Solução do problema de localização de máxima disponibolidade utilizando o
modelo hipercubo
1. Introdução
Problemas de localização no setor público podem ser classificados em duas
categorias: localização de serviços não-emergenciais e localização de serviços
de emergência. Na primeira categoria estão incluídos a localização de escolas,
agências de correio, de alguns serviços de saúde pública e mesmo de serviços
relacionados ao meio-ambiente, como suprimento de água e instalações para o
depósito de lixo. A categoria de serviços de emergência inclui por exemplo a
localização de hospitais, de serviços de atendimento de emergência por
ambulâncias e de estações do corpo de bombeiros. As medidas de utilidade a
serem otimizadas são diferentes para as duas categorias.
Na localização de serviços de emergência busca-se em geral prover cobertura a
áreas de demanda. A noção de cobertura implica na definição de uma distância
(tempo)de serviço, que é a distância(tempo)críticaalém da qual a área de
demanda é considerada não coberta. Uma área de demanda é portanto considerada
coberta se está a menos da distância crítica de pelo menos uma das facilidades
(servidores) existentes.
Os primeiros modelos a serem desenvolvidos para a localização de serviços de
emergência foram modelos determinísticos. O mais simples dos modelos
matemáticos existentes para problemas de localização com restrições de
cobertura determinísticos é o correspondente ao Problema de Localização para a
Cobertura de Conjuntos(PLCC), que consiste na determinação do número mínimo de
facilidades e de sua localização, de tal forma que cada área de demanda esteja
a menos da distância crítica de pelo menos uma das facilidades localizadas.
Muitas vezes atingir a cobertura total para uma dada região, como no PLCC, pode
tornar-se inviável do ponto de vista econômico, no sentido que o número de
facilidades necessárias pode não ser compatível com os recursos disponíveis.
Usualmente busca-se uma solução de compromisso, que proporcione níveis de
cobertura aceitáveis e seja financeiramente mais acessível. O Problema de
Localização de Máxima Cobertura(PLMC).foi desenvolvido por Church & ReVelle
(1974) com este propósito. Neste caso o objetivo é localizar um número pré-
especificado de facilidades (digamos mfacilidades), compatível com os recursos
disponíveis, tal que a máxima população possível de uma dada região seja
coberta a menos de uma distância crítica Spredefinida.
Uma desvantagem dos modelos determinísticos descritos acima é que eles partem
da hipótese que os servidores estão disponíveis quando solicitados, o que nem
sempre é razoável em aplicações práticas. Em sistemas não congestionados, com
pouca demanda, a hipótese é razoável, mas em sistemas congestionados, nos quais
chamadas freqüentes mantêm por exemplo ambulâncias na rua 20% a 30% do tempo, a
hipótese é totalmente injustificada. O congestionamento em serviços de
atendimento de emergência, que pode causar a indisponibilidade de um servidor
quando solicitado, foi um dos fatores que motivou o desenvolvimento dos modelos
de localização probabilísticos.
Uma revisão bibliográfica detalhada de problemas de localização probabilísticos
é apresentada por Owen & Daskin (1998). Swersey (1994) examina também
alguns modelos probabilísticos. Chiyoshi et al. (2000) analisam o uso do modelo
hipercubo em modelos probabilísticos. Na modelagem probabilística de serviços
de emergência algumas hipóteses simplificadoras permitem o uso da programação
matemática. Situações em que hipóteses simplificadoras não são aplicáveis
conduzem, no entanto, ao tratamento desses problemas através da teoria das
filas.
O modelo hipercubo de Larson (1974, 1975), examinado na Seção 2 deste artigo,
possibilita a utilização da teoria das filas em modelos de localização
probabilísticos. O modelo hipercubo é um modelo descritivo, que permite o
cálculo de medidas de desempenho que caracterizam um dado sistema com base em
filas espacialmente distribuídas. Aplicado de forma isolada não assegura a
solução direta de problemas de localização, sendo no máximo uma ferramenta que
pode ser aplicada ao estudo de diversos cenários. Este modelo tem sido no
entanto embutido por alguns autores em métodos heurísticos desenvolvidos para
resolver problemas de localização probabilísticos, ver por exemplo Batta et al.
(1989).
