As tecnologias interativas no ensino
INTRODUÇÃO
Atualmente o mundo está se deparando com uma revolução nas comunicações entre
os povos através das novas tecnologias de comunicação que estão disponíveis no
mercado. Depois destas tecnologias terem alcançado vários setores da sociedade,
a educação é uma das áreas que está sendo consideravelmente afetada por esta
onda tecnológica. Basicamente estamos falando da introdução do computador nas
salas de aulas, com seus programas interativos e acesso aos recursos da
Internet. Uma pesquisa nas bases de dados do MEDLINE1 (dez/97) e Carl UnCover2
na palavra chave "Internet Education" indicou 565 e 190 citações,
respectivamente, de trabalhos publicados nos últimos quatro anos.
Estas novas tecnologias têm causado desde uma grande euforia por alguns, até
uma preocupação exagerada por outros educadores.
O objetivo deste trabalho é olhar as tendências atuais que estão ocorrendo
nesta área, verificar as alternativas para os educadores e tentar observar como
estas tecnologias estão se inserindo na área da química.
Neste aspecto identificamos, dentre várias outras, algumas questões que
consideramos relevantes e que merecem uma reflexão: 1) Qual será a relação
entre o professor e o aluno com esta onda tecnológica que está entrando no
sistema educacional? 2) Como deverá ser a interação entre os alunos e estes
recursos tecnológicos? 3) Qual o diagnóstico que pode ser feito atualmente nos
países onde esta revolução tecnológica já está em andamento? 4) Para criar
sistemas educacionais eficientes precisaremos de escolas com os mais
sofisticados e atuais intrumentos tecnológicos? 5) Como a Internet está
organizada para dar suporte ao professor e ao estudante? 6) O material que está
sendo distruibuído na Internet é confiável? 7) O uso da tecnologia no ensino
determinará o processo de aprendizagem, ou o processo de aprendizagem deverá
determinar o uso da tecnologia no ensino? 8) Qual o tipo de impacto que se
espera desta onda tecnológica no ensino? 9) Ela promove a melhoria do ensino?
Ela aumenta o acesso a educação? 10) Como a química, uma ciência central, está
participando deste processo? 11) Quais as áreas que atualmente têm mais se
beneficiado com estas tecnologias?
DISCUSSÃO
Como mencionado anteriormente, as ferramentas tecnológicas estão se espalhando
explosivamente na educação, principalmente na área da ciência. Porém, chegou-se
a um ponto onde os educadores devem dar um passo atrás e pensarem
cuidadosamente como esta avalanche tecnológica se ajusta ao seu esquema
educacional, pois existem muitos educadores que pensam que a tecnologia sozinha
é uma panacéia para a educação e que, simplesmente aplicando toda esta
tecnologia atual estarão resolvidos todos os problemas educacionais.
Alguns autores mostram que há uma tendência messiânica de colocar a tecnologia
e o computador como salvadores da educação e dos estudantes, livrando-os das
aulas chatas, dos pensamentos provincianos e da falta de motivação nas aulas
tradicionais3. Tecnologia por si mesma não é uma cura radical e não vai
resolver todos os problemas. Ela pode ser uma ferramenta para resolver alguns
deles, mas sua aplicação pura e simples não solucionará a maioria destes
problemas.
Nos parágrafos a seguir gostaria de discutir os vetores deste processo
individualmente.
O Professor
"Books will soon be obsolete in the schools ......Scholars will soon be
able to instruct through the eyes. It is possible to touch every branch of
human knowledge with motion picture" - Thomas A Edison (1913)4.
Um dos elos mais importante neste processo são os professores, que precisarão
decidir como irão atuar nesta revolução tecnológica. Pensar que a tecnologia,
principalmente o computador e a Internet, substituirão os professores e que não
devemos nos preocupar com a formação de novos professores, já é um sintoma de
uma doença no processo ou um otimismo exagerado pelos mais iniciados nestas
tecnologias.
Um dos problemas mais graves observados nesta onda tecnológica é a preparação
adequada dos professores. Eles precisam ser motivados e encorajados ao uso da
tecnologia no seu plano didático. Logo, novas formas de treinamento e
atualização precisam ser cuidadosamente criadas visando dar opções de escolha
aos educadores5. Além disso, para preparar e motivar os alunos para este novo
ambiente tecnológico, os professores precisam estar equipados para ensinarem
usando destas tecnologias. Neste caso é responsabilidade das "escolas-
universidades" a provisão de tais ferramentas.
