Aplicação do modelo hipercubo de filas para avaliar a descentralização de
ambulâncias em um sistema urbano de atendimento médico de urgência
1. Introdução
A qualidade de vida da população, especialmente das áreas urbanas, está ligada
a uma variedade de serviços públicos que podem ser classificados em três
grandes grupos: serviços de rotina, serviços semi-emergenciais e serviços de
emergência, dentre os quais destaca-se o serviço de atendimento médico de
urgência (SAMU). Quando projetado e operado com eficiência, o SAMU pode salvar
vidas; por outro lado, quando ineficiente, é um potencial responsável pelo
agravamento dos casos. A rapidez no atendimento às vítimas é uma das maiores
exigências destes sistemas, e o tempo decorrido entre o instante da solicitação
pelo serviço e o início do atendimento, denominado tempo de resposta, é um dos
principais fatores que influenciam o nível de serviço aos usuários.
Este tempo é resultante de um conjunto de fatores, como por exemplo,
experiência e capacitação profissional da equipe, condições de tráfego local,
dia da semana e período do dia, tipo e número de veículos disponíveis,
localização destes veículos, políticas de despacho, etc. A regulamentação
americana para os serviços médicos de urgência estabelece que 95% das
solicitações em área urbana devem ser atendidas em, no máximo, 10 minutos,
sendo este período estendido para 30 minutos para a área rural (Ball & Lin,
1993). Nos casos dos serviços de ambulâncias das cidades de Londres e Montreal,
95% das solicitações devem ser servidas em 14 e 10 minutos, respectivamente, e
50% e 70% das solicitações devem ser servidas em 8 e 7 minutos, respectivamente
(Geandreau et al., 2001; Galvão et al., 2003a). No Brasil, entretanto, não há
legislação específica que determine limitações para os tempos de resposta.
Serviços emergenciais como os SAMU's apresentam alto grau de incerteza em suas
características operacionais e, quanto maior o grau de incerteza envolvido e
maior a necessidade de respostas rápidas, menor deve ser a taxa de utilização
dos operadores e equipamentos do sistema. Caso contrário, o nível de serviço
oferecido aos usuários pode ser deteriorado. Neste contexto, quando os sistemas
são bem dimensionados, geralmente ocorrem longos períodos em que os operadores
e equipamentos permanecem desocupados (Gonçalves, 1994). Estudos recentes
mostram elevados índices de ocupação dos veículos e suas equipes (da ordem de
60%) em observações realizadas em algumas cidades do interior paulista (Takeda,
2000).
Diversas pesquisas vêm sendo desenvolvidas no sentido de se obter métodos para
analisar e dimensionar tais sistemas, de forma a elevar o nível de serviço
oferecido e também racionalizar o uso dos recursos disponíveis. No entanto, uma
limitação dos estudos é que muitos deles não consideram a natureza
probabilística dos processos de chegada e atendimento dos chamados
emergenciais, e não levam em conta o fato de que as ambulâncias nem sempre
estão disponíveis para iniciar um atendimento. Dentre as contribuições,
destacam-se trabalhos onde a atenção é concentrada em questões tais como
localização de bases (Toregas et al., 1971; Daskin & Stern, 1981; Anderson
& Fontenot, 1992; Galvão, 1993; Grendreau et al., 1997 e Grendreau et al.,
2001), programação de equipes (Kaplan, 1979; Green & Kolesar, 1984; Taylor
& Huxley, 1989 e Aubin, 1992) e problemas de congestionamento (Berman &
Larson, 1982; Brandeau & Larson, 1986; Marianov & Serra, 1998).
Revisões dos estudos desenvolvidos nas últimas décadas podem ser encontradas em
Kolesar & Swersey (1986), Louveaux (1993), Swersey (1994), Chiyoshi et al.
(2000) e Brotcorne et al. (2003).
A modelagem integrada destas questões é complexa, pois geralmente os sistemas
reais são compostos por vários veículos; as solicitações por serviço ocorrem
distribuídas no tempo e no espaço; existe cooperação entre veículos de áreas
distintas; podem ocorrer múltiplos despachos para atender a um mesmo chamado; o
tempo médio de viagem varia de acordo com a região, o dia e o período do dia; e
ainda existe a possibilidade de formação de filas de espera. O modelo hipercubo
de filas distribuídas, desenvolvido por Larson (1974) e estendido por outros
autores (Swersey, 1994), é uma importante ferramenta neste sentido, dando
condições de se avaliar não só o nível de serviço oferecido, como também os
impactos de decisões tomadas para o sistema. Trata-se de uma ferramenta
analítica e descritiva que permite calcular uma ampla variedade de medidas de
desempenho, que auxiliam nas decisões operacionais e de configuração do sistema
(Brandeau & Larson, 1986). O hipercubo não é um modelo de otimização que
determina uma configuração ótima para o sistema, mas fornece uma completa
avaliação de desempenho de cada configuração sugerida (Halpern, 1977).
Vários estudos são encontrados na literatura com o objetivo de avaliar o uso
deste modelo na solução de problemas de localização probabilística, em
particular, para sistemas de atendimento emergencial. Por exemplo, Batta et al.
(1989) sugeriram o uso do hipercubo como alternativa para relaxar a hipótese de
independência entre os servidores dos problemas de localização com máxima
cobertura, desenvolvido por Daskin (1983). Chiyoshi et al. (2001, 2002)
analisaram o caso de servidores não homogêneos e apresentaram comparações entre
os modelos de localização com máxima cobertura e máxima cobertura ajustada
(Batta et al., 1989). Saydam & Aytug (2003) aplicaram um algoritmo genético
incorporando a metodologia do hipercubo desenvolvida por Jarvis (1975) no
cálculo da cobertura esperada. Gendreau et al. (1997, 2001) aplicaram busca
tabu em contextos similares. Galvão et al. (2003a, 2003b) investigaram o uso de
simulated annealing com o modelo hipercubo na solução de problemas de
localização com máxima cobertura e máxima disponibilidade (ReVelle & Hogan,
1989).
A aplicação original do modelo hipercubo foi para o problema de patrulhamento
policial. Porém, sistemas como bombeiros, ambulâncias, defesa civil, reparos em
redes de infra-estruturas básicas (água, energia elétrica e telecomunicações),
guinchos e entregas domiciliares também podem ser representados por esta
técnica. Nos Estados Unidos várias aplicações podem ser citadas: a localização
de ambulâncias em Boston (Brandeau & Larson, 1986) e Greenville (Burwell et
al., 1993), o patrulhamento policial em New Haven (Chelst & Barlach, 1981)
e Orlando (Sacks & Grief, 1994), programas de visitas de serviço social
(Larson & Odoni, 1981), dentre outros. No Brasil, alguns exemplos são: o
atendimento a interrupções de energia elétrica em Florianópolis, SC (Albino,
1994), a localização de ambulâncias em um trecho da BR 111 SC (Gonçalves et
al., 1994, 1995), o balanceamento do fator de utilização das ambulâncias do
sistema Anjos do Asfalto da Rodovia Presidente Dutra (Mendonça & Morabito,
2000, 2001), e a análise de desempenho do sistema SAMU-192 de Campinas-SP
(Takeda et al., 2001).
O presente trabalho apresenta uma extensão dos estudos em Takeda et al. (2001),
partindo de cenários simples, como é o caso da descentralização de uma única
ambulância, e suas conseqüências, até situações em que vários veículos são
reposicionados. Também são mostrados os impactos do aumento do número de
ambulâncias, aliado à descentralização, sobre alguns importantes indicadores de
desempenho do sistema. O artigo está organizado da seguinte maneira: na seção 2
é feita uma descrição resumida do sistema SAMU-192, evidenciando seus aspectos
operacionais importantes para a aplicação do modelo. Na seção 3 é realizada uma
breve revisão sobre o modelo hipercubo e sua aplicação no sistema estudado;
também são calculadas as principais medidas de desempenho para a configuração
original do SAMU-192. Na seção 4 o modelo é aplicado para explorar cenários
alternativos; em particular, descentralizando ambulâncias na configuração
original e avaliando seus efeitos sobre alguns indicadores de desempenho.
