A versão portuguesa do NEO-FFI: Caracterização em função da idade, género e
escolaridade
O modelo dos cinco fatores (Five Factor Model: FFM; McCrae & Costa, 2004)
envolve uma representação dimensional das diferenças interpessoais ao nível da
personalidade cuja validade, compreensividade, universalidade,
hereditabilidade e estabilidade longitudinal tem sido recorrentemente
sublinhada pela investigação empírica (McAdams & Pals, 2006). Através deste
modelo, é possível aglutinar as tendências comportamentais, emocionais e
cognitivas das pessoas em cinco grandes categorias: Neuroticismo (N),
Extroversão (E), Abertura à Experiência (O), Amabilidade (A) e
Conscienciosidade (C). Estas dimensões têm sido replicadas em auto e hetero-
avaliações, em diferentes línguas e culturas e, com amostras clínicas e
normativas (McCrae, Costa, del Pilar, Rolland, & Parker, 1998; McCrae &
Terracciano, 2005). Estes dados fundamentam o consenso substancial em torno da
estrutura dos traços da personalidade na idade adulta e consagram o modelo como
uma ferramenta útil para descrever a personalidade do adulto e para guiar a
investigação (Rolland, Parker, & Stumpf, 1998).
O modelo tem sido operacionalizado através do NEO-PI-R, que avalia estas cinco
principais dimensões, ou domínios, da personalidade, assim como um conjunto
de facetas ou traços que definem cada um dos referidos domínios. Em conjunto,
os cinco domínios (OCEAN)2 e as trinta escalas das facetas permitem uma
avaliação compreensiva da personalidade adulta. Este instrumento elaborado por
Costa e McCrae (1992) constitui a última versão da revisão do NEO-PI - o
primeiro instrumento a operacionalizar o modelo FFM - que começou a ser
construído em 1978 através de uma combinação de métodos teóricos e de análise
fatorial.
No que diz respeito à versão portuguesa (Lima & Simões, 1997), foi obtida
uma estrutura fatorial congruente com o Modelo dos Cinco Fatores, explicando
21%3 da variância, semelhante ao obtido na versão Americana - 23% da variância
(Costa, McCrae & Dye, 1991). Além disso, os coeficientes de consistência
interna (Alfas de Cronbach) dos fatores com uma amplitude situada entre .80
para a Extroversão e .86 para a Conscienciosidade são considerados "bons"4. Na
versão original (Costa, McCrae, & Dye, 1991), bem como, na portuguesa, as
cinco dimensões da personalidade foram associadas a uma grande diversidade de
variáveis psicológicas e demográficas (e.g., bem-estar, género) encontrando-se
variações relacionadas com a idade, profissão, educação e género (Lima, 1997).
O NEO-PI-R apresenta, por conseguinte, inúmeras vantagens derivadas da extensa
investigação (McAdams & Olson, 2010), em que se baseia, da acesa discussão
científica que tem gerado, por adiantar uma proposta de análise compreensiva
da personalidade, que representa uma tentativa de dar sentido à multiplicidade
de constructos existentes, no domínio da psicologia da personalidade (McCrae
& Costa, 2003, 2008). Efetivamente, uma grande diversidade de constructos
é abarcada na sua interpretação (e.g., bem-estar, resiliência, empenhamento e
criticismo; McAdams & Olson, 2010); uma vasta literatura permitiu compará-
lo com dezenas de outros modelos, constructos e instrumentos de personalidade
(e.g., EPQ, PFR, 16PF, MBTI, CPI e MMPI; Little & Joseph, 2007); e as suas
qualidades psicométricas foram comprovadas em muitas populações, de diversos
países (McCrae & Costa, 2004). Uma outra vantagem é o facto de se tratar de
um instrumento especificamente construído para adultos5: pode aplicar-se,
durante toda a idade adulta (a partir dos 17 anos), a sujeitos de quase todos
os níveis de escolaridade e proveniência social e em contextos díspares, como
as áreas do aconselhamento, psicologia clínica, psicologia da saúde,
psiquiatria, psicologia educacional, orientação escolar e profissional,
psicologia organizacional e investigação (Costa & McCrae,1992). Além
disso, é um instrumento simples de administrar, cotar e interpretar por
profissionais com formação em Psicologia e em avaliação da personalidade,
proporciona auto e hetero-avaliações (formas S e R do inventário) e permite
fornecer feedback ao sujeito. Em suma, o modelo dos cinco fatores oferece um
guia conceptual, que pode ser utilizado, sempre que é avaliada a
personalidade.