Modelos de localização probabilísticos definidos na década de 80 incluem o
Problema de Máxima Cobertura Esperada(PMCE), definido por Daskin (1983) e o
Problema de Localização de Máxima Disponibilidade(PLMD), que é derivado do
PLMC, seu equivalente determinístico. O PLMD, introduzido por ReVelle &
Hogan (1989), busca localizar mservidores tal que o máximo número de chamadas a
um serviço de emergência tenha um servidor disponível a menos da distância
crítica Scom confiabilidade a . Ou seja, deseja-se que uma chamada a um serviço
de emergência encontre um servidor disponível a menos da distância S com
probabilidade P > a, sendo a um valor predefinido.
O PLMD foi apresentado por ReVelle e Hogan em duas versões, ambas incorporando
hipóteses simplificadoras, que permitem definir uma formulação determinística
equivalente para o mesmo. As duas versões diferem na maneira pela qual a fração
do tempo em que os servidores estão ocupados é calculada. A primeira versão,
PLMDI, parte da hipótese que todos os servidores têm a mesma taxa de ocupação,
igual à taxa de ocupação média do sistema, r. Já na segunda versão, PLMDII,
calcula-se de forma diferenciada a fração do tempo em que os servidores estão
ocupados, com valores específicos para diferentes setores da região geográfica
em consideração.
Neste trabalho apresentamos uma extensão do PLMD definido por ReVelle &
Hogan (1989), na qual as taxas de ocupação são calculadas por servidor,
utilizando o modelo hipercubo. A solução do modelo é obtida por um método
heurístico de substituição de vértices, desenvolvido originalmente por Teitz
& Bart (1968) para o problema das p-medianas. Por este método busca-se
achar configurações alternativas que melhorem o valor da função objetivo do
problema. Para cada configuração considerada é necessário resolver o modelo
hipercubo, para que o valor da máxima cobertura com confiabilidade a
correspondente possa ser calculado. A heurística de substituição de vértices
prossegue até que nenhuma troca simples de localização de servidores (mudança
de localização de um único servidor) produza uma melhora no valor da máxima
cobertura com confiabilidade a.
O trabalho está organizado da seguinte forma. Na Seção 2 são apresentados o
PLMDdesenvolvido por ReVelle & Hogan (1989), algumas considerações sobre o
modelo hipercubo e a relaxação de algumas hipóteses básicas do PLMD, que gera
uma extensão do PLMDincorporando o modelo hipercubo. Na Seção 3 é apresentado o
método heurístico de substituição de vértices para a solução do PLMD
estendido,.com taxas de ocupação calculadas por servidor através do modelo
hipercubo. Resultados computacionais são apresentados na Seção 4, o que é
seguido pelas Conclusões (Seção 5).
2. Problema de Localização de Máxima Disponibilidade
Conforme já dito, o PLMD definido por ReVelle & Hogan(1989) foi apresentado
em duas versões, que diferem na maneira pela qual a fração do tempo em que os
servidores estão ocupados é calculada. A primeira versão, PLMDI, parte da
hipótese que todos os servidores têm a mesma taxa de ocupação, igual à taxa de
ocupação média do sistema,r. Já na segunda versão, PLMDII, calcula-se de forma
diferenciada a fração de tempo em que os servidores estão ocupados, com valores
específicos para diferentes setores da região geográfica em consideração.
Note que a definição de taxas de ocupação específicas para diferentes regiões
geográficas em PLMDII não é equivalente a definir taxas de ocupação por
servidor, nem permite o cálculo de tais taxas, o que exigiria que o modelo
hipercubo fizesse parte do método de solução; isto não foi considerado por
ReVelle e Hogan em seu desenvolvimento. Assim, embora a utilização de taxas de
ocupação específicas para cada região represente um avanço em relação à
hipótese simplificadora de PLMDI, PLMDII também incorpora hipóteses
simplificadoras. No que se segue mostraremos a obtenção de uma formulação de
programação matemática para PLMDI. O modelo matemático correspondente a
PLMDIInão será.analisado neste trabalho.
2.1 Formulação Matemática de PLMDI
Em PLMDI,r, a fração do tempo em que os servidores estão ocupados, é estimada
através de uma fórmula desenvolvida por Daskin (1982). Sejam fj o número de
chamadas por dia originadas na área de demanda jÎ Je
a duração média do atendimento a uma chamada, medida em horas.
Então r pode ser calculada por
isto é, a fração ocupada de cada servidor é calculada como sendo a divisão do
número médio de horas de serviço necessárias por dia no sistema pelo número de
horas diárias disponíveis, levando-se em conta que serão localizados m
servidores.
