Livros de Horas: O imaginário da devoção privada
VARIA
Livros de Horas. O imaginário da devoção privada.
Delmira Espada Custódio; Maria Adelaide Miranda*
*Universidade Nova de Lisboa, Instituto de Estudos Medievais 'FCSH/UNL, 1069-
061 Lisboa, Portugal. E-mail:mmac@fcsh.unl.pt;_delmiraespada@gmail.com
Livros de Horas. O imaginário da devoção privada é um projecto conjunto do
Instituto de Estudos Medievais (IEM) e da Biblioteca Nacional de Portugal
(BNP), com a colaboração do Centro de Estudos Históricos (CEH) e do
Departamento de Conservação e Restauro da Universidade Nova de Lisboa. A
iniciativa, coordenada por Maria Adelaide Mirada e Delmira Espada Custódio,
levou à realização de vários eventos: uma exposição (de 14 de Novembro de 2013
a 16 de Fevereiro de 2014) com visitas guiadas temáticas, um colóquio
internacional (13 e 14 de Fevereiro de 2014) e a edição de um catálogo
(prevista para Novembro de 2014) onde será apresentado o ponto de situação das
investigações que suportaram esta iniciativa.
A exposição compreendia dois núcleos, Livros de Horas manuscritos e impressos e
uma mostra de arte contemporânea. No hall, o visitante era acolhido pela mostra
Ana Luísa Ribeiro, Adenda-Pinturas da série Books of ours, onde a artista,
revisitando a produção artística do século XV, propunha, através das suas
obras, um olhar contemporâneo sobre o imaginário da devoção privada. Da
apropriação que fez dos Livros de Horas medievais, destaca-se um conjunto de 12
telas, Calendário, em que a pintora propõe novas formas de celebrar o tempo.
No Museu do Livro, estiveram expostos 24 Livros de Horas iluminados,
pertencentes aos acervos da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) e da
Biblioteca Pública de Évora (BPE) e um número significativo de livros de horas
impressos (pertencentes à colecção da BNP), cuja importância justificava, há
muito, o seu estudo e respectiva divulgação.
A exposição dos Livros de Horas foi estruturada de acordo com as suas
principais secções e respectivos programas iconográficos: Calendário, Perícopes
evangélicas, Horas da Cruz, Horas do Espírito Santo, Horas da Piedade e do
Sacramento, Horas da Virgem, Orações várias, Salmos Penitenciais e Ofício dos
Defuntos. Incluía também três núcleos temáticos: o primeiro - Oras de Nossa
senhora santa maria per lymgoagem -, dando início à mostra, apresentava dois
códices manuscritos produzidos em Portugal, de que destacamos o iluminado 4, de
elevado valor documental, por ser o único exemplar conhecido totalmente escrito
em português; o segundo núcleo, composto pelas duas últimas vitrinas, foi
dedicado ao estudo da cor, principais fenómenos de degradação, técnicas e
materiais assim como processos de conservação; o terceiro, localizado na zona
central, reuniu os principais instrumentos de descrição e documentação de
arquivo, dando conta do percurso e história dos códices em contexto
institucional.
Da exposição salientamos ainda a presença de uma reprodução, à escala, da
Virgem do Leite, pintada por Frei Carlos nas primeiras décadas do século XVI,
que colocou em evidência a transversalidade das diferentes formas de expressão
artística e a repercussão que estes pequenos códices tiveram nos artistas
coevos.
O Colóquio Internacional, que encerrou a exposição, contou com um elevado
número de contribuições nacionais e estrangeiras. Logo a abrir o primeiro dia,
Roger Wieck, curador da colecção de manuscritos medievais e renascentistas da
Pierpont Morgan Library de Nova Iorque, fez uma introdução aos manuscritos da
exposição com o sugestivo título "Whispers from the Vault: A Portuguese
Collectio of Books of Hours Reveals Its Secrets".Os contributos de Dominique
Vanwijnsberghe (Royal Institute for Cultural Heritage - Brussels) - numa
abordagem geral - e Delmira Espada Custódio (FCSH-UNL/IEM) - centrada nos casos
concretos das colecções -, apresentaram um quadro de estudo já bastante
desenvolvido em torno dos Livros de Horas flamengos e Maria Adelaide Miranda
(FCSH-UNL/IEM) abriu a discussão em torno dos dois exemplares manuscritos
produzidos em Portugal. A equipa dos Reservados da BNP fez um balanço da
investigação, ainda em curso, que permitirá delinear o percurso destes códices
dentro das instituições detentoras da sua tutela, com base na identificação e
tratamento de fontes documentais.
O contexto histórico e artístico do Portugal do século XV ficou a cargo,
respectivamente, de Bernardo Vasconcelos e Sousa (FCSH-UNL/IEM) e Luís Afonso
(FL-UL/IHA). Os aspectos devocionais e a importância do livro na cultura desta
centúria foram abordados nas comunicações de Aires Augusto Nascimento (FL-UL/
CEC), Maria de Lurdes Rosa (FCSH-UNL/IEM) e Joana Ramôa Melo (FCSH-UNL/IHA). A
materialidade dos Livros de Horas manuscritos foi debatida numa mesa redonda
constituída por uma equipa interdisciplinar integrada por Maria João Melo (FCT-
UNL), Ana Lemos (FCSH-UNL/IEM), Conceição Casanova (FCT-UNL) e Rita Araújo
(FCT-UNL).
Os contributos internacionais de Brenda Dunn-Lardeau (Université du Québec à
Montréal), Ragnhild Boe (University of Oslo) e Fernando Villaseñor Sebastián
(Universidad de Cantabria) versaram essencialmente sobre projectos específicos
relacionados com esta tipologia de Livro e por último os contributos de Sylvie
Deswarte-Rosa (Centre National de la Recherche Scientifique) e João Alves Dias
(FCSH-UNL/CEH) incidiram sobre os exemplares impressos.
COMO CITAR ESTE ARTIGO
Referência electrónica:
CUSTÓDIO, Delmira Espada; MIRANDA, Maria Adelaide ' Livros de Horas. O
imaginário da devoção privada. Medievalista [Em linha]. Nº16 (Julho - Dezembro
2014). [Consultado dd.mm.aaaa]. Disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/iem/
medievalista/MEDIEVALISTA16\