Determinantes do nível de divulgação de informação sobre instrumentos
derivados. Evidência empírica no mercado de capitais português.
1. Introdução
A crescente utilização de instrumentos derivados tem suscitado o interesse dos
utilizadores das demonstrações financeiras que exigem, cada vez mais,
informação detalhada acerca destas operações.
Assim, os organismos emissores de normas de contabilidade têm vindo a
desenvolver normas específicas sobre instrumentos derivados, procurando adequar
o tratamento contabilístico destes instrumentos e o nível de informação a
divulgar acerca das operações com os mesmos às necessidades daqueles
utilizadores. De facto, a evolução verificada na emissão de normas específicas
sobre instrumentos derivados revela um aumento significativo na quantidade e
qualidade da informação a divulgar, sendo reveladoras desse facto as mais
recentes normas propostas, quer pelo International Accounting Standards Board
(IASB), quer pela própria Comissão de Normalização Contabilística (CNC)
Portuguesa
[1]
Deste modo, o principal objectivo deste estudo prende-se com a análise da
informação que as empresas portuguesas divulgam acerca das operações com
instrumentos derivados, identificando as características empresariais que
determinam o nível de informação que é divulgada nos Relatórios & Contas
anuais.
Para o efeito, foram analisados os Relatórios & Contas Consolidados,
relativos ao exercício de 2004 (exercício que antecedeu a obrigatoriedade de
adopção do normativo do IASB)
[2]
, de todas as empresas cotadas na Euronext Lisbon, num total de 49 empresas.
Para medir o nível de divulgação de informação sobre instrumentos derivados
construiu-se um índice de divulgação de informação, tendo por base a
normalização contabilística existente, e procedeu-se a uma análise univariada e
multivariada, tendo como variável dependente o índice de divulgação e, como
variáveis independentes, determinadas características das empresas estudadas.
Ao longo deste estudo, efectua-se, no ponto 2, uma breve revisão da literatura,
seguem a caracterização da amostra seleccionada, a metodologia adoptada e,
discutem-se os resultados obtidos. Finalmente, apresentam-se as principais
conclusões.
2. Breve revisão da literatura
Têm sido vários os estudos publicados sobre a utilização de instrumentos
derivados ou sobre a divulgação de informação relacionada com instrumentos
derivados.
Alguns dos estudos preocupam-se em analisar o grau de cumprimento de
determinada norma contabilística sobre instrumentos derivados ou o impacto na
informação divulgada em resultado da adopção de determinada norma (Edwards e
Eller, 1995; Goldberg et al., 1995; Edwards e Eller, 1996; Roulstone, 1999;
Blankley et al., 2000; Chalmers e Godfrey, 2000; Chalmers, 2001; Bhamornsiri e
Schroeder, 2004; Gogolis e Görgin, 2005; Lopes e Rodrigues, 2006; Hausin et
al., 2008).
Outros estudos preocupam-se com a quantidade e qualidade de informação que as
empresas divulgam acerca das operações com instrumentos derivados (Jaime, 1996;
Allegrini e Capocchi, 2000; Pinto, 2001; Lemos e Rodrigues, 2007 a).
No que concerne à análise dos factores determinantes, existem vários estudos
que procuram identificar as características das empresas e os motivos para a
utilização dos instrumentos derivados (Mian, 1996; Berkman e Bradbury, 1996;
Nguyen e Faff, 2002; Berkman et al., 2002; Adedeji e Baker, 2002; Nguyen e
Faff, 2003; Borokhovich et al., 2004; Bartram et al., 2006; Shiu, 2007; Kim et
al., 2008).
Existe, ainda, uma outra categoria de estudos que se preocupa em analisar os
factores determinantes da divulgação de informação acerca de operações com
instrumentos derivados (Hassan, et al., 2004; Chalmers e Godfrey, 2004;
Aggarwal e Simkins, 2004; Fernández et al., 2006 e Lopes e Rodrigues, 2007).
No que respeita à divulgação de informação sobre instrumentos derivados e seus
factores explicativos, cabe salientar os seguintes estudos:
a) Chalmers (2001)
Chalmers (2001) analisou as demonstrações financeiras de 140 das 500 maiores
empresas australianas, não financeiras, durante os exercícios económicos de
1992 a 1998, procurando determinar a evolução nos níveis de informação
divulgada acerca de operações com instrumentos derivados.
Para o efeito, o autor recorre a um índice de divulgação de informação
voluntária (Voluntary Reporting Disclosure Index - VRDI), construído com base
no ED 65 do Australian Accounting Standards Board (AASB) e na norma sectorial
publicada pela Australian Society Corporate Treasurers (ASCT)
[3]
.
Tendo em consideração a obrigatoriedade de divulgação de informação relativa a
instrumentos derivados, dividiu o período analisado em três períodos distintos:
- entre 1992 e 1994, período em que a informação divulgada era
voluntária, devido à falta de normalização;
- entre 1995 e 1997, período de divulgação voluntária coerciva,
devido à publicação de uma norma sectorial por parte da ASCT;
- em 1998, período de divulgação obrigatória, devido à adopção da
AASB 1033.
Testes à igualdade do VRDI provaram que o valor médio do mesmo é
estatisticamente diferente para todos os períodos analisados, sendo a diferença
particularmente notória entre 1994 e 1995 e entre 1997 e 1998, correspondentes,
precisamente, à mudança de regime de voluntário para coercivo e de coercivo
para obrigatório.
Chalmers (2001) conclui ainda que, durante o período de divulgação coerciva, as
grandes empresas apresentam maior quantidade de informação voluntária do que as
pequenas empresas.
b) Hassan et al. (2004)
Hassan et al. (2004) utilizam um índice de divulgação para investigar a
qualidade ou transparência da informação
[4]
divulgada acerca de instrumentos derivados, procurando examinar a relação
entre a informação divulgada e as características das empresas e o valor
relevante da informação sobre derivados. Para o efeito analisam os relatórios
anuais, relativos aos exercícios económicos de 1998 a 2001, de 137 empresas
australianas, pertencentes à indústria extractiva.
Concluem que a qualidade da informação divulgada acerca de instrumentos
derivados, nas empresas que os utilizam, aumentou durante o período em análise.