Sejam I(|I) o conjunto de locais onde servidores podem ser localizados;
aij=1 se a área de demanda j está a menos da distância crítica Sde um local iÎ
I(aij=0 caso contrário); yi=1 se um servidor for localizado em iÎ I(yi=0 caso
contrário). A restrição de que pelo menos um servidor deve estar disponível a
menos de Sde uma área de demanda jÎ J,.com probabilidade maior ou igual a a,
pode ser escrita da seguinte forma:
onde aijyi é o número de servidores
disponíveis a menos de Sda área de demanda jÎ J. Ou, tomando logaritmos, [/img/
revistas/pope/v23n1/a06img03.gif] aijyi > d, onde d=[/img/revistas/pope/v23n1/
a06img04.gif], <formula/> denotando o menor
inteiro maior ou igual a t.
Da expressão linear equivalente obtida para a restrição probabilística é
possível notar que cada área de demanda jÎ Jexige a presença de pelo menos
dservidores disponíveis a menos da distância crítica Spara que seja assegurada
uma cobertura da mesma com confiabilidade a. Portanto, para maximizar o número
de chamadas atendidas por um serviço de confiabilidade a, é necessário
maximizar o número de chamadas com pelo menos dservidores disponíveis a menos
da distância S.
Seja a variável xjk Î {0,1} tal que xjk = 1 se a área de demanda jtem pelo
menos kservidores a menos S, xjk = 0 caso contrário. A expressão [/img/
revistas/pope/v23n1/a06img06.gif] xjkrepresenta o número de vezes que a área de
demanda jÎ Jé coberta a menos de S. É finalmente possível escrever a seguinte
expressão, que conta o número de coberturas disponíveis para cada área de
demanda jÎ Jcom confiabilidade a: <formula/> xjk<
<formula/> aijyi, j Î J.Para maximizar o número de
chamadas cobertas com confiabilidade a devemos maximizar [/img/revistas/pope/
v23n1/a06img09.gif]f jxjd. A formulação matemática de PLMDI pode ser finalmente
escrita da seguinte forma:
As restrições (3) asseguram que uma área de demanda jÎ Jtem cobertura com
confiabilidade a se existirem pelo.menos dservidores a menos de Sda mesma. Já
as restrições (4) expressam o fato que para uma área de demanda ser coberta por
kservidores ela tem que ser coberta por pelo menos (k-1) servidores, para 2 <
k< d. As restrições (5) estabelecem que m servidores devem ser localizados,
enquanto as restrições (6) definem a natureza binária das variáveis de decisão.
ReVelle & Hogan (1989) resolveram o PLMD para dados do sistema de combate a
incêndios da cidade de Baltimore, nos Estados Unidos. Esses dados consistem de
207 áreas de planejamento, com a freqüência média de chamadas por unidade de
tempo conhecida para cada área. Eles analisaram a localização de ambulâncias
nesse sistema, com uma ou mais ambulâncias podendo ser localizadas em cada uma
das 31 estações do corpo de bombeiros existentes na região em estudo. Para
resolver o problema os autores utilizaram o "pacote" de programação
matemática MPSX. em um micro computador IBM AT/370. Infelizmente, no entanto,
não são fornecidos detalhes dos resultados computacionais obtidos, o que impede
uma avaliação mais acurada da metodologia utilizada.
2.2 O Modelo Hipercubo
O modelo hipercubo é um modelo desenvolvido por Larson (1974) para descrever
sistemas de filas em que as demandas por serviço ocorrem distribuídas no espaço
e os atendimentos requerem os deslocamentos das unidades prestadoras de serviço
até o local da demanda. Dentre várias características que lhe são peculiares,
duas são mais importantes para distinguir o modelo hipercubo dos modelos
convencionais de filas. A primeira refere-se ao fato de que se supõe que a área
de demanda está dividida em átomos, cada um com demanda específica. A segunda
refere-se a que a operação do sistema faz-se através de uma política de
despachos em que se define a priori, para cada átomo de demanda, uma ordem de
prioridades do uso das unidades de serviço, de modo que o atendimento de uma
chamada originada em um dado átomo é feito pela unidade de maior prioridade que
estiver livre.
Para descrever o modelo hipercubo não basta especificar o número de servidores
ocupados como nos modelos convencionais de fila: é necessário conhecer a
situação de cada servidor individualmente. Para tanto utiliza-se uma variável
binária associada a cada servidor, com os valores 0 e 1 representando os
estados "livre" e "ocupado" do servidor, respectivamente.