Alguns entusiastas do uso do computador na sala de aula chegam a afirmar que
"os estudantes não ficam isolados com o uso do computador pois os
professores estão lá para encorajá-los (note-se não estão lá pra ensiná-los ou
encorajá-los) e ao usarem o computador no ensino logo descobrem que as
"máquinas" são suficientemente independentes e, no máximo o que eles
poderão fazer é agir como treinador ou facilitador"6. Em nossa opinião
utilizar computador imitando o professor é um erro de análise do contexto.
As Tecnologias
"Technology is dominated by two types of people: those who understand what
they do not manage, and those who manage what they do not understand". -
Putt's Law7
As culturas dos povos são continuamente moldadas pelo uso das tecnologias. A
televisão, por exemplo, modificou o hábito das famílias e continua até hoje
influenciando o comportamento da sociedade. No momento o mesmo fenômeno está
acontecendo com a introdução das novas tecnologias interativas na sociedade8.
Qualquer previsão, com precisão, de como ela vai se comportar frente a estas
tecnologias, é especulação. Portanto, é de se esperar que o uso destas tais
tecnologias interativas quando aplicadas ao processo de ensino-aprendizagem
também cause mudanças de hábitos e comportamentos por parte dos professores e
estudantes e, talvez, de políticos responsáveis pela política educacional do
país.
Os termos tecnologias interativas aplicadas ao ensino ou ferramentas
tecnológicas referem-se fundamentalmente aos meios instrucionais baseados nos
recentes avanços computacionais interativos, como por exemplo: programas
educacionais interativos, vídeo laser, CD-ROM, vídeo laser interativo,
hipertexto, hipermídia, correio eletrônico (email), realidade virtual,
programas simuladores e recursos da Internet (livros eletrônicos, periódicos
eletrônicos, bibliotecas virtuais, listas de discussão, cursos a distância,
educação continuada)9a.
A questão do uso das novas tecnologias na escola não significa apenas um
modismo, se as escolas e universidades pretendem formar cidadãos para se
integrarem na sociedade. A utilização destes recursos ajuda a formar cidadãos e
trabalhadores mais preparados funcionalmente9b-f (capital humano), pois em
muitas áreas da sociedade estas tecnologias já estão a muito tempo em
utilização (indústrias, comércio, transportes, bancos, etc.). Porém, o que se
vê atualmente na maioria das escolas e universidades é o uso do giz e quadro
negro. Apesar do quadro negro ter sido introduzido há mais de cem anos na sala
de aula, ainda continua como o único recurso disponível para o professor.
Talvez o quadro negro seja a tecnologia mais utilizada e difundida no mundo,
até porque ainda continua tendo espaço útil, mesmo nas salas de aula equipadas
com as mais avançadas ferramentas tecnológicas. Ele instiga a criatividade do
professor e ainda hoje nos deparamos com cursos e seminários mostrando aos
professores como utilizar mais eficientemente esta importante ferramenta para o
ensino10.
O Computador
"There is no reason anyone would want a computer in their homes" -
Ken Olson, Presidente e fundador da Digital Equipament Co. (1977)11.
As escolas podem utilizar mais efetivamente os recursos do computador para um
melhor desempenho dos alunos. Alguns trabalhos demostraram que os programas
interativos podem trazer melhorias consideráveis para o processo de ensino-
aprendizagem, tanto nas aulas teóricas, quanto nas aulas experimentais12a,b. Os
computadores se tornaram peças de destaque no mundo científico, nas áreas
industriais, comerciais e outros setores da sociedade. Isto porque podem
executar as tarefas pré-determinadas de forma muito mais eficiente e precisa
que os seres humanos. Porém, o único campo em que o computador ainda não
mostrou desempenho satisfatório foi na área educacional. Escolas têm gasto
milhões (nos países desenvolvidos) em computadores com muito pouco progresso no
ensino. Atualmente a maioria das salas de aula ainda são idênticas àquelas de
vários anos atrás: livro, giz e quadro negro. Apesar da tecnologia do
computador ter uma obsolescência rápida, talvez no futuro haverá um computador
em cada sala de aula ou um "lap-top" para cada estudante9b.
Novamente voltamos a enfatizar a importância central do professor neste
processo de ensino mediado por computador. Esta ferramenta não é boa nem ruim
na sala de aula. É o seu uso que vai determinar se ela contribuirá para um bom
processo educacional ou não. Os alunos não são idênticos e diferem na
inteligência, cultura, meio social e experiências anteriores. O mesmo estudante
pode mudar de atitude de um dia para o outro dependendo da sua condição
emocional. Será que os pacotes de aprendizagem disponíveis estão programados
para lidar com estas situações? Só o professor no contacto pessoal é capaz de
identificar, estimular a curiosidade e fazer um trabalho pessoal com o
estudante, mesmo num ensino mediado por computador.