Obtêm evidência empírica de que o tamanho da empresa, o price earnings ratio, e
o nível de endividamento e, a um nível mais limitado, o rácio valor de mercado/
valor contabilístico do activo tangível, a investigação e desenvolvimento e a
rentabilidade estão associados com a qualidade da informação divulgada.
c) Chalmers e Godfrey (2004)
Chalmers e Godfrey (2004) analisam os relatórios anuais de um conjunto de 216
empresas, seleccionadas de entre as TOP500, em 31/03/1996, e cotadas
continuamente na Bolsa Australiana no período 1988-1996, com o objectivo de
investigar as respostas dos gestores às exigências sobre divulgação de
informação sobre instrumentos derivados, propostas pelos organismos
australianos de emissão de normas contabilísticas e pela ASCT, utilizando, como
variável dependente, um índice de divulgação de informação voluntária
[5]
Concluem que o nível de divulgação voluntária sobre instrumentos derivados
aumenta durante o período de 1992 a 1996, sendo esse aumento estatisticamente
significativo em 1995, sugerindo que a publicação da norma da ASCT ou do ED 65
do Australian Accounting Standards Board influenciaram o nível de divulgação.
Obtêm evidência empírica da existência de uma associação positiva entre o nível
de informação divulgada e o facto de a empresa se encontrar associada à ASCT e
pertencer ao G100
[6]
. Adicionalmente, identificam como factores de divulgação de informação, o
tamanho da empresa, o tipo de indústria, o aumento de capital no ano corrente e
o facto de a empresa ter sido objecto de notícias divulgadas pela comunicação
social. Não encontram suporte para a associação entre o tipo de auditor e o
nível, e variação no nível, de informação sobre derivados.
d) Aggarwal e Simkins (2004)
Aggarwal e Simkins (2004) examinam a natureza e os determinantes da divulgação
voluntária sobre a utilização de derivados sobre divisas, de acordo com a SFAS
107. Para o efeito, utilizam como variável dependente uma escala de Likert, que
classifica a qualidade da informação divulgada pela empresa em cinco níveis,
desde qualidade de divulgação pobre até à inclusão de divulgação voluntária, e
analisam os relatórios 10-K das 500 maiores empresas não financeiras em 1993.
Concluem que o crescimento nos resultados por acção, a percentagem de
directores internos e o valor de stock options atribuídas aos órgãos de
gestão são indicadores significativos de qualidade da divulgação. O sinal da
variável valor de stock options atribuídas aos órgãos de gestão é negativo,
indicando que os gestores com níveis mais elevados de stock options preferem
divulgar menos. A probabilidade de a empresa se situar numa das Top 3 do seu
sector e, de forma negativa, o rácio valor de mercado/valor contabilístico do
capital são variáveis adicionais que influenciam a qualidade da divulgação.
e) Fernández et al. (2006)
Fernández et al. (2006) procuram avaliar como é que a informação financeira
sobre derivados financeiros evolui ao longo do tempo, comprovando os efeitos
que as alterações na regulamentação internacional provocam na transparência dos
dados revelados nas contas anuais. Procuram ainda estudar as características
empresariais que determinam que empresas divulgam maior informação nas suas
contas anuais.
Para o efeito, utilizam um índice de divulgação voluntária e analisam os
relatórios anuais de todas as empresas incluídas no mercado contínuo da Bolsa
de Madrid, no período de 2000 a 2002.
Concluem que a qualidade da informação divulgada evolui, de forma
significativa, ao longo do período considerado e que as duas principais
variáveis explicativas da divulgação e nível de divulgação de informação sobre
derivados são o valor líquido do volume de negócios (medida do tamanho da
empresa) e o nível de endividamento.
f) Lopes e Rodrigues (2007)
Lopes e Rodrigues (2007) estudam os determinantes do nível de divulgação de
informação sobre instrumentos financeiros por parte das empresas portuguesas
cotadas em bolsa. Para o efeito, utilizam, como variável dependente, um índice
de divulgação voluntária e analisam os relatórios e contas anuais, relativos ao
exercício económico de 2001, de todas as empresas cotadas na bolsa portuguesa.
Concluem que os factores determinantes da divulgação de informação sobre
instrumentos financeiros são o tamanho da empresa, o sector económico (sendo as
empresas financeiras aquelas que apresentam maiores níveis de divulgação), o
tipo de auditor e o facto de a empresa se encontrar cotada em mais do que um
mercado regulamentado.
g) Hausin et al. (2008)
Hausin et al. (2008) estudam o grau de cumprimento das disposições contidas na
IFRS 7, no que concerne apenas às divulgações relacionadas com operações de
cobertura de risco, por parte das empresas suecas com maior capitalização
bolsista. Para o efeito, analisam os relatórios anuais, referentes ao exercício
económico de 2007
[7]
, de 37 entidades, seleccionadas de entre as maiores empresas, não financeiras,
com maior capitalização bolsista, cotadas na OMX Nordic Exchange, em Estocolmo,
e que declaram a utilização de instrumentos de cobertura de risco.
Utilizam, como forma de recolha de dados, três matrizes de divulgação,
construídas com base na IFRS 7 e na Checklist para a apresentação e divulgação
de acordo com as IFRS para 2007 da Delloite, correspondendo, cada matriz de
divulgação, a cada um dos tipos de cobertura de risco previstos na NIC 39 do
IASB
[8]
.
Por outro lado, conduzem três entrevistas a profissionais de contabilidade e
analistas financeiros. Entrevistam um representante da KPMG de Estocolmo,
especialista em contabilidade, e dois analistas financeiros, com o intuito de
obter a perspectiva do investidor e identificar o nível de importância
atribuído às divulgações sobre cobertura de risco na análise que efectuam às
empresas.
Da análise aos relatórios anuais das entidades estudadas, Hausin et al. (2008)
concluem que:
- 36 entidades declaram a realização de operações de cobertura de
fluxos de caixa, 22 entidades declaram a realização de operações de
cobertura de investimento líquido em entidades estrangeiras e 19
entidades declaram a realização de operações de cobertura de justo
valor;
- Para a cobertura de justo valor, cerca de 88% das entidades
divulgam alguma informação de acordo com as exigências contidas na
IFRS 7, enquanto que, para as coberturas de fluxos de caixa e de
investimento líquido em entidade estrangeira, 63% das entidades e 81%
das entidades, respectivamente, divulgam alguma informação;
- a correlação entre as exigências contidas na IFRS 7 e a informação
divulgada pelas entidades analisadas é geralmente elevada;
- as exigências de divulgação mais complexas e delicadas são aquelas
que apresentam menor grau de cumprimento com as exigências contidas
na IFRS 7;
Por outro lado, das entrevistas aos analistas financeiros, Hausin et al. (2008)
concluem que:
- as divulgações relacionadas com operações de cobertura de risco de
entidades não financeiras não são muito importantes para a análise
destes dois especialistas. Adicionalmente, estes analistas revelam
que não atribuem especial importância à divulgação de informação em
geral;
- Os analistas salientam que a informação divulgada é demasiado
estandardizada e narrativa, declarando que preferem informação
quantitativa e dados mais específicos;
- Finalmente, os autores concluem que as novas exigências de
divulgação sobre operações de cobertura de risco, contidas na IFRS 7,
não são muito importantes no processo de tomada de decisões dos
analistas financeiros no que concerne à análise de entidades não
financeiras.
