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EuPTHUHu0874-20492014000200001

EuPTHUHu0874-20492014000200001

variedadeEu
ano2014
fonteScielo

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A versão portuguesa do NEO-FFI: Caracterização em função da idade, género e escolaridade

O modelo dos cinco fato­res (Five Factor Model: FFM; McCrae & Costa, 2004) envolve uma representação dimensional das diferenças interpessoais ao nível da personalidade cuja validade, com­preensividade, universa­lidade, hereditabilidade e estabilidade longitudinal tem sido recorrentemente sublinhada pela investigação empírica (McAdams & Pals, 2006). Através deste modelo, é possível aglutinar as tendências comportamentais, emocionais e cognitivas das pessoas em cinco grandes categorias: Neuroticismo (N), Extroversão (E), Abertura à Experiência (O), Amabilidade (A) e Conscienciosidade (C). Estas dimensões têm sido replicadas em auto e hetero- avaliações, em diferentes línguas e culturas e, com amostras clínicas e normativas (McCrae, Costa, del Pilar, Rolland, & Parker, 1998; McCrae & Terracciano, 2005). Estes dados fundamentam o consenso substancial em torno da estrutura dos traços da personalidade na idade adulta e consagram o modelo como uma ferramenta útil para descrever a personalidade do adulto e para guiar a investigação (Rolland, Parker, & Stumpf, 1998).

O modelo tem sido operacionalizado através do NEO-PI-R, que avalia estas cinco principais dimensões, ou do­mí­­nios, da personalidade, assim como um conjunto de facetas ou traços que de­fi­nem cada um dos referidos domínios. Em conjunto, os cinco domínios (OCEAN)2 e as trinta escalas das facetas per­mi­tem uma avaliação compreensiva da personalidade adulta. Este ins­trumento elaborado por Costa e McCrae (1992) constitui a última ver­são da revisão do NEO-PI - o primeiro instrumento a operacionalizar o modelo FFM - que começou a ser construído em 1978 através de uma combinação de métodos teóricos e de análise fato­rial.

No que diz respeito à versão portuguesa (Lima & Simões, 1997), foi obtida uma estrutura fatorial congruente com o Modelo dos Cinco Fatores, explicando 21%3 da variância, semelhante ao obtido na versão Americana - 23% da variância (Costa, McCrae & Dye, 1991). Além disso, os coeficientes de consistência interna (Alfas de Cronbach) dos fatores com uma amplitude situada entre .80 para a Extroversão e .86 para a Conscienciosidade são considerados "bons"4. Na versão original (Costa, McCrae, & Dye, 1991), bem como, na portuguesa, as cinco dimensões da personalidade foram associadas a uma grande diversidade de variáveis psicológicas e demográficas (e.g., bem-estar, género) encontrando-se variações relacionadas com a idade, profissão, educação e género (Lima, 1997).

O NEO-PI-R apresenta, por conseguinte, inúmeras vantagens deriva­das da extensa investigação (McAdams & Olson, 2010), em que se baseia, da acesa discussão científica que tem gerado, por adiantar uma pro­posta de análise com­preensiva da personalidade, que representa uma ten­tativa de dar sentido à multiplicidade de constructos existentes, no domí­nio da psico­logia da persona­lidade (McCrae & Costa, 2003, 2008). Efetivamente, uma grande diversidade de cons­tructos é abarcada na sua interpretação (e.g., bem-estar, resiliência, empenhamento e criticismo; McAdams & Olson, 2010); uma vasta literatura permitiu compará- lo com dezenas de outros modelos, constructos e ins­trumentos de persona­lidade (e.g., EPQ, PFR, 16PF, MBTI, CPI e MMPI; Little & Joseph, 2007); e as suas qualidades psicomé­tricas foram comprova­das em muitas populações, de diversos países (McCrae & Costa, 2004). Uma outra vantagem é o facto de se tratar de um instrumento es­pecificamente construído para adultos5: pode aplicar-se, durante toda a idade adulta (a partir dos 17 anos), a sujeitos de quase todos os níveis de es­colaridade e proveniência social e em contextos díspares, como as áreas do aconselha­mento, psicologia clínica, psicologia da saúde, psiquiatria, psi­co­logia educacio­nal, orientação escolar e profissional, psicologia organiza­cio­nal e investigação (Costa & McCrae,1992). Além disso, é um instrumento simples de administrar, cotar e inter­pretar por profissionais com formação em Psicologia e em avaliação da personalidade, pro­por­ciona auto e hetero-avaliações (formas S e R do inventá­rio) e permite fornecer feedback ao sujeito. Em suma, o modelo dos cinco fatores oferece um guia concep­tual, que pode ser utili­zado, sempre que é avaliada a personalidade.

