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BrBRCEEx0100-40421998000600014

BrBRCEEx0100-40421998000600014

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioEx-Tech-Multi Sciences
Great areaExact-Earth Sciences
ISSN0100-4042
ano1998
Issue0006
Article number00014

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Triterpenos isolados de Eschweilera longipes miers (Lecythidaceae)

INTRODUÇÃO A família Lecythidaceae é constituída de 25 gêneros e 400 espécies que ocorrem na forma de árvores, com uma distribuição pantropical1.

Alguns constituintes com atividade farmacológica têm sido isolados de espécies desta família e, por isso, devem-se desenvolver estudos fitoquímicos e farmacológicos de espécies de Lecythidaceae. Os trabalhos relacionados com estudo químico de espécies desta família conduziram a identificação de triterpenos pentacíclicos, saponinas, ácido elágico e alcalóides do tipo indolo [2,1-b]quinazolínicos2-6.

Espécies do gênero Eschweilera ocorrem frequentemente no norte e nordeste do Brasil e são usadas na indústria madeireira, em obras, em cercas e como combustível doméstico. Além das comunicações sobre estudo químico de E.

ovata7a, E. rabeliana7b e E. longipes7c, apenas uma publicação relacionada com a química deste gênero que revela a presença de triterpenos pentacíclicos nas cascas e folhas de E. rabeliana8. O presente trabalho vem ampliar o conhecimento sobre a composição química deste gênero e portanto da família Lecythidaceae.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Fracionamento cromatográfico e purificação por cristalização de frações dos extratos das cascas e folhas de E. longipes conduziram ao isolamento e a identificação de quatorze terpenóides. As substâncias 3, 4, 7-14 estão sendo identificadas pela primeira vez neste gênero.

A identificação das substâncias isoladas foi feita através da análise dos espectros de IV, RMN 1H e RMN 13C envolvendo comparação com dados da literatura. A feição dos espectros de RMN 1H permitiu identificar três classes distintas das substâncias: 1-8, 13e14(triterpenos pentacíclicos), 9 e 10 (esteróides) e dois cromanóis (11-12). A comparação dos espectros de RMN 13C totalmente desacoplado (PND) e RMN 13C-DEPT (q =90o e q = 135o) permitiu identificar o número de carbonos metílicos, metilênicos e metínicos. Os sinais restantes do espectro PND foram identificados como representantes dos carbonos quaternários. Com base nesses dados obtidos, na aplicação da metodologia de Olea e col.9 e na correlação dos valores das frequências dos sinais de alguns carbonos funcionalizados (carbonos carbonílicos, metínicos carbinólicos e olefínicos) foi possível classificar os triterpenos 1 e 2 na série fridelano, 3, 5 e 7 na série urseno e 4, 6 e 8 na série oleaneno11,12.

O triterpeno 1 apresentou sinal de estiramento de carbonila em 1715 cm-1(nC=O) no espectro IV. O espectro de RMN 13C apresentou sinal de carbono carbonílico em 214,50 ppm e um sinal de um grupo metila em 6,40 ppm protegido pelo efeito g do oxigênio da carbonila. O triterpeno 2 apresentou absorção em 3500 cm-1(nO-H) e 1100 (nC-O) no espectro IV. O espectro de RMN 13C mostrou, entre outros, um sinal em 72,10 ppm, que corresponde ao deslocamento químico de um carbono carbinólico, compatível com o sinal em 3,70 ppm (m) revelado no espectro de RMN 1H. A comparação dos valores de deslocamentos químicos dos carbonos de 1 e 2 (Tabela-1) com valores registrados na literatura para a fridelina e o fridelinol10-14 permitiu identificar estes triterpenos como 3-oxo-fridelano (fridelina) e 3b-hidroxi-fridelano (fridelinol).