Também são analisados os efeitos do aumento do número de ambulâncias no
sistema. Finalmente, na seção 5, são apresentadas as conclusões do estudo e
algumas perspectivas para futuras pesquisas.
2. Os Sistemas Emergenciais e o SAMU-192
A Organização Mundial de Saúde estabelece, como função principal de um serviço
de atendimento médico-emergencial, dar suporte básico de vida a toda situação
de risco envolvendo pessoas e bens (World Health Organization, 2000). No
Brasil, desde o início dos anos 90, esforços têm sido direcionados no sentido
de impulsionar a organização dos atendimentos médicos de urgência. Por se
tratar de um serviço público de atendimento, o sistema brasileiro assemelha-se
ao modelo francês, em operação há mais de 20 anos. Graças à ativa cooperação
entre algumas secretarias de saúde e o governo francês, as populações de
Araraquara, Belo Horizonte, Campinas, Fortaleza, Goiânia, Limeira, Porto
Alegre, Recife, Ribeirão Preto, Salvador, São Paulo e Vale do Ribeira já estão
recebendo um atendimento de qualidade superior, com um melhor aproveitamento
dos recursos disponíveis.
Operacionalmente, os SAMU's são sistemas que englobam uma determinada cidade ou
até uma região constituída de várias cidades, e contém uma central telefônica
de recepção de chamados, equipes de socorristas centralizados ou distribuídos
pela área de atuação do sistema, ambulâncias com equipamentos de suporte básico
de vida, e em alguns casos, unidades de reanimação pré-hospitalar (UTI's
móveis) com equipe qualificada. Esta organização está coordenada com uma rede
hospitalar municipal ou regional em que as estruturas hospitalares de
atendimento são escolhidas em função de sua complexidade.
2.1 Caracterização da pesquisa de campo
No início do estudo tentou-se contatar os serviços de cinqüenta municípios de
pequeno, médio e grande porte do interior paulista, dentre os quais apenas oito
se dispuseram a divulgar informações sobre os atendimentos realizados. Neste
primeiro contato observou-se que os serviços operavam 24 horas por dia com uma
central telefônica para onde convergiam todos os chamados. Todas as cidades
possuíam uma base manuscrita de dados relacionados aos atendimentos. Também foi
observado que não havia um programa de avaliações periódicas que indicasse o
desempenho dos sistemas. Considerando-se então a caracterização destes oito
sistemas, o SAMU-192 foi escolhido como cenário para estudo.
A cidade de Campinas passou por uma reorganização do seu sistema de atendimento
médico de urgência em 1994, implantando o SAMU-192 com a função de ser o centro
regulador das urgências médicas do município. O SAMU-192 de Campinas é
considerado um sistema modelo no Estado de São Paulo, com uma equipe
qualificada em todos os seus níveis. Sua coordenação mostrou-se interessada em
participar do estudo, contribuindo de forma importante para o levantamento dos
dados e a interpretação dos resultados obtidos posteriormente com a aplicação
do modelo.
No ano de 1998, quando a pesquisa de campo foi iniciada, o sistema operava com
dezoito ambulâncias, sendo elas: onze VRS's (veículos de remoção simples),
utilizados para o transporte de pacientes com casos clínicos simples, e
principalmente para serviços agendados (sua equipe é formada apenas pelo
motorista, eventualmente acompanhado de um auxiliar de enfermagem); quatro
VSB's (veículos de suporte básico), utilizados para o transporte das urgências,
com equipamentos básicos para o atendimento domiciliar das vítimas
(necessariamente sua equipe é formada pelo motorista e um enfermeiro); dois
VSA's (veículos de suporte avançado), utilizado para os casos graves, também
denominados UTI's móveis (equipe composta pelo motorista, um enfermeiro e um
médico) e um PSQ (veículo psiquiátrico) totalmente adaptado para suportar o
transporte de pacientes com comportamento agressivo, alcoolizados e drogados
(com profissionais especialmente treinados para tratar estes casos). Dentre os
onze VRS's, sete eram dedicados às operações de remoções simples (pacientes
agendados) e quatro operavam adaptados com equipe e equipamentos de VSB's. No
total, dez ambulâncias eram dedicadas, de fato, às operações de urgência (dois
VSA's e oito VSB's).
A região de Campinas estava subdividida em cinco áreas distintas Norte, Sul,
Leste Oeste e Central de acordo com a distribuição de áreas de cobertura dos
principais Centros de Saúde do município. Todos os veículos, quando
disponíveis, permaneciam centralizados na base operacional do sistema, local
onde se encontra a central telefônica 192 para onde convergem todos os
chamados. O sistema também permitia que seus usuários entrassem em uma fila de
espera caso todas as ambulâncias estivessem ocupadas no instante da ocorrência
do chamado (esta fila era limitada, em média, por um usuário para cada veículo
em operação). A Figura_1 mostra algumas características da cidade de Campinas e
do SAMU-192 no período de desenvolvimento da pesquisa.
É importante ressaltar que a equipe que gerenciava o sistema estava preocupada
com os altos índices de utilização das ambulâncias em determinados períodos do
dia, o que podia provocar esperas para os usuários. Neste sentido, reflexões
sobre uma possível mudança na estrutura operacional do sistema foram
levantadas. Questões como o reposicionamento das ambulâncias na área de atuação
do SAMU-192, e mesmo o número ideal de veículos para atender a demanda,
predominavam.
2.2 Coleta de dados
Para implementar o modelo hipercubo no SAMU-192, a coleta de dados foi separada
em duas etapas: a primeira, com a descrição dos tipos e quantidade de
atendimentos realizados no sistema, e a segunda com a seleção de uma amostra
significativa para determinar as estatísticas necessárias para validar as
hipóteses do modelo.
Descrição dos atendimentos
A coordenação do SAMU-192 informou que não existiam grandes diferenças no
número de solicitações de serviço ao longo dos meses do ano; meses de férias
escolares, entretanto, apresentavam uma leve redução no número de atendimentos
realizados. Também observaram que os finais de semana (sábados e domingos)
apresentavam menores índices de solicitação de serviço, e a experiência da
equipe contribuiu para confirmar que estas são características típicas de
sistemas urbanos de atendimento médico de urgência (estas informações foram
verificadas nas fichas de atendimentos realizados, desde a implantação do
serviço). Para constatar a primeira afirmação, foi considerada uma amostra
aleatória de cada mês do ano de 1997. A Figura_2 mostra a distribuição deste
conjunto de dados. Tendo comprovado que não havia diferenças significativas no
número de atendimentos/mês, o próximo passo foi examinar uma outra amostra
aleatória de um mês do ano, para verificar se os dias úteis da semana se
comportam de maneira semelhante. O mês sorteado foi novembro e dele,
selecionou-se uma amostra de dez dias úteis de suas quatro semanas (Figura_3).
Outra importante observação foi com relação aos períodos do dia em que se
constatava o maior índice de chamados no sistema. Para a equipe que coordenava
o SAMU-192, o período entre 10 e 21 horas era considerado crítico. Com base
nesta informação, construiu-se a distribuição dos chamados ao longo do dia,
para a amostra do mês de novembro (Figura_4). Na amostra selecionada, foram
observados 814 atendimentos, dos quais 17,1% tiveram origem na região Norte,
16,5% na região Sul, 17,6% na Leste, 32,2% na Oeste e 16,7% na região Central.
Identificação de períodos de pico
Conforme observado na Figura_4, o SAMU-192 apresentava um período de pico bem
caracterizado (das 9 às 14 horas, aproximadamente). Entretanto, foi necessário
realizar uma análise mais detalhada para determinar a amplitude do intervalo
que define o pico. Sendo assim, realizou-se um estudo baseado nas taxas de
chegada de chamados dentro de possíveis combinações de períodos entre 8 e 15
horas e 16 e 22 horas, para verificar qual é o intervalo de tempo que, em
geral, apresentava taxa média de chegadas significativa, com menor
variabilidade. A Tabela_1 mostra os valores das taxas médias dos períodos mais
prováveis e suas respectivas variações (a última coluna corresponde ao desvio-
padrão do período, d-p).