Desta forma, no caso mais simples de um modelo hipercubo com m servidores que
não comporta fila de espera, os estados do sistema seriam representados por um
vetor de variáveis binárias {b1,b 2,...,bm}, onde be indica o estado atual do
servidor e. Observe-se que os estados do sistema de m servidores são
representados pelos vértices de um hipercubo unitário no espaço m-dimensional,
sendo este o fato que dá o nome ao modelo.
Para resolver o modelo hipercubo parte-se das hipóteses que as demandas
(chegadas a cada átomo do sistema) têm distribuições de Poisson e que os tempos
de serviço têm distribuições exponenciais. Sob tais hipóteses constrói-se as
equações de equilíbrio em torno de cada estado do sistema, obtendo-se um
sistema de 2m equações lineares cuja solução produz as probabilidades de
equilíbrio associadas aos estados do sistema. Essas probabilidades por sua vez
permitem determinar as principais características operacionais do modelo, em
particular as taxas de ocupação dos servidores. Esta forma de resolver o modelo
hipercubo, conhecida na literatura como "método exato", apresenta o
inconveniente de envolver a solução de um sistema linear de 2m equações, com um
custo computacional que pode tornar-se proibitivo mesmo para valores moderados
de m.
Como alternativa ao método exato, de questionável eficiência computacional,
Larson (1975) desenvolveu um método aproximado computacionalmente mais
eficiente, por envolver um sistema não-linear de apenas m equações em que as
incógnitas são as taxas de ocupação dos servidores. As equações são construídas
a partir da relação que existe entre a taxa total de despachos de um servidor e
sua taxa de ocupação. Na construção dessas equações há a necessidade de avaliar
as probabilidades associadas a eventos da forma {B1B2 BlFl+1}, de que uma
chamada encontre seus primeiros lservidores preferenciais ocupados e o (l+1)-
ésimo servidor preferencial livre. Se os servidores operassem independentemente
uns dos outros, essas probabilidades seriam dadas por r1r 2...rl(1-rl+1). Como
trata-se de um sistema que pressupõe cooperação entre servidores, Larson propõe
o uso de um fator de correção Q para levar em conta a não independência dos
servidores, escrevendo:
Prob{B1B2 Bl Fl+1} = Q(m,r , l) r1r 2 r l(1-r l+1).
Para derivar o fator de correção Q, Larson reinterpreta o evento {B1B2 B lFl+1}
como o evento de que, em uma amostragem sem reposição de servidores de um
modelo M/M/m de fila, os primeiros l servidores selecionados estejam ocupados e
o (l+1)-ésimo servidor selecionado esteja livre. Determina então a
probabilidade deste evento sob a nova interpretação, e nela identifica o
componente que incorpora os efeitos da não independência dos servidores,
tomando-o como fator de correção a ser usado no modelo hipercubo.
2.3 Relaxação das Hipóteses do Problema de Máxima Disponibilidade (PLMDI)
Conforme visto em 2.1, em PLMDI considera-se que a demanda originada de um
átomo j está coberta se a probabilidade de que exista pelo menos um servidor a
menos da distância crítica é igual ou maior do que a. A restrição
correspondente é dada por (1).
Esta formulação assume que os servidores têm a mesma taxa de ocupação e operam
independentemente uns dos outros. Consideradas no contexto de um modelo
hipercubo, cada uma das hipóteses subjacentes poderia ser aceitável como
aproximação. Por exemplo, se o sistema operasse com taxa de ocupação global
elevada, a cooperação entre servidores tenderia a homogeneizar as taxas de
ocupação dos mesmos e o uso de uma taxa comum de ocupação para todos os
servidores tenderia a não envolver graves distorções. Por outro lado, se a taxa
global de ocupação fosse baixa, a cooperação entre servidores não seria
importante, tornando aceitável a hipótese de independência dos mesmos. Percebe-
se no entanto que, em conjunto, as hipóteses do modelo de máxima
disponibilidade atuam de forma tal que uma fragiliza a outra: quando há pouca
cooperação, a relativa independência dos servidores torna importante a
heterogeneidade das taxas de ocupação; quando há muita cooperação, a hipótese
de independência dos servidores torna-se questionável.
As hipóteses do problema de máxima disponibilidade podem ser relaxadas com o
uso dos resultados do modelo hipercubo. Para isso é necessário inicialmente
redefinir a variável de localização yiuma vez que, para introduzir as taxas de
ocupação específicas de cada servidor, não é mais suficiente saber que há um
servidor localizado na base potencial i: é necessário identificar o servidor
ali localizado. Pode-se então definir uma variável de localização yik, tal que
yik=1 se o servidor k está localizado em i, yik=0 caso contrário.