3. Selecção e caracterização da amostra
Tendo como principal objectivo identificar os factores determinantes do nível
de divulgação de informação, relativa a operações com instrumentos derivados,
por parte das empresas portuguesas, a amostra utilizada neste estudo é
constituída por todas as empresas cotadas na Euronext Lisbon, por se considerar
que este conjunto de empresas, porque inclui empresas de diversos sectores de
actividade, é representativo do tecido empresarial português e porque se julga
serem as que utilizam instrumentos derivados com maior frequência e aquelas às
quais se impõe um nível de relato mais exigente.
Para o efeito, foram recolhidos todos os Relatórios Anuais & Contas
Consolidadas de todas as empresas que se encontravam cotadas no mercado
contínuo de cotações oficiais da Euronext Lisbon no final do exercício de 2004,
num total de 49 Relatórios & Contas
[9]
.
O conjunto de empresas analisadas reparte-se pelos vários sectores de
actividade conforme se apresenta no Quadro 1:
Quadro
1 ' Distribuição por sector de actividade
Sector de Actividade N.º de Empresas %
Indústrias Químicas 2 4,08%
Construção e Materiais de Construção 4 8,16%
Construção - outros tipos 5 10,20%
Papel 5 10,20%
Veículos comerciais e camiões 1 2,04%
Distribuição de veículos 1 2,04%
Electrodomésticos e artigos de uso doméstic 1 2,04%
Bebidas - destilarias e produtores de vinho 1 2,04%
Refrigerantes 1 2,04%
Jogo 1 2,04%
Restaurantes e bares 1 2,04%
Televisão e rádio - fornecedores 2 4,08%
Cabo e satélite 1 2,04%
Transportes ferroviários, rodoviários e de
carga 1 2,04%
Transportes marítimos/fluviais e portos 2 4,08%
Retalhistas 3 6,12%
Serviços de telecomunicações fixas 1 2,04%
Serviços de telecomunicações móveis 1 2,04%
Electricidade 1 2,04%
Serviços Informáticos 4 8,16%
Bancos 7 14,29%
Instalações para lazer 2 4,08%
Outros 1 2,04%
49 100,00%
Por outro lado, tendo em atenção a separação das empresas em função do sector
de actividade (financeiro/não financeiro), obtém-se a seguinte distribuição
(quadro 2):
Quadro 2 ' Sector de actividade
Actividade Nº de Empresas %
Financeira 7 14,29%
Não Financeira 42 85,71%
49 100%
Verifica-se que, das 49 empresas, 7 pertencem ao sector financeiro e 42 são
empresas não financeiras.
Em termos de localização geográfica, as sedes das sociedades analisadas
distribuem-se pelas oito zonas geográficas consideradas conforme Quadro 3:
Quadro 3 ' Distribuição geográfica
Região Geográfica N.º Empresas %
Norte 15 30,61%
Centro 2 4,08%
Lisboa e Vale do Tejo 29 59,18%
Alentejo 0 0,00%
Algarve 0 0,00%
Açores 0 0,00%
Madeira 1 2,04%
Estrangeiro 2 4,08%
49 100,00%
Conclui-se que mais de metade das empresas se localiza na zona geográfica de
Lisboa e Vale do Tejo, que todas as empresas nacionais se localizam a norte
dessa região, que existe uma empresa sediada na Madeira e que existem apenas
duas empresas estrangeiras no conjunto das empresas analisadas.
4. Metodologia de investigação na recolha e tratamento dos dados
Com a finalidade de proceder a uma análise da informação divulgada sobre
instrumentos derivados, e seus factores explicativos, por parte das empresas
cotadas na Euronext Lisbon, definiram-se duas metas de investigação, a saber:
- por um lado, efectuar uma análise descritiva da informação
divulgada pelas empresas, identificando o tipo e o nível de
informação divulgada;
- por outro lado, identificar os factores determinantes do nível de
divulgação de informação sobre instrumentos derivados.
4.1. Metodologia usada na análise descritiva e variável dependente
Na análise descritiva da informação divulgada, recorreu-se à técnica de análise
de conteúdo, codificando a informação recolhida em atributos ou categorias,
tendo-se utilizado, como fonte de obtenção dos dados, os Relatórios &
Contas anuais das empresas cotadas, relativos ao exercício de 2004, disponíveis
na página electrónica da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários.
A utilização de índices para medir o nível de divulgação de informação tem
vindo a ser largamente utilizado pela literatura existente
[10]
. No que concerne ao objecto de estudo deste trabalho, estudos como o de
Chalmers (2001), Chalmers e Godfrey (2004), Hassan et al. (2004), Fernández et
al. (2006) e Lopes e Rodrigues (2007) utilizam um índice para medir o nível de
informação sobre instrumentos derivados que é divulgada pelas empresas.
Deste modo, e seguindo a metodologia de Fernández et al. (2006) e Lopes e
Rodrigues (2007), construímos um Índice de Divulgação (ID) para medir o nível
de divulgação de informação sobre instrumentos derivados, tendo por base a IFRS
7 do IASB e a NCRF 27 da CNC
[11]
.
O índice contém um total de 35 itens
[12]
, classificados em cinco categorias principais, a saber:
- Políticas contabilísticas (6 itens);
- Informação específica sobre riscos (7 itens);
- Operações que não se qualificam para efeitos de cobertura de risco
(1 item);
- Cobertura de risco (17 itens), repartidos nas seguintes
subcategorias:
· Informações gerais (5 itens);
· Coberturas de fluxos de tesouraria (7 itens);
· Coberturas de justo valor (2 itens);
· Cobertura de investimentos líquidos em entidades
estrangeiras (3 itens);
- Justo valor (4 itens).
Na análise aos Relatórios & Contas das empresas incluídas na amostra,
verifica-se se cada um dos itens que constituem o ID é ou não divulgado,
atribuindo-se a cada um deles uma ponderação de 0 ou 1, de acordo com o
seguinte critério:
0 ' o item não é divulgado;
1 ' o item é divulgado.
