos (principalmente de mãos) capazes de fazer desaparecer
ou deslocar objectos sem que o espectador dê por isso; prestidigitação” (DPE
2006). Esta atividade só poderá ser exercida por quem detiver os conhecimentos
necessários e em circunstâncias e local específicos.
2.3.3. Nomes de prática desportiva
Os nomes de prática desportiva denominam uma atividade “secundária do
indivíduo, praticada de livre vontade, ou seja, sem qualquer caráter de
obrigatoriedade ou de necessidade, além do que se assume de livre-vontade e por
lazer e que não é imposta ao indivíduo por qualquer causa externa” (Barbosa
2012: 214-215). Tal como nos nomes de prática profissional, estas práticas
requerem apetências específicas. Diferem dos anteriores nomes por apresentarem
distinta finalidade, o lazer, e por serem praticadas sem caráter de
obrigatoriedade. Veja-se como exemplo o nome alpinismo: “desporto que consiste
em ascensões às grandes altitudes” (DPE 2006), cuja prática não é sujeita a
imposição e que se realiza de livre vontade.
2.3.4. Nomes de modo de vida
Por ‘modo de vida’, considera-se um conjunto de práticas voluntariamente
adotadas pelo indivíduo que definem e caracterizam a totalidade da sua
vivência, não podendo ser limitadas a circunstâncias ou momentos (pré-
) definidos. Deste modo, os nomes de modo de vida denominam um tipo de vivência
que permite definir um indivíduo e que condiciona todos os aspetos dessa
vivência. Por exemplo, o nome nomadismo, “1modo de vida dos nómadas; 2modo de
vida de quem está sempre a mudar de habitação ou ocupação; modo de vida de
pessoa errante” (DPE 2006), denomina muito mais do que uma atividade do
indivíduo, denomina toda uma postura e conjunto de opções que se infiltram e
refletem em todos os aspetos da vida desse indivíduo.
2.4. Nomes de atitude
Os nomes de atitude denominam uma postura afetiva e/ou intelectual assumida
pelo indivíduo perante uma determinada circunstância. A ‘atitude’ reconhece-se
por um conjunto de manifestações exteriores visíveis no comportamento, na
postura, na maneira de ser do indivíduo. Há que sublinhar o facto de estes
nomes não denominarem uma ação, mas sim o que, de inerente ao indivíduo, impele
a essa ação. Insere-se neste grupo de nomes
o nome companheirismo, cujo significado se pode entender pela leitura da
seguinte frase: “O conhecimento de África e dos africanos, o
companheirismoexistente entre combatentes brancos e negros era vacina mais do
que suficiente contra o racismo” (CETEMPúblico par=ext48608-nd-95a-1). A
‘atitude’ denominada constitui-se como algo subliminar, observável através de
um conjunto de comportamentos, posturas, gestos, etc. assumidos por quem tem
determinada atitude.
2.5. Nomes de fenómeno
Em Barbosa (2012) apresenta-se a seguinte explicação para o que se entende por
nomes de fenómeno: “Certos factos, acontecimentos e ações (voluntários ou não)
resultam na transformação da entidade sobre a qual ocorrem. Os nomes em
–ismoque denominam um ‘fenómeno’ são então aqueles que têm a capacidade de
denominar o resultado ou consequência da ação exercida.” (Barbosa 2012: 224).
Estes fenómenos estão frequentemente enquadrados em determinada área do
conhecimento, veja-se o exemplo de paralelismo:
1GEOLOGIA modificação da composição do magma, em resultado da
assimilação de rochas provenientes do exterior ou de reacções com as
rochas encaixantes; 2matemática transformação linear de um espaço
vectorial em si mesmo e, mais geralmente, um hemomorfismo de um
conjunto (grupóide, grupo) em si mesmo (DPE 2006)
Nas suas diversas aceções, o nome é enquadrável em distintas áreas do
conhecimento apresentando, em cada uma delas, um ‘fenómeno’ específico, cujo
cabal entendimento requer um mais vasto conhecimento dentro dessa mesma área.
Em suma, estes nomes denominam acontecimentos, transformações, factos
verificados e suscetíveis de ser observados, estudados.
Dentro dos nomes de fenómeno é possível recortar dois subgrupos, definidos pela
especificidade do fenómeno denominado, os nomes de intoxicação e os nomes de
fenómeno patológico.
2.5.1. Nomes de intoxicação
Destacando-se dos nomes de fenómeno, os nomes de intoxicação denominam a
alteração do estado normal do indivíduo, com consequências negativas,
desencadeada pela ação tóxica de determinada substância. Nestes nomes encontra-
se nicotinismo, “medicina intoxicação devida ao abuso do tabaco; tabagismo”
(DPE 2006); a denominação de todas as consequências negativas ou prejudiciais à
saúde associadas ao consumo de uma determinada substância.
