Reuniões Científicas: Congresso Galaico-Português de Psicopedagogia
Reuniões Científicas
Congresso Galaico-Português de Psicopedagogia
O Congresso Galaico-Português é uma das facetas mais significativas do
convénio estabelecido entre as Universidades do Minho e da Corunha, em 1995,
tendo vindo, ano após ano, a estender-se a toda a Espanha e Portugal, ao mesmo
tempo que vai sendo cada vez mais significativa a participação de congressistas
de países da América Latina e, muito particularmente, do Brasil. Nesta VIII
edição, realizada na Universidade do Minho nos dias 14, 15 e 16 de Setembro de
2005, participaram quatro centenas de congressistas, provenientes da
generalidade das Universidades e Institutos Superiores Politécnicos de
Portugal, de todas as Universidades da Galiza, de Universidades de outras
Regiões de Espanha e do Brasil.
Trata-se de um congresso que pelas suas temáticas reúne académicos,
investigadores e um conjunto alargado de profissionais do ensino, da educação e
da psicologia. Integrando a Educação uma panóplia de objectivos e
concretizando-se em contextos e através de processos de marcada complexidade,
antecipar-se-á a diversidade de congressistas presentes. Por outro lado,
reconhecendo-se os contributos transdisciplinares na análise e resolução dos
problemas educacionais, tendo estes impacto a nível dos indivíduos, dos grupos,
das organizações e da comunidade em geral, este Congresso pela sua abrangência
acaba por atrair investigadores e profissionais bem diferenciados em termos de
interesses e de posicionamentos teóricos, técnicos e filosóficos.
Numa das áreas contempladas nesta VIII edição, intitulada "Temas
transversais do currículo", as comunicações apresentadas salientam a
necessidade da escola, cada vez mais, resistir à tendência reinante de menor
co-responsabilização de tantas outras instituições de socialização pela
formação integral dos indivíduos. A escola, nos nossos dias, assume um papel
imprescindível de formação, que ultrapassa o currículo formal, integrando a
aprendizagem e o desenvolvimento de competências nos domínios do "saber
ser" e do "saber estar com os outros". Assim, integraram-se aqui
várias reflexões teóricas e relatos de experiências no terreno sobre a educação
ambiental, a educação para a saúde, a educação para os valores e a educação
sexual, entre outras.
Na área da "Tecnologia e comunicação educativa" estiverem em foco as
questões do uso educativo da internet e das modalidades de aprendizagem on-line
(e-learning), temas que primam pela grande actualidade e relevância, criando
quer expectativas positivas quer reacções negativas à sua volta. A sociedade da
informação, não coincidindo necessariamente com "sociedade de
conhecimento", apela a um uso adequado das novas ferramentas de registo,
acesso e processamento da informação, ao mesmo tempo que alerta para algumas
vicissitudes, nem sempre positivas ou traduzindo reais vantagens, nesse
processo.
A terceira área designou-se "Necessidades educativas e adaptações
curriculares". Trata-se de uma área tradicionalmente confinada às
dificuldades de aprendizagem, às deficiências cognitivas e às realidades do
ensino especial, tendo emergido neste Congresso a abertura a experiências
educativas dirigidas aos alunos mais capazes, mais talentosos ou com
características de sobredotação. Para toda esta diversidade de alunos, todos
eles com direitos a uma "escola inclusiva", vários trabalhos
apresentados tomaram a "flexibilidade curricular" e os
"currículos alternativos" como mecanismos de suporte à diferenciação
pedagógica e à satisfação das "NEEs" de todo e cada um destes alunos
particularmente diferenciados nas suas características.
Uma quarta área teve a ver com os estudos e os relatos de experiências de
"mediação", entre a comunidade, a família e a escola. Considerou-se
que no quadro dos modelos ecológicos do desenvolvimento e da educação, importa
atender aos contextos de referência e de pertença dos alunos, às relações e
interacções entre os vários subsistemas do modelo ecológico proposto por
Bronfenbrenner. Como temas de referência, emergiram as problemáticas do bem-
estar e qualidade de vida das crianças, dos maus-tratos infantis e dos
abandonos escolares, problemas estes de ampla envolvência familiar e social, e
cuja complexidade aconselha abordagens mutidimensionais e sistémicas, ou seja,
um espaço particular para a "mediação social".
