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BrBRCEEx0100-40421998000400001

BrBRCEEx0100-40421998000400001

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioEx-Tech-Multi Sciences
Great areaExact-Earth Sciences
ISSN0100-4042
ano1998
Issue0004
Article number00001

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EDITORIAL

De 25 a 28 de maio p.p. ocorreu em Poços de Caldas a 21a Reunião Anual da SBQ, com a apresentação de 1268 trabalhos e a participação de 1625 sócios, configurando-se assim na maior reunião científica do país. Além das discussões acadêmico-científicas ocorridas nas conferências, sessões coordenadas e de painéis, assembléias divisionais e reuniões informais, a reunião culminou com a 21a Assembléia Geral da SBQ, quando tomaram posse a Diretoria e o Conselho para o biênio 1998 - 2000. Neste momento, como Ex-Presidente da SBQ, cabe fazer uma reflexão sobre os avanços da Sociedade no biênio 96-98 e arriscar opinar sobre os desafios futuros.

No plano interno, neste biênio, a SBQ continuou avançando com a profissionalização e a informatização no seu gerenciamento e divulgação, bem como continuou a garantir a qualidade editorial e científica de suas publicações. No tocante às Reuniões Anuais, foram realizadas alterações no seu formato, especialmente nas atividades noturnas, e nos resumos, que foram ampliados para duas páginas o que facilitou a sua avaliação. Estas modificações foram bem recebidas e absorvidas pela Sociedade. Entretanto, é no plano externo que as ações da SBQ têm maior impacto e onde se encontram os maiores desafios atuais e futuros da Sociedade, especialmente no sistema de ensino, ciência e tecnologia do país.

Transformações significativas foram iniciadas sobre o sistema de ensino, ciência e tecnologia do país, as quais estão relacionadas direta ou indiretamente com a SBQ e que têm despertado o interesse dos sócios bem como acaloradas discussões. Seria muito difícil discutir o amplo espectro destas transformações, neste editorial, sem torná-lo excessivamente longo e tedioso.

Deste modo, dirigiremos, no momento, as nossas reflexões para alguns aspectos que julgamos os mais relevantes: a graduação e pós-graduação em química, a avaliação por pares e o financiamento do ensino e pesquisa.

O ensino de graduação em química passa por uma fase extremamente difícil. O parque laboratorial/instrumental/bibliotecas é, no máximo, razoável onde existem cursos de Pós-Graduação em Química, sendo, entretanto, inadequado e/ou obsoleto quando da inexistência de Cursos de Pós-Graduação na Instituição. A evasão média é superior a 70% e a grande maioria dos currículos atuais forma químicos para serem empregados em indústrias e/ou estudantes de pós-graduação.

Neste cenário, foi promulgada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996 (Lei no 9.394). O Prof. Romeu C. Rocha Filho fez uma ampla avaliação das perspectivas e desafios para a área de Química no editorial de Química Nova, vol. 20, no 4, 1997. Destacamos que a nova LDB acaba com o "currículo mínimo" e incentiva a flexibilização curricular. É o momento da área de química realizar uma reforma curricular que, sem prejuízo de uma formação didática, científica e tecnológica sólida, avance também na direção de uma formação humanística que condições ao novo profissional de exercer a profissão em defesa da vida, do ambiente e do bem estar dos cidadãos.

Também, é preciso tornar os cursos de química mais atraentes e dinâmicos, de modo a reduzir a evasão e estimular o aprendizado e o espírito empreendedor do estudante. Nesse sentido a SBQ, através dos seus sócios e de suas publicações e reuniões científicas, poderá ter um papel propositivo relevante.

É inquestionável o crescimento vertiginoso da Pós-Graduação em Química nos últimos 20 anos, bem como a sua contribuição para a melhoria do ensino de graduação. Na avaliação da CAPES realizada em 1996, relativa ao período 94-95, existiam 43 cursos e 14 destes (33%) receberam o conceito A, o que demonstra a qualidade da área. Uma avaliação geral, utilizando os dados dos últimos dez anos, revelou tendência decrescente no tempo de titulação e crescente no número de publicações e dissertações/teses defendidas. Recentemente, sem discussão ampla com a comunidade acadêmica, a CAPES alterou os critérios de avaliação e, entre outros, substituiu os conceitos de E a A por números de 1 a 7. Se a proporção anterior prevalecer, pelo menos 1/3 (cinco) dos cursos com conceito A deverão atingir o conceito 7. No momento a comunidade aguarda a divulgação dos novos conceitos, com a expectativa de que a avaliação torne-se cada vez mais qualitativa e menos quantitativa. Infelizmente, a discussão, que não ocorreu antes da avaliação, ocorrerá apenas após. Por outro lado, cabe registrar que são preocupantes os cortes ocorridos nas bolsas de formação e o nível de desinformação associado à sua distribuição.

A avaliação da Pós-Graduação está intimamente relacionada com a avaliação dos professores/pesquisadores no CNPq. Enquanto o número de docentes doutores atuando na PG em Química era 693, o de bolsas de produtividade em pesquisa era cerca da metade deste número. para comparação, a Física contava, na mesma época, com 886 doutores e um número de bolsas de produtividade em pesquisa praticamente duas vezes maior que o da Química! É óbvio que o congelamento nas bolsas está penalizando a nossa área e, o que é mais grave, impedindo o acesso de novos doutores produtivos às mesmas, bem como impondo parâmetros de cortes indesejáveis.