Apesar das inúmeras vantagens deste instrumento, a sua extensão ' 240 itens '
tornam-no moroso e pouco versátil. Esta limitação levou à construção de versões
reduzidas deste instrumento, tipicamente designadas por NEO-FFI ou NEO-FFI-R
(na versão revista)6. O NEO-FFI (NEO-Five Factor Inventory; Costa & McCrae,
1989) é assim uma versão reduzida do NEO-PI-R, constituída por 60 itens e que,
no original, nos permite obter uma versão fiável dos domínios do modelo dos
cinco fatores (com valores de consistência interna entre .68 e .86; Costa &
McCrae, 1989). Várias adaptações têm sido desenvolvidas em diferentes países
(cf. Anexo_1), sendo os valores de consistência interna entre culturas
genericamente aceitáveis e similares, refletindo o potencial do presente
instrumento para ser utilizado em diferentes contextos. O NEO-FFI tem também
sido utilizado extensivamente para estudar as relações entre as cinco dimensões
da personalidade e outros constructos como, por exemplo, estilos de
aprendizagem (Chamorro-Premuziac & Furnham, 2009), problemas interpessoais
(Nyater, Langvik, Berthelsen, & Nordvik, 2009), perturbações da
personalidade (Aluja Garcia, Cuevas, & Garcia, 2007) ou sucesso académico
(Chamorro-Premuzic, Quiroga & Colom, 2009).
As limitações identificadas nas adaptações do NEO-FFI passam pelas dificuldades
na reprodução da sua estrutura original nalguns países e a sua suscetibilidade
ao engano deliberado (Furham, 1997; Korner, Geyer, Roth, et al., 2008;
Panayiotou, Kokkinosb, & Spanoudisa, 2004). McCrae e Costa (2004) fizeram
uma revisão ao NEO-FFI original, substituindo 14 itens por itens do NEO-PI-R,
de acordo com os seguintes critérios: i. minimizar dos efeitos da aquiescência;
ii. aumentar as correlações com as pontuações dos fatores do NEO-PI-R; iii.
diversificar o conteúdo dos itens selecionando itens de facetas sub-
representadas e aumentar a compreensibilidade dos itens. A validade e a
fiabilidade da nova versão tem vindo a ser demonstrada (Alfas de Cronbach entre
.75 e .82) (McCrae & Costa, 2004). No contexto português, Barros (1979)
utiliza pela primeira vez uma versão reduzida, Bertoquini e Pais Ribeiro (2006)
apresentam estudos com uma versão do NEO-FFI, do NEO-FFI-R e do NEO-FFI-P, Lima
(2008) com o NEO-FFI e, mais recentemente, Magalhães e colaboradores (2014), a
partir da versão validada do NEO-PI-R, testam a validade de constructo do NEO-
FFI através da Análise de Componentes Principais (ACP) com rotação Varimax e da
Análise Fatorial Confirmatória (AFC) com recurso a modelos unifatoriais, usando
o método da máxima verosimilhança (Maximum Likelihood) para cada dimensão da
personalidade em separado. Os cinco fatores de personalidade foram extraídos
através da ACP, explicando 35.1% da variância, tendo sido confirmados
posteriormente na AFC que revelou índices de ajustamento adequados. No que diz
respeito à consistência interna, foram obtidos valores entre .69 (Abertura à
Experiência) e .81 (Conscienciosidade), considerando-se aceitáveis e
comparáveis com os da versão original (Magalhães et al., 2014). No sentido de
providenciar dados adicionais que permitam a comparabilidade de resultados
aquando da utilização do NEO-FFI no contexto português, serão descritos no
presente estudo dados descritivos das pontuações obtidas no NEO-FFI numa
amostra de sujeitos com características individuais diferenciadoras, e a sua
relação com variáveis sociodemográficas dos participantes.
Método
Participantes
Participaram no presente estudo 1178 sujeitos, na sua maioria do sexo feminino
(N = 801), e com idades compreendidas entre os 18 e os 90 anos (M= 41.8, DP=
22.3). Em termos de escolaridade, 38% concluiu o 1º, 2º ou 3º ciclo, 45%
terminou o Ensino Secundário e 17% o Ensino Superior.