O dito ensino tradicional pode tornar-se muito mais eficiente e atraente quando
se utiliza das tecnologias interativas. Como afirma Moretti - "o
computador só funciona quando melhoramos o professor"9b. Portanto, é
ineficiente colocar computadores nas salas de aula sem trabalhar o professor e
adequar o curriculum do curso para à uma nova proposta pedagógica.
Os pacotes de ensino-aprendizagem por computador devem ser robustos, confiáveis
e de simples manipulação, para que esta tecnologia tenha seu lugar nesta
sociedade em mudança rápida. Porém, estes pacotes devem ser colocados numa
perspectiva em que pessoas (professores e estudantes) venham antes que as
máquinas e os programas. A atitude de alunos e professores que utilizam
computadores no ensino-aprendizagem devem ser constantemente avaliada.
O ensino tradicional vem apresentando um desempenho questionável12c, assim como
algumas experiências frustantes com o ensino mediado por computadores. Estas
observações tem servido de ponto de partida para novas experiências12d e,
muitos programas novos estão surgindo no mercado, principalmente voltados para
um aprendizado mais individualizado por parte dos estudantes. Existem vários
casos de sucesso relacionados ao uso do computador na escola recentemente
relatados na literatura9c, como por exemplo o ensino de idioma chinês, em que
um programa bem projetado tem o potencial de melhorar significativamente o
processo de aprendizagem, reduzindo os obstáculos para um entendimento mais
profundo13. Um outro exemplo de sucesso em que o uso do computador vem
apresentando um bom desempenho, é na área de ensino a estudantes com
dificuldades de aprendizado devido a problemas físicos e mentais14. Porém,
também existem casos onde o programa interativo é uma mera repetição dos
procedimentos tradicionais. Há um trabalho recente na literatura que sugere o
uso de um disco laser acoplado a um computador e uma leitora de códigos de
barras. Nesta parafernália eletrônica o estudante pode ver o vídeo e responder
perguntas, utilizando uma leitora eletrônica de códigos de barras. As perguntas
aparecem na tela tendo como opção códigos de barras. A coisa toda mais parece
com um exame de múltipla escolha acoplado a uma eletrônica avançada15.
A INTERNET NA SALA DE AULA
"Internet is so big, so powerful and pointless that for some people it is
a complete substitute for life"- A. Brown16
A Internet é um sistema de computadores interligados e trocando informações
através de um protocolo comum. Existe uma variedade de acessos à Internet
diferenciados pelo serviço que oferecem e pelo protocolo de acesso (Telnet,
FTP, WWW, Gopher, Email). Há uma estimativa de que existem 20 milhões de
usuários espalhados no mundo e com um crescimento de um milhão por mês17.
Em alguns países a Internet já está instalada numa grande quantidade de
residências, por exemplo: EUA (38,5 %), Finlândia (30%), Nova Zelândia (>70%).
Atualmente o acesso à Internet está indo para a sala de aula após se tornar
popular nas residências. No final de 1996, 75% das escolas nos EUA tiveram
acesso à Internet mas apenas 14% estão em uma sala de aula18. Porém, apenas 5%
dos professores a utilizou, apesar de que 20% dos professores tiveram
treinamento no uso da Internet. Pelos dados coletados demonstra-se que o
impacto na sala de aula ainda é muito limitado. Poucos professores fazem uso
das informações contidas na rede por falta de conhecimento em
telecomunicações19. Recentemente foi feita uma pesquisa sobre como os
professores estão utilizando os recursos da Internet, como foram treinados e
como as informações são obtidas. Os resultados não foram muitos conclusivos,
mas indicaram que o uso efetivo de apoio da Internet no ensino de ciências
começou efetivamente em 1990 e que a maioria dos professores aprenderam a
manipular a rede por si só. Poucos tiveram o incentivo das escolas para
participarem de programas de treinamento19a,b.
Inicialmente toda inovação tecnológica na educação é recebida com enorme
entusiamo. Porém, após algum tempo para uma análise mais detalhada, a realidade
destas tecnologias aparecem. No caso da Internet, aqueles mais conhecedores dos
meandros da rede, sabem que a mesma se tornou um grande "karaokê",
pois as informações não são tão fáceis de serem coletadas, como acreditam
alguns. Do jeito que a rede está estruturada as experiências, nas salas de
aulas, foram frustantes e desapontadoras para os professores20,21.