O espectro no IV da mistura de 3 e 4 apresentou as bandas de carbonila de éster conjugado (1725 cm-1) e do sistema aromático (1600 e 1500 cm-1). O espectro de RMN 1H apresentou dois dubletos em 6,44 e 7,65 ppm (J = 16,0 Hz) e dois multipletos em 7,37 ppm (3H) e 7,52 ppm (2H). Estes dados estão compatíveis com a unidade cinamoila que foi confirmada pelos valores de deslocamentos químicos no espectro de RMN 13C (dC: 166,70 e 134,40; dCH: 144,20, 130,00, 128,70, 127,90 e 118,70 ppm). O multipleto em 4,65 ppm presente no espectro de RMN 1H e o sinal em 80,60 ppm no espectro de RMN 13C foram atribuídos ao CH-3 da unidade terpênica ligada ao grupo cinamoila. Os sinais observados no espectro de RMN 13C na região de carbono sp2(dC: 146,00 e 140,00 ppm; dCH: 124,20 e 122,20 ppm) permitiram classificá-los nas séries: urseno (C-13: dC 140,00 ppm; C-12: dCH 124,20 ppm), que aparece em maior percentagem, e oleaneno (C-13: dC 146,00 ppm; C-12: dCH 122,20 ppm)2,3,9-13. Os sinais em 5,13 ppm e 5,15 ppm presentes no espectro de RMN 1H correspondem aos hidrogênios olefínicos em C-12. Após esta análise, compararam-se os dados registrados na literatura para a a- amirina11,15-17 e para o cinamato de b-amirina (4)18,19. Esta comparação permitiu identificar os constituintes da mistura como cinamato de a-amirina (3) e cinamato de b-amirina (4) (Tabela-1). Os deslocamentos químicos dos carbonos de 3 não foram encontrados na literatura11,20.

A mistura de 5e6 apresentou absorções de nOH(3500 cm-1) e nC=C(1657 cm-1) no espectro IV. O espectro de RMN 1H desta mistura apresentou sinais de prótons olefínicos (5,10 ppm; m), de prótons carbinólicos (3,20 ppm; dd; J=10,0 e 6,0 Hz) e a feição dos sinais entre 1,05 e 0,77 ppm foi semelhante à da mistura de 3e4. Os sinais dos carbonos olefínicos (C-12 e C-13) no espectro de RMN 13C (d 145,20; 139,60; 124,40 e 121,60 ppm), de carbono carbinólico (C-3, 79,60 ppm) e as observações citadas acima permitiram identificar as estruturas da a- e b- amirina para as substâncias 5 e 6. Os deslocamentos químicos dos demais carbonos foram semelhantes aos dados de 3+4 e aos valores registrados na literatura11,16-18 para as substâncias não aciladas (Tabela-1).

Os triterpenos 7e8 foram identificados como constituintes de uma mistura com base nos dados de RMN 1H [5,10 ppm (m), 2,50-2,20 ppm (m) e sinais de grupos metílicos entre 1,11-0,76 ppm]. A principal diferença observada na comparação dos espectros de RMN 13C de 7+8 e 5+6 deve-se à presença do sinal em dC 217,90 ppm (7+8) e na ausência do sinal 79,60 ppm. A maior intensidade do par de sinais dC 139,70/124,20 sugere uma maior percentagem de 7 onde o C-13 encontra- se protegido pelo efeitog exercido pelo grupo metílico ligado ao C-19. A comparação dos deslocamentos químicos dos carbonos das substâncias desta mistura com os valores descritos na literatura para a- e b-amirenona9,11,21,22 e com os dados obtidos para os triterpenos 5 e 6 (Tabela-1) permitiram definir as estruturas de 7+8 como 3-oxo-ursa-12(13)-eno (7) e 3-oxo-olean-12(13)-eno (8)22. Trabalhos publicados em revista nacional registraram os dados de RMN 13C destas substâncias. Entretando estes dados não são citados nas revisões publicadas recentemente sobre triterpenos pentacíclicos11 e não constam, também, no dicionário de produtos naturais20.