Os demais intervalos analisados apresentaram taxas menores, não caracterizando,
de fato, o período de congestionamento do sistema. O intervalo escolhido,
portanto, inicia-se às 10 e termina às 14 horas, pois foi o que apresentou
maiores freqüências durante os dez dias amostrados, com menor variação em torno
do valor médio. Neste período, ocorreram 209 observações, dentre as quais, 190
foram atendidas por equipes básicas e 19 por equipes avançadas. A distribuição
percentual para as cinco regiões se manteve. Portanto, as avaliações que seguem
refletem algumas características do SAMU-192 durante o seu período de pico. A
Tabela_2 apresenta medidas de desempenho da amostra de dez dias, para valores
observados nas 24 horas do dia e para valores observados apenas no período de
pico (10 às 14 horas).
3. O Modelo Hipercubo Aplicado ao SAMU-192
O modelo hipercubo baseia-se na partição da região de atuação do sistema em um
conjunto finito de áreas geradoras de demanda, denominadas átomos geográficos.
Cada átomo é considerado como uma fonte pontual independente de solicitação de
serviço ao longo do tempo. Portanto, são consideradas as distribuições espacial
e temporal dos chamados. O atendimento é realizado por servidores distribuídos
na região e que, quando disponíveis, podem estar fixos em alguns pontos
(bases), ou em movimento (neste caso, sua localização deve ser conhecida ao
menos probabilisticamente). A área de cobertura primária de um servidor é
definida pelo conjunto dos átomos que este servidor atende prioritariamente, ou
seja, é o primeiro a ser chamado. Nos casos onde o servidor preferencial está
ocupado, um outro servidor é chamado para atender a solicitação, de acordo com
lista de preferência de despachos pré-definida pelo sistema.
O nome hipercubo deriva do espaço de estados que descreve o status dos
servidores. Cada servidor pode estar livre (0) ou ocupado (1) num certo
instante. Um estado particular do sistema é dado pela lista dos servidores que
estão livres e ocupados. Por exemplo, para um sistema com três servidores, o
estado 011 corresponde à situação onde o servidor número 1 está ocupado, o
servidor número 2 está ocupado e o servidor número 3 está livre (note que os
servidores estão representados da direita para a esquerda). Desta maneira, um
sistema com três servidores tem seu espaço de estados em
, e é dado pelo conjunto de vértices do cubo de arestas
iguais a 1. À medida que cresce o número de servidores, a representação se dá
no espaço N-dimensional, pelo conjunto de vértices de um hipercubo.
O analista deve coletar informações sobre os processos de chegadas e de
atendimento para descrever estatisticamente as operações do sistema e realizar
a calibração do modelo. Uma vez calibrado, o hipercubo pode ser usado para
determinar indicadores de desempenho para diferentes configurações do sistema.
Para cada configuração, ele calcula medidas para: (i) a extensão total da
região; (ii) um veículo específico; (iii) um subconjunto finito de átomos, e
(iv) um átomo específico.
3.1 Hipóteses da modelagem
Para se aplicar o modelo, o sistema deve atender a nove hipóteses básicas:
Átomos geográficos
A área na qual o sistema opera é particionada em NA áreas menores, cada qual
representando uma fonte independente de solicitações por serviço. Vários
sistemas do tipo server-to-customer admitem implícita ou explicitamente
critérios de prioridade para os chamados que recebem. Porém, nem sempre é uma
tarefa simples representar tais critérios no modelo. Entretanto, existem
situações onde estes critérios devem ser introduzidos, como é o caso dos
sistemas de atendimento médico-emergencial, em que existem servidores dedicados
a serviços especializados. Em Campinas, por exemplo, VSA's e VSB's realizam a
operação do sistema.
Neste caso, o modelo pode ser adaptado para refletir os critérios de
prioridade, bem como as regras de despacho dos servidores. Particiona-se cada
átomo do sistema em duas áreas distintas e independentes: uma gerando apenas
chamados do tipo avançado, e outra gerando apenas chamados do tipo básico
processo de camadas (Larson & Odoni, 1981). Assim, todas as regiões
mostradas na Figura_1 foram biparticionadas em básicas (B) e avançadas (A),
gerando um total de 10 átomos geográficos no sistema: Norte B (NB), Norte A
(NA), Sul B (SB), Sul A (SA), Leste B (LB), Leste A (LA), Oeste B (OB), Oeste A
(OA), Centro B (CB), Centro A (CA). No SAMU-192, as áreas geradoras de chamados
avançados são atendidas, preferencialmente pelos VSA's; neste caso, os VSB's
ficam como backups. De maneira semelhante, as áreas geradoras de chamados
básicos são atendidas preferencialmente pelos VSB's e os VSA's ficam como
backups.
Processo de chegadas poissoniano
Considera-se que os chamados chegam independentemente em cada átomo j, segundo
processos de Poisson com taxas médias lj (j=1,2,...,NA), possíveis de serem
medidas ou estimadas. Embora esta hipótese pareça muito restritiva, ela é
freqüentemente satisfeita em diversos sistemas reais. No caso do SAMU-192, tal
hipótese foi verificada examinando se o número de chegadas em cada átomo tem
distribuição de Poisson. Foram assim determinadas as taxas médias de
solicitação por serviço durante o período de observação (equivalentemente, os
intervalos médios entre chegadas sucessivas para os dez átomos do sistema).
Constatou-se que os chamados ocorrem independentemente átomo a átomo, e o
número de chamados de cada átomo representa uma proporção do total do sistema.
Assim, foram determinadas as probabilidades pj que representam as chances de um
chamado qualquer ter origem no átomo j.
Desta maneira, a hipótese pode ser testada utilizando a propriedade de
decomposição de processo de Poisson (Wolff, 1989). Para determinar a taxa média
de chegadas ao sistema, foram considerados os intervalos médios entre chegadas
sucessivas para todos os dias de observação, no período das 10 às 14 horas,
considerando todos os átomos do sistema. A Tabela_3 apresenta o tempo médio,
desvio-padrão e coeficiente de variação (desvio-padrão/tempo médio) para cada
dia. Nota-se que os desvios-padrão são, em geral, da mesma ordem de grandeza
das médias, o que sugere que os intervalos de tempo entre chegadas sucessivas
ao sistema podem ser considerados exponencialmente distribuídos.
Para verificar estatisticamente tal hipótese, foi aplicado o Método de
Kolmogorov-Smirnov, ao nível de significância a = 0,05. O resultado indicou que
não se pode rejeitar a hipótese de que os intervalos entre chegadas sucessivas
ao sistema têm distribuição exponencial e, portanto, foi admitido que o número
de chegadas por intervalo de tempo tenha distribuição de Poisson. Com este
resultado, e considerando as devidas proporções que representam as chegadas em
cada átomo do sistema, admitiu-se que os chamados chegam em cada átomo segundo
Processos de Poisson independentes, com taxas médias lj = l× pj (j = 1,
2,...,10). A Tabela_4 resume as informações sobre as taxas médias de chegadas.
Tempos de viagem entre átomos
Os tempos médios de viagem tij (i, j = 1, 2,..., NA) entre o átomo i e o átomo
j devem ser conhecidos ou estimados através dos conceitos de probabilidade
geométrica. A matriz dos tempos médios de viagem entre átomos foi fornecida
pelo próprio SAMU-192, admitidas as dez regiões geradoras de chamados (Tabela
5). Os veículos de suporte avançado geralmente desempenham tempos médios de
viagem entre átomos menores que os básicos, devido ao grau de urgência
envolvido nos atendimentos. Os tempos de viagem dentro do próprio átomo são
distintos de zero, pois é preciso representar as reais distâncias percorridas
por uma ambulância e os tempos necessários para tal, dentro de uma determinada
área.
Servidores
O sistema é composto por N servidores (distintos ou não) espacialmente
distribuídos, que podem deslocar-se e atender qualquer um dos átomos. No
cenário considerado, o SAMU-192 trabalha com uma frota de 10 veículos
distintos: oito VSB's e dois VSA's. Todas as ambulâncias permanecem
centralizadas na base, quando disponíveis, podendo deslocar-se para qualquer um
dos átomos para realizar um atendimento.
