Global youth? Young people in the twenty-first century
GLOBAL YOUTH? YOUNG PEOPLE IN THE TWENTY-FIRST CENTURY
(University of Plymouth, 3-5 Setembro de 2001)
Pedro Abrantes
*
Durante três dias, cerca de uma centena de investigadores de ciências sociais,
vindos de todo o mundo ocidental, estiveram reunidos na pequena e pacata
cidade inglesa de Plymouth, com o intuito de discutir abordagens, teorias e
metodologias que permitam compreender os jovens de hoje e lançar bases para
políticas sustentadas nesta área. O congresso foi organizado pela British
Sociological Association e combinou grandes conferências plenárias com pequenos
espaços de debate e apresentação de comunicações.
A existência e possível caracterização de uma juventude global serviu, ao
longo de toda a conferência, como pano de fundo para se conhecer e discutir
realidades bem distintas que ora aproximam, ora dividem os jovens nas
sociedades contemporâneas. Os novos media (da televisão à internet, passando
pelos telemóveis) e os padrões de consumo globais foram avançados como
poderosos mecanismos de formação de uma vivência juvenil global, pautada por
práticas e identidades semelhantes. Ainda assim, as assimetrias de recursos e a
desigualdade nas formas de apropriação e consumo parecem garantir todo um
universo de diferenças, mesmo onde aparentemente se observam coincidências.
A actualidade ou possível reformulação dos conceitos e teorias dos
denominados estudos subculturais (nomeadamente, dos realizados em Birmingham
nos anos 70 pelo CCCS) constituiu também um dos temas quentes do congresso.
Foram assim re-equacionadas questões como a consciência política ou a produção
de novas formas contra-culturais. A proposta de um novo quadro de análise, de
pendor pós-modernista, avançada por alguns investigadores como David Muggleton,
encontrou inúmeras resistências.
Entre os resistentes, destaque para Paul Willis, autor da última conferência
e que apresentou um quadro renovado, no qual a imaginação etnográfica se
cruza com uma complexa teoria acerca da tensão entre a reificação/fetichismo
provocados pela sociedade de consumo e as possibilidades emancipatórias dos
jovens. Por outro lado, Paul Hodkinson e Liza Catan chamaram a atenção para o
facto de o desenvolvimento exponencial dos meios de comunicação estar a
originar não uma sociedade global homogénea, mas a preservação (ou até, em
alguns casos, o isolamento) de pequenos grupos ou subculturas. A desintegração
dos referenciais geográficos e a possível formação de fenómenos neotribais
foram temas discutidos por outros investigadores, entre os quais Jonathan
Epstein, que equacionou a violência global organizada através dos novos média.
Mas se foram vários os focos de debate teórico, a verdade é que este congresso
permitiu também o conhecimento e reflexão acerca de variadíssimos contextos,
experiências e situações em que os jovens constroem as suas vidas. Debateram-se
assim diversos fenómenos, dos quais se destacam: a relação entre o desemprego e
a marginalização social (Fred Cartmel); a indústria cool e as suas técnicas de
marketing (Christian Bucce); os jovens que viajam pelo mundo integrados em
projectos de turismo/voluntariado (K. Simpson); o pânico moral em torno da
juventude na Eslovénia (Gregor Bulc); a cidadania juvenil e as suas
ambiguidades (Jennifer Harvey); a cultura popular dos descendentes de asiáticos
na Austrália (Melissa Butcher); a complexa moral sexual dos jovens ingleses
(Deborah Chambers e outros); a fragmentação da cultura de dança (O'Hagan); a
apropriação dos telemóveis pelos jovens coreanos (Kyongwon Yoon); as políticas
sociais e a construção das identidades juvenis nos EUA (Najma Nazy'at).
Apesar da aparente dispersão dos temas, todas estas comunicações permitiram
equacionar a importância primordial assumida pelas identidades, no contexto
juvenil contemporâneo, bem como reflectir acerca dos complexos mecanismos que
presidem à sua construção. Constatou-se ainda a actual debilidade das políticas
de juventude e consequente necessidade de trabalhar em dialéctica constante com
as ciências sociais (às quais se exigiu também uma posição de maior
envolvimento e responsabilização), de forma a contribuir mais eficazmente para
que os jovens ultrapassem os explosivos desafios com que hoje se confrontam.
Este congresso constituiu assim um fértil espaço de debate entre diversas
perspectivas por entre concepções teóricas, metodologias empíricas e
políticas desenvolvidas sobre a juventude. A diversidade das origens,
formações e experiências dos participantes (marcaram presença desde académicos
ortodoxos a profissionais de acção social), longe de constranger, promoveu o
necessário contacto entre diferentes tradições e entre teoria e acção. Resta
acrescentar que o entusiasmo e a informalidade vividos permitiram que os
debates e as teias de relacionamento, gerados nos anfiteatros, se estendessem
no tempo e no espaço, avançando pelas ruas de Plymouth até aos pubs da doca
marítima, onde a noite caía suavemente.
* Pedro Abrantes. E-mail: pedro.abrantes@iscte.pt