A quinta área, designada por "Processos e estratégias de
aprendizagem", corporizou um volume substancial de trabalhos, facto também
registado nas edições anteriores do Congresso. Integraram-se, aqui, estudos nos
domínios dos processos e estratégias de aprendizagem, falando-se logicamente de
processos pedagógicos de ensinar e aprender, nos métodos de estudo, nos
processos cognitivos envolvidos nas aprendizagens bem e mal sucedidas, assim
como nas metodologias específicas de ensino para determinados subgrupos de
alunos ou para determinadas disciplinas curriculares.
A sexta área, designada "Interculturalidade e educação" reflecte a
aposta em não circunscrever o Congresso às escolas e ao ensinoaprendizagem na
sala de aula. Falar em educação é alargar horizontes, fixar missões e
objectivos mais latos para as instituições educativas. No seu seio, estiveram
em destaque trabalhos orientados para a questão dos grupos étnicos, da
mobilidade e inclusão social, e da diversidade cultural, emergindo como
curiosidade neste Congresso alguns trabalhos versando a problemática da
educação para a morte.
A sétima área reportou-se aos "Modelos e dispositivos de formação".
As questões das competências científicas e pedagógicas integraram esta área de
comunicações, contemplando quer a formação inicial quer a formação contínua,
considerando-se esta última como uma exigência face às mudanças técnico-
científicas, às mudanças sócio-culturais, aos novos desafios e solicitações à
escola e à educação, devendo por isso ter o devido impacto na carreira e no
desenvolvimento profissional dos formandos.
A oitava área abordou as "Políticas e práticas de avaliação",
animando o debate na matéria a discussão em torno das diversas concepções sobre
avaliação, objectivos e formatos, em particular quando passamos a incluir, para
além dos alunos, os professores, os departamentos e as próprias escolas. Por
outro lado, reflectindo a autonomia crescente das escolas, debateu-se a
avaliação como "prestação pública de contas" e os indicadores
recolhidos para se apreciar a qualidade das práticas educativas e a eficiência
das instituições.
A nona área temática agregou trabalhos sobre o "Desenvolvimento vocacional
e a orientação para a carreira", aqui ganhando particular relevância as
questões dos projectos de vida e os processos como os sujeitos os elaboram,
implementam e redefinem, num conceito mais desenvolvimental, interactivo e
identitário da orientação vocacional. Os trabalhos apresentados afastam-se da
leitura "traço-factor" mais clássico, ou seja, na crença do
"encaixe" entre características individuais e exigências do posto de
trabalho, assumindo-se a carreira, menos como "descoberta" e mais
como uma faceta da identidade em construção.
Finalmente, a décima área reportou-se ao "Ensino Superior" e o número
substancial de trabalhos apresentados, num crescendo observado ao longo das
últimas edições deste Congresso, reflecte a importância crescente desta área
nas investigações dos académicos presentes. Tratando-se de um subsistema em
acentuada agitação e instabilidade, com vários temas em análise, por exemplo, a
autonomia e financiamento, a organização e funcionamento pedagógico, a
avaliação e qualidade dos cursos ministrados, a reestruturação dos cursos e dos
níveis de ensino à luz da Declaração de Bolonha , vários dos trabalhos
apresentados debateram os processos de transição do ensino secundário para o
ensino superior por parte dos alunos, os seus processos de adaptação e de
aprendizagem, a qualidade da sua formação e do seu desenvolvimento
psicossocial, as práticas pedagógicas instituídas e a instituir, a organização
dos estágios profissionalizantes e as saídas para o mercado de trabalho.
Os interessados podem encontrar um bom número dos trabalhos apresentados nas
Actas do VIII Congresso Galaico-Português de Psicopedagogia, editadas em CD-
Rom. Trata-se de um extenso volume, contento os resumos das 470 propostas de
comunicações apresentadas e os 294 textos completos enviados, num total de 3915
páginas, mas fácil de manusear dadas as funções interactivas do CD.
Bento D. Silva
Coordenador da Comissão Organizadora Universidade do Minho
Centro de Investigação em Educação
Instituto de Educação
Universidade do Minho - Campus de Gualtar
4710 Braga - Portugal
rpe@iep.uminho.pt