Usando as taxas de ocupação específicas dos servidores e introduzindo o fator
de correção de não independência dos mesmos, a restrição de cobertura pode ser
escrita como:
Quando uma área de demanda jnão é coberta por ao menos um servidor o terceiro
parâmetro de Qtorna-se -1. Como Qnão é definido para este valor, convencionamos
Q(m,r,-1)=1.
Note-se que, diferentemente da formulação original de ReVelle & Hogan
(1989), o uso da variável de localização mais detalhada yikpermite que mais de
um servidor sejam localizados em uma mesma base. Para remover esta
flexibilidade seriam necessárias restrições adicionais da forma
Quando as hipóteses originais do problema de máxima disponibilidade são
relaxadas, obtemos o que chamamos de Problema de Máxima Disponibilidade
Estendido(PLMDE). Nesse caso a restrição de cobertura passa a incorporar
variáveis (no caso as taxas de ocupação dos servidores) que dependem das
variáveis de decisão. Em conseqüência, a restrição de cobertura em sua
formulação mais geral não pode ser usada em um modelo de programação
matemática. Ela permite no entanto determinar a cobertura correspondente a uma
dada configuração (localização dos servidores), podendo ser útil na construção
de métodos heurísticos. É disso que tratamos a seguir na Seção 3.
3. A Solução do Problema de Máxima Disponibilidade Estendido
Uma formulação matemática do PLMDEpoderia ser dada definindo-se a variável de
decisão zj como zj=1 se a área de demanda jtem pelo menos um servidor
disponível a menos da distância critica Scom confiabilidade a (zj=0 caso
contrário):
O modelo matemático dado por (7)-(10) é de pouca utilidade prática dado que,
conforme já observado, as restrições de cobertura (8) passam a incorporar
parâmetros (rk, Q) que dependem das variáveis de decisão. A estrutura do modelo
possibilita, no entanto, o desenvolvimento de métodos heurísticos para
solucioná-lo. Neste artigo propomos um método heurístico para o PLMDEque possui
os seguintes componentes: (i) um mecanismo que gera as localizações dos
servidores; (ii) um procedimento para calcular as taxas de ocupação rk
correspondentes a estas localizações; (iii) uma função que calcula o valor do
fator de correção Qe (iv) um procedimento para calcular a cobertura esperada
correspondente.
A heurística que desenvolvemos tem por base o método de substituição de
vértices de Teitz & Bart (1968). Existem na literatura versões melhoradas
da heurística de Teitz e Bart, por exemplo a heurística Fast Interchange
desenvolvida inicialmente por Whitaker (1983), aprimorada por Hansen &
Mladenovic (1998) e usada recentemente por Galvão et al. (2002) e Espejo et al.
(2003). A principal característica desta heurística é sua rapidez para avaliar
soluções. Devido à estrutura do PLMDE esta característica do Fast Interchange
não pode infelizmente ser aproveitada.
A heurística desenvolvida busca achar configurações alternativas que melhorem o
valor da função objetivo do problema (máxima cobertura com confiabilidade a).
Para cada configuração considerada é necessário resolver o modelo hipercubo e
calcular o fator de correção Q, para que o valor da função objetivo
correspondente possa ser calculado. A heurística prossegue até atingir a
Condição de Parada, que acontece quando nenhuma troca simples de localização de
servidores (mudança de localização de um único servidor) produz uma melhora no
valor da função objetivo. Para otimizar o código computacional correspondente o
procedimento para calcular o valor de Q é executado uma única vez, quando é
criada uma tabela com os valores de Q que serão necessários durante a execução
do algoritmo. O procedimento da heurística é descrito abaixo em pseudo-código.
Os fatores que influenciam o desempenho da heurística são: a localização
inicial dos servidores, o método usado para resolver o modelo Hipercubo e a
estratégia usada para realizar a substituição de vértices. A seguir
discutiremos cada um desses pontos.
Localização Inicial dos servidores ' Ao iniciar a heurística restringimos a
localização a um único servidor por área de demanda. Depois de obter a
localização inicial dos servidores esta restrição é relaxada. Foram testadas
duas estratégias para escolher a localização inicial dos servidores: (i)
selecionar aleatoriamente m locais do conjunto I; (ii) seja ci= [/img/revistas/
pope/v23n1/a06img09.gif]aijfjo número total de chamadas que um servidor poderia
atender se estivesse localizado em iÎ I (assumindo que o servidor está sempre
disponível); selecionar então os m locais com os maiores ci (empates resolvidos
arbitrariamente). A estratégia (ii) foi a que deu melhores resultados. Os
resultados computacionais mostrados na Seção 4 usam esta estratégia.