Instrumentos
Foi utilizada a versão Portuguesa do NEO-FFI (Magalhães et al., 2014),
construída a partir da versão Portuguesa do NEO-PI-R (Lima & Simões, 1997;
2006). Tal como na versão original Norte Americana, esta versão reduzida é
constituída por 60 itens (12 por dimensão), respondidos numa escala de likert
de 5 pontos de 0 (discordo fortemente) a 4 (concordo fortemente). O tempo de
preenchimento é de aproximadamente 15 minutos. A presente versão apresenta
valores de consistência interna adequados: Conscienciosidade (.81),
Neuroticismo (.81), Extroversão (.75), Amabilidade (.72) e Abertura à
Experiência (.71) (Magalhães et al., 2014).
Procedimentos
A participação no presente estudo foi voluntária (a amostra foi recolhida
através do método não probabilístico bola de neve') e a confidencialidade dos
dados foi garantida. Os objetivos foram apresentados previamente aos
participantes e estes referiram compreendê-los e aceitaram participar. Foi
utilizado o IBM SPSS Statistics v. 21 para analisar os dados. No que diz
respeito à normalidade da distribuição, os itens apresentaram todos valores
absolutos de assimetria e de curtose abaixo de 3.0 e de 8.0, respetivamente
(Kline, 2005).
Foram analisados os dados do ponto de vista descritivo e multivariado (MANCOVA)
no sentido de apresentar os valores médios e desvio padrão das pontuações
obtidas pelos sujeitos assim como o de testar a relação entre sexo e
escolaridade e os cinco fatores de personalidade, controlando a idade.
Resultados
Análises descritivas
Foram analisadas as médias e respetivo desvio padrão relativamente às cinco
dimensões de personalidade, atentando à amostra global e às características
sociodemográficas dos participantes, especificamente sexo, idade e
escolaridade. Considerando a amostra global, podemos verificar que os
participantes apresentam pontuações mais elevadas na dimensão de
Conscienciosidade e mais reduzidas na dimensão de Neuroticismo (Quadro_1).
Este resultado pode estar relacionado com o facto de estarmos a reportar dados
relativos a uma amostra mais escolarizada que a população Portuguesa em geral
(levando a um aumento da Conscienciosidade), e não clínica (logo sendo de
esperar um Neuroticismo mais baixo).
Quando analisamos os dados meramente descritivos das cinco dimensões de
personalidade em função do sexo do participantes (Quadro_2), verificamos que o
padrão observado com a amostra total se confirma no grupo do sexo masculino e
feminino, sendo, no entanto, de salientar que o valor mais reduzido ao nível do
Neuroticismo se observa no grupo do sexo masculino, e o valor mais elevado ao
nível da Conscienciosidade foi observado no grupo do sexo feminino.
No que diz respeito às médias obtidas em função da idade dos participantes
(Quadro_3) observamos que a Conscienciosidade continua a ser a dimensão com uma
média superior nos grupos etários de sujeitos mais velhos, sendo que nos mais
novos essa média passa a ser na dimensão da Amabilidade (apesar de muito
próximas em termos absolutos). Já no que se refere à dimensão do Neuroticismo,
esta mantém-se a dimensão com a média mais reduzida nos grupos até aos 64 anos,
passando a ser a Abertura à Experiência a dimensão menos pontuada nos
participantes a partir dos 65 anos.
Finalmente, analisando os resultados descritivos obtidos em função da
escolaridade (Quadro_4) verificamos o mesmo padrão ao nível da
Conscienciosidade, com as médias mais elevadas em todos os grupos de
escolaridade, e o Neuroticismo como sendo aquela dimensão que apresenta a média
mais reduzida.
Análises multivariadas
Foram realizadas análises multivariadas no sentido de identificar diferenças de
sexo e escolaridade em função das cinco dimensões de personalidade, controlando
a variável idade. Assim, foram inicialmente testados os pressupostos para a
realização da MANCOVA: a homogeneidade das Matrizes de Covariância foi testada
através teste M de Box (p= .007) e a homogeneidade de variâncias através do
teste de Levene (Neuroticismo: p = .022; Extroversão: p= .074; Abertura à
Experiência: p = .482; Amabilidade: p = .389; Conscienciosidade: p = .838). A
homogeneidade de variâncias foi assegurada através de valores de p não-
significativos, com exceção do Neuroticismo. A multicolinearidade e a
singularidade foram testadas pela Matriz Residual dos SSCP (sum of squares and
cross product) e foram, neste estudo, asseguradas, com correlações entre os
cinco fatores inferiores a .80.