A mistura dos esteróides 9e10 foi identificada através dos sinais presentes no espectro de RMN 1H em dH 0,62 (s), 1,05 (s), 0,74-0,98 (m) correspondentes a absorção de grupos metílicos de esteróides, de um multipleto em dH 3,49 ppm (H- 3) e dos sinais em dH 5,10 (m, H-22 e H-23, 10) e dH 5,50[dl, H-6 (9+10) de prótons olefínicos. Estes dados, aliados à análise do espectro de RMN 13C da mistura e comparação com dados da literatura23, permitiram identificar as estruturas do b-sitosterol (9) e do estigmasterol (10). A percentagem relativa (1:1) entre os componentes na mistura foi deduzida através da análise da integração dos sinais dos prótons olefínicos, da mesma forma divulgada na literatura23.

Os espectro de RMN 1H das frações contendo a mistura de 11e12 apresentou os sinais em 0,83 ppm (d, 6,4 Hz), 1,22ppm (s), 1,96-2,2 ppm (m) e 2,2 ppm (s).

Estes sinais são semelhantes aos espectros do a-tocoferol (11)24. Os espectros de RMN 13C(PND e DEPT) apresentaram sinais de carbonos metílicos (dCH3: 11,7; 11,8; 12,0; 19,2; 22,7; 22,7 e 23,6 ppm), carbonos metilênicos (dCH2: 41,4; 39,3; 37,4; 31,4; 24,8; 24,5; 22,6; 21,0 e 21,0 ppm), metínicos (dCH: 27,9, 32,7, 32,8 ppm) e carbonos quaternários (dC: 145,2; 144,4; 122,4; 122,2; 121,8; 115,7; 115,3; 114,9 e 74,6 ppm) semelhantes ao espectro da amostra autêntica da vitamina E e aos valores da literatura25. Os demais sinais presentes no espectro de RMN 1H como os de grupos metílicos ligados aos carbonos sp2(1,56; 1,58; 1,66; s), de prótons olefínicos [5,30 e 5,07 (m)] em conjunto com outros sinais de carbonos sp2-metínicos (124,0; 124,1) e quaternários (135,2; 131,0) no espectro de RMN 13C (PND e DEPT) (Tabela-1) estão de acordo com os dados espectrométricos do tocotrienol (12)25,26.

Os triterpenos 13 e 14 foram identificados através da análise dos espectros de RMN 1H e 13C(PND e DEPT) da mistura contendo apenas os dois componentes. Os sinais presentes no espectro de RMN 1H em 3,70 ppm(sl), 4,56(s) e 4,65(s) e 1,67 ppm(s) foram atribuídos, respectivamente, aos prótons H-3, H-29a e H-29b e H-30 do lupeol e os sinais em 3,70 (sl), 4,35 (s) e 4,40 ppm (s) foram atribuídos, respectivamente, aos prótons H-3, H-29a e H-29b do taraxasterol. Os sinais presentes no espectro de RMN 13C [dCH2: 109,1 (13), 106,1 (14); dC: 153,1 (13) e 156,0 (14); dCH: 75,0 (13 e 14)] e os demais sinais foram comparados com os valores registrados na literaturapara o lupeol, taraxasterol e derivados destes triterpenos com configuração 3-a-hidroxi11,14. Esta comparação permitiu verificar que o valor 75,0 ppm é compatível com grupo HO- 3 em alfa exercendo efeito g de proteção sobre os carbonos C-1 e C-5. Estas informações permitiram propor a estrutura do 3-a-hidroxi-lupeol para 13 e 3-a- hidroxi-taraxasterol para 14 cujos deslocamentos químicos dos átomos de carbono-13 estão sendo registrados pela primeira vez na literatura (Tabela-1).

PARTE EXPERIMENTAL Procedimentos experimentais gerais. Os pontos de fusão (PF) foram deteminados em aparelho Kofler e não foram corrigidos. Os espectros na região do IV foram obtidos em um espectrômetro Perkin-Elmer modelo 1420, em pastilha de KBr. Os espectros de RMN foram registrados em instrumento AC-200 (1H: 200.13 MHz e 13C: 50.3 MHz) da Bruker, usando-se CDCl3 como solvente e TMS como referência interna. Nas separações cromatográficas em coluna e camada fina analítica e preparativa usou-se gel de sílica da Aldrich ou Merck com granulação adequada.