Despacho dos servidores
Apenas um servidor é despachado para atender um chamado. Se não houver veículo
disponível para realizar o atendimento, o chamado poderá entrar em uma fila ou
então ocorrer a perda do chamado, sendo este, por exemplo, transferido para
outro sistema de atendimento. O SAMU-192 admite a política de enviar apenas uma
equipe para atender a um chamado emergencial e em sua política de atendimento é
permitida a formação de fila. O chamado que chega quando todas as ambulâncias
estão ocupadas aguardam em fila até que um veículo desocupe para atendê-lo,
desde que esta fila de espera não ultrapasse o limite de dez usuários (isto é,
um usuário por ambulância em operação).
Localização dos servidores
A localização de cada servidor, quando disponível, deve ser conhecida. No caso
de servidores fixos, a localização é a sua base; no caso de servidores que se
movem dentro de uma determinada área (por exemplo, viaturas de patrulhamento
policial), esta localização deve ser conhecida ao menos probabilisticamente. A
representação destas localizações é bastante genérica: ela se apresenta de
forma matricial (L = [lnj]), onde os elementos da matriz representam a
probabilidade de um servidor estar localizado em um determinado átomo, quando
disponível. L é, necessariamente, uma matriz estocástica, ou seja [/img/
revistas/pope/v24n1/20098x8.gif], com lnj = 1 se o servidor está localizado no
átomo j, e lnk = 0 para todo k¹j. A matriz L é facilmente determinada para a
configuração original do SAMU-192, pois todos permanecem na base central quando
disponíveis. Para simplificar a nomenclatura, a seguir os veículos de suporte
avançado passam a ser chamados de veículos 1 e 2, e os veículos de suporte
básico de 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.
Política de despacho dos servidores
Há uma lista fixa de preferências de despacho para cada átomo. Se o primeiro
servidor desta lista estiver disponível, ele é despachado para atender o
chamado; caso contrário, o próximo servidor disponível da lista é despachado.
Devido à política de prioridade entre veículos VSA's e VSB's, a lista de
preferência de despacho do SAMU-192 foi obtida segundo o procedimento de
geração aleatória de matrizes de Burwell et al. (1993). A Tabela_6 apresenta um
exemplo de uma matriz gerada aleatoriamente para o SAMU-192. Considerando a
configuração original do sistema, a lista de preferências de despachos
apresenta, nas linhas correspondentes aos átomos geradores de chamados da
classe avançada, os veículos 1 e 2 (seqüenciados aleatoriamente) como
servidores primários. As demais posições são ocupadas pelos oito VSB's (também
seqüenciados aleatoriamente), que assumem a função de backup. Similarmente, nas
linhas que representam as áreas geradoras de chamados que necessitam de
atendimento básico, as oito primeiras posições são ocupadas pelos VSB's
(seqüenciados aleatoriamente), e as duas últimas posições restantes são
ocupadas pelos VSA's (também seqüenciados aleatoriamente), que atuam como
backup.
Tempos de atendimento
O tempo total de atendimento de um chamado é composto por um tempo de preparo
do servidor (setup time), tempo de viagem do servidor até o local da
ocorrência, tempo de execução do serviço junto ao usuário (tempo em cena) e o
tempo de retorno à base. Os servidores podem ter taxas médias de atendimento µn
distintas, para cada servidor n = 1, 2, ..., N. No caso de sistemas que
permitem a formação de fila, o modelo hipercubo é ainda mais preciso à medida
que os tempos médios de atendimento aproximam-se dos respectivos desvios-padrão
(Larson & Odoni, 1981).
Tempo de preparação da equipe: Os valores dos tempos de preparação tanto para
equipes de VSA's quanto para equipes de VSB's são pequenos (menos de 1 minuto).
Este tempo é praticamente desprezível uma vez que, estando a ambulância
disponível no momento da ocorrência do chamado, basta que sua equipe se dirija
ao veículo, para que partir para o local do evento.
Tempo de viagem de ida: Na amostra considerada, o tempo médio de viagem
observado (incluindo possíveis tempos de espera em fila) foi de 11 minutos para
os VSA's e de 13 minutos para os VSB's. Estes valores são utilizados
posteriormente para a validação do modelo.
Tempo em cena: No caso dos VSA's, o tempo médio observado na amostra foi de 39
minutos, e para os VSB's, 37 minutos.
Tempo de viagem de volta: Os tempos médios de viagem de retorno à base, são, em
geral diferentes do tempo de viagem de ida, pois em sua grande maioria, este
tempo é medido a partir do local para onde as vítimas tenham sido removidas
(unidade hospitalar ou domicílio), e não a partir do local do evento. Para a
amostra considerada, este tempo foi em média de 13 minutos para VSA's e de 16
minutos para VSB's. Ou seja, o tempo médio de atendimento para um chamado de
urgência no SAMU-192 é de 63 minutos para chamados atendidos por VSA's e de 66
minutos para chamados atendidos por VSB's (Tabela_2). A Tabela_7 mostra os
tempos médios de atendimento de cada ambulância, seus desvios-padrão,
coeficientes de variação e as taxas médias correspondentes.
Observa-se nos resultados da Tabela_7 que os desvios-padrão dos tempos médios
de atendimento são da ordem de grandeza das médias. Estes valores são,
portanto, indicações de que os tempos de atendimento são aproximadamente
exponenciais. De fato, verificou-se, através do Método de Kolmogorov-Smirnov,
que não se pode rejeitar esta hipótese, ao nível de significância a = 0,05.
Também foram testadas hipóteses de igualdade entre os tempos médios de
atendimento de VSA's e VSB's. Para isto foi utilizada a técnica de análise de
variância, a fim de identificar diferenças entre as médias populacionais
devidas às possíveis causas atuando simultaneamente sobre os elementos da
população. O teste verificou com nível de significância a = 0,05 diferenças
entre os tempos médios de atendimento para os dez veículos. Para efeito de
modelagem, optou-se então por considerar servidores distintos no sistema.
Relação entre o tempo de atendimento e o tempo de viagem
Variações no tempo total de atendimento devidas às variações no tempo de viagem
são admitidas como sendo de segunda ordem, quando comparadas às variações dos
tempos junto ao paciente (em cena) e/ou tempo de preparação da equipe (setup).
Esta hipótese, que limita a aplicabilidade do modelo, é freqüentemente
verificada em serviços urbanos, e menos observada em serviços em rodovia. Pode-
se observar que os tempos médios de viagem são pequenos em relação aos tempos
médios de atendimento, para cada ambulância (em média, cerca de 18%), e que
variações nos tempos médios de viagem contribuem pouco para as variações nos
tempos médios de atendimento (compare os valores apresentados nas Tabelas_7 e
8).
3.2 Possíveis estados do sistema
No modelo hipercubo, as transições entre estados ocorrem de modo idêntico aos
modelos Markovianos clássicos de filas. Admite-se que apenas um servidor é
despachado para atender um chamado, e que a probabilidade de chegarem dois
chamados exatamente no mesmo instante, e a probabilidade de dois atendimentos
terminarem exatamente no mesmo instante, são nulas. Em síntese, qualquer
transição de um passo é permitida, enquanto todas as transições com mais de um
passo não são (processos estocásticos de nascimento e morte).
O SAMU-192 possui 10 átomos e 10 ambulâncias; assim, o modelo é aplicado para
uma situação em que NA = 10 e N = 10. O serviço em operação na cidade de
Campinas permite que seus usuários entrem em uma fila, caso todas as
ambulâncias estejam ocupadas no instante da ocorrência do chamado. Cada estado
particular do sistema é representado por um vetor com N=10 elementos, onde cada
um pode assumir valores 0 ou 1, representando o estado de cada ambulância (0 se
estiver disponível e 1, caso contrário). Logo, existem 210 = 1024 estados
possíveis no sistema, além dos 10 estados saturados, S11, S12, ..., S20, que
definem a fila. A Figura_5 mostra os diagramas de fluxos de entrada nos estados
0000000000 (sistema vazio) e 1111111111 (sistema cheio), de acordo com a matriz
de preferência de despachos apresentada na Tabela_6.
