Editorial
Editorial
A internacionalização do conhecimento científico está associada à
internacionalização dos meios que o divulgam e estes, por sua vez, terão tanto
mais capacidade de atingir públicos diversificados quanto o façam nas línguas
por eles faladas.
O presente número evidencia o empenho da Direcção de Sociologia, Problemas e
Práticas em promover o debate sociológico com a comunidade das ciências sociais
além fronteiras. Os textos aqui publicados correspondem a contributos de
autores de diferentes nacionalidades, escritos em várias línguas, reflectindo,
de certo modo, um espaço intercontinental onde esta revista é conhecida e reúne
número relevante de leitores.
O primeiro artigo, da autoria de Irene Rizzini, problematiza o impacto dos
processos de globalização no quotidiano de crianças e jovens, à luz das
discussões internacionais mais recentes. A sua reflexão sublinha a variedade de
efeitos, directos, indirectos e contraditórios, que as mudanças económicas,
políticas e sociais ocorridas à escala global exercem nos contextos locais
específicos de cada comunidade ou país e, em particular, nos padrões de vida
das gerações mais novas dos países pobres.
Seguem-se depois três artigos, inscritos nas problemáticas do género e da
igualdade entre os sexos. O texto de Chiara Saraceno sublinha as dificuldades
de atingir essa igualdade, o que começa por evidenciar com base nas diferentes
posições que mulheres e homens ocupam em lugares de decisão económica e
política. A partir da análise do caso italiano, Chiara Saraceno procura
explicar as razões porque são os países com uma mais reduzida proporção de
emprego feminino a registarem dos mais baixos índices de fecundidade, centrando
o seu olhar em três fenómenos: a relação entre responsabilidades familiares e
actividade profissional das mulheres; as políticas e serviços de apoio a
crianças e idosos; as políticas de emprego feminino e de conciliação trabalho-
família.
O texto de Mercedes Alcañiz aborda também o tema da conciliação entre esferas
pública e privada, interrogando-se sobre se as sociedades ocidentais estão
efectivamente a desenvolver um novo sistema de géneros. Debruçando-se sobre a
sociedade espanhola, a autora releva a maior participação das mulheres das
gerações mais novas no sistema educativo e no mercado de trabalho enquanto
indício de que se estão a verificar algumas mudanças, mas evidencia, por outro
lado, permanências nos modelos de organização da esfera privada, conduzindo o
leitor a uma reflexão sobre as possíveis políticas promotoras de um sistema
social mais igualitário na óptica do género.
Joaquim Simões e Lígia Amâncio analisam género e enfermagem, procurando
compreender o modo como profissionais do sexo masculino se inserem num grupo
profissional maioritariamente feminino e concluindo não serem os homens
enfermeiros encarados desfavoravelmente pela população que constituiu o campo
empírico de observação no estudo realizado.
Outras linhas de reflexão são seguidas pelos autores dos restantes artigos.
Paulo Pereira de Almeida apresenta as principais perspectivas e debates sobre a
servicialização do trabalho. Pondo em causa a operatividade da clássica
trilogia distintiva das actividades económicas, o autor propõe vias
alternativas para a análise do trabalho, elabora um novo modelo conceptual para
o estudo das organizações de serviços e aponta contributos para uma sociologia
dos mundos de produção de serviços nas sociedades contemporâneas.
É igualmente sobre as sociedades contemporâneas que Nuno de Almeida Alves faz
incidir o seu artigo, que analisa criticamente os processos de construção de
sociedades da informação e do conhecimento, bem como as políticas e os planos
de acção preconizados pelos governos ocidentais.
Por fim, Andrés Malamud discute a integração dos países da América Latina nos
vários blocos regionais, mostra como esse processo se reveste de
especificidades, não enquadráveis nos modelos teóricos anteriormente
disponíveis, e avança hipóteses de investigação que permitam colmatar as
lacunas conceptuais identificadas.
Maria das Dores Guerreiro