As placas cromatográficas foram reveladas com luz UV (254 nm) e vapores de iodo.

Material vegetal. O espécimen de E. longipes utilizado neste estudo foi coletado no estado do Amapá, no mês de maio de 1991, e foi identificado pelo botânico Benedito Vitor Rabelo. Uma excicata (no 00358) encontra-se arquivada no Herbário Amapaense do Museu Angelo Moreira da Costa Lima-IEPA, Macapá, Amapá, Brasil.

Extração e isolamento dos constituintes químicos. As cascas (1,2 kg) e folhas (0,7 kg) da planta foram secas, moídas e submetidas a extração com solventes orgânicos através de maceração a frio. As soluções foram concentradas em evaporador rotativo sob vácuo. Obtiveram-se os resíduos dos extratos hexânicos das cascas (ELCH: 8,8 g) e das folhas (ELFH: 2,1 g). O extrato ELCH foi cristalizado em hexano e uma porção do material sólido foi separada por filtração sob vácuo e fracionada através de cromatografia em camada preparativa centrífuga (chromatotron) usando hexano/acetato de etila (8:2) como eluente.

Por este procedimento obtiveram-se 1(92,0 mg), 2(65,0 mg) e uma mistura de 3+4 (150,0 mg). As frações intermediárias eram constituídas de mistura destes componentes. A água mãe foi concentrada sob vácuo e o resíduo foi fracionado em coluna de sílica gel, usando diclorometano como eluente inicial e alterando-se a polaridade com metanol até metanol puro. Recolheram-se desta coluna 307 frações de 5 ml cada uma que foram analisadas através de cromatografia em camada fina e reunidas em grupos de frações. As primeiras frações eram constituídas de um material oleoso, amarelo alaranjado, cuja análise por RMN 1H e 13C revelou uma mistura de 11+12(50,0 mg) e as seguintes eram constituídas deste óleo e material cristalino. As frações que continham maior quantidade de material foram recristalizadas em metanol e o produto cristalino foi filtrado em gel de sílica usando diclorometano/acetato de etila (9:1) como eluente fornecendo, além de uma mistura de ésteres de triterpenos, a mistura de b- sitosterol e estigmasterol (9+10; PF: 134-36oC; 53,0 mg). As últimas frações da coluna continham material cristalino e, também, foram fracionadas através de cromatografia em coluna e camada preparativa usando como eluente diclorometano, acetato de etila e metanol em diferentes proporções. As frações foram então recristalizadas e os cristais analisados através de espectro de RMN 1H e 13C.

Os constituintes foram identificados como uma mistura dos epímeros do lupeol e taraxasterol (13+14, 50.0 mg), fridelinol (2; PF: 360-62oC; 130,0 mg) e a mistura de cinamato de a- + b-amirina (3+4; PF: 171-73oC; 130,0 mg).

O extrato hexânico das folhas (1,83 g) foi fracionado em coluna de gel de sílica, usando-se diclorometano como eluente inicial e aumentando-se a polariadade com acetato de etila e metanol até metanol puro. Recolheram-se 181 frações de 10 ml cada uma que foram analisadas através de cromatografia em camada fina e reunidas em 10 grupos de frações. Estas foram submetidas a processos de purificação através de cromatografia em camada preparativa normal e/ou centrífuga e cristalização. As frações foram analisadas através de espectros IV e RMN 1H e 13C. Destes processos foram identificadas misturas de hidrocarbonetos alifáticos, álcoois alifáticos, a mistura dos triterpenos a- + b-amirina (5+6; PF: 171-173oC, 260,0 mg) e a mistura de a- + b-amirenona (7+8; PF: 101-103oC, 136,0 mg).


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