2.5.2. Nomes de fenómeno patológico
Igualmente recortados dos nomes de fenómeno, os nomes de fenómeno patológico
denominam uma perturbação morfológica e/ou do regular funcionamento do
organismo, independentemente das manifestações que apresenta e das suas causas.
Ilustra este tipo de nomes o nome albinismo: “1medicina anomalia orgânica que
consiste na diminuição ou falta total de pigmento em zonas superficiais do
corpo” (DPE 2006).
2.6. Nomes de locução
O último valor semântico identificado nos nomes em –ismoé o de locução, ou
seja, a capacidade destes nomes para denominarem uma palavra ou expressão que
apresenta relação com uma determinada região linguisticamente considerada.
Neste grupo de nomes enquadra-se italianismo: “locução própria de Itália” (DPE
2006).
Em português, os nomes derivados por meio do sufixo –ismoapresentam uma enorme
variedade semântica, de tal forma que a relação entre os significados
apresentados não é evidente. Por esta razão, o maior desafio que os dados até
aqui expostos colocam é o de compreender de que modo os significados
identificados e expostos estão relacionados com a mesma unidade linguística, o
sufixo –ismo. Tomou-se como ponto de partida a consideração de que esses
significados residem inicialmente no sufixo e que será este a transportá-los
para o nome derivado. A tarefa consiste, portanto, em compreender como esses
significados se relacionam no interior do sufixo.
3. Os dados: as bases selecionadas por –ismo
Como anteriormente referido, o ponto central do presente trabalho não consiste
no estudo genolexical do sufixo –ismo, contudo, este mecanismo não pode ser
esquecido. Tal como preconizado pelo modelo associativista adotado, a análise
dos nomes em –ismorevelou que a dimensão semântica das bases e do sufixo
desempenha um papel determinante nos mecanismos genolexicais de produção destes
nomes. Em Barbosa (2012) demonstra-se precisamente a relevância da informação
semântica presente nas bases para determinar a sua seleção por –ismo. O
trabalho referido, e cuja linha de pensamento se adota, procura demonstrar que
a informação semântica presente na base é de tal modo relevante que tem
capacidade de secundarizar outros habituais critérios de seleção de bases como
o da classificação categorial.
Ao articular a análise da significação dos nomes em –ismocom a significação das
bases selecionadas foi possível determinar regularidades e traços comuns às
bases. Do ponto de vista categorial as bases revelaram-se heterogéneas,
selecionando adjetivos, nomes, adjetivos/nomes[3] e verbos, mas foi possível
aferir regularidades semânticas. Assim, tal como demonstrado em Barbosa (2012),
independentemente da sua classificação categorial, a base constitui-se por um
conjunto de predicados/atributos/propriedades/ qualidades dos quais o sufixo
selecionará o(s) que mais adequadamente se presta(m) à construção do
significado do nome derivado.
a base derivacional de –ismopode definir-se como sendo semanticamente
complexa, na medida em que comporta um feixe de predicados/atributos/
qualidades/propriedades, habitualmente associados às categorias
predicativas, mas que não podem ser considerados alheios do processo
denominativo. Categorialmente, e de modo não fundamentalmente
relevante para o sufixo, as bases podem apresentar-se como adjetivo
ou nome. (Barbosa 2012: 193)
Conclui-se então que a base de –ismoé selecionada por comportar um predicado/
atributo/propriedade/qualidade sobre a qual o sufixo aplicará a sua instrução
semântica. Se a base se caracteriza por considerável complexidade semântica, na
medida em que é constituída por diversos feixes informacionais, o sufixo tem de
deter capacidade para selecionar apenas o tipo de informação que a cada passo
lhe é necessário para construir o significado do produto. Desta operação
resultará o significado do nome em –ismo.
Contudo, a importância do valor predicativo da base não é igual para todos os
significados. Este valor é fundamental para formar nomes de qualidade. A
paráfrase de amadorismoserá ‘propriedade/qualidade de ser amador’, portanto os
predicados/atributos/propriedades/qualidades que constituem o semantismo da
base são fundamentais para a construção do significado do nome. O mesmo não
acontece, por exemplo, com os nomes de fenómeno patológico; em uterismo, a base
não é tomada pelo seu valor predicativo, mas pela sua capacidade referencial em
relação a um órgão.
Apesar de a configuração da base como predicado/atributo/propriedade/qualidade
não se revestir de igual importância para todos os significados de –ismo,
devemos assumir este traço da base como o seu valor fundamental para ser
selecionada pelo sufixo. De facto, os nomes que se comportam como uterismosão
escassíssimos, sendo o comportamento idêntico ao de amadorismoo que caracteriza
a quase totalidade dos nomes.
4. Su?xo –ismo: uma unidade semanticamente complexa
Ao observar o significado dos nomes portugueses em –ismoencontra-se uma
considerável dispersão semântica na medida em que se recolhem significações
muito díspares e com graus de abstração muito distintos. O desafio colocado por
estes nomes consiste em compreender de que modo o sufixo sustenta essa
dispersão semântica, evitando uma desagregação/ desestruturação semântica que
poderia levar a considerar a existência de mais do que um sufixo; essas
unidades afixais teriam de ser formalmente idênticas mas semanticamente
distintas.