Assim, o valor do ID para cada uma das empresas é obtido através do quociente
entre o total de itens divulgados pela empresa em análise e o somatório do
total dos itens que constituem o ID (35), de acordo com a seguinte fórmula:
O ID é um índice não ponderado, ou seja, assume-se que todos os itens
considerados têm o mesmo nível de importância para os diversos utilizadores das
demonstrações financeiras. A utilização de factores de ponderação implicaria um
estudo prévio da importância atribuída, pelos diversos utilizadores da
informação, a cada um dos elementos considerados, e, mesmo assim, os resultados
obtidos estariam sempre enviesados por factores subjectivos.
4.2. Factores determinantes: variáveis independentes e hipóteses de
investigação
Para atingir o objectivo proposto, formulou-se um conjunto de hipóteses de
investigação que relacionam o nível de divulgação de informação sobre
instrumentos derivados (medido através do ID, constituindo a variável
dependente) com determinadas variáveis (independentes) que caracterizam as
empresas da amostra e que se passam a apresentar de seguida.
a) Tamanho (TAM)
A existência de uma associação entre a divulgação de informação e o tamanho da
empresa tem vindo a ser comprovada por vários estudos empíricos (Watts e
Zimmerman, 1978).
Da mesma forma, tem vindo a ser comprovada, por vários autores, a existência de
uma associação entre a utilização de instrumentos derivados e o tamanho da
empresa (Mian, 1996; Nguyen e Faff, 2003), assim como entre o nível de
divulgação de informação sobre instrumentos derivados e o tamanho da empresa
(Chalmers e Godfrey, 2004; Hassan et al., 2004; Fernández, et al., 2006; Lopes
e Rodrigues, 2007).
Assim, a primeira hipótese de investigação define-se da seguinte forma:
H1: O nível de informação divulgada sobre instrumentos
derivados é maior nas empresas de maior tamanho.
O tamanho da empresa pode ser medido através do número de empregados, do volume
de negócios ou do activo total. Autores como Fernández et al. (2006) utilizaram
o volume de negócios e o total do activo, enquanto que autores como Lopes e
Rodrigues (2007), Hassan et al. (2004), Chalmers e Godfrey (2004) e Aggarwal e
Simkins (2004) se basearam apenas no total do activo. Uma vez que não existem
fundamentos teóricos que justifiquem a utilização de uma determinada medida em
particular para o tamanho da empresa, neste estudo optou-se pelo activo total
(embora submetido a uma prévia transformação logarítmica, a fim de evitar
problemas metodológicos na estimação
[13]
.
b) Concentração de capital (CONC)
A estrutura de propriedade influencia o nível de informação divulgada, uma vez
que, quanto maior for a concentração do capital, menor será a probabilidade de
divulgação de informação voluntária para o exterior.
Quando a propriedade se encontra concentrada num menor número de detentores,
estes terão maior facilidade no acesso à informação interna, diminuindo, assim,
a necessidade de revelação de informação voluntária para o exterior (Lopes e
Rodrigues, 2007).
Por outro lado, uma maior dispersão do capital origina uma maior necessidade de
divulgação para o exterior, com o intuito de facilitar o acesso ao mercado e à
obtenção de fundos (Fernández et al., 2006).
Deste modo, utilizam-se como medida de concentração do capital as seguintes
variáveis:
● CONC 1: % de acções detidas pelos 3 principais accionistas;
● CONC 2: Variável dicotómica, assumindo o valor 1, se um accionista ou grupo
de accionistas detém mais do que 50% do capital e o valor 0 se um accionista ou
grupo de accionistas não detém mais do que 50% do capital.
Face ao exposto, a hipótese 2 define-se nos seguintes termos:
H2: O nível de informação divulgada sobre instrumentos
derivados é maior nas empresas com menor concentração de
capital.
c) Participação dos órgãos de administração e fiscalização no capital
(ADM/FISC)
O nível de participação dos órgãos de administração e fiscalização no capital
pode influenciar o valor do índice de divulgação, uma vez que, quanto maior for
a percentagem de acções detidas pelos mesmos, menor será o seu interesse em
divulgar informação relacionada com as operações levadas a cabo no mercado de
derivados (Smith e Stultz, 1985; Aggarwal e Simkins, 2004).
Assim, a participação dos órgãos de administração e fiscalização no capital é
medida pela percentagem de acções detidas pelos mesmos e a hipótese 3 define-se
da seguinte forma:
H3: O nível de informação divulgada sobre instrumentos
derivados será maior nas empresas cujos órgãos de
administração e fiscalização detêm menor percentagem de
capital.
d) Rentabilidade (RENT)
À semelhança de Fernández et. al. (2006), incluímos a variável rentabilidade
para medir a eficiência empresarial. Contudo, estes autores não obtiveram
qualquer evidência empírica da associação existente entre a variável
rentabilidade e o nível de informação sobre instrumentos derivados divulgada.
Segundo Bartram, et al. (2006), as empresas com maior rentabilidade têm menor
probabilidade de incorrer em custos financeiros e, por isso, menor
probabilidade de utilização de instrumentos derivados para efectuar cobertura
de risco.
Todavia, através de uma análise univariada, estes autores obtêm evidência
empírica da existência de uma associação positiva entre a variável
rentabilidade e a utilização de instrumentos derivados.
Do mesmo modo, Hassan et al. (2004) também comprovam a existência de uma
associação positiva entre a qualidade da informação sobre instrumentos
derivados divulgada e a rentabilidade das empresas.
Assim, a hipótese 4 define-se nos seguintes termos:
H4: o nível de informação divulgada sobre instrumentos
derivados será maior nas empresas com maior rentabilidade.
Para o efeito, utilizam-se as seguintes medidas de rentabilidade:
· Rentabilidade dos Capitais Próprios (ROE): Resultado
Líquido/Capital Próprio x 100;
· Rentabilidade do Activo (ROA): Resultado Líquido/Activo
total líquido x 100;
e) Endividamento (END)
As empresas com níveis de endividamento mais elevados têm tendência a evitar a
adopção de métodos contabilísticos que possam reduzir os resultados divulgados
ou que possam aumentar a volatilidade dos resultados (Dhaliwal, 1980).
Assim, parece-nos evidente que estas empresas tenham tendência para ocultar as
operações levadas a cabo no mercado de derivados, não só devido aos riscos
associados a estas operações, mas também devido à má fama que estes
instrumentos foram adquirindo, como resultado das diversas notícias, divulgadas
pelos meios de comunicação social, sobre perdas incorridas em operações com
instrumentos derivados.
O nível de endividamento é uma das variáveis mais utilizadas nos estudos sobre
divulgação de informação sobre instrumentos derivados (Chalmers e Godfrey,
2004; Fernández et al., 2006; Lopes e Rodrigues, 2007).