A Internet é uma excitante ferramenta para a sala de aula. Ela expande
consideravelmente a sala de aula através de troca de informações, dados,
imagens e programas de computadores, chegando a lugares muito distantes quase
que instantaneamente. Fundamentalmente a Internet é um lugar para comunicação,
conseguir informações, ensinar e aprender22. O uso da Internet no ensino tira o
caráter de conhecedor-único do professor, conduzindo a um novo modelo no qual a
responsabilidade pelo aprendizado passa pela busca individual do estudante.
Para isso a escola tem que estar estruturada e o professor preparado para este
novo tipo de interação com o estudante. A Internet pode ter um papel
fundamental neste ambiente de troca. Assim como livros, visitas técnicas,
pesquisa de campo, periódicos, vídeos, e seminários dão suporte a formação do
estudante, a Internet também pode ser utilizada no processo de ensino-
aprendizagem. Neste processo, os professores continuarão a ser os responsáveis
em avaliar e decidir como a Internet poderá ser utilizada como ferramenta na
sua aula.
Existe espaço na escola para todo o tipo de ferramenta educacional cujo
objetivo seja prover o melhor aprendizado para o estudante. Sem dúvida nenhuma,
livros e outros materiais impressos continuarão sendo importantes na escola. A
Internet apenas expande os horizontes a muito além da biblioteca e de uma forma
mais atualizada, principalmente nas escolas onde não existem bibliotecas (muito
comum) ou ela é muito defasada da atualidade.
Um fator que desabona o uso do material obtido na Internet é a confiabilidade,
pois muitos não passaram por um processo de avaliação por pares como acontece
com os artigos dos periódicos22a-c. A "Rice University" oferece no
seu servidor recomendações básicas para quem faz pesquisa na Internet22c. Neste
aspecto pode-se traçar um paralelo entre as páginas de ciências do jornal O
Globo23 e NetSci (ISSN 1092-7360)24, onde os artigos publicados são
explicitamente de pura responsabilidade dos autores, enquanto que no
"Journal of Chemical Education on line" o material publicado passa
por árbitros e sua qualidade é referendada pela "American Chemical
Society". Apesar de acharmos relevante o serviço que estes sítios estão
prestando à educação e à pesquisa, cabe exclusivamente aos professores, que
estão utilizando o material disponibilizado fazerem sua própria avaliação antes
de utilizá-lo como material didático na sua sala de aula. Por outro lado, cabe
recordar que muitos dos livros didáticos publicados também não passam por um
processo de avaliação rigorosa pelas editoras, e o que se tem visto nas
avaliações promovidas pelo MEC são livros publicados contendo conceitos
errados, pensamentos racistas e sem nenhuma consistência didática. Portanto, a
grande parte do material colocado no mercado pelas editoras não tem credenciais
confiáveis e da mesma forma cabe ao professor avaliar sua adequabilidade para
sua classe.
Sem dúvida nenhuma, a Internet é uma oportunidade de ouro para a pesquisa e o
ensino. Porém, uma avaliação crítica do uso potencial desta fonte de recursos
educacionais para as escolasmédia e superior, principalmente no que diz
respeito a quantidade e a confiabilidade destas informações, precisa ser feita.
Recentemente vários grupos de usuários vem tentando coletar e organizar estas
informações para que sejam melhor aproveitadas pelas escolas. É desejável que
qualquer cidadão com uma dúvida que necessita de uma resposta rápida possa
explorar a Internet de forma eficiente. Somente assim ela se tornará uma fonte
valiosa e ilimitada de informações.
Recentemente foi publicado um trabalho interessante que mostra que uma nova
parceria pode emergir entre os cientistas e educação. Esta parceria estaria
baseada na possibilidade dos estudantes poderem participar ativamente nas
pesquisas desenvolvidas pelos cientistasvia Internet25. Desta forma os
pesquisadores mais preocupados com o processo educacional poderão contribuir
para a melhoria do ensino de ciências (nível médio ou superior) substituindo a
forma antiga e esporádica de visitas e seminários nas escolas. Esta interação a
que se refere o autor do trabalho pode ser do tipo observações, monitoramento e
análise de dados coletados pelo grupo de pesquisas (estudos do meio ambiente,
biodiversidade, doenças na comunidade, pesquisas meteorológicas, microbiologia,
etc). Basicamente, existem três tipos de parceria: 1) o cientista define o
programa de pesquisa e o protocolo, e os estudantes analisam os dados
coletados, 2) o cientista define e dá suporte ao tópico para a pesquisa, porém
o estudante conduz o estudo e 3) o estudante conduz e estabelece os protocolos
da pesquisa enquanto o pesquisador funciona apenas como consultor, orientador e
revisor do trabalho.