O enquadramento do sufixo numa RFP contribui para prevenir a sua
desestruturação semântica mas não é suficiente. Apenas a consideração da
complexidade semântica de sufixo será capaz de explicar a sua capacidade para
produzir nomes portadores dos significados já apresentados. A ancoragem dos
significados a uma unidade afixal implica que estejam conceptualmente
relacionados.
Nas secções anteriores verifi u-se a grande variedade semântica encontrada nos
nomes em –ismoe o facto de as suas bases se caracterizarem por comportarem um
determinado predicado/atributo/propriedade/qualidade que se articulará com a
informação semântica do sufi o para gerar o signifi do nome derivado. A questão
consiste agora, como se vem afirmando, em determinar a origem da variedade
semântica encontrada nesses nomes e esta origem só pode residir no sufi o.
Sendo assim, os signifi encontrados nos nomes em –ismoestarão todos inscritos
no sufi o, pelo que deverá ser considerado uma unidade semanticamente complexa.
Esta consideração afasta-se de trabalhos como os de Rio-Torto (1992 e 1998) e
Correia (1999 e 2004) que propõem que essa diversidade surja ao nível dos nomes
em –ismo.[4]
Na sequência dos significados apurados para os nomes em –ismo, considera-se que
o sufixo comporta os seguintes significados:
1. ‘qualidade’
2. ‘princípio epistemológico’
3. ‘prática’
3.1. ‘práxis’
3.2. ‘prática profissional’
3.3. ‘prática desportiva’
3.4. ‘modo de vida’
4. ‘atitude’
5. ‘fenómeno’
5.1. ‘intoxicação’
5.2. ‘fenómeno patológico’
6. ‘locução’
Esta variedade semântica sugere que os significados possam não ser
relacionáveis e essa impossibilidade de relacionamento semântico conduziria
precisamente à desarticulação semântica que encaminharia, inevitavelmente, para
a consideração de mais do que um sufixo –ismo. Tratar-se-ia, então, de sufixos
formalmente idênticos mas semanticamente distintos. Contudo, e seguindo
trabalhos como os de Rio-Torto (1998) ou Correia (2004), rejeita-se a hipótese
de mais do que um sufixo. Tal como as autoras, considera-se que um significado
de base poderá, por diversos mecanismos, sofrer inflexões. A análise que se faz
diverge da das autoras por considerar que essas inflexões ocorrem no interior
do sufixo, o que lhe permitirá gerar a diversidade semântica encontrada nos
seus derivados.
Imputando a diversidade semântica dos nomes ao sufixo –ismo, assume-se que se
trata de uma unidade semanticamente complexa e estruturada, ou seja, uma
unidade polissémica, entendendo-se a polissemia como
um fenómeno de motivação, que introduz uma certa redundância no
léxico mental, ao passo que a homonímia é um fenómeno acidental. O
que daqui se pode concluir é que polissemia e homonímia não
constituem uma dicotomia estrita, mas antes fazem parte de um
continuumde relação de sentidos. E metodologicamente (...) uma
análise polissémicaserá preferível a uma análise homonímicasempre que
se encontrarem factores de coerência semântica num complexo de
sentidos associados a uma mesma forma (Silva 2006: 49)
A citação apresentada pressupõe a capacidade de encontrar entre os diferentes
significados conexões lógicas, portanto, os significados de uma unidade
polissémica são relacionáveis. Efetivamente, “it is only with the advent of
prototype theory that contemporary linguistics developed a valid model for the
polysemy of lexical items” (Geeraerts 2006a: 144), modelo que permitirá a
organização dos diversos significados dentro de uma estrutura semântica
complexa. Como se verá, os significados apresentados para –ismosão
relacionáveis, o que permite afirmar que o sufixo configura um caso de
polissemia. Este conceito é habitualmente aplicado no estudo do significado de
palavras, e não a unidades afixais, contudo “we should expect the polysemy we
find in affixes to be a proper subset of regular polysemy” (Lehrer 2003: 217).
Esta afirmação decorre do pressuposto assumido pela autora de que “A study of
derivational affixes in English will show that polysemy is the norm and that
few affixes have only one sense.” (Lehrer 2000: 144). Acredita-se ser este o
caso do sufixo –ismo, uma unidade afixal que comporta distintos significados
conceptualmente relacionados.
No interior da unidade polissémica, o peso relativo dos diversos traços ou
feixes informacionais difere: “categories with a prototype structure are
represented by a set of features. Unlike the classical features, however, these
do not constitute a set of necessary and sufficient criteria, except perhaps
for the prototype itself ” (Cruse 2004: 132). Por isso, ao assumir a polissemia
de –ismo, impõe-se explicar de que modo os significados encontrados coabitam e
como se organizam. Explicar o modo de coabitação e organização é fundamental
para sustentar a polissemia do sufixo.