Deste modo, a hipótese 5 define-se nos seguintes termos:
H5: O nível de informação divulgada sobre instrumentos
derivados será maior nas empresas com menor nível de
endividamento.
Para medir o nível de endividamento das empresas incluídas na amostra,
utilizam-se duas medidas, conforme se segue:
● END 1 :Total de Passivo/ Total de activo x 100;
● END 2: Passivo Total/ Capital Próprio x 100
f) Directores Independentes (DI)
A percentagem de directores independentes no Conselho de Administração pode
influenciar o nível de divulgação de informação. Os directores independentes
estão mais preocupados com a manutenção da sua própria reputação e, por isso,
tenderão a tomar decisões mais de acordo com os interesses dos utilizadores
externos. Os directores internos terão mais tendência para tomar decisões que
vão de encontro aos interesses da administração (Aggarwal e Simkins, 2004).
Borokhovich et al. (2004) obtiveram evidência empírica da associação existente
entre a utilização de instrumentos derivados sobre taxas de juro e a
percentagem de directores independentes no conselho de administração,
concluindo que quanto maior for esta percentagem, maior será a utilização
daqueles instrumentos.
Assim, prevê-se que quanto maior for a percentagem de directores independentes
no Conselho de Administração maior será o nível de informação divulgada.
Deste modo, a hipótese 6 define-se da seguinte forma:
H6: o nível de informação divulgada sobre instrumentos
derivados é maior nas empresas com maior percentagem de
directores independentes.
g) Investigação & Desenvolvimento (I&D)
Hassan et. al. (2004) obtiveram evidência empírica da associação existente
entre o nível de informação divulgada e a variável Investigação &
Desenvolvimento (I&D). Assim, à semelhança daqueles autores, inclui-se a
variável I&D neste estudo para medir as oportunidades de crescimento da
empresa.
Para o efeito, utiliza-se uma variável dicotómica, que assume o valor 1, se a
empresa divulga informação relacionada com investigação e desenvolvimento, e o
valor 0, se a empresa não divulga qualquer informação relacionada com
investigação e desenvolvimento.
A hipótese 7 define-se da seguinte forma:
H7' O nível de informação divulgada sobre instrumentos
derivados é maior nas empresas que divulgam informação
sobre I&D do que nas empresas que não divulgam
informação sobre I&D.
h) Qualidade do auditor externo (AUD)
A qualidade e nível de informação divulgada nos Relatórios & Contas são
também influenciados pelo auditor externo. Espera-se, portanto, que o nível de
informação divulgada aumente com a qualidade do auditor.
As empresas de auditoria preocupam-se com a percepção que o mercado tem da sua
qualidade e com as consequências que poderão advir do facto de auditarem
empresas que não divulgam toda a informação recomendada. Assim, existe maior
probabilidade de as empresas de auditoria com maior reputação aconselharem os
seus clientes a divulgarem a informação recomendada (Chalmers e Godfrey, 2004).
Além disso, espera-se que as empresas de auditoria pertencentes às Big 4 tenham
mais experiência que lhes permita aumentar o nível de exigência na informação
divulgada pelos seus clientes.
Por outro lado, a ameaça de eventuais repercussões, originadas por perdas
resultantes de operações levadas a cabo no mercado de derivados, representa
mais um incentivo para que as empresas de auditoria com maior reputação no
mercado procurem adoptar procedimentos de auditoria adequados às operações com
aqueles instrumentos e que persuadam os seus clientes a divulgarem informação
relacionada com tais operações (Chalmers e Godfrey, 2004).
Deste modo, para medir a qualidade do auditor externo, os auditores externos
das empresas incluídas na amostra foram classificados como pertencentes às Big
4 ou não pertencentes às Big 4, dando origem a uma variável dicotómica com os
seguintes parâmetros:
1 ' pertencente às Big 4;
0 ' não pertencente às Big. 4.
Prevê-se que o nível de divulgação de informação sobre instrumentos derivados
será maior nas empresas cujo auditor externo pertence às Big 4 sendo, então,
definida a hipótese 8 nos seguintes termos:
H8' O nível de informação divulgada sobre instrumentos
derivados é maior nas empresas auditadas por uma empresa de
auditoria pertencente às Big 4 do que nas empresas
auditadas por empresas de auditoria não pertencentes às Big
4.
i) Aumento de Capital (AUMCap)
Os gestores estarão mais incentivados a aumentar o nível de divulgação de
informação quando prevêem que a informação divulgada terá um impacto positivo
no valor de emissão de um futuro aumento de capital. De facto, na opinião de
Chalmers e Godfrey (2004), uma empresa que não divulgue informação relacionada
com instrumentos derivados poderá ser penalizada quando pretender obter fundos
através de um aumento de capital.
Por outro lado, os investidores estarão em melhores condições de determinar de
forma fiável os preços de emissão dos títulos, avaliando a sua capacidade de
crescimento e comportamento no mercado, se a informação divulgada for mais
transparente (Fernández et al., 2006).
Neste sentido, utiliza-se, como medida de aumento de capital, uma variável
dicotómica, que assume o valor 1, se a empresa emitiu novas acções durante o
exercício económico em análise, e o valor 0, se a empresa não emitiu novas
acções durante o exercício.
A hipótese 9 define-se da seguinte forma:
H9' O nível de informação divulgada sobre instrumentos
derivados é maior nas empresas que emitiram novas acções no
ano corrente do que nas empresas que não emitiram novas
acções no ano corrente.
j) Existência de planos de atribuição de acções e/ou de opções de
aquisição de acções (PSA)
Segundo Bartram et al. (2006), a existência de stock options influencia a
tomada de decisão dos gestores, que se encontrarão mais avessos ao risco e,
portanto, influencia a tomada de decisões no que concerne à utilização de
instrumentos derivados.
Nesse sentido, a existência de planos de atribuição de acções ou de opções
sobre acções poderá influenciar a divulgação de informação relacionada com as
operações realizadas no mercado de derivados.
Aggarwal e Simkins (2004) concluíram pela existência de uma associação negativa
entre as duas variáveis, indicando que quanto maior for o valor das stock
options detidas pelos órgãos de administração e fiscalização, menor será a
qualidade da informação divulgada.
Segundo estes autores, os órgãos de administração e fiscalização detentores de
stock options encontrar-se-ão menos incentivados a divulgar operações levadas a
cabo no mercado de derivados devido aos riscos associados a estas operações.