De maneira análoga, podem ser considerados os fluxos para todos os estados
intermediários do sistema. A Figura_6 ilustra para o estado intermediário
1000000101.
3.3 Equações de balanço
Para se descrever as equações de balanço dos estados, é preciso admitir a
condição de equilíbrio para o sistema, ou seja, para todos os possíveis
estados, o fluxo com que o sistema entra em tal estado deve ser igual ao fluxo
com que ele sai deste estado. Considera-se a matriz de preferência de despacho
dos servidores, uma vez que os veículos são despachados na ordem de preferência
que aparecem nesta lista (pois as taxas de transição dependem da ordem em que
os veículos são enviados para os átomos). O sistema de equações produzido para
este estudo de caso resulta em 1024 equações lineares (ou seja, uma para cada
estado), cujas incógnitas são suas probabilidades de equilíbrio do sistema. Por
ilustração, seguem abaixo as equações de equilíbrio dos estados 0000000000,
1111111111 e 1000000101 (Figuras_5 e 6).
Da teoria de filas sabemos que o sistema acima é indeterminado. Uma forma de
eliminar esta indeterminação é introduzindo uma equação de normalização, ou
seja, considerando que a soma das probabilidades de todos os possíveis estados
do sistema deve ser igual a 1. Devido à analogia com os modelos de filas
clássicos M/M/N, considerando-se a política operacional onde se permite a
formação de filas, facilmente pode-se estabelecer as seguintes relações para os
estados que compõem a fila (maiores detalhes podem ser encontrados em Takeda,
2000):
3.4 Solução do modelo
Sistemas que operam com N servidores possuem um sistema linear com 2N equações,
cujo resultado são os valores das probabilidades de equilíbrio do sistema.
Portanto, mesmo em casos onde N é pequeno, é essencial assegurar a viabilidade
computacional de se resolver o problema. Tal sistema pode ser resolvido, por
exemplo, pelo método de Gauss-Jordan, ou pelos métodos iterativos de Gauss-
Seidel ou Gauss-Jacobi. Os métodos iterativos são métodos aproximados por
natureza, pois sua implementação exige um critério de parada baseado no erro
absoluto máximo tolerável. Além disso, existe a possibilidade de não
convergirem. No presente trabalho, o sistema de equações que representa os
possíveis estados do SAMU-192 foi solucionado utilizando-se o método de Gauss-
Jordan que, apesar de ser mais custoso computacionalmente (se comparado com o
método de Gauss-Seidel), não envolve condições adicionais para a obtenção da
solução.
Larson (1975) propôs um método aproximado baseado na solução de um sistema não
linear com apenas N equações. Este método pode ser usado em casos onde N é
grande, e alternativamente aos métodos exatos, que podem ficar impraticáveis
computacionalmente. O método aproximado de Larson difere do método exato,
basicamente em dois aspectos: o primeiro é a suposição de que todos os
servidores são homogêneos; o segundo é que a escolha do servidor a ser
despachado para realizar o atendimento se dá de forma aleatória em um sistema
M/M/N, enquanto que no método exato esta seleção se dá na seqüência
estabelecida pela política de despachos do sistema (Chiyoshi et al., 2001).
3.5 Resultados
Os resultados obtidos com a aplicação do modelo hipercubo mostraram sua
eficácia e precisão para avaliar o SAMU-192. A probabilidade de se encontrar o
sistema vazio (p0000000000), ou seja, com todas as ambulâncias disponíveis é
pequena, em torno de 0,003, e a probabilidade do sistema estar saturado (ps) é
de 0,09, isto é, cerca de 9% dos chamados encontram o sistema com todos os
servidores ocupados mais 0, 1, 2, ..., ou 10 usuários em fila. A probabilidade
de perda do sistema é de apenas 0,0001. Com a distribuição de equilíbrio de
estados computada, pode-se estimar diversas medidas de desempenho interessantes
para o gerenciamento do sistema. Os resultados que seguem condizem com as
condições operacionais originais do SAMU-192.
Carga média de trabalho
A carga de trabalho (workload) de um servidor n (rn), representa a fração de
tempo em que o servidor permanece ocupado, e pode ser facilmente obtida através
da soma das probabilidades dos estados em que o servidor está ocupado, ou seja:
onde pQ é a probabilidade de formação de fila, e pode ser calculada como: [/
img/revistas/pope/v24n1/20098x9.gif].
No caso do SAMU-192, os resultados produzidos pelo modelo confirmaram as
observações iniciais feitas pela coordenação. Os VSB's ficam, em média, 63% do
tempo ocupados, e os VSA's, 39% do tempo ocupados. Quanto ao sistema como um
todo, o valor obtido foi de 58% (compatível com as informações colhidas no
sistema, de 60%). A Tabela_8 apresenta uma comparação entre as cargas médias de
trabalho produzidas pelo modelo com as informações fornecidas pelo sistema para
os VSA's e VSB's. Uma das vantagens deste cenário, onde todos os veículos
permanecem centralizados, é o fato de existir um bom balanceamento da carga de
trabalho das ambulâncias.
Tempos médios de viagem
Estes valores são obtidos a partir da matriz origem-destino dos tempos de
viagem entre todos os pares de átomos (tij), apresentados na Tabela_5. Em
geral, refletem a influência de fatores como configurações do tráfego local,
presença de barreiras, horário, etc. Desta forma, o tempo gasto por um servidor
qualquer para ir do átomo i até o átomo j não necessariamente coincide com o
tempo gasto para ir de j para i; isto é, nem sempre tij=tji.
a) Tempo médio de viagem para o sistema
Para calcular o tempo médio de viagem do sistema ([/img/revistas/pope/v24n1/
20098s2.gif]), é necessário conhecer a localização de um servidor, quando
despachado para atender a um chamado, o tempo médio necessário para um servidor
n, quando disponível, viajar até o átomo j, e o tempo médio de viagem para
chamados sujeitos a espera em fila.
Tempo médio de viagem para um servidor n deslocar-se até o átomo j:
Tempo médio de viagem para chamados sujeitos a espera em fila (aproximado por):
onde as razões correspondem à
probabilidade de um chamado que está em fila ter sido gerado no átomo j, e à
probabilidade deste chamado ser atendido por um servidor localizado no átomo i,
respectivamente.
Freqüências de despachos:
onde fnj representa a fração de todos os despachos do servidor n ao átomo j;
fnj[1] corresponde à fração de todos os despachos do servidor n para o átomo j
que não implica em tempo de espera para o usuário; fnj[2] representa a fração
de todos os despachos do servidor n para o átomo j sujeitos a esperas pelo
atendimento; Enj é o conjunto dos estados nos quais um chamado do átomo j é
atendido pelo servidor n, e ps = pQ + p11...1 é a probabilidade de saturação do
sistema. Assim, o tempo médio de viagem do sistema pode ser obtido por:
Para o SAMU-192, este tempo foi calculado em 13,8 minutos, enquanto o valor
observado na amostra foi de 14,5 minutos (diferença de 0,7 minutos, conforme
pode ser observado na Tabela_5). O desvio com relação ao valor amostrado é de
apenas 4,5%, o que é aceitável para validar o modelo hipercubo nesta aplicação,
considerando, por exemplo, possíveis imprecisões nos dados de entrada e na
operação do sistema.
b) Tempo médio de viagem de cada ambulâncias
Outro importante indicador de desempenho do sistema é o tempo médio de viagem
de cada servidor n, <formula/>, ou seja, quanto
tempo, em média, cada equipe gasta para se deslocar até o local do chamado e
iniciar o atendimento junto às vítimas, independentemente da região que
solicitou o serviço.
A Tabela_9 mostra estes tempos comparados aos obtidos na amostra. Os valores
apontam para respostas mais rápidas quando o chamado é do tipo avançado. Isto
se explica devido ao grau de urgência envolvido. Os desvios com relação aos
tempos observados no sistema são da ordem de 3,3% para os VSA's e de 5,1% para
os VSB's, com um desvio médio de 4,8%, se consideradas todas as ambulâncias.