Parte-se então do princípio de que, embora de modo não explícito na
significação dos nomes em –ismo, os significados atestados encontram uma
relação constante ao nível do sufixo. Esta relação entre os diferentes
significados decorre de mecanismos conceptuais, portanto o significado do
sufixo deve ser visto como complexo e organizado. A chave para esta organização
reside na noção de prototipicidade, isto é, no estabelecimento de um
significado central para a significação do sufixo e a partir do qual se definem
os restantes com maior ou menor grau de proximidade. Esta conceção enquadra-se
na teoria do protótipo, que prevê a existência de um significado prototípico em
relação ao qual os restantes se localizam numa posição de maior ou menor
proximidade ou saliência.
Para determinar a posição dos diferentes significados de –ismo, deve ter-se
presente que “The essence of the prototype theory lies in the fact that it
highlights the importance of flexibility (absence of clear demarcational
boundaries) and salience (differences in structural weight) in the semantic
structure of linguistic categories.” (Geeraerts 2006b: 74). Compreende-se a
importância do conceito de significado adotado, ao concebê-lo como um processo
que admite a fluidez entre diversos valores e se torna possível a consideração
de diferentes graus de saliência entre esses valores e, portanto, do seu
diferente peso para a estrutura semântica da unidade. Deste modo, “a questão
tem a ver com a identificação das diferenças de saliência e dos efeitos de
prototipicidade na estrutura do complexo polissémico. Quais os sentidos
prototípicos e como os determinar? Poderá uma palavra possuir mais do que um
centro prototípico?” (Silva 2006: 37).
Trabalhar o significado em termos de prototipicidade implica, em primeiro
lugar, determinar o significado central (4.1.) a partir do qual, num segundo
momento, se pode definir a localização dos restantes (4.2.). Estes dados
permitirão estabelecer a estrutura semântica de –ismo(4.3.).
4.1. Su?xo –ismo: o significado central
Para compreender qual o significado central do sufixo português –ismo, levar-
se-ão em linha de conta três critérios:
i) O grau de abstração dos significados do sufixo –ismo,[5] que surgirá em grau
mais elevado no significado central;
ii) As bases selecionadas pelo sufixo são-no em função do seu valor
predicativo, isto é, por comportarem um predicado/atributo/propriedade/
qualidade, seja qual for o significado atualizado pelo sufixo;
iii) O significado central será aquele a partir do qual se podem gerar os
restantes.[6]
Analise-se em primeiro lugar o valor de abstração do sufixo –ismo. Ao observar
o significado dos nomes em –ismo, destaca-se o facto de apresentarem graus de
abstração significativamente distintos. Tal como Correia, considera-se que o
valor de abstração é “uma forma de dar conta da própria polissemia dos
substantivos em análise [nomes de qualidade]” (Correia 2004: 64). Como
referido, contrariamente à posição da autora, acredita-se que a variedade
semântica encontrada nos nomes decorre da polissemia do sufixo, portanto, o
estudo que em seguida se empreende recai sobre a polissemia de –ismo.
A abstração é então concebida numa perspetiva gradativa que vai do mais
abstrato ao menos abstrato:
a distinção entre substantivo concreto e substantivo abstracto não é
tanto uma distinção a estabelecer em termos de ser ou não ser, mas
sim em termos de graduação: há substantivos concretos usados de forma
abstracta, tal como há substantivos abstractos usados de forma
concreta (...) há substantivos abstractos mais abstractos do que
outros (Correia 2004: 80)
Quando inicialmente se expuseram os significados atestados dos nomes em –ismoe
os significados do próprio sufixo seguiu-se a ordem da posição que estes nomes
adotariam numa escala de abstração. Essa escala revela que os nomes de
qualidade ocupam o extremo máximo, sendo os mais abstratos, enquanto os nomes
de locução se encontram no extremo oposto, sendo os menos abstratos. A
localização dos nomes na escala de abstração decorre da localização que os
significados do sufi o assumem nessa mesma escala. O Quadro_2 apresenta a
localização dos significados de –ismona escala de abstração, bem como exemplos
de nomes em que são atualizados.
Quadro 2:Escala de abstração dos significados de –ismoe dos nomes que os
atualizam
_________________________________________________________________________________
| | |
| |> abstraçã< abstração |
| |_________________________________________________________|
|_______________________|Qualidade_|__Pr._Ep.__|__Prática_|_Atitude__|_Fen./Loc._|
|Caráter_categoremátic|____-_____|_____-_____|_____-_____|____-_____|_____+_____|
|Pluralização/ | - | - | - | - | + |
|quantificação________|__________|___________|___________|__________|___________|
|Caráter_material______|____-_____|_____-_____|_____+_____|____+_____|_____+_____|
|Localização espácio-| - | + | + | + | + |
|temporal_______________|__________|___________|___________|__________|___________|
|Exemplos |amadorismo|luteranismo|canibalismo|estrelismo|ananismo |
| |amorfismo |pancalismo |hipismo |fanatismo |traumatismo|
|_______________________|catonismo_|vulcanismo_|pontilhismo|servilismo|galicismo__|
Os critérios utilizados para determinar o grau de abstração dos significados em
–ismoe elaborar o Quadro_2 foram expostos em detalhe em Barbosa (2012).
