EFEITO DO ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO DAS FLORES E DA APLICAÇÃO DE FUNGICIDAS NO
CONTROLE DA PODRIDÃO FLORAL DOS CITROS
EFEITO DO ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO DAS FLORES E DA APLICAÇÃO DE FUNGICIDAS NO
CONTROLE DA PODRIDÃO FLORAL DOS CITROS 1
INTRODUÇÃO
A Podridão Floral dos Citros (PFC) é uma doença das flores de citros causada
por Colletotrichum acutatum, também conhecida por "Queda Prematura de
Frutos Jovens" (Fagan, 1979; Goes & Creste, 2000). A doença é
conhecida no Brasil pelo menos desde 1977 em laranjas, e há muito mais tempo em
limas ácidas. Os sintomas iniciais mais evidentes são lesões alaranjadas nas
pétalas de flores abertas (Timmer et al., 1994). A queda das pétalas é então
retardada e muitas secam ainda retidas no cálice. Freqüentemente, observa-se a
necrose do pistilo, iniciando-se no estigma e descendo pelo estilo.
Crescimentos fúngicos alaranjados podem também ser vistos nos estiletes dos
estames, no estigma, estilo, ou no nectário. A abscisão do estilo dos frutinhos
também é retardada (Feichtenberger et al., 1997).
A aparência dos frutos recém-formados ao final da florada é geralmente normal.
Eles, no entanto, tornam-se rapidamente pálidos ou amarelados, não caem, mas
também não se desenvolvem. Lentamente, no entanto, a maioria dos frutinhos
destaca-se, separando-se pela zona de abscisão à base do ovário, e deixando
persistente na planta a "estrelinha", ou cálice retido (Agostini
& Timmer, 1994).
A doença ocorre em função de chuvas durante a florada (Feichtenberger et al.,
1997). Com os invernos pouco rigorosos, e com as chuvas precoces dos últimos
anos, a PFC tem sido responsável por perdas significativas desde 1989 nas
regiões ao sul de Araraquara-SP, e desde 1992 em todo o Estado. Isto se deve ao
fato de o inóculo ter permanecido alto de ano para ano e as floradas de
primavera terem ocorrido mais cedo que o normal em alguns anos, juntamente com
as chuvas.
A PFC foi registrada em quase toda a citricultura das Américas na década de 80
(Denham, 1979). Métodos de controle biológico (Moretto, 2000) e principalmente
químicos, utilizando-se dediversos fungicidas, foram testados para seu
controle, e os melhores resultados vieram das aplicações de benzimidazóis
(Timmer & Zitko, 1992; Sonoda, 1993). Coutinho et al. (1994) determinaram
que os melhores resultados de controle da doença são obtidos quando as flores
se encontram nos estágios de botão redondo branco até completamente
desenvolvido. Entretanto, uma grande dificuldade são as diferentes sucessões de
flores, tendo em vista que os benzimidazóis não se comportam como sistêmicos
nas pétalas, pois estas não possuem estômatos funcionais. No Estado de São
Paulo, no entanto, o sucesso do controle tem sido variável. Problemas como
épocas de controle, doses do produto, número e intervalo de aplicações, e tipos
de pulverização precisam ser mais bem estudados, o que motivou a pesquisa.
Os objetivos deste trabalho foram: a) acompanhar o desenvolvimento de botões
florais de laranja-doce pulverizados ou não, sob condições favoráveis à doença,
com a finalidade de determinar os melhores estágios para o controle da doença;
b) determinar os estágios de desenvolvimento floral mais suscetíveis à
infecção; e c) avaliar o controle através de pulverizações de diversos
fungicidas em diferentes concentrações e misturas em florada temporã.
MATERIAL E MÉTODOS
Pulverizações manuais. Plantas de laranja-'Natal' (Citrus sinensis [L.] Osbeck)
sobre limão-'Cravo' (Citrus limonia Osbeck) (plantio de 1986, espaçamento 9 x 6
m, Rincão, SP), e de laranja-'Pêra' (C. sinensis [L.] Osbeck) sobre limão-
'Cravo' (C. limonia Osbeck) (plantio de 1978, espaçamento 8 x 5,5 m, Gavião
Peixoto-SP), foram utilizadas nos experimentos. Foram marcados aleatoriamente
ramos florais pertencentes à florada temporã, nos dias 3 ('Natal') e 4 ('Pêra')
de janeiro de 1994. Ambos os pomares tiveram ataques intensos de PFC na florada
da primavera (setembro/outubro de 1993), possuindo uma safra extremamente
reduzida e um grande número de cálices retidos.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com 25
repetições. Cada ramo de flores marcado representou uma parcela. Foram testados
4 tratamentos (dose por 1 L