Método Usado para Resolver o Modelo Hipercubo ' Testamos o uso dos métodos
exato e aproximado para resolver o modelo Hipercubo. Na Seção 4 mostramos
resultados computacionais obtidos com os dois métodos de solução; esses
resultados justificam a escolha do método aproximado para resolver este modelo.
Estratégia Usada para a Substituição de Vértices ' Por hipótese todas as áreas
de demanda são candidatas à localização de um ou mais servidores, e um servidor
pode ser localizado em qualquer das áreas de demanda. Durante o processo
iterativo da heurística temos portanto dois conjuntos: um conjunto com as
localizações correntes (o conjunto LocIni, percorrido usando a variável índice)
e um conjunto com as áreas de demanda, que são bases em potencial para os
servidores. Observe-se que não usamos uma variável específica para representar
este conjunto de bases em potencial, e sim o índice i que indica a área que
está sendo considerada.
Testamos duas estratégias para a substituição de vértices: troca na melhor de
todas as possíveis substituições e troca na primeira melhor substituição.
Trocar na melhor de todas as substituições implica em selecionar uma a uma cada
base em potencial, e avaliar a melhora na função objetivo ao se substituir
tentativamente cada uma das localizações correntes pela base em potencial que
está sendo avaliada. Depois de avaliar todas as possibilidades se realiza uma
troca sempre e quando se produz uma melhora no valor da máxima cobertura com
confiabilidade a . Trocar na primeira melhor substituição implica em selecionar
uma base em potencial e avaliar a melhora na função objetivo ao se substituir
tentativamente cada uma das localizações correntes pela base em potencial que
está sendo avaliada. Caso se produza uma melhora na função objetivo se realiza
a troca, caso contrário passa-se a avaliar outra base em potencial.
Evidentemente a segunda possibilidade reduz o esforço computacional necessário.
Alguns resultados computacionais obtidos com estas duas estratégias são
mostrados na Seção 4. A versão da heurística apresentada acima (pseudo-código)
corresponde à versão com a troca na primeira melhor substituição.
4. Resultados Computacionais
Nesta seção mostramos um resumo dos resultados computacionais que obtivemos ao
resolver algumas instâncias do PLMDE utilizando a heurística apresentada na
Seção 3. Os experimentos computacionais estão estruturados da seguinte maneira.
Inicialmente determinamos duas componentes principais da heurística para o
PLMDE: o método de solução a ser utilizado para resolver o modelo hipercubo e a
estratégia utilizada na troca de vértices. A seguir analisamos os resultados
computacionais obtidos com a heurística para redes de 55, 100 e 150 vértices.
Os testes computacionais foram realizados utilizando um microcomputador com
processador AMD Atlhon de 1.1 Ghz, barramento de 200 Mhz e memória Ram de 128
Mb. A heurística foi codificada em Fortran PowerStation 4.0 da Microsoft.
4.1 Problemas Testados
A heurística foi testada em uma variedade de redes disponíveis na literatura: a
rede de 55 vértices de Swain (1971) e as redes de 100 e 150 vértices geradas
aleatoriamente por Galvão & ReVelle (1996). Todos os vértices de demanda
são locais potenciais para a localização dos servidores e se permite localizar
mais de um servidor por vértice. No nosso caso a demanda associada a cada
vértice dessas redes corresponde ao número de chamadas por dia originadas em
cada área de demanda.
As instâncias criadas consideram possíveis combinações dos seguintes
parâmetros: nível de confiabilidade (a); taxa de ocupação do sistema (r);
número de servidores (m); distância crítica (S). A taxa de ocupação r é a taxa
média das taxas de ocupação dos servidores individuais e varia de r = 0,10 a r
= 0,50, com incrementos de 0,10. Os valores utilizados para esses parâmetros e
o número de problemas gerados para cada rede são mostradas na Tabela_1; no
total foram gerados 240 problemas teste.