Apresenta-se aqui uma síntese.
O caráter categoremático, retirado de Correia (2004), é negativo nos nomes
abstratos, que são por isso nomes sincategoremáticos. Estes nomes consideram-se
sincategoremáticos uma vez que “A propriedade essencial dos nomes abstractos
reside na sua dependência ontológica: para poderem referenciar necessitam de um
suporte ou de um argumento” (Rio-Torto & Anastácio 2004: 213), ou seja, a
sua capacidade referencial depende da manifestação da qualidade em determinada
entidade. Já os nomes categoremáticos têm capacidade referencial (autónoma),
como sucede com os nomes de fenómeno ou de locução.
O critério da pluralização/quantificação diz respeito ao facto de os valores
mais abstratos tenderem a refutar a pluralização ou a quantificação de contagem
[7] (*uns amorfismos, *uns luteranismos, *uns pontilhismos, *dois fanatismos).
Os significados mais concretos, como os de ‘fenómeno’ e ‘locução’, tendem a
aceitar quer a pluralização quer a quantificação de contagem (dois
traumatismos). Poder-se-ia admitir a expressão dois fanatismoscomo forma de
referência ao fanatismo religiosoe ao fanatismo clubístico, por exemplo.
Contudo, fanatismo religiosoe fanatismo clubísticoconstituem duas entidades
conceptual e referencialmente distintas só reconhecíveis pela adjetivação que
acompanha o nome fanatismo. O cerne de significado partilhado pelas duas
entidades é o signifi do nome de atitude fanatismo(obtido por um processo
genolexical) e este, por si só, sem acréscimo de informações contextuais, tende
a apresentar-se relutante à quantifi de contagem. O mesmo sucede com a
pluralização; a expressão todos os fanatismospressupõe diferentes manifestações
de fanatismo, só discrimináveis por informações contextuais. A pluralização
recai sobre essas manifestações e não sobre o significado obtido por meio do
processo genolexical.[8]
A distinção entre os valores de ‘prática’ e os de ‘atitude’, por um lado, e os
de ‘qualidade’ e os de ‘princípio epistemológico’, por outro, faz-se através do
critério da materialidade: “dizer de um substantivo que é concreto significa
dizer que a entidade que ele representa é concreta e que é perceptível por
qualquer um dos sentidos” (Correia 2004: 65). Os valores de ‘prática’ e de
‘atitude’, enquanto entidades conceptuais, são observáveis, captáveis pelos
sentidos, através das suas concretizações.
A ancoragem espácio-temporal de um ‘princípio epistemológico’ ao contexto
histórico que o gera retira-lhe algum grau de abstração, afastando-o do grau
máximo da escala de abstração. Pelo contrário, o valor ‘qualidade’ é totalmente
independente destas duas coordenadas, o que lhe confere maior grau de
abstração.
Os dados expostos colocam o significado de ‘qualidade’ no grau máximo de
abstração. Esta posição permite assumir os restantes significados como formas
de concreção desse significado mais abstrato. Assim, os diferentes significados
de –ismopodem ser relacionados na escala de abstração através de um elemento
comum, o valor de ‘qualidade’, em relação ao qual os restantes se situam a
maior ou menor distância. Subliminarmente, este valor encontra-se em todos os
outros significados.
Há um outro fator, já abordado, que deve ser considerado e que concorre para a
atribuição da posição central a ‘qualidade’: o tipo de bases selecionadas pelo
sufixo. Como referido, os nomes portugueses em –ismoformam-se sobre uma base
que comporta um predicado/atributo/propriedade/qualidade com o qual o sufixo se
articulará para produzir o significado do nome derivado. Este tipo de base
caracteriza os nomes essivos, “A base "x" é um adjetivo ou um nome
"atributivamente considerado"” (Rio-Torto 1998: 122) ou nomes de
qualidade. Considerando a tipologia das bases, deve-se, mais uma vez, conceder
a posição central ao valor de ‘qualidade’, já que a tipologia de bases
identificada para o sufixo –ismocorresponde à base característica dos nomes de
qualidade. Deste modo, mesmo os nomes em –ismoque não atualizam o valor de
‘qualidade’ apresentam o tipo de base que permite gerar nomes de qualidade. A
ser assim, ‘qualidade’ constitui-se, mais uma vez, como um valor
subliminarmente presente nos significados com menor grau de abstração.
O terceiro fator a levar em consideração para determinar que significado ocupa
o lugar central na estrutura semântica de –ismoconsiste na identifi ção do
significado que tem capacidade para gerar novos significados.