Os efeitos de interação das variáveis sexo e escolaridade não se revelaram
significativos, F(10, 2336) < 1, mas detetamos efeitos principais
significativos do sexo F(5, 1167) = 20.0, p < .001; η2p = 0.08, 90% CI [.053,
.101] e da escolaridade F(10, 2336) = 7.50, p < .001; η2p = 0.03, 90% CI [.017,
.040] nas dimensões da personalidade, controlando a idade. Aliás, numa
perspetiva multivariada, a variável concomitante idade revelou-se significativa
F(5, 1167) = 19.2, p < .001; η2p = 0.08, 90% CI [.051, .098]. Na análise por
dimensão de personalidade sendo estes efeitos verificados de forma
significativa apenas na Extroversão F(1, 1171) = 42.1, p < .001; η2p = 0.04,
90% CI [.020, .054] e na Abertura à Experiência F(1, 1171) = 69.1, p < .001η2p
= 0.06, 90% CI [.036, .078]. De uma forma geral, verificámos que à medida que a
idade avança, diminuem as pontuações de Extroversão e de Abertura à
Experiência, sendo, então os mais novos que apresentam valores mais altos
nestas duas dimensões.
Foi, ainda, possível verificar que os participantes com escolaridade até ao 3º
Ciclo pontuam significativamente mais baixo na dimensão da Abertura à
Experiência F(2, 1171) = 29.22, p < .001; η2p =.048, 90% CI [.029, .068] do que
aqueles com o Ensino Secundário ou Superior; do mesmo modo, os participantes
com Ensino Secundário apresentam uma pontuação superior na Conscienciosidade
quando comparados com os dois outros grupos F(2, 1171) = 5.68, p < .01; η2p = .
010, 90% CI [.002, .020]. Quando analisamos as diferenças de sexo, verificamos
que comparativamente aos homens, as mulheres pontuaram significativamente mais
no Neuroticismo F(1, 1171) = 49.65, p < .001; η2p = .041, 90% CI [.024, .061],
Conscienciosidade F(1, 1171) = 6.87, p < .01; η2p = 0.06, 90% CI [.001, .015] e
Amabilidade F(1, 1171) = 14.92, p < .001; η2p = 0.13, 90% CI [.004, .025].
Discussão
Com o objetivo de tornar o NEO-FFI disponível para ser usado na avaliação da
personalidade e na investigação, neste trabalho apresentam-se dados
complementares, aos inicialmente levados a cabo por Magalhães e colaboradores
(2014), com esta versão reduzida do NEO-PI-R. Os resultados da Análise em
Componentes Principais e da Análise Factorial Confirmatória neste estudo prévio
mostraram que a versão Portuguesa do NEO-FFI replica a estrutura de cinco
fatores de forma congruente com os estudos transculturais disponíveis (e.g.,
Grã Bretanha, Espanha e Austrália) (Magalhães et al., 2014; McCrae & Costa,
2004). A análise da fiabilidade da versão Portuguesa do NEO-FFI revelou ainda
que o Neuroticismo e a Conscienciosidade foram as dimensões mais robustas, o
que é congruente com a investigação internacional (ver Anexo_1).
Os próprios autores do teste (Costa & McCrae, 1992) advertem que apesar do
NEO-PI-R se ter mostrado adequado com diferentes amostras, e as normas serem
baseadas na idade e no sexo do sujeito e na forma de administração do teste,
correlações do inventário com variáveis, como a idade, sexo e anos de
escolaridade, devem ser examinadas para analisar a influência que estas
possam ter nas pontuações do teste. Quando estas correlações são elevadas,
pode-se colocar a hipótese de que as influências demográficas estão a
confundir as relações entre as pontuações dos traços e outros critérios.
Assim, neste estudo, ao analisar a relação entre a pontuação obtida pelos
sujeitos nas cinco dimensões de personalidade e algumas das suas
características individuais, verificámos que os participantes com menor
escolaridade tendem a apresentar pontuações mais reduzidas na dimensão Abertura
à Experiência. Este resultado é espectável visto que na sua própria definição
conceptual este é o único fator relacionado com a criatividade que é uma
dimensão da inteligência. Efetivamente, os sujeitos que pontuam de forma
elevada na Abertura à Experiência tendem a procurar ativamente o conhecimento,
e tal poderá ser estimulado ou reforçado de forma preferencial em níveis mais
elevados de escolaridade. Por outro lado, quem é aberto à experiência terá mais
facilidade em progredir academicamente visto, tendencialmente, ter uma
criatividade/inteligência também maior. Do mesmo modo, aqueles participantes
que apresentam níveis de escolaridade de grau intermédio (Ensino Secundário) ou
superior apresentam pontuações de Conscienciosidade superiores.