Estes desvios são relativamente pequenos, o que corrobora para a validação do
hipercubo para analisar o presente sistema.
c) Tempo médio de viagem aos átomos
Outra maneira de olhar para o desempenho do sistema é através do tempo médio de
viagem para cada átomo j, <formula/>, ou seja, em
função da região onde estão as vítimas (em média, quanto tempo uma equipe
qualquer do sistema gasta para se deslocar e iniciar os procedimentos médicos
em cada região).
Desconsiderando-se a região central, onde se localiza a base das ambulâncias,
observa-se que as regiões geradoras de chamados básicos têm tempos muito
semelhantes; o mesmo acontece para as regiões geradoras de chamados avançados.
Isto se deve ao fato da localização da base do SAMU-192, na região Central, na
prática, ser eqüidistante de todos os demais átomos do sistema. Os desvios
relativos com relação aos valores observados no próprio sistema foram pouco
significativos, em termos práticos, da ordem de 0,1% no caso dos átomos da
classe avançada e 5,5% para a classe básica e um desvio médio para o sistema de
apenas 3,0% (Tabela_10). Os desvios absolutos foram da ordem de 6,6% para os
átomos da classe avançada, 9,0% para os átomos da classe básica e 7,9% para o
sistema.
Outras medidas de desempenho foram computadas e podem ser encontradas em Takeda
(2000). Os resultados mostraram que o modelo está razoavelmente calibrado, pois
produziu desvios pouco significativos com relação aos dados reais, validando a
hipótese inicial de que o hipercubo constitui uma ferramenta eficaz para
auxiliar nas análises de planejamento e operação deste sistema.
3.6 Calibração dos tempos de atendimento
É comum observar em determinados serviços de emergência que a parcela relativa
ao tempo de viagem dos servidores representa uma fração não desprezível do
tempo total de atendimento, como pode ser o caso dos serviços de ambulância.
Este tempo é composto pelo tempo de viagem até o local da ocorrência, tempo de
viagem do local da ocorrência até um hospital ou mesmo domicílio das vítimas e
tempo de viagem de retorno à base. Nestes casos, é necessário que o tempo de
atendimento de cada servidor seja ajustado, a fim de refletir os vários fatores
que o influenciam. Isto é feito através do processo de calibração de µn-1,
utilizando para isto, a expressão do tempo médio de viagem do servidor n, [/
img/revistas/pope/v24n1/20098s3.gif].
O processo consiste em verificar se existe diferença significativa entre os
tempos médios de atendimento admitidos como parâmetros de entrada no modelo e
os respectivos tempos médios de atendimento gerados. Se a soma de todos os
tempos que compõem o tempo médio de atendimento do servidor n for diferente de
µn-1, admitido no início da modelagem, então, o modelo deve ser executado
novamente, utilizando como parâmetro este novo tempo médio de atendimento. Este
procedimento deve ser repetido até que a diferença entre os tempos médios de
atendimento admitidos como parâmetros e os tempos médios de atendimento gerados
pelo modelo sejam suficientemente próximos. Experiências de diversos autores
mostram que este procedimento costuma convergir em duas ou três iterações, para
uma precisão razoável dos valores de µn-1 (Larson & Odoni, 1981). Este
procedimento é utilizado nos resultados da próxima seção.
4. Avaliação de Cenários Alternativos
Em serviços de urgência como o SAMU-192, é óbvia a necessidade de se operar com
tempos de resposta pequenos. Este tempo é importante do ponto de vista técnico,
pois quanto mais cedo as vítimas começam a receber atendimento, maiores são
suas chances de recuperação, e menores as probabilidades de agravamento dos
casos. Na prática, o tempo de resposta inclui o tempo de preparação da equipe,
o tempo de viagem até o local onde estão as vítimas, mais um eventual tempo de
espera em fila (caso todas as ambulâncias estejam ocupadas). Como o tempo médio
de preparação da equipe é muito pequeno (conforme discutido na seção 3), para
sistemas onde a política operacional não admite a formação de filas, o tempo
médio de resposta praticamente coincide com o tempo médio de viagem do sistema
(<formula/>). Ao se permitir a formação de fila, o
tempo médio de resposta passa a ser calculado considerando-se [/img/revistas/
pope/v24n1/20098s5.gif] e as probabilidades dos estados que representam a fila,
por exemplo, para um único usuário em fila, [/img/revistas/pope/v24n1/
20098s5.gif] com probabilidade P(S11), para dois usuários em fila, [/img/
revistas/pope/v24n1/20098s5.gif] com probabilidade P(S12), e assim
sucessivamente. Na configuração original do sistema, estas probabilidades são
relativamente baixas (da ordem de 10-3). Por simplicidade, nas análises que
seguem, os impactos da descentralização e do aumento do número de ambulâncias
são avaliados em termos dos tempos médios de viagem (ao invés de tempos médios
de resposta).
Vários são os fatores que podem influenciar no tempo de resposta a um chamado,
dentre eles: dia da semana, período do dia, condições do tráfego local, etc,
que muitas vezes fogem do controle do sistema, e outros, como capacitação
profissional da equipe, número de veículos disponíveis e suas localizações, que
podem ser planejados e dimensionados pela equipe de gerência. Uma das
alternativas a ser avaliada é com relação aos efeitos provocados por um aumento
no número de ambulâncias para realizar as operações. Esta opção nem sempre é a
mais viável para ser implantada, pois envolve a disponibilidade de recursos
financeiros para a aquisição de novos veículos, contratação de equipe
especializada e manutenção de veículo e equipe. Por outro lado, opções menos
custosas como, por exemplo, uma reconfiguração da estrutura já existente, podem
causar efeitos importantes sobre o nível de serviço oferecido, sem exigir que
sejam feitos grandes investimentos. Neste sentido, as primeiras alternativas
operacionais apresentadas a seguir refletem os impactos da descentralização das
ambulâncias já existentes no SAMU-192. Intuitivamente, as distâncias médias de
viagem tornam-se menores; logo, os tempos médios de viagem também devem
diminuir, implicando em respostas mais rápidas.
4.1 Descentralização das ambulâncias
A legislação brasileira não impõe que a base de um SAMU deva ser junto a um
hospital, pronto-socorro, ou qualquer outro tipo de unidade de saúde do
município. Entretanto, ao se concentrar as equipes em uma unidade deste tipo,
há o aproveitamento da infraestrutura existente, gerando uma economia que pode
vir a ser aplicada para a manutenção e melhoramento do sistema, além da
possível colaboração de profissionais da unidade com as equipes de atendimento
de emergência. Neste sentido, os cenários descentralizados apresentados a
seguir consideram como bases as principais unidades de saúde do município,
localizados em cada uma das regiões consideradas (Norte, Sul Leste Oeste e
Central). Várias alternativas operacionais de descentralização das ambulâncias
do sistema foram estudadas, desde o simples reposicionamento de uma única
ambulância, até cenários com descentralização total. O primeiro cenário é
descrito em detalhes; os demais são similares e, portanto, são descritos mais
resumidamente por motivo de economia de espaço. Para mais detalhes deste
cenário, o leitor pode consultar Takeda (2000).
Neste primeiro cenário estudou-se a alternativa mais simples de
descentralização. Nele, um VSB é localizado na região de maior demanda do
sistema (Tabela_4): o VSB 5 foi escolhido arbitrariamente (dentre os oito VSB's
do sistema) e posicionado na região OB (Figura_7). Os demais VSB's e os dois
VSA's permanecem centralizados na base. No caso de um chamado básico do átomo
OB, o VSB 5 é o primeiro a ser chamado para realizar o atendimento, seguido dos
demais VSB's (escolhidos aleatoriamente), por sua vez seguidos dos dois VSA's
(escolhidos aleatoriamente). No caso de um chamado avançado do átomo OA, os
seus servidores primários continuam sendo os veículos 1 e 2 (escolhidos
aleatoriamente); caso estes dois VSA's estejam ocupados, o VSB 5 é o primeiro
backup a ser chamado, seguido dos demais VSB's (escolhidos aleatoriamente). Nos
demais átomos a política de prioridade continua igual à configuração original
do sistema. Devido à nova organização do sistema, as hipóteses (5) e (7) da
modelagem são modificadas. Para exemplificar, serão apresentadas as
modificações ocorridas nestas hipóteses apenas para este cenário. A matriz de
localização dos servidores é obtida facilmente para esta configuração:
Para implementar a política de despacho descrita acima, optou-se por continuar
usando o método de geração aleatória de matrizes de Burwell et al. (1993),
agora levando-se em consideração a localização descentralizada do VSB 5. A
seguir, apresenta-se, na Tabela_11, um exemplo de lista de preferência de
despachos (gerada aleatoriamente), que reflete os efeitos da nova estrutura
operacional, onde o VSB 5 é alocado como servidor primário para o átomo 7 (OB),
e primeiro backup básico para o átomo OA. Os demais átomos continuam sendo
atendidos, com prioridade, pelos veículos posicionados na região Central.