Observando o Quadro_2 à luz do exposto, e como já avançado, compreende-se que
os significados situados à direita do de ‘qualidade’ possam dele decorrer
através de um mecanismo de perda de abstração. A obtenção de significados por
mecanismos de concreção é uma estratégia reconhecida, nomeadamente no que diz
respeito aos nomes de qualidade:
Por médio de transferencias o extensiones semánticas, el sustantivo
de cualidad puede expresar, en coexistência con el significado
regular “cualidad de”, otros significados derivados de él. Así, en
una determinada dirección, del significado “propriedad/cualidad de
(ser) A” se puede passar a los significados:
(5) a) “actitude de (quien es) A” [...]
b) “acción de (quien es) A” [...]
c) “acto proprio de (quien es) un S (Pena 2004: 10)
Ao articular a informação fornecida pelos dados expostos, é-se levado a
reconhecer a centralidade de ‘qualidade’. Esta capacidade de gerar novos
significados articula-se com o que se disse em relação à perda de valor de
abstração, tendo como referência um grau máximo de abstração representado por
‘qualidade’.
Assim, passar-se-á a considerar que em português o sufixo –ismocomporta como
valor semântico central e subjacente o de qualidade. Este significado é
detentor do mais elevado grau de abstração, requer uma base que apresente um
predicado/atributo/propriedade/qualidade e tem capacidade para gerar os
restantes significados. Estes dados levam à consideração de que qualidadese
encontra num nível subjacente da estrutura semântica do sufixo, funcionando
como um codificador genético suficientemente rico e versátil para possibilitar
as diferentes atualizações que se encontram atestadas nos nomes em –ismo:
‘qualidade’, ‘princípio epistemológico’, ‘prática’, ‘atitude’, ‘fenómeno’ e
‘locução’.
4.2. Su?xo –ismo: os significados periféricos
Uma vez estabelecido o significado prototípico de –ismo, é possível determinar
que posição ocupam, em relação a ele, os restantes significados. Os critérios
que permitem definir o lugar ocupado por cada significado são os mesmos que
possibilitaram a identificação de qualidadecomo significado prototípico.
Mais uma vez, a compreensão de como o valor de abstração se comporta no
interior do sufixo será esclarecedora para determinar a posição desses
significados, por isso, mais uma vez, recorremos ao Quadro_2.
O quadro apresenta os diferentes significados numa posição determinada pelo
grau de abstração, apresentado à esquerda o significado com maior grau de
abstração e à direita o significado com menor grau de abstração. Os
significados localizados à direita podem ser entendidos como formas de
conceptualização, detentoras de maior ou menor grau de abstração, que se
elaboram sobre um determinado predicado/atributo/propriedade/ qualidade
fornecido pela base. Estes significados comportam o valor de qualidadecomo um
codificador genético e apresentam, em relação a ele, menor grau de abstração.
O comportamento das bases, como já referido, não é igual para todos os
significados do sufixo. O valor de predicado/atributo/propriedade/qualidade das
bases é fundamental para gerar nomes de qualidade e, embora se encontre nos
nomes de fenómeno e de locução, não lhes é indispensável. Verifica-se,
portanto, que a escala que revela a perda do grau de abstração coincide com uma
escala que apresentaria perda do grau de importância do valor de predicado/
atributo/propriedade/qualidade para a seleção da base. Para os significados à
esquerda, os mais abstratos, esse valor é fundamental, mas para os significados
situados no extremo oposto, os menos abstratos, esse significado pode não se
configurar como imprescindível.
Em síntese, os significados ‘qualidade’, ‘princípio epistemológico’, ‘prática’,
‘atitude’, ‘fenómeno’ e ‘locução’ representam diferentes graus de
especialização do significado prototípico de qualidade, que se encontra em
posição subjacente. Os diferentes graus de especialização alcançam-se por
mecanismos de concreção e por adequação da informação semântica do sufixo e da
base. Sendo assim, o significado ‘qualidade’ é o que se encontra mais próximo
do centro. Os restantes significados ‘princípio epistemológico’, ‘prática’ e
‘atitude’ vão-se afastando do centro até ao extremo mais longínquo ocupado
pelos significados ‘fenómeno’ e ‘locução’.
4.3. Su?xo –ismo: determinação da estrutura semântica
Observou-se como os significados identificados nos nomes em –ismose configuram
como instanciações mais concretas de um significado seminal e com elevado grau
de abstração, o de qualidade. Contudo, deve reconhecer-se a existência de
constantes semânticas não imputáveis a esse valor seminal.