Apesar das inúmeras vantagens deste instrumento, a sua extensão ' 240 itens ' tornam-no moroso e pouco versátil. Esta limitação levou à construção de versões reduzidas deste instrumento, tipicamente designadas por NEO-FFI ou NEO-FFI-R (na versão revista)6. O NEO-FFI (NEO-Five Factor Inventory; Costa & McCrae, 1989) é assim uma versão reduzida do NEO-PI-R, constituída por 60 itens e que, no original, nos permite obter uma versão fiável dos domínios do modelo dos cinco fatores (com valores de consistência interna entre .68 e .86; Costa & McCrae, 1989). Várias adaptações têm sido desenvolvidas em diferentes países (cf. Anexo_1), sendo os valores de consistência interna entre culturas genericamente aceitáveis e similares, refletindo o potencial do presente instrumento para ser utilizado em diferentes contextos. O NEO-FFI tem também sido utilizado extensivamente para estudar as relações entre as cinco dimensões da personalidade e outros constructos como, por exemplo, estilos de aprendizagem (Chamorro-Premuziac & Furnham, 2009), problemas interpessoais (Nyater, Langvik, Berthelsen, & Nordvik, 2009), perturbações da personalidade (Aluja Garcia, Cuevas, & Garcia, 2007) ou sucesso académico (Chamorro-Premuzic, Quiroga & Colom, 2009).

As limitações identificadas nas adaptações do NEO-FFI passam pelas dificuldades na reprodução da sua estrutura original nalguns países e a sua suscetibilidade ao engano deliberado (Furham, 1997; Korner, Geyer, Roth, et al., 2008; Panayiotou, Kokkinosb, & Spanoudisa, 2004). McCrae e Costa (2004) fizeram uma revisão ao NEO-FFI original, substituindo 14 itens por itens do NEO-PI-R, de acordo com os seguintes critérios: i. minimizar dos efeitos da aquiescência; ii. aumentar as correlações com as pontuações dos fatores do NEO-PI-R; iii.

diversificar o conteúdo dos itens selecionando itens de facetas sub- representadas e aumentar a compreensibilidade dos itens. A validade e a fiabilidade da nova versão tem vindo a ser demonstrada (Alfas de Cronbach entre .75 e .82) (McCrae & Costa, 2004). No contexto português, Barros (1979) utiliza pela primeira vez uma versão reduzida, Bertoquini e Pais Ribeiro (2006) apresentam estudos com uma versão do NEO-FFI, do NEO-FFI-R e do NEO-FFI-P, Lima (2008) com o NEO-FFI e, mais recentemente, Magalhães e colaboradores (2014), a partir da versão validada do NEO-PI-R, testam a validade de constructo do NEO- FFI através da Análise de Componentes Principais (ACP) com rotação Varimax e da Análise Fatorial Confirmatória (AFC) com recurso a modelos unifatoriais, usando o método da máxima verosimilhança (Maximum Likelihood) para cada dimensão da personalidade em separado. Os cinco fatores de personalidade foram extraídos através da ACP, explicando 35.1% da variância, tendo sido confirmados posteriormente na AFC que revelou índices de ajustamento adequados. No que diz respeito à consistência interna, foram obtidos valores entre .69 (Abertura à Experiência) e .81 (Conscienciosidade), considerando-se aceitáveis e comparáveis com os da versão original (Magalhães et al., 2014). No sentido de providenciar dados adicionais que permitam a comparabilidade de resultados aquando da utilização do NEO-FFI no contexto português, serão descritos no presente estudo dados descritivos das pontuações obtidas no NEO-FFI numa amostra de sujeitos com características individuais diferenciadoras, e a sua relação com variáveis sociodemográficas dos participantes.

Método Participantes Participaram no presente estudo 1178 sujeitos, na sua maioria do sexo feminino (N = 801), e com idades compreendidas entre os 18 e os 90 anos (M= 41.8, DP= 22.3). Em termos de escolaridade, 38% concluiu o , ou ciclo, 45% terminou o Ensino Secundário e 17% o Ensino Superior.