A Internet tem causado a preocupação não só do ponto de vista educacional, como
também do ponto de vista das relações pessoais. Alguns autores têm levantado
questões relacionadas aos usuários mais constantes da Internet26. Algumas
pessoas são tão viciadas com o uso que se arruinaram na escola, perderam seus
casamentos, empregos e diminuiram sensivelmente sua relação pessoal com outros
companheiros. Outras se tornaram psicologicamente estressadas, doentes e de
difícil relacionamento após longo uso da Internet. Estas pessoas pensam que
suas "máquinas" são o próprio Deus e que você não é benvindo a não
ser que também seja um adepto do uso da Internet. Estas preocupações parecem em
princípio um tanto descabidas, e parece haver uma contradição21. Enquanto, a
Internet reduz as barreiras do mundo, nos leva a lugares muito distantes e nos
coloca em contato com pessoas das mais variadas culturas, ela reduz o contato
com outros seres humanos mais próximos se for usada por longo período de tempo.
Outros aspectos, como direito autorais ("copyright") das publicações
eletrônicas, plágio e citações bibliográficas, têm sido discutidos
recentemente22c,27a. Além destas, outras questões, sobre a distribuição de
material ilegal e de intenções questionáveis têm sido alvo de preocupações27b.
Alguns trabalhos estão sendo desenvolvidos no sentido de classificar os sítios
da rede, como por exemplo o PICS Standard28 e o NetShepherd Rating29, de uma
forma similar como já é feito para os filmes e vídeos30.
PROJETOS COLABORATIVOS VIA INTERNET
Na área educacional a Internet está revolucionando principalmente o estudo de
ciências (química, física e biologia), pois os alunos não precisam estar no
mesmo lugar do seu laboratório, seu professor e de seus colegas. Dados podem
ser obtidos e os professores podem dar orientação a distância31. Muitos tipos
de projetos colaborativos estão disponíveis na Internet32. Estes projetos podem
servir para o planejamento, orientação aos estudantes e para traçar os
curricula de cursos ou de uma escola. Estes projetos são normalmente voltados
aos ensinos primário e secundário. Estão agrupados em alguns sítios e oferecem
a oportunidade de se conhecer os que estão em andamento ou adotar seu próprio
projeto. São excelentes as oportunidades para os professores e alunos
conhecerem os trabalhos que outros grupos de estudantes estão desenvolvendo.
Podemos citar alguns exemplos: Global Schoolnet Foundation33, International
Education and Resources34, Teacher web site35 e NASA36.
ENSINO A DISTÂNCIA E EDUCAÇÃO CONTINUADA
A idéia de ensino a distância e educação continuada não é nova. Muito antes dos
computadores e a Internet se tornarem populares, já existiam os cursos por
correspondência. Porém, a introdução destas novas tecnologias interativas deram
a estes cursos uma dimensão muito maior em termos de número de alunos e área
territorial, além de uma dinâmica quase que em tempo real. Num curso
tradicional o professor precisa estar no mesmo lugar e na mesma hora que o
estudante. Isso não acontece com cursos ministrados via correio eletrônico
("email") ou pela Internet. Via correio eletrônico o programa e as
aulas semanais são distribuídas aos estudantes, que precisam ler o material e
responder as questões também via correio eletrônico, pelo menos uma vez por
semana37. Já os cursos de aprendizado a distância via Internet são mais
dinâmicos pois podem utilizar hipertextos, recursos de multimídia e programas
interativos. Ambos os veículos oferecem a oportunidade dos estudantes formarem
um grupo de discussão com o professor e a classe. Um trabalho interessante
desenvolvido na UFRGS sob o título "Fatores Determinantes na Efetividade
de Ferramentas de Comunicação Mediada por Computador no Ensino a
Distância"38 está disponível na Internet e aborda com mais detalhes as
implicações das ferramentas de comunicação no ensino e educação a distância.
Nos cursos tradicionais, a biblioteca é um ponto de apoio fundamental. Nos
cursos a distância a Internet se torna a biblioteca mais adequada, pois além da
pesquisa que pode ser mediada pelos serviços de busca (Yahoo, Lycos,
Webcrawler, infoseek, Alta Vista, Search.com, Servy Search, Open Text), pode-se
também consultar diversas bibliotecas virtuais39-41.