A análise dos significados atestados leva-nos a identificar um segundo valor
que embora só possa residir a nível seminal, se revela fundamental para a
estrutura semântica de –ismo, o de sistematicidade. Este valor também se
constitui como um codificador genético de nível subjacente, a par do de
qualidade. É impossível não reconhecer a sua participação como um dos feixes
informativos para a construção de significados como ‘princípio epistemológico’,
‘prática’, ‘atitude’, ‘fenómeno’ e ‘locução’. Um ‘princípio epistemológico’
resulta da organização em sistema de determinados predicados/atributos/
propriedades/qualidades da base, pelo que contém em si em grau máximo o valor
de sistematicidade. Os restantes significados atestados também o apresentam,
ainda que em grau variável. Uma ‘prática’ requer que os predicados/atributos/
propriedades/qualidades da base sejam realizados de forma reiterada de acordo
com um sistema ou fórmula de regulamentação. Um ‘fenómeno’ implica que os
predicados/ atributos/propriedades/qualidades que o caracterizam se manifestem
de forma sistemática. Por fim, também uma ‘locução’ requer que os predicados/
atributos/propriedades/qualidades se enquadrem nos sistemas linguísticos de
origem e de chegada.
O valor de sistematicidade tem revelado um comportamento idêntico ao de
qualidade, mas difere dele por não ter a capacidade de se constituir como
significado atestado, ou seja, opera apenas a nível seminal, subjacente, não
correspondendo a nenhum significado atestado nos nomes em –ismo. Além disso,
qualidadeestá seminalmente presente em todos os significados atestados, ao
contrário de sistematicidade que não se encontra presente em ‘qualidade’.
Os dados expostos revelam a capacidade geratriz de sistematicidade, contudo,
este valor não satisfaz todos os requisitos necessários para ser considerado
prototípico, o que acontece com o valor de qualidade. O facto de
sistematicidade falhar na possibilidade de produção do significado atestado de
‘qualidade’ impede que seja considerado como valor prototípico.
Embora apresentem diferente estatuto, sistematicidade e qualidade[9] residem
num nível subjacente da estrutura semântica de –ismo, como codificadores
genéticos dos significados atestados.
Estão neste momento identificados os dois níveis da estrutura semântica do
sufixo: um nível subjacente, que comporta os valores qualidadee
sistematicidade, capazes de gerar os diversos significados, e um nível de
superfície, onde se encontram os significados gerados e que surgem atestados
nos nomes: ‘qualidade’, ‘princípio epistemológico’, ‘prática’, ‘atitude’,
‘fenómeno’ e ‘locução’.
Como referido, estes significados atestados apresentam diferentes graus de
saliência, ou seja, de proximidade em relação ao centro prototípico, “it shows
the various semantic applications that exist within the boundaries of one
particular category need not have the same structural weight within that
category” (Geeraerts 2006a: 75). Na secção anterior iniciou-se a reflexão sobre
o modo como os diferentes significados atestados se organizam em relação ao
centro, essa reflexão irá agora ser consolidada.
Para determinar o grau de saliência dos significados atestados de
–ismorecorremos a um conjunto de critérios, retirados de Barbosa (2012):
i) grau de abstração: quanto mais abstrato o significado, mais saliente;
ii) frequência: quanto mais frequente o significado, mais saliente;
iii) contribuição semântica da base: quanto mais relevante o valor de
predicado/atributo/propriedade/qualidade da base, mais saliente o significado;
iv) sistematicidade: quanto mais forte for este valor, mais saliente o
significado.
Destes critérios, o único ainda não abordado foi o da frequência. Para a
avaliação deste critério tomam-se por referência os dados apresentados em
Barbosa (2012: 246). O Quadro_3 apresenta os valores percentuais para a
frequência dos diferentes significados dos nomes em –ismo.
Como se pode verificar, os dados de frequência dos nomes em –ismoe, portanto,
dos significados do sufixo permitem elaborar uma escala que colocará os
significados por uma ordem muito idêntica à que se encontra no Quadro_2. A
única exceção, e que contribuirá decisivamente para a determinação do lugar
ocupado por ‘qualidade’, reside nos nomes de qualidade que, apesar de
detentores do maior grau de abstração, não são os mais atestados.
Verifica-se que os significados mais frequentes (que satisfazem o critério ii),
referente à frequência) são, em simultâneo, i) os mais abstratos, iii) aqueles
para os quais o traço predicativo da base tem um maior peso e iv) aqueles que
mais fortemente apresentam o valor de sistematicidade (excluindo-se o
significado de ‘qualidade’ que não o apresenta de todo). Os valores mais
frequentes, os que aparecem num maior número de nomes derivados em –ismo, são
os que reúnem as condições necessárias para ocuparem uma posição mais próxima
do centro prototípico porque simultaneamente satisfazem os restantes critérios
considerados. Recorde-se que estes valores tomam por base o corpusrecolhido
numa fonte dicionarística complementada com dados avulsos recolhidos online,
tal como exposto em Barbosa (2012), fornecendo os elementos necessários para o
estudo geno-lexical dos nomes em –ismo, mas não adequados para uma análise de
frequência de uso.
Estes dados permitem desenhar a estrutura semântica para o sufixo -ismoque se
apresenta na Figura_1. À esquerda, com sombreado mais escuro, encontra-se o
significado atestado mais próximo do significado prototípico e à direita, com
sombreado mais claro, o significado atestado que mais se afasta do significado
prototípico.