Assim, construiu-se uma variável dicotómica (doravante denominada Planos sobre
Acções (PSA)), que assume o valor 1, se a empresa detém planos de atribuição de
acções ou de opções sobre acções, e o valor 0, se a empresa não detém planos de
atribuição de acções ou de opções sobre acções.
A hipótese 10 define-se nos seguintes termos:
H10' O nível de informação divulgada sobre instrumentos
derivados é maior nas empresas que não possuem planos de
atribuição de acções ou de opções sobre acções.
k) Sector económico (Fin/NFin)
Pelo facto de transaccionarem instrumentos derivados, não só em nome próprio,
mas também em nome dos seus clientes, espera-se que as empresas financeiras
apresentam maiores níveis de divulgação de informação sobre operações com
derivados.
À semelhança de Lopes e Rodrigues (2007), que concluem que as empresas
financeiras divulgam mais informação que as empresas não financeiras, incluímos
no estudo uma variável dicotómica para identificar o sector de actividade, com
os seguintes parâmetros:
1 ' a empresa é financeira;
0 ' a empresa é não financeira.
Deste modo, a hipótese 11 define-se nos seguintes termos:
H11' O nível de informação divulgada sobre instrumentos
derivados é maior nas empresas financeiras.
No Apêndice_II apresenta-se um sumário das variáveis independentes utilizadas e
das associações previstas com a variável dependente.
4.3. Tratamento estatístico dos dados
Para identificar os factores que, de acordo com as hipóteses anteriormente
formuladas, explicam o nível de divulgação de informação sobre instrumentos
derivados, procedeu-se a uma análise univariada e multivariada mediante a
utilização do programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences '
Versão 16 para Windows). No âmbito da análise univariada, de modo a analisar a
relação existente entre cada variável independente anteriormente apresentadas e
o ID, aplicaram-se os testes estatísticos mais adequados, tendo por base um
nível de significância de 5%, dependendo se as variáveis definidas para
explicar o ID são variáveis quantitativas ou variáveis dicotómicas (dummy).
Assim, tendo em conta que a variável dependente é uma variável quantitativa, os
testes estatísticos a aplicar serão os seguintes:
- se os dados seguem uma distribuição normal, aplica-se o teste T
para comparação de médias em duas amostras independentes ou o
Coeficiente de Correlação de Pearson, conforme as variáveis
explicativas se classifiquem em variáveis dummy ou quantitativas,
respectivamente;
- se os dados não seguem uma distribuição normal, aplica-se o teste
não paramétrico de Mann-Whitney ou o Coeficiente de Correlação de
Spearman, conforme as variáveis explicativas se classifiquem em
variáveis dummy ou quantitativas, respectivamente.
No âmbito da análise multivariada (que visa verificar se as variáveis
independentes explicam conjuntamente o nível de divulgação de informação sobre
instrumentos derivados) foi elaborado um modelo de regressão linear múltipla
que utiliza como variável dependente o ID e, como variáveis independentes, os
potenciais factores determinantes do nível de divulgação de informação sobre
instrumentos derivados referidos anteriormente.
5. Análise e discussão dos resultados
5.1. Divulgação de informação sobre instrumentos derivados ' análise descritiva
Da análise aos Relatórios & Contas das empresas consideradas na amostra,
verifica-se que 57% das empresas apresenta informação sobre a utilização de
instrumentos derivados (conforme quadro 4).
Quadro 4 ' Divulgação de Informação sobre Instrumentos Derivados
N.º de Empresas
Divulga 28 57%
Não divulga 21 43%
49 100%
O número de empresas que divulga informação relativa a cada uma das categorias
consideradas no ID apresenta-se no quadro seguinte (quadro 5):
Quadro 5 ' Tipo de Informação Divulgada
% sobre o % sobre o
Tipo de Informação Divulgada N.º de total das total das
Empresas empresas empresas
divulgadoras
Políticas Contabilísticas 27 57,45% 96,43%
Informação específica sobre riscos 22 55,00% 78,57%
Operações que não se qualificam como de
cobertura 10 25,00% 35,71%
Cobertura - Informações Gerais 22 55,00% 78,57%
Cobertura de Fluxos de Tesouraria 4 10,00% 14,29%
Cobertura de Justo Valor 3 7,50% 10,71%
Cobertura de investimentos em entidades
estrangeiras 4 10,00% 14,29%
Justo Valor 14 35,00% 50,00%
Conforme se verifica pela análise do quadro, apenas uma das empresas
divulgadoras não apresenta informação acerca das políticas contabilísticas
adoptadas na contabilização de instrumentos derivados. Cerca de 79% das
empresas divulgadoras apresenta informação específica sobre riscos e
informações gerais sobre operações de cobertura de risco. Catorze empresas
(50%) apresentam informações relacionadas com o justo valor. Dez empresas (36%)
divulgam informação relativa a operações que não se qualificam como de
cobertura de risco, 11% das empresas informa acerca de operações de cobertura
de justo valor e 14% das empresas informa acerca de operações de cobertura de
investimentos em entidades estrangeiras e de cobertura de fluxos de tesouraria.
Tendo em consideração que, no exercício económico em análise, a maior parte das
empresas não respeitavam as disposições da NIC 39
[14]
, é natural que a informação relativa a operações de cobertura de risco não se
encontre discriminada por tipo de cobertura.
Por outro lado, tal como salientam Hausin et al. (2008), a implementação de uma
norma de contabilidade pode ser entendida como um processo de aprendizagem,
esperando-se que o nível de divulgação de informação venha a aumentar ao longo
dos anos (assim como a qualidade da informação apresentada).
Fazendo corresponder a cada categoria de informação um índice de divulgação,
foram calculados os valores máximos, mínimos e médios tanto para o ID global
como para cada um dos índices de divulgação considerados, conforme consta do
quadro 6:
Quadro 6 ' Medidas Estatísticas sobre o ID
Máximo Mínimo Média do total das Média das empresas
empresas divulgadoras
Índice de Divulgação (ID) 0,68571 0,02857 0,15802 0,27653
ID 1 - Políticas Contabilísticas 0,83000 0,00000 0,28230 0,49400
ID 2 - Informação específica sobre riscos 1,00000 0,00000 0,21570 0,37760
ID 3 - Operações que não se qualificam como de
cobertura 1,00000 0,00000 0,20410 0,35710
ID 4 - Cobertura - Informações Gerais 1,00000 0,00000 0,26530 0,46430
ID 5 - Cobertura de Fluxos de Tesouraria 0,29000 0,00000 0,01750 0,03060
ID 6 -Cobertura de Justo Valor 1,00000 0,00000 0,05100 0,08930
ID 7 - Cobertura de investimentos em entidades
estrangeiras 0,67000 0,00000 0,04080 0,07140
ID 8 - Justo Valor 0,50000 0,00000 0,11220 0,19400
Verifica-se que nenhuma das empresas apresenta toda a informação considerada no
ID. O valor médio do ID, no total das empresas, é de 0,15802 e de 0,27653, se
consideradas apenas as empresas divulgadoras. O valor máximo de divulgação de
informação sobre instrumentos derivados é apresentado pela EDP, atingindo um
valor de 0,6857 no ID, e o valor mínimo é apresentado pela empresa Modelo-
Continente, SGPS, atingindo um valor de 0,02857.