Alguns problemas podem ser identificados neste tipo de ensino, como por
exemplo: 1) os alunos precisam ter acesso fácil à Internet, 2) alguns valores
como a interação pessoal com o professor são perdidos, 3) a Internet é um
veículo muito dispersivo e 4) o material não é muito bem assimilado.
Entretanto, o mesmo é sempre dito a respeito das aulas tradicionais onde, os
estudantes também não assimilam a totalidade do material apresentado pelo
professor. Daí vem a preocupação de como a Internet poderia criar um ambiente
para um aprendizado efetivo e como poderia oferecer um sistema de comunicação
que acelere o processo de aprendizagem. O uso do correio eletrônico entre
professor e classe e entre os membros da classe pode ajudar os estudantes a
superar o problema do isolamento e falta do contato com o professor.
A educação a distância e a educação continuada vêm se beneficiando
consideravelmente dos materiais publicados na Internet. Porém, para que a rede
seja efetivamente utilizada como ferramenta para o ensino a distância, é
preciso que esta quantidade enorme de material seja bem estruturada, pois senão
estas informações serão inúteis tanto para o professor como para o estudante42.
Felizmente neste aspecto esta é a área que está mais estruturada na rede.
Existem dezenas de escolas e centros especializados oferecendo continuamente
cursos a distância, como por exemplo o "Distance Learning Resources for
Distance Educators"43.
Na área de educação continuada as sociedades científicas têm desempenhado papel
fundamental, publicando diversas informações para o aprimoramento dos
profissionais. Além disso, os pesquisadores e profissionaiscontinuam colocando
artigos, arquivos e livros nas suas "home pages" pessoais. Estes
materiais devem interessar às pessoas que buscam aperfeiçoamento profissional a
distância44. A maioria das referências obtidas para a elaboração deste trabalho
foram obtidas na própria Internet.
De forma nenhuma os cursos eletrônicos vão substituir a sala de aula
tradicional, assim como os cursos por correspondêncianão o fizeram. Mas são
muito importantes para aqueles que por algum motivo estão impedidos de estar
numa sala de aula. É importante lembrar que os cursos a distância não
promoverão a mesma experiência pessoal que um curso tradicional, porém, espera-
seque estes levem ao estudante o mesmo conhecimento teórico oferecido pelos
cursos tradicionais, colocando os alunos de ambos os cursos no mesmo nível de
conhecimento45. Portanto, esta poderosa opção para proporcionar informação e
educação a distância não deve ser desconsiderada, principalmente na área da
educação superior, onde o processo de educação continuada é muito relevante.
PROGRAMAS INSTRUCIONAIS EM QUÍMICA
A química apesar de ser uma ciência eminentemente experimental, também temum
lado muito visual. Muitas das teorias utilizadas para explicar as reações
químicas e a reatividade das substâncias na escala sub-atômica necessitam de um
modelo, como por exemplo, orbitais atômicos, orbitais moleculares, ressonância
magnética nuclear, espectroscopia eletrônica, etc.
O conceito de aprendizado mediado por computador não é novo46. Neste aspecto os
programas interativos e os programas simuladores voltados a aperfeiçoar o
processo de ensino-aprendizagem podem ajudar os alunos a transformar o modelo
em seu próprio senso comum. Um grande número destes aplicativosestão no mercado
para venda emuitos outros exemplos têm sido descritos recentemente na
literatura. Por exemplo, o uso de um programa simulador de densidade eletrônica
mostrou que este conceito, ao ser introduzido na aula teórica, foi muito melhor
compreendido pelos estudantes47.
Saber como o estudante relaciona seus conhecimentos prévios com o material
didático que está sendo apresentado é um dos mais importantes fatores no
desenvolvimento do tema que está sendo estudado (mudança conceitual). Nos
cursos experimentais de química os experimentos são precedidos de uma mini-aula
com a intenção de mostrar ao estudante como tal experimento se relaciona com as
teorias da química. Neste aspecto foi demonstrado, por pesquisa de opinião, que
o uso de vídeo disco laser precedendo as aulas experimentais tornam-nas mais
agradáveise melhorou o entendimento até dos assuntos mais difícies de serem
assimilados pelos estudantes, como por exemplo o conceito de oxidação-
redução48,49 .
Para ter um impacto na aprendizagem, estes programas ou CD-ROMs devem ser
completos, representando uma parte significativa de uma determinada disciplina.