Instrumentos Foi utilizada a versão Portuguesa do NEO-FFI (Magalhães et al., 2014), construída a partir da versão Portuguesa do NEO-PI-R (Lima & Simões, 1997; 2006). Tal como na versão original Norte Americana, esta versão reduzida é constituída por 60 itens (12 por dimensão), respondidos numa escala de likert de 5 pontos de 0 (discordo fortemente) a 4 (concordo fortemente). O tempo de preenchimento é de aproximadamente 15 minutos. A presente versão apresenta valores de consistência interna adequados: Conscienciosidade (.81), Neuroticismo (.81), Extroversão (.75), Amabilidade (.72) e Abertura à Experiência (.71) (Magalhães et al., 2014).

Procedimentos A participação no presente estudo foi voluntária (a amostra foi recolhida através do método não probabilístico ‘bola de neve') e a confidencialidade dos dados foi garantida. Os objetivos foram apresentados previamente aos participantes e estes referiram compreendê-los e aceitaram participar. Foi utilizado o IBM SPSS Statistics v. 21 para analisar os dados. No que diz respeito à normalidade da distribuição, os itens apresentaram todos valores absolutos de assimetria e de curtose abaixo de 3.0 e de 8.0, respetivamente (Kline, 2005).

Foram analisados os dados do ponto de vista descritivo e multivariado (MANCOVA) no sentido de apresentar os valores médios e desvio padrão das pontuações obtidas pelos sujeitos assim como o de testar a relação entre sexo e escolaridade e os cinco fatores de personalidade, controlando a idade.

Resultados Análises descritivas Foram analisadas as médias e respetivo desvio padrão relativamente às cinco dimensões de personalidade, atentando à amostra global e às características sociodemográficas dos participantes, especificamente sexo, idade e escolaridade. Considerando a amostra global, podemos verificar que os participantes apresentam pontuações mais elevadas na dimensão de Conscienciosidade e mais reduzidas na dimensão de Neuroticismo (Quadro_1).

Este resultado pode estar relacionado com o facto de estarmos a reportar dados relativos a uma amostra mais escolarizada que a população Portuguesa em geral (levando a um aumento da Conscienciosidade), e não clínica (logo sendo de esperar um Neuroticismo mais baixo).

Quando analisamos os dados meramente descritivos das cinco dimensões de personalidade em função do sexo do participantes (Quadro_2), verificamos que o padrão observado com a amostra total se confirma no grupo do sexo masculino e feminino, sendo, no entanto, de salientar que o valor mais reduzido ao nível do Neuroticismo se observa no grupo do sexo masculino, e o valor mais elevado ao nível da Conscienciosidade foi observado no grupo do sexo feminino.

No que diz respeito às médias obtidas em função da idade dos participantes (Quadro_3) observamos que a Conscienciosidade continua a ser a dimensão com uma média superior nos grupos etários de sujeitos mais velhos, sendo que nos mais novos essa média passa a ser na dimensão da Amabilidade (apesar de muito próximas em termos absolutos). no que se refere à dimensão do Neuroticismo, esta mantém-se a dimensão com a média mais reduzida nos grupos até aos 64 anos, passando a ser a Abertura à Experiência a dimensão menos pontuada nos participantes a partir dos 65 anos.

Finalmente, analisando os resultados descritivos obtidos em função da escolaridade (Quadro_4) verificamos o mesmo padrão ao nível da Conscienciosidade, com as médias mais elevadas em todos os grupos de escolaridade, e o Neuroticismo como sendo aquela dimensão que apresenta a média mais reduzida.

Análises multivariadas Foram realizadas análises multivariadas no sentido de identificar diferenças de sexo e escolaridade em função das cinco dimensões de personalidade, controlando a variável idade. Assim, foram inicialmente testados os pressupostos para a realização da MANCOVA: a homogeneidade das Matrizes de Covariância foi testada através teste M de Box (p= .007) e a homogeneidade de variâncias através do teste de Levene (Neuroticismo: p = .022; Extroversão: p= .074; Abertura à Experiência: p = .482; Amabilidade: p = .389; Conscienciosidade: p = .838). A homogeneidade de variâncias foi assegurada através de valores de p não- significativos, com exceção do Neuroticismo. A multicolinearidade e a singularidade foram testadas pela Matriz Residual dos SSCP (sum of squares and cross product) e foram, neste estudo, asseguradas, com correlações entre os cinco fatores inferiores a .80.