No que diz respeito às diferenças de sexo, verificamos que as mulheres
pontuaram significativamente mais no Neuroticismo, Amabilidade e
Conscienciosidade. Estas diferenças são teoricamente plausíveis, uma vez que
parece ser claro na literatura (Costa, Terracciano & McCrae, 2001; McCrae,
2002) que não só há diferenças de sexo ao nível emocional (níveis mais elevados
de ansiedade e nervosismo nas mulheres), como também uma expectativa social
relacionada com o comportamento congruente com traços de amabilidade mais
focados no sexo feminino (Costa, Terracciano, & McCrae, 2001; Aluja,
Garcia, Rossier, & Garcia, 2005). No que concerne à Conscienciosidade
elevada, esta pode explicar a maior sensatez e responsabilidade atribuída no
presente ao género feminino, bem como, a maior longevidade feminina.
Efetivamente, a literatura valoriza as pontuações na dimensão Neuroticismo e
Conscienciosidade ou Amabilidade como fatores predictores ou protetores de
declínio cognitivo (Chapman, Lyness & Duberstein, 2007; Archer et al.,
2006). Dados do Personality and Longevity Study from the Georgia centenarian
study (Martin et al., 2006) sugerem que os centenários têm um Neuroticismo
relativamente baixo e os outros quatro fatores elevados.
Estes resultados justificam aliás as normas distintas em função do género e,
também, da idade. No que concerne a esta última variável atributo de uma forma
geral, verificámos que à medida que a idade avança diminuem as pontuações de
Extroversão e de Abertura à Experiência, sendo, então, os mais novos que
apresentam valores mais altos nestas duas dimensões.
A literatura inicial relativa ao NEO-PI-R e NEO-FFI refere a ausência de
diferenças em função da idade ' a estabilidade da personalidade na idade
adulta. Apesar dos acontecimentos de vida adversos parecerem não ter impacto na
personalidade dos indivíduos, investigação recente e meta-análises de estudos
antigos indicam, no entanto, que as mudanças ocorrem nas cinco dimensões em
diferentes momentos do ciclo de vida. A saber, Amabilidade e a
Conscienciosidade tipicamente tendem a aumentar ao longo do tempo enquanto a
Extroversão e o Neuroticismo e a Abertura a decrescer. Resultados aliás
confirmados, em grande medida, na nossa investigação (Martin et al., 2006).
Apesar da importância e pertinência da utilização de uma versão breve do NEO-
PI-R, importa salientar algumas limitações do presente estudo. De facto, a
amostra aqui descrita é de conveniência e muitos dos participantes são jovens
universitários do sexo feminino, o que poderá condicionar a análise e
interpretação dos resultados aqui apresentados. Não obstante, estes dados
reforçam as potencialidades da versão breve do NEO-PI-R para ser utilizada no
contexto português, uma vez que são consistentes com o esperado do ponto de
vista teórico. Para maior clarificação dos resultados e para a edificação das
normas portuguesas do NEO-FFI seria importante realizar um estudo futuro com
uma amostra representativa da nossa população ' ou seja, com uma distribuição
adequada dos sujeitos pelos diferentes grupos de idade, escolaridade e género.
Apesar de alguns estudos, inclusivamente nacionais (e.g., Bertoquini &
Pais-Ribeiro, 2006) terem levado a cabo estudos comparativos com várias versões
reduzidas seria importante reforçar estes estudos para aferir das eventuais
vantagens ou, não do, uso do NEO-FFI comparativamente a outras medidas
reduzidas ou breves dos cinco fatores (e.g., Mini-IPIP).
Em suma, os resultados obtidos corroboram a existência das comunalidades
transculturais da personalidade inclusivamente ao nível das variáveis idade,
género e escolaridade tornando mais claro o potencial desta ferramenta de
avaliação da personalidade para a intervenção prática e aplicada (e.g.,
Magalhães, Costa, & Costa, 2014). Os resultados deste estudo contribuem
para considerar este instrumento como uma ferramenta necessária e valiosa no
estudo da personalidade, e para que a versão Portuguesa do NEO-FFI possa ser
vista como uma versão fiável do NEO-PI-R na representação das dimensões básicas
da personalidade.