Porém, o que se observa é que estes programas educacionais tendem a ser uma
coletânea de programas fragmentados em tópicos isolados e muitas das vezes sem
conexão entre si50. Por exemplo, o "Journal of Chemical Education"
tem para venda uma coleção de programas e CD-ROMs destinados exclusivamente ao
aprendizado individual do estudante fora da sala de aula. Como estes programas
não são destinados aos cursos e sim ao estudante, a fragmentação parece ser uma
questão mercadológica. Um trabalho interessante foi desenvolvido pela
Universidade de Illinois que desenvolveu uma rede integrada de programas
instrucionais em química, visando evitar o processo de fragmentação51.
Informações sobre os programas interativos mais atuais e os seus custos na área
de química podem ser obtidos na "Chemistry Software and Information
Resources"52. A Netlib53, um serviço mantido pela Universidade do
Tenessee, oferece a oportunidade de se conseguir muitos programas instrucionais
grátis, assim como outros serviços54. Outros programas como o Chemland55,
programa para a simulação interativa em reações química e o RasMol56, destinado
para observação de estruturas complexas (DNA, proteínas, Heme, etc) estão
disponíveis gratuitamente na Internet.
QUÍMICA NA INTERNET
A populariedade da Internet entre os químicos pode ser comprovada pelo grande
número de sítios individuais, comerciais, bases de dados de substâncias
químicas, conferências eletrônicas57-62, programas interativos63, listas de
discussão, grupos de usuários64 e periódicos/revistas eletrônicos65
relacionados com assuntos da química. Isto demonstra claramente que a química
já está bem disseminada na Internet, podendo dar suporte ao estudante e ao
professor66-68. Este suporte pode se dar na forma de artigos em jornais (alguns
gratuitos), livros eletrônicos e cursos, além dos serviços citados
anteriormente.
A busca por esta enorme quantidade de informações pode ser tediosa e consumir
tempo precioso na Internet69. Uma questão que se levanta é que tipo de
informação é útil para o estudante e para o professor? Oque se pode encontrar
gratuitamente na rede? Nos parágrafos abaixo, tentaremos dar algumas respostas
e informações na área de química que poderão ser úteis70-73.
As listas de discussão ("mailing list") são grupos de pessoas que
trocam informações sobre um determinado assunto específico via email. Existem
milhares destas listas de discussão com uma enorme quantidade de material
interessante, porém muitas não tem índice que dê acesso às informações
discutidas. A fim de organizar as informações sobre química, a base de dados
AskNPAC74 dá acesso a milhares de mensagens que foram enviadas e discutidas nos
grupos de usuários em química (usenet). O diretório Liszt75 catalogou até o
momento cerca de 66.000 destas listas. Este catálogo dá informações e endereços
sobre estas listas de discussão. Só na área de química existem 198 listas
catalogadas. O acesso às informações das listas é grátis e pode-se obter
respostas rápidas às mais variadas questões. Portanto, são de grande utilidade
pública.
Em termos de base de dados ou sítios deinteresse em química que podem ser
acessados gratuitamente podemos citar: MEDLINE1, Carl UnCover2, ChemFind76
(informações sobre iv, rmn, constantes físicas, toxicidade, etc), Fact77 (um
catálogo de espectros de massas), QPAT.US78 (acesso gratuito aos resumos das
patentes emitidas nos EUA desde 1974, Patent-Server-IBM79 (busca gratuita de
patentes americanas (completas) desde 1971), Beilstein NetFire80 (busca na base
de dados Beilstein com gratuidade temporária); NIST Chemistry WebBook81,82
(permite a busca de dados espectroscópicos, físicos-químicos e constantes de
substância por nome, fórmula, fórmula parcial e peso molecular), ChemDex83 (um
diretório dasuniversidades e sociedades científicas relacionadas com a
química), WebElements84 (várias versões da tabela periódica e informações
individualizadas de todos os elementos), Chemist's Art Gallery85 (exemplos de
visualizações de reações químicas e substâncias produzidas por vários grupos no
mundo); Educational Materials for Organic Chemistry86, Chemistry Resources in
the Internet87, ChemCal88 (programas e informações em geral na área de
química), WWW no Ensino de Química Inorgânica89, Simulations90 (simulações de
algumas das reações mais comuns), Chemistry Web Internet Resources91,
Experimental Chemistry92 (curso experimental de química orgânica), InfoChem93
(informações sobre conferências com especial enfase nos periódicos e sítios
europeus), Conference Listing94 (listas das principais conferências e
congressos acontecendo no mundo da química), Laboratório Aberto IQ-USP95
(projeto do GEPEC IQ-USP com experimentos e bibliografia destinados ao apoio de
professores do 1o e 2o graus), A Química na Internet96 (vários sítios da WWW
relacionados à Química que foram selecionandos por Max Kopelevich, ligados ao
sítio da SBQ, contendo uma lista completa dos endereços das universidade que
tem departamentos de química), ChemTean (trabalhos clássicos da química com
album de fotos dos químicos mais conhecidos)97, curso introdutório de
estereoquímica98(em português e com excelentes imagens interativas de
susbtâncias quirais), The Othmer Library99 (biblioteca dedicada a história da
química), Nobel prize Archive in Chemistry100, Institute for Learning
Technologies101 (dedicado ao estudo da função dos computadores e as tecnologias
da informação na educação e sociedade), Chemistry Teaching Resource102
(excelente sítio com as conexões mais variadas e interessantes em química),
Educational Materials for Organic Chemistry103(livro interativo de química
orgânica com um mapa das reações químicas que muito ajuda a entender a química
orgânica de forma integrada), The Organometallic Hypertext Book104, livro sobre
introdução à quimiometria105, livro sobre problemas em reações pericíclicas106,
livro sobre cromatografia líquida107 e Polymer Chemistry Hypertex108.