Os efeitos de interação das variáveis sexo e escolaridade não se revelaram significativos, F(10, 2336) < 1, mas detetamos efeitos principais significativos do sexo F(5, 1167) = 20.0, p < .001; η2p = 0.08, 90% CI [.053, .101] e da escolaridade F(10, 2336) = 7.50, p < .001; η2p = 0.03, 90% CI [.017, .040] nas dimensões da personalidade, controlando a idade. Aliás, numa perspetiva multivariada, a variável concomitante idade revelou-se significativa F(5, 1167) = 19.2, p < .001; η2p = 0.08, 90% CI [.051, .098]. Na análise por dimensão de personalidade sendo estes efeitos verificados de forma significativa apenas na Extroversão F(1, 1171) = 42.1, p < .001; η2p = 0.04, 90% CI [.020, .054] e na Abertura à Experiência F(1, 1171) = 69.1, p < .001η2p = 0.06, 90% CI [.036, .078]. De uma forma geral, verificámos que à medida que a idade avança, diminuem as pontuações de Extroversão e de Abertura à Experiência, sendo, então os mais novos que apresentam valores mais altos nestas duas dimensões.

Foi, ainda, possível verificar que os participantes com escolaridade até ao Ciclo pontuam significativamente mais baixo na dimensão da Abertura à Experiência F(2, 1171) = 29.22, p < .001; η2p =.048, 90% CI [.029, .068] do que aqueles com o Ensino Secundário ou Superior; do mesmo modo, os participantes com Ensino Secundário apresentam uma pontuação superior na Conscienciosidade quando comparados com os dois outros grupos F(2, 1171) = 5.68, p < .01; η2p = .

010, 90% CI [.002, .020]. Quando analisamos as diferenças de sexo, verificamos que comparativamente aos homens, as mulheres pontuaram significativamente mais no Neuroticismo F(1, 1171) = 49.65, p < .001; η2p = .041, 90% CI [.024, .061], Conscienciosidade F(1, 1171) = 6.87, p < .01; η2p = 0.06, 90% CI [.001, .015] e Amabilidade F(1, 1171) = 14.92, p < .001; η2p = 0.13, 90% CI [.004, .025].

Discussão Com o objetivo de tornar o NEO-FFI disponível para ser usado na avaliação da personalidade e na investigação, neste trabalho apresentam-se dados complementares, aos inicialmente levados a cabo por Magalhães e colaboradores (2014), com esta versão reduzida do NEO-PI-R. Os resultados da Análise em Componentes Principais e da Análise Factorial Confirmatória neste estudo prévio mostraram que a versão Portuguesa do NEO-FFI replica a estrutura de cinco fatores de forma congruente com os estudos transculturais disponíveis (e.g., Grã Bretanha, Espanha e Austrália) (Magalhães et al., 2014; McCrae & Costa, 2004). A análise da fiabilidade da versão Portuguesa do NEO-FFI revelou ainda que o Neuroticismo e a Conscienciosidade foram as dimensões mais robustas, o que é congruente com a investigação internacional (ver Anexo_1).

Os próprios autores do teste (Costa & McCrae, 1992) advertem que apesar do NEO-PI-R se ter mostrado adequado com diferentes amostras, e as normas serem baseadas na idade e no sexo do sujeito e na forma de administração do teste, correlações do inventário com variáveis, como a idade, sexo e anos de es­colaridade, devem ser examinadas para analisar a influência que estas pos­sam ter nas pontuações do teste. Quando estas correlações são ele­vadas, pode-se colocar a hipótese de que as influências demográficas es­tão a confundir as rela­ções entre as pontuações dos traços e outros critérios.

Assim, neste estudo, ao analisar a relação entre a pontuação obtida pelos sujeitos nas cinco dimensões de personalidade e algumas das suas características individuais, verificámos que os participantes com menor escolaridade tendem a apresentar pontuações mais reduzidas na dimensão Abertura à Experiência. Este resultado é espectável visto que na sua própria definição conceptual este é o único fator relacionado com a criatividade que é uma dimensão da inteligência. Efetivamente, os sujeitos que pontuam de forma elevada na Abertura à Experiência tendem a procurar ativamente o conhecimento, e tal poderá ser estimulado ou reforçado de forma preferencial em níveis mais elevados de escolaridade. Por outro lado, quem é aberto à experiência terá mais facilidade em progredir academicamente visto, tendencialmente, ter uma criatividade/inteligência também maior. Do mesmo modo, aqueles participantes que apresentam níveis de escolaridade de grau intermédio (Ensino Secundário) ou superior apresentam pontuações de Conscienciosidade superiores.