Neste trabalho tratamos de sistemas com servidores homogêneos, adotando como
tempo médio de serviço a unidade de tempo; assim, a capacidade total de
atendimento de um sistema de m servidores é dada por [/img/revistas/pope/v23n1/
a06img14.gif]mk = m. Para obter uma dada taxa de ocupação r (relação entre
demanda e capacidade de atendimento), a demanda total deve ser ajustada de
forma que <formula/>lj = rm. As taxas
individualizadas por área podem ser obtidas rateando a demanda total
proporcionalmente à demanda diária de cada área: [/img/revistas/pope/v23n1/
a06img13.gif]
4.2 Determinação da Heurística para o PLMDE
Na determinação da heurística para o PLMDE avaliamos dois fatores que
influenciam o desempenho da mesma: o método de solução a ser utilizado para
resolver o modelo hipercubo e a estratégia utilizada na heurística de
substituição de vértices. A avaliação desses fatores é realizada com base na
qualidade da solução obtida (porcentagem da população coberta com
confiabilidade a ) e no tempo computacional consumido (em segundos de CPU).
Para esta avaliação utilizamos os 60 problemas teste obtidos a partir da rede
de 55 vértices de Swain (1971).
Conforme visto na seção 2.2, o modelo hipercubo pode ser resolvido de duas
formas: por meio do método exato ou por meio do método aproximado. O método
exato envolve resolver um sistema de 2m equações lineares, enquanto que o
método aproximado implica em resolver um sistema não-linear de apenas m
equações. Observe-se na Tabela_2 que, no que diz respeito à qualidade da
solução, os resultados obtidos pelos dois métodos de solução do modelo
hipercubo estão muito próximos. Já em relação ao esforço computacional, o
método aproximado consegue reduzir o tempo utilizado pelo método exato em até
duas ordens de grandeza. Esses resultados justificam a escolha do método
aproximado para resolver o modelo hipercubo.
Para determinar que estratégia usar para a troca de vértices no método de
substituição foram testadas duas estratégias: troca na primeira melhor
substituição e troca na melhor de todas as substituições. Na maioria dos
problemas as porcentagens das coberturas obtidas estão próximas, mas a troca na
primeira melhor substituição reduz o esforço computacional necessário. Nos
testes realizados para determinar o método para resolver o modelo hipercubo,
foi utilizada a estratégia da troca na melhor substituição. Nos testes para
determinar a estratégia para a troca de vértices, o modelo hipercubo foi
resolvido de maneira aproximada. Isto explica os resultados iguais das colunas
método aproximado e melhor substituição da Tabela_2.
Com base nos resultados da Tabela_2 decidimos que a heurística para o PLMDE
deve utilizar o método aproximado para solucionar o modelo hipercubo e que a
estratégia de troca de vértices deve utilizar a primeira melhor substituição.
4.3 Análise dos Resultados Computacionais Obtidos com a Heurística para o PLMDE
A análise dos resultados obtidos com a heurística para o PLMDE consiste em
mostrar:
* O comportamento da cobertura em relação aos parâmetros do problema (nível
de confiabilidade, taxa de ocupação dos servidores, número de servidores
e distância crítica).
* O comportamento das taxas de ocupação dos servidores para algumas
instâncias de interesse da rede de 100 vértices.
Na Tabela_3 apresentamos um resumo dos tempos computacionais consumidos pela
heurística para resolver os 240 problemas teste. Deve-se destacar a rapidez da
heurística para resolver esses problemas.
Comportamento da cobertura em relação aos parâmetros do problema
Mostramos a seguir, nas tabelas_4, 5 e 6, o comportamento da cobertura obtida
com a heurística para o PLMDE para as instâncias de 55, 100 e 150 vértices,
respectivamente. Essas tabelas possibilitam observar o nível de cobertura
atingido para diferentes combinações dos parâmetros do problema. Por exemplo,
uma análise por linhas nessas tabelas permite observar que mantendo fixos os
valores do nível de confiabilidade, taxa de ocupação do sistema e distância
crítica e aumentando o número de servidores, o nível de cobertura atingido em
geral aumenta. Realizando uma análise por colunas das mesmas tabelas pode-se
observar que para um mesmo valor da distância crítica, número de servidores e
nível de confiabilidade, a cobertura diminui quando se aumenta a taxa de
ocupação do sistema.
Comportamento das taxas de ocupação dos servidores para um conjunto de
problemas de 100 vértices
Uma das características principais do PLMDE está na possibilidade de se
trabalhar com taxas de ocupação diferenciadas por servidor. Nesta seção
analisamos o comportamento das taxas de ocupação dos servidores para um
conjunto de 30 instâncias da rede de 100 vértices de Galvão & ReVelle
(1996), com o número de servidores fixado em 8. Na Figura_1 pode-se visualizar
o grau de variabilidade (rk 'r) das taxas de ocupação dos servidores, para
quatro problemas da rede de 100 vértices. Os números indicados no eixo
horizontal dessas figuras referem-se aos vértices onde os servidores estão
localizados. Quando o valor da taxa de ocupação do sistema é baixo (r = 0,10),
pode-se assumir que há pouca cooperação entre os servidores; os resultados
indicam no entanto que existe heterogeneidade nas taxas de ocupação dos mesmos.