No que respeita a cada um dos sub-índices, aquele que apresenta valor médio
mais elevado é o ID1 (igual a 0,49400
[15]
, indicando que as empresas se preocupam em fornecer informação relacionada com
as políticas contabilísticas adoptadas no tratamento das operações com
instrumentos derivados, seguido do ID 4, relativo às operações de cobertura,
indicando que as empresas portuguesas utilizam os instrumentos derivados para
efectuarem coberturas de risco e divulgam informação relacionada com as
operações de cobertura efectuadas.
Verifica-se, contudo, que, relativamente aos Índices de Divulgação 2, 3, 4 e 6,
existem empresas que divulgam sobre a totalidade dos itens considerados nessas
categorias (valor máximo=1), embora, para todos os sub-índices considerados, o
valor mínimo seja igual a zero.
5.2. Factores determinantes do nível de divulgação de informação sobre
instrumentos derivados
5.2.1. Análise univariada
Com o objectivo de verificar a relação existente entre as variáveis
independentes apresentadas anteriormente e a variável dependente Índice de
Divulgação (ID), efectuou-se uma análise univariada através do programa SPSS.
Deste modo, em relação às variáveis dummyforam comparados os níveis médios do
ID em duas amostras independentes (que variam consoante as categorias definidas
para as variáveis dummy) determinando se as diferenças observadas eram
estatisticamente significativas e em conformidade com as hipóteses formuladas.
Em relação às variáveis quantitativas, procurou testar-se a existência de uma
correlação significativa com o ID.
No entanto, a análise univariada requer que previamente se verifique a
normalidade ou não dos dados, a fim de identificar os testes estatísticos,
paramétricos ou não paramétricos, a aplicar.
No que respeita às variáveis dummy, da aplicação dos testes à normalidade
resultou a rejeição da hipótese de normalidade para todas as variáveis dummy
independentes consideradas, pelo que é aplicável o teste de Mann-Whitney, cujos
resultados constam do quadro 7.
Quadro 7 ' Resultados dos testes de Mann-Whitney
Mann-Whitney
N Média U Z Sig.
CONC 2 Sim 32 21,05(R1)
Não 12 26,38(R2) 145,500 -1,28 0,201
I&D Sim 21 26,55(R3)
Não 28 23,84(R4) 261,500 -0,68 0,494
AUD Sim 33 28,36(R5)
Não 16 18,06(R6) 153,000 -2,47 0,014
AUMCap Sim 10 28,65(R7)
Não 38 23,41(R8) 148,500 -1,10 0,271
PSA Sim 16 32,31(R9)
Não 32 20,59(R10) 131,000 -2,86 0,004
Fin/NFin Sim 7 39,79(R11)
Não 42 22,54(R12) 43,500 -3,08 0,002
Verifica-se a existência de associação entre a variável Índice de Divulgação e
as variáveis AUD, PSA e Fin/NFin, podendo concluir-se que, em média, o valor do
índice será maior para as empresas cujo auditor externo pertence às Big 4 (R5
>R6), para as empresas que possuem planos sobre acções (R9 >R10) e para as
empresas financeiras (R11>R12).
No que concerne à variável PSA, os resultados obtidos são contrários ao
esperado, uma vez que se conclui que o nível de divulgação aumenta nas empresas
que possuem planos sobre acções, indicando, ao contrário do previsto, que os
órgãos de administração e fiscalização destas empresas (detentores de opções
sobre acções) não receiam divulgar informação acerca das operações levadas a
cabo no mercado de derivados. Pelo contrário, o resultado obtido sugere que a
utilização destes instrumentos leva a um aumento de divulgação.
No que respeita às variáveis quantitativas, os testes à normalidade revelaram
que as variáveis TAM, DI, CONC1 e END1 seguem uma distribuição normal, pelo que
foi aplicado o coeficiente de correlação de Pearson. Em relação às demais
variáveis quantitativas foi rejeitada a hipótese de normalidade sendo aplicável
o coeficiente de correlação de Spearman.
Nos quadros 8 e 9 seguintes apresentam-se os resultados dos coeficientes de
correlação de Pearson e de Spearman para as variáveis quantitativas.
Quadro_8 ' Coeficiente de correlação R de Pearson
ID TAM CONC 1 END 1 DI
ID 1,000 0,668** -0,212 0,086 0,044
0,000 0,183 0,591 0,785
TAM 0,668** 1,000 -0,175 0,083 -0,500
0,000 0,273 0,606 0,755
CONC 1 -0,212 -0,175 1,000 -0,024 0,109
0,183 0,273 0,881 0,496
END 1 0,086 0,083 -0,024 1,000 0,220
0,591 0,606 0,881 0,167
DI 0,044 -0,500 0,109 0,220 1,000
0,785 0,755 0,496 0,167
**A correlação é significativa a um nível de 0,01.
Quadro_9 ' Coeficiente de Correlação Ró de Spearman
ID ADM/FISC ROA ROE END 2
ID 1,000 -0,204 0,098 0,308 0,381*
0,220 0,560 0,060 0,018
ADM/FISC -0,204 1,000 -0,361* -0,329* 0,081
0,220 0,026 0,044 0,630
ROA 0,098 -0,361* 1,000 0,817** -0,284
0,560 0,026 0,000 0,084
ROE 0,308 -0,329* 0,817** 1,000 0,086
0,060 0,044 0,000 0,608
END 2 0,381* 0,081 -0,284 0,086 1,000
0,018 0,630 0,084 0,608
*A correlação é significativa a um nível de 0,05
**A correlação é significativa a um nível de 0,01
Dos resultados obtidos conclui-se as variáveis independentes TAM e END 2,
apresentam uma correlação positiva com a variável ID, constituindo, portanto,
factores explicativos do nível de divulgação de informação sobre instrumentos
derivados.