A Figura_8 exemplifica o diagrama de fluxos considerando o estado intermediário
10000000101 nesta nova configuração operacional, e sua equação de balanço. Os
demais estados e suas respectivas equações podem ser obtidos de maneira
semelhante. As modificações sobre as hipóteses para os demais cenários adiante
e as adaptações sobre seus diagramas de fluxos e suas equações de equilíbrio
também são semelhantes.
A Tabela_12 apresenta algumas medidas de desempenho para esta configuração e os
compara aos valores obtidos pelo modelo para a configuração original do
sistema. Observou-se valores semelhantes de cargas médias de trabalho nos dois
cenários. O VSB 5 apresentou um fator de utilização um pouco mais elevado que
os demais (66%) em virtude de ter sido posicionado na região Oeste, que
representa o maior índice de solicitações de chamados no sistema. O tempo médio
de viagem das ambulâncias diminuiu suavemente, em particular no caso do VSB 5
localizado em OB, cuja redução é significativa (38,0%), respondendo de forma
mais rápida às solicitações desta região. O tempo médio de viagem do sistema
sofreu uma redução de 4,4% (de 13,6 para 13,0 minutos), correspondendo a 0,9%
para os VSA's e 5,0% para os VSB's (Tabela_14). O tempo médio de viagem aos
átomos sofreu uma suave redução: nas áreas geradoras de chamados básicos a
redução média foi de 3,6%, não sendo observadas reduções nas demais regiões
(Tabela_15).
Cenário 2: descentralização de duas ambulâncias
Considerando os resultados obtidos deslocando-se uma única ambulância, neste
cenário avaliou-se a descentralização de dois VSB's. Várias são as alternativas
de localização para estas ambulâncias, porém, a experiência da equipe do SAMU-
192, aliada aos altos índices de demanda apresentados por OB, posicionou os
dois VSB's também à região Oeste. As cargas médias de trabalho dos veículos
continuaram balanceadas, e com valores altos, sendo que os veículos que foram
deslocados para OB (veículos 3 e 5) apresentaram uma suave redução, causada
pela prioridade em atender chamados desta região específica. O tempo médio de
viagem dos VSB's descentralizados foi menor (redução média de 32,4% com relação
ao cenário original), o que implica em respostas mais rápidas nesta região
particular. Para o sistema como um todo, o tempo médio de viagem das
ambulâncias reduziu de 13,6 para 12,5 minutos. Reduções semelhantes foram
observadas para os tempos médios de viagem aos átomos. As Tabelas_14 e 15
resumem estes resultados.
Cenário 3: descentralização de três ambulâncias
Este cenário considera a estrutura proposta no cenário 2 e desloca uma nova
ambulância para a região NB (VSB 3 em NB, e VSB's 4 e 6 em OB). Embora o número
de solicitações de NB seja praticamente igual ao observado em LB (conforme
apresentado na seção 3), o posicionamento deste novo VSB em NB é justificado
pelo fato de que, nesta região, encontra-se localizado um grande centro
hospitalar de referência do município. Os resultados obtidos foram próximos dos
obtidos nos cenários 1 e 2 (Figura_11 e Tabelas_14 e 15). Os tempos médios de
viagem das ambulâncias e para os átomos foram menores, se comparados ao cenário
original. O tempo médio de viagem para o sistema como um todo diminuiu
aproximadamente 12% com relação ao cenário original.
Cenário 4: descentralização de quatro ambulâncias
Estendendo as análises, este cenário apresenta os resultados de uma estrutura
operacional onde cada região passou a ser base de ao menos um VSB. Os átomos
NB, SB, LB e OB tornaram-se bases de um VSB (VSB 3 em NB; VSB 5 em SB; VSB 6 em
OB; VSB 7 em LB), e os outros quatro veículos permaneceram centralizados na
base do SAMU-192. As cargas médias de trabalho dos VSB's sofreram certo
desbalanceamento, que pode ser explicado pelas diferenças entre as demandas de
cada região, especificamente. Quanto aos tempos médios de viagem das
ambulâncias, a redução foi sensível em todos os casos, em relação ao cenário
original. O tempo médio de viagem para o sistema passou de 13,6 para 11,7
minutos (Tabela_14). Os tempos médios de viagem aos átomos reduziram-se em
proporções semelhantes (Tabela_15). Esta opção mostrou-se atraente, ficando um
pouco prejudicada apenas por causa do desbalanceamento das cargas médias de
trabalho das ambulâncias.
Cenário 5: descentralização de cinco ambulâncias
O cenário 4 apresentou bons resultados nas análises de descentralização.
Entretanto, as principais medidas de desempenho para a região OB foram um pouco
inferiores se comparadas às apresentadas pelas demais regiões. Isto se explica
principalmente pelo fato de ser a região de maior demanda do sistema. Assim, o
cenário 5 amplia a estrutura do cenário 4, posicionando um outro veículo (VSB
9) em OB. Houve, então, um melhor balanceamento das cargas médias de trabalho
(Tabela_13), e o tempo médio de viagem do sistema passou de 11,7 (cenário 4)
para 11,5 minutos (Tabelas_14 e 15).
Cenário 6: descentralização de seis ambulâncias
O resultados até aqui obtidos motivaram a configuração operacional do cenário
6, que combina as configurações dos cenários 3 e 5, respeitando-se as variações
da demanda em cada região e a viabilidade de se constituir a região NB como
base de mais uma ambulância. Neste caso, a nova distribuição dos VSB's foi:
VSB's 3 e 10 em NB; VSB's 6 e 7 em OB; VSB 4 em LB; VSB 5 em SB. Nesta
configuração, houve um bom balanceamento das cargas médias de trabalho (Tabela
13) e o tempo médio de viagem para o sistema reduziu cerca de 16,2% com relação
ao cenário original (Tabelas_14 e 15).
Nota-se que os diversos cenários de descentralização provocaram melhorias em
algumas medidas de desempenho, que refletem diretamente a qualidade do serviço
oferecido. Este fato justificou outras investigações nesta mesma direção. A
descentralização de sete ambulâncias, deixando a região Central somente com um
VSB e, por fim, a descentralização dos oito VSB's, ficando apenas os dois VSA's
na base do SAMU-192, conforme sugerido inicialmente pela equipe do SAMU-192.
Estes cenários geraram resultados pouco satisfatórios, sempre inferiores aos
dos cenários 1 a 6 (isto se explica pelo fato de que a região Central é
responsável pela segunda maior taxa de solicitações de serviço neste sistema).
Questões sobre o reposicionamento de VSA's também foram levantadas. Entretanto,
são condições pouco viáveis na prática do SAMU-192, pois todo atendimento
realizado por uma equipe avançada possui um médico acompanhando, e devido à
escassez de recursos, este profissional também desempenha a função de médico
regulador das urgências na base Central do SAMU-192.
4.2 Aumento do número de ambulâncias
Verificadas as diferenças nos tempos médios de viagem por meio de
descentralização, foi também desenvolvido um estudo sobre os impactos do
aumento do número de ambulâncias, partindo-se da configuração operacional
proposta no cenário 6, que apresentou bons resultados.