No que diz respeito às diferenças de sexo, verificamos que as mulheres pontuaram significativamente mais no Neuroticismo, Amabilidade e Conscienciosidade. Estas diferenças são teoricamente plausíveis, uma vez que parece ser claro na literatura (Costa, Terracciano & McCrae, 2001; McCrae, 2002) que não diferenças de sexo ao nível emocional (níveis mais elevados de ansiedade e nervosismo nas mulheres), como também uma expectativa social relacionada com o comportamento congruente com traços de amabilidade mais focados no sexo feminino (Costa, Terracciano, & McCrae, 2001; Aluja, Garcia, Rossier, & Garcia, 2005). No que concerne à Conscienciosidade elevada, esta pode explicar a maior sensatez e responsabilidade atribuída no presente ao género feminino, bem como, a maior longevidade feminina.

Efetivamente, a literatura valoriza as pontuações na dimensão Neuroticismo e Conscienciosidade ou Amabilidade como fatores predictores ou protetores de declínio cognitivo (Chapman, Lyness & Duberstein, 2007; Archer et al., 2006). Dados do Personality and Longevity Study from the Georgia centenarian study (Martin et al., 2006) sugerem que os centenários têm um Neuroticismo relativamente baixo e os outros quatro fatores elevados.

Estes resultados justificam aliás as normas distintas em função do género e, também, da idade. No que concerne a esta última variável atributo de uma forma geral, verificámos que à medida que a idade avança diminuem as pontuações de Extroversão e de Abertura à Experiência, sendo, então, os mais novos que apresentam valores mais altos nestas duas dimensões.

A literatura inicial relativa ao NEO-PI-R e NEO-FFI refere a ausência de diferenças em função da idade ' a estabilidade da personalidade na idade adulta. Apesar dos acontecimentos de vida adversos parecerem não ter impacto na personalidade dos indivíduos, investigação recente e meta-análises de estudos antigos indicam, no entanto, que as mudanças ocorrem nas cinco dimensões em diferentes momentos do ciclo de vida. A saber, Amabilidade e a Conscienciosidade tipicamente tendem a aumentar ao longo do tempo enquanto a Extroversão e o Neuroticismo e a Abertura a decrescer. Resultados aliás confirmados, em grande medida, na nossa investigação (Martin et al., 2006).

Apesar da importância e pertinência da utilização de uma versão breve do NEO- PI-R, importa salientar algumas limitações do presente estudo. De facto, a amostra aqui descrita é de conveniência e muitos dos participantes são jovens universitários do sexo feminino, o que poderá condicionar a análise e interpretação dos resultados aqui apresentados. Não obstante, estes dados reforçam as potencialidades da versão breve do NEO-PI-R para ser utilizada no contexto português, uma vez que são consistentes com o esperado do ponto de vista teórico. Para maior clarificação dos resultados e para a edificação das normas portuguesas do NEO-FFI seria importante realizar um estudo futuro com uma amostra representativa da nossa população ' ou seja, com uma distribuição adequada dos sujeitos pelos diferentes grupos de idade, escolaridade e género.

Apesar de alguns estudos, inclusivamente nacionais (e.g., Bertoquini & Pais-Ribeiro, 2006) terem levado a cabo estudos comparativos com várias versões reduzidas seria importante reforçar estes estudos para aferir das eventuais vantagens ou, não do, uso do NEO-FFI comparativamente a outras medidas reduzidas ou breves dos cinco fatores (e.g., Mini-IPIP).

Em suma, os resultados obtidos corroboram a existência das comunalidades transculturais da personalidade inclusivamente ao nível das variáveis idade, género e escolaridade tornando mais claro o potencial desta ferramenta de avaliação da personalidade para a intervenção prática e aplicada (e.g., Magalhães, Costa, & Costa, 2014). Os resultados deste estudo contribuem para considerar este instrumento como uma ferramenta necessária e valiosa no estudo da personalidade, e para que a versão Portuguesa do NEO-FFI possa ser vista como uma versão fiável do NEO-PI-R na representação das dimensões básicas da personalidade.


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