Face ao exposto, pela análise univariada pode, portanto, concluir-se que as
variáveis tamanho, endividamento, qualidade do auditor externo, existência de
planos sobre acções e sector de actividade (financeiro/não financeiro) são
factores explicativos do nível de divulgação de informação sobre instrumentos
derivados.
Estes resultados são consistentes com os resultados obtidos por:
- Chalmers e Godfrey (2004) que, na análise univariada, também
encontram uma associação estatisticamente significativa entre o nível
de informação voluntária divulgada e o tipo de auditor externo;
- Lopes e Rodrigues (2007) que também obtêm evidência empírica de
uma associação entre a variável índice de divulgação e as variáveis
sector de actividade e nível de endividamento;
- Hassan et al (2004) e Fernández et al (2006) que concluem que o
nível de endividamento é um factor determinante do nível de
divulgação.
Por outro lado, os nossos resultados não são consistentes com os resultados
obtidos por Aggarwal e Simkins (2004), que obtiveram evidência empírica da
associação entre a informação divulgada e a existência de stock optionsdetidas
pelos órgãos de administração, contudo, obtêm uma associação negativa entre as
duas variáveis, indicando que quanto maior for o valor das stock options
detidas por aqueles órgãos, menor será a qualidade da informação divulgada.
5.2.2. Análise multivariada
A fim de complementar os resultados obtidos na análise univariada, procurou
verificar-se se as relações enunciadas se mantêm no âmbito da análise
multivariada. Para o efeito, desenvolveu-se um modelo de regressão linear
múltipla, em consonância com as hipóteses formuladas, considerando como
variável dependente o Índice de Divulgação, e que se expressa da seguinte forma
(quadro 10):
Quadro 10 ' Modelo de regressão linear múltipla
Uma das condições para que se possa efectuar uma análise de regressão linear
múltipla é a de independência das variáveis explicativas
[16]
, ou seja, a sua não multicolinearidade. Conforme se verifica, pela análise dos
quadros 8 e 9, as únicas variáveis independentes que se correlacionam entre si
são as variáveis ROE e ROA, ADM/FISC e ROA e ADM/FISC e ROE.
Uma vez que se verifica a existência de correlação entre as variáveis ROE e
ROA, indicando a possibilidade de multicolinearidade entre as variáveis
[17]
, foi excluída do modelo de regressão a variável ROA, sendo a rentabilidade
medida apenas pela variável ROE
[18]
.
Por outro lado, uma vez que, na análise univariada se obteve evidência empírica
de uma associação entre a variável dependente ID e a variável independente
END2, incluiu-se esta variável no modelo para medir o nível de endividamento
[19]
.
Na estimação do modelo de regressão, foi utilizado o método de stepwise
[20]
, tendo-se obtido os resultados constantes nos quadros seguintes:
Quadro_11 ' Resultados do Modelo de Regressão Linear
Coeficiente
Modelo Coeficiente não Stand. Stand. t sig.
B Erro St.
1 Constante -0,118 0,229 -4,882 0,000
TAM 0,063 0,011 0,698 5,689 0,000
Quadro_12 ' Resultados da ANOVA
ANOVA
Soma dos Média dos
Modelo quadrados df quadrados F Sig.
R2 =
1 0,488 Regression 0,681 1 0,6810 32,3700 0,00000
R Ajust.
= 0,473 Residual 0,714 34 0,0210
Total 1,396 35
Conforme se verifica, pela análise dos quadros, a primeira e última variável
que entra no modelo é a variável tamanho, que explica 48,8% (valor do R2) do
ID.
Estes resultados estão de acordo com os resultados obtidos na análise
univariada, onde já se havia concluído pela existência de uma associação
positiva entre a variável ID e a variável TAM.
Contudo, ao contrário do que seria de esperar na sequência dos resultados
obtidos na análise univariada, a variável qualidade do auditor externo, o nível
de endividamento, o sector de actividade e a existência de planos sobre acções
não são factores explicativos do ID no modelo de regressão linear múltipla.
Assim, o modelo final estimado pode expressar-se da seguinte forma:
O valor do ID aumenta à medida que também aumenta o tamanho da empresa.
O nível de significância do teste t (constante do quadro_11) permite confirmar
a existência de uma relação linear entre a variável explicativa e a variável
dependente, concluindo-se que a variável TAM tem poder explicativo no valor do
ID.
O nível de significância do teste F (constante no quadro_12) permite validar o
modelo em termos globais e concluir que o modelo estimado se mostra adequado
para descrever a relação existente entre as variáveis explicativas e a variável
dependente.
Chalmers e Godfrey (2004), Hassan et al. (2004), Fernández et al. (2006) e
Lopes e Rodrigues (2007) também obtiveram evidência empírica da associação
existente entre o valor do índice de divulgação e o tamanho da empresa.
Contudo, ao contrário dos resultados obtidos por Chalmers e Godfrey (2004), os
nossos resultados não evidenciam qualquer associação entre o nível de
informação divulgada e o facto de a empresa ter efectuado um aumento de capital
no ano corrente.
Por outro lado, os nossos resultados não são consistentes com os resultados
obtidos por:
- Hassan et al. (2004) e Fernández et al. (2006), que obtiveram
evidência empírica da associação entre a informação divulgada e o nível de
endividamento;
- Aggarwal e Simkins (2004), que concluíram pela associação negativa
com a percentagem de directores independentes e com a existência de stock
options;
- Lopes e Rodrigues (2007), que obtiveram evidência empírica da
associação com o tipo de auditor externo e o sector de actividade;
6. Conclusões
A obrigatoriedade de adopção do normativo do IASB, por parte das empresas
cotadas em bolsa, veio impor um nível mais exigente no relato das operações com
aqueles instrumentos.
Prevendo essa obrigatoriedade, as empresas portuguesas foram incluindo, nos
seus Relatórios & Contas relativos ao exercício de 2004, informação sobre
as operações efectuadas no mercado de derivados.
O valor médio do índice de divulgação, considerando apenas as empresas
divulgadoras, é de de 0,27653, indicando que as empresas portuguesas revelam
informação muito escassa relativa às operações com instrumentos derivados.
No que concerne aos factores explicativos do ID, concluiu-se, através da
análise univariada, que as variáveis tamanho, qualidade do auditor externo,
nível de endividamento, existência de planos sobre acções e o sector de
actividade (financeiro/não financeiro) são factores que influenciam o nível de
divulgação de informação sobre instrumentos derivados.
Finalmente, no âmbito da análise multivariada concluiu-se que o factor
explicativo do nível de informação divulgada é o tamanho da empresa, indicando
que o valor do índice aumenta à medida que também aumenta o tamanho da empresa.