A Figura_1 procura fornecer uma representação gráfica da estrutura semântica de
–ismo. Encontram-se a nível subjacente os valores de qualidadee
sistematicidade, funcionando como codificadores genéticos capazes de, por
diferentes combinatórias, gerar os significados do nível de superfície que se
identificam nos nomes em –ismo.
No nível de superfície registam-se os significados atestados nos nomes. A
posição relativa que estes significados ocupam decorre da ponderação dos quatro
critérios apresentados e que serão seguidos na exposição que se empreenderá.
‘Princípio epistemológico’ ocupa a posição mais próxima do centro prototípico
por i) deter elevado grau de abstração, ii) ser o significado mais atestado,
iii) requerer uma base fortemente predicativa e iv) deter em elevado grau o
valor de sistematiciadade. Segue-se o significado ‘qualidade’; embora i)
detentor do mais elevado grau de abstração e de iii) requerer uma base
fortemente predicativa, não pode colocar-se na posição mais próxima do centro
por ii) não ser o significado mais atestado e por iv) não apresentar de todo o
valor de sistematicidade. Os valores de ‘prática’, ‘atitude’, ‘fenómeno’ e
‘locução’ vão-se, gradativamente, afastando do centro na medida em que os
critérios de i) abstração, ii) frequência e iii) valor predicativo da base vão
perdendo expressividade na sua construção. O valor sistematicidade é aquele que
menos parece enfraquecer-se à medida que nos afastamos do centro prototípico. A
posição mais longínqua é ocupada por ‘locução’: i) detentor de capacidade
referencial, o seu valor de abstração será residual, ii) como se verifica na
Figura_1 apenas um reduzidíssimo número de nomes atesta este significado, iii)
não impõe um forte valor de predicatividade à sua base. Contudo, tal como os
restantes significados deste nível, iv) comporta o valor de sistemacidade.
Ao assumir a possibilidade de o sufixo –ismoapresentar uma estrutura semântica
complexa, imputa-se ao sufixo a total responsabilidade da diversidade semântica
encontrada ao nível dos nomes. Neste ponto, a proposta que se apresenta difere
das anteriores porque, apesar de reconhecer a atuação de mecanismos como os de
metonímia e pressões de natureza pragmática (“the combination of structure and
use in the study of salience phenomena is essentially also a combination of
semanticsand pragmatics: semantics as the study of structure, and pragmatics as
the study of use, combine when salience is seen as the structural reflection of
pragmatic phenomena.” (Geeraerts 2006b: 75), situa-os ao nível da formação do
significado de –ismoe não num momento posterior ao da formação do nome.
Considera-se portanto que estes fatores atuam ao nível da construção do
significado do sufixo.
Conclusão
Ao longo do trabalho procurou-se demonstrar que, em língua portuguesa, o sufixo
–ismo, sendo uma unidade polissémica, apresenta uma estrutura semântica
complexa. Enquadrou-se esta análise numa conceção do significado como um
processo dinâmico e flexível que se estabelece por mecanismos conceptuais,
sustentando-se assim a complexidade semântica do sufixo. Neste contexto foi
possível analisar a estrutura do sufixo de acordo com a teoria do protótipo.
Retirando informação do mecanismo genolexical que produz os nomes em –ismo, foi
possível compreender a sua estrutura semântica complexa, organizada em dois
níveis: um nível subjacente que comporta os valores qualidadee sistematicidade
que funcionam como codificadores genéticos e um nível de superfície que
comporta os significados atestados nos nomes: ‘princípio epistemológico’,
‘qualidade’, ‘prática’, ‘atitude’, ‘fenómeno’ e ‘locução’, atestados nos nomes
em –ismo.
Os significados de estrutura profunda detêm estatutos distintos. Ambos se
comportam como codificadores genéticos versáteis e flexíveis dos significados
do nível de superfície. Contudo, apenas qualidadese constitui como significado
prototípico. Esta diferença deve-se ao facto de qualidadeestar seminalmente
presente em todos os significados atestados, ao passo que sistematicidade falha
um significado, ou seja, encontra-se atestado em todos os significados
atestados exceto no de ‘qualidade’.
Os significados atestados obtêm-se através dos codificadores qualidadee
sistematicidade em combinatórias distintas. A posição destes significados
relativamente ao núcleo foi definida através de quatro critérios, determinando-
se ‘princípio epistemológico’ como o significado mais próximo do núcleo,
seguido por ‘qualidade’, ‘prática’, ‘atitude’, fenómeno’ e, na posição mais
distante, como significado mais afastado do centro prototípico, ‘locução’.
Com os dados expostos foi possível desenhar a estrutura semântica do sufixo
–ismo.
A construção do significado dos nomes em –ismoresulta da articulação dos dados
semânticos do sufixo, uma unidade afixal de estrutura semântica complexa, com
os da base, que se define por conter um conjunto de predicados/atributos/
propriedades/qualidades dos quais será(ão) selecionado(s) o(s) que se adequa(m)
à construção do significado do produto.