Quando o valor da taxa de ocupação do sistema é elevado (por exemplo r = 0,50)
assume-se que há muita cooperação entre os servidores; os servidores no entanto
ainda funcionam com taxas de ocupação diferenciadas. Observe-se que inclusive,
para servidores localizados no mesmo local, as taxas de ocupação são
diferenciadas. Por exemplo, no problema com a = 0,90, r = 0,50 e S = 90 foram
localizados dois servidores no local 17, com taxas de ocupação bastante
diferenciadas: 0,493 para um deles e 0,329 para o outro.
O desvio padrão das taxas de ocupação dos servidores pode ser usado para
evidenciar o grau de heterogeneidade dessas taxas. A Tabela_7 mostra o desvio
padrão das taxas de ocupação para o conjunto dos 30 problemas da rede de 100
vértices que estamos analisando. Pode-se observar nessa tabela que a
heterogeneidade das taxas de ocupação tende a aumentar quando se aumenta o
nível de confiabilidade (a) e a taxa de ocupação do sistema (r). A
heterogeneidade das taxas de ocupação tende a diminuir quando se aumenta a
distância crítica.
4.4 Resultados Disponíveis na Literatura
Não há na literatura resultados disponíveis para o PLMDE com os quais
pudéssemos comparar os resultados obtidos com nosso algoritmo pois, segundo nos
consta, este é o primeiro artigo em que o modelo hipercubo é utilizado para
resolver o Problema de Localização de Máxima Disponibilidade definido por
ReVelle & Hogan (1989), o que permite a utilização de taxas de ocupação
calculadas por servidor. Por outro lado, existem poucos resultados
computacionais disponíveis para os modelos PLMDIePLMDIIdefinidos pelos dois
autores acima.
Em seu trabalho (1989) esses autores apresentam alguns resultados comparativos
da aplicação dos modelos PLMDIePLMDIIobjetivando a localização de ambulâncias
em 31 estações do Corpo de Bombeiros na cidade de Baltimore, nos Estados
Unidos. Os dois modelos são comparados em termos da previsão que fazem da
cobertura obtida pela população, em função do nível de recursos disponíveis e
da distribuição espacial das localizações escolhidas pelos modelos, para
diferentes níveis de confiabilidade. Conforme esperado o PLMDIIfornece
resultados mais precisos, possibilitando por exemplo o uso de um número menor
de ambulâncias para o mesmo nível de cobertura, para um dado nível de
confiabilidade escolhido.
Seria interessante poder comparar os resultados obtidos por ReVelle & Hogan
(1989) para a cidade de Baltimore com os que seriam obtidos utilizando taxas de
ocupação calculadas por servidor, utilizando o algoritmo por nós desenvolvido
para o PLMDE. Mesmo que todos os dados do estudo original estivessem
disponíveis (átomos ou regiões.em que a cidade foi dividida, taxa de chegada de
pedidos por serviço de ambulância para cada átomo, tempos de serviço por
ambulância, entre outros), tal comparação mostrar-se-ia inviável pela
indisponibilidade dos dados adicionais que seriam necessários para a utilização
do modelo hipercubo (dados esses não necessários para aplicação de modelos
simplificados como o PLMDIe o PLMDII), como por exemplo a lista de preferências
de despacho dos servidores.
5. Conclusões
O problema de localização de máxima disponibilidade desenvolvido por ReVelle
& Hogan (1989) foi estendido neste trabalho para o caso em que as taxas de
ocupação são calculadas individualmente, por servidor. O modelo hipercubo,
embutido em uma heurística de substituição de vértices, produziu resultados em
tempo computacional reduzido para redes de até 150 vértices disponíveis na
literatura.
Os resultados computacionais obtidos com a heurística de substituição de
vértices em geral confirmam o comportamento que seria esperado de r, taxa média
de ocupação do sistema (e dos rk's, taxas individuais de cada servidor), em
relação aos diversos parâmetros considerados (m, a, S). O uso de
metaheurísticas na solução do PLMDE, e a comparação dos resultados obtidos com
os correspondentes ao modelo de máxima cobertura esperada de Daskin (1983), são
extensões possíveis do presente trabalho.