O aspecto mais relevante considerado nas avaliações na CAPES e no CNPq é a publicação de artigos. Certamente que este parâmetro não é, e nem pode ser, o único. Entretanto, freqüentemente, a saúde acadêmica dos cursos de PG é associada ao número de publicações/docente/ano, ou a posição do pesquisador no CNPq é associada ao número de artigos publicados no biênio avaliado. Números têm significado! Comparar cursos de pós-graduação de dimensões distintas em estágios de consolidação distintos e com acesso a recursos diferenciados, baseando-se apenas em indicadores quantitativos, pode levar o sistema avaliador/avaliado a desvios indesejáveis. A avaliação do pesquisador não pode desconsiderar o seu papel na formação de recursos humanos, liderança, gerenciamento e atuação político/científica no âmbito da sua instituição e da comunidade científica.

A "numerologia", mesmo disfarçada através de indicadores como "citation index" do autor e/ou índices de impacto, pode levar a desvios consideráveis. Vários autores são bastante citados devido a resultados erráticos ou conclusões inadequadas! Por outro lado, a crescente especialização na área de Química e a expansão de suas interfaces têm resultado na criação de muitos periódicos a cada ano. Certamente que o índice de impacto dos novos periódicos é inexistente ou inexpressivo. para citar um exemplo, o Aerosol Science and Technology, editado pela American Association for Aerosol Research, está no vol. 28 e o grande desafio colocado aos editores na última reunião anual da AAAR foi atingir índice de impacto 1! No Brasil o desafio é muito maior. Um exemplo disto está registrado em editorial escrito pelo Prof. Angelo C. Pinto no Journal of the Brazilian Chemical Society (vol. 9, no 2, 1998).

Essas reflexões não visam desmerecer a avaliação através das publicações, mas sim a excessiva importância da numerologia. Comitês são constituídos para avaliar qualidade. Os maiores desafios da avaliação por pares estão na escolha destes, na sua adequação com relação ao sistema sob avaliação e na definição dos indicadores relevantes ao sistema. Apesar deste assunto estar presente constantemente nas reuniões e publicações da SBQ, ainda não existe uma relação direta entre a discussão na Sociedade e a ação das agências. Entretanto, existe uma relação direta entre o resultado da avaliação e o fomento.

Uma das transformações mais significativas que está ocorrendo no sistema de ensino, ciência e tecnologia é a relacionada ao fomento. A FAPESP tem anunciado orçamentos crescentes em C&T. A previsão para este ano é de cerca de R$ 290 milhões. O MCT divulgou que os investimentos nacionais em C&T cresceram de 0,85% do PIB em 92 para 1,2% em 97. Entretanto, existe um sentimento geral de que os recursos têm diminuído, levando à dúvida sobre a veracidade das informações divulgadas! Uma análise mais apurada, demonstra que os recursos realmente aumentaram e que a sensação de diminuição está associada ao esvaziamento do balcão do CNPq e da FINEP para projetos de demanda espontânea e à excessiva alocação de recursos através de programas especiais. As siglas são variadas: PADCT, RHAE, PRONEX, PIE etc., mas a concentração de recursos é real.

Existem hoje grupos de pesquisa com acesso a recursos muito além de suas reais necessidades. Basta lembrar que muitos dos que dirigiram-se ao PRONEX diziam, reservadamente, que buscavam na realidade o "rótulo de excelente" e não mais recursos. Também é real que o fomento praticamente inexiste para os iniciantes.

O impacto de um programa como o PRONEX, por exemplo, seria bastante amplificado se não tivesse sido esvaziado na FINEP o apoio a projetos institucionais através do FNDCT e o CNPq tivesse mantido o apoio através de projetos individuais e/ou integrados de pesquisa e criado o sistema de "grants" para os seus pesquisadores. Outro fator importante relacionado ao financiamento através de programas especiais é o papel das agências estaduais induzindo a criação de novos grupos e o trabalho em temas de interesse regional. Infelizmente, à exceção da FAPESP, a ação das demais agências é na melhor das hipóteses tímida ou inexistente. Mais uma vez, devido à sua representatividade nacional, a SBQ pode ter um papel relevante na discussão, diagnóstico e elaboração de documentos sobre a área, nos moldes do publicado em Química Nova em 1995 (vol. 18, p. 509) A representatividade da SBQ, através dos seus sócios, no sistema de ensino, ciência e tecnologia do país é inquestionável e confunde-se com a representatividade da própria área de Química. Recentemente, em qualquer comitê que envolva a área, formado no âmbito das universidades, MEC, MCT, agências estaduais de fomento à pesquisa ou Academia Brasileira de Ciências, entre outros, reconhecemos a presença majoritária de membros da Sociedade. Um fato recente e de grande relevância, é a presença significativa de sócios da SBQ nas reitorias e/ou pró-reitorias de várias universidades. Vale ressaltar que um número significativo destes sócios ilustres ocupou posições de destaque na SBQ, especialmente nas secretarias regionais, diretorias de divisões e/ou nacional, conselho e na editorias/conselhos editoriais de nossas publicações. Em resumo, a Sociedade permeou o sistema de ensino, ciência e tecnologia do país e o maior desafio atual e futuro é tornar institucional a representatividade "individual".

Jailson B. de Andrade - UFBA [


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