Cenário 7: sistema operando com um novo VSB
Este cenário posiciona um novo VSB (número 11) na região Central. Esta
alternativa operacional se baseou nas variações da demanda do sistema. As
cargas médias de trabalho diminuíram, em média, 17,9% em relação ao cenário 6
(Tabela_13); os tempos médios de viagem das ambulâncias reduziram em torno de
14% para os VSB's 9% para os VSA's, se comparados aos valores observados no
cenário 6 (Tabela_14). Os tempos médios de viagem aos átomos também diminuíram:
3,6% para as regiões geradoras de chamados avançados e 9,5% para as regiões
geradoras de chamados básicos (Tabela_15). O tempo médio de viagem do sistema
passou para 10,3 minutos.
Cenário 8: sistema operando com dois novos VSB's
Considerando que as regiões Leste e Sul ainda operavam como bases de apenas uma
equipe básica, este cenário trabalhou com a alocação de um novo VSB (número 12)
em LB. Esta escolha foi feita levando-se em conta as demandas de LB e SB. A
região SB é, em síntese, de característica industrial, com baixa densidade
demográfica. Observou-se, neste caso, redução e balanceamento das cargas médias
de trabalho das ambulâncias. Comparadas ao cenário 6, as cargas médias de
trabalho apresentaram-se 30% inferiores (Tabela_13). Os tempos médios de viagem
das ambulâncias e para os átomos reduzem de maneira significativa (Tabelas_14 e
15).
Cenário 9: sistema operando com dois novos VSB's e um novo VSA
O cenário 9 estende o cenário 8, considerando mais um novo VSA (veículo 13).
Discussões com a coordenação do sistema indicaram a região Oeste como a
receptora desta nova ambulância. Apesar das exigências para a operação de um
VSA (conforme comentário na seção 4), a região Oeste também representa o maior
índice de solicitação de chamados do tipo avançado (Tabela_4). Portanto, com
base nos resultados obtidos no cenário 8 com relação aos tempos de viagem (e
conseqüentes tempos de resposta), a melhor estratégia operacional seria
localizar o novo VSA nesta região. As Tabelas_13, 14 e 15 (e as Figuras_9, 10 e
11) apresentam os resultados obtidos e as respectivas reduções nas medidas de
desempenho.
4.3 Comparação entre as alternativas operacionais
Para sintetizar as análises acima descritas e facilitar as comparações entre os
diversos cenários investigados, as tabelas e figuras seguintes apresentam as
principais medidas de desempenho obtidas.
Carga média de trabalho
A Tabela_13 e a Figura_9 mostram as variações das cargas médias de trabalho
para os nove cenários estudados; apresentam também os resultados referentes à
configuração original do sistema (denominado "Cenário 0"). Como esperado, as
cargas médias de trabalho mostram-se sensíveis principalmente ao aumento do
número de ambulâncias no sistema (Cenários 7, 8 e 9).
Tempo médio de viagem de cada ambulância
Sistemas descentralizados produzem tempos de viagem menores, e na prática, isto
representa níveis de serviços mais elevados (Tabela_14 e Figura_10). Estas
observações são também verificadas se o número de ambulâncias aumenta.
Tempo médio de viagem aos átomos
Outra medida de tempo de resposta importante é o tempo médio de viagem aos
átomos. No SAMU-192, esta medida reflete quanto tempo, em média, um chamado
numa região qualquer do sistema espera para receber o atendimento (Tabela_15 e
Figura_11).
Outras medidas de desempenho também foram consideradas na análise. Por exemplo,
a proporção de despachos de ambulâncias inter-átomos e a fração de chamados
avançados que foram atendidos por equipes básicas (backup). À medida que esta
fração aumenta, os usuários que necessitam de suporte avançado de atendimento
estão recebendo assistência médico-emergencial de qualidade inferior.
Analogamente às conclusões referentes aos tempos médios de viagem, sistemas
parcialmente descentralizados apresentam frações menores que as observadas na
configuração original do sistema (cenário 0). Por exemplo, para a configuração
original esta fração resultou em 19%, enquanto para o cenário 9, este valor
reduziu para 5%. Para mais detalhes destas análises, o leitor pode consultar
Takeda (2000).
5. Conclusões e Perspectivas
O modelo hipercubo de filas espacialmente distribuídas é uma ferramenta precisa
e eficaz para modelar sistemas urbanos de atendimento médico de urgência, como
é o caso do SAMU-192 de Campinas. Os resultados por ele produzidos podem
auxiliar tanto no planejamento quanto em ações diretas sobre a operação do
sistema. A aplicação do modelo no SAMU-192 mostrou que a descentralização de
ambulâncias é uma alternativa eficaz para se elevar o nível de serviço
oferecido por este sistema. Se, por um lado, é óbvio que melhorias são obtidas
com ações que reduzem os tempos de viagem, e conseqüentemente o tempo de
resposta a um chamado, quantificar com precisão tais melhorias (por meio de
diversos índices de desempenho) não é um processo simples, e o modelo hipercubo
de filas é um instrumento eficiente para isso. Os resultados obtidos com os
cenários aqui estudados mostraram principalmente que:
i) O simples reposicionamento de uma das ambulâncias para a região de maior
índice de demanda (Cenário 1) provocou reduções sensíveis nos tempos médios de
viagem. Os impactos foram particularmente sentidos na região que passou a ser a
nova base da ambulância (conforme mostrado na Seção 4);
ii) Aumentando-se o nível de descentralização, os resultados tornaram-se cada
vez melhores (por exemplo, cenários 2 e 3). Alternativas operacionais onde cada
região tornou-se base de ao menos uma ambulância também produziram impactos
significativos nos tempos de viagem (cenários 4, 5 e 6). Os seis primeiros
cenários oferecem condições para o tomador de decisões optar por configurações
operacionais não tão complexas, economicamente viáveis, e que produzem melhores
níveis de serviços aos usuários do que a configuração original. Ainda neste
contexto, pode-se afirmar que os indicadores de desempenho do sistema foram
melhorando, gradativamente, porém até certo ponto, conforme discutido no
cenário 6. Alternativas de descentralização de sete ou oito equipes básicas não
produziram resultados satisfatórios, o que mostra que a melhor configuração não
necessariamente é a descentralização total, como sugerido inicialmente pela
equipe do SAMU-192.
iii) O aumento do número de ambulâncias no sistema, como esperado, provocou
impactos significativos sobre as medidas de desempenho, tornando-as próximas
dos padrões internacionais de atendimento (Volz, 1971 e Fujiwara et al., 1987).
Entretanto, tratam-se de alternativas que exigem investimentos financeiros não
só para suas implantações, mas também para a manutenção das novas equipes.
A experiência da aplicação do modelo hipercubo no sistema SAMU-192 de Campinas
contribuiu para difundir, para a Rede Brasileira de Cooperação em Emergências
(RBCE), a importância de conciliar a experiência da classe médica com o uso de
ferramentas analíticas para auxiliar nas decisões estratégicas do atendimento
emergencial de saúde à população brasileira. Este trabalho também mostrou a
importância de pesquisas e métodos para a análise quantitativa do desempenho
operacional dos serviços de atendimento médico de urgência. Neste sentido,
algumas propostas para estudos futuros surgiram.
Uma delas é a remodelagem das regiões do sistema SAMU-192, uma vez que a
subdivisão utilizada pela Secretaria Municipal de Saúde (como sendo de
cobertura dos Centros de Saúde) pode não refletir as reais necessidades de
demanda de um serviço de atendimento de urgência. Considerando as variações de
demanda observadas em Campinas, um estudo particular sobre a partição da região
Oeste (Oeste 1 e Oeste 2, por exemplo) também poderia ser interessante. Em
nível estadual, seriam interessantes pesquisas com a aplicação da modelagem em
outros serviços, considerando cenários de cidades médias e pequenas, e também
estudos caracterizando serviços de outras regiões brasileiras. Em outra direção
ainda pouco explorada na literatura, seriam interessantes pesquisas sobre a
variabilidade das medidas de desempenho geradas pelo modelo hipercubo, visto
que em geral estas medidas são caracterizadas apenas pelas médias das
distribuições de equilíbrio.