Como pode ser visto nos parágrafosanteriores, apesar de existirem muitas
informações sobre química disponíveis na Internet, elas ainda estão muito
fragmentadas e desorganizadas109. Seria possível existir um sítio com todas as
informações e "links" em química necessárias aos estudantes, alunos e
cientistas? Um lugar que servisse de ponto de referência? Devido à quantidade
de informações, isto seria quase que impossível. Porém, recentemente (abril/97)
foi lançado um clube de assinantes chamado de ChemWebtm,110 que pretende
integrar comércio, aplicações, bancos de dados e pesquisas com informações
primárias de periódicos. Os assinantesalém de ter informações, também podem
publicar seus artigos e trocar informações com outros assinantes. Algo similar
aos clubes de assinantes "Chemistry Place"111 e BioMedNet112 (um dos
sítios mais visitados na Internet, que possui cerca de 100.000 assinantes)113.
CONCLUSÕES
"O computador pode fazer muitas coisas - inclusive derrotar o maior
campeão de xadrez do mundo, como fez o Deep Blue com Boris Kasparov. Mas não
existe o menor sinal que algum dia, venha a se apaixonar". Gilberto
Dimenstein9c
Neste trabalho procuramos dar uma visão geral sobre os usos das novas
tecnologias interativas no ensino, procurando não advogar nem a favor nem
contra o uso destas ferramentas, mas procurando mostrar os pontos positivos e
negativos de seu uso114. É a política educacional do país, a pressão sobre os
professores e o crescente acesso a estas tecnologias interativas que definirão
os novos paradigmas para o processo de ensino-aprendizado.
Os mais recentes trabalhos publicados, em papel e/ou via eletrônica, mostraram
que fundamentalmente informação não é conhecimento, ou seja, acesso a
informação não produz um estudante bem educado.
De uma forma geral, apesar de existirem provas que a tecnologia pode contribuir
significativamente para o ensino, poucos professores fazem uso destes recursos.
Mostrou-se que a Internet é a grande estrela do momento e que terá uma enorme
influência nas áreas social, cultural e educacional, pois de uma forma geral
diminui as barreiras de criação e distribuição de material.
A comunidade de pesquisa continua ainda sendo a principal interessada na rede,
apesar da desorganização das informações e da invasão pelas áreas comerciais.
Porém, na realidade é a fonte mais excitante que pesquisadores, professores e
estudantes têm atualmente a sua disposição.
Existem dois tipos de informações na Internet que podem ser utilizadas no
processo de ensino-aprendizagem: uma é o que já está disponível na Internet e a
segunda é o que você pode publicar na rede através deuma "home page"
individual. O resultado pode ser muito gratificante para o aluno e parao
professor ao ver que seu trabalho está sendo lido, criticado e usado por
outros.
Sóo uso das tecnologias como ferramentas não será suficiente para dar boa
continuidade ao processo de ensino-aprendizagem. Alguns fatos devem ser
mencionados como por exemplo, a atitude positiva dos professores frente a estas
tecnologias. A organização das aulas em torno da Internet e outros produtos
tecnológicos é recomendável. Contudo, a determinação clara dos objetivos do
ensino por parte dos professores é um dos pontos mais significativos do
processo.
Em resumo final, o mais importante no uso das tecnologias interativas e da
Internet no ensino é a abordagem pedagógica que o professor pode imprimir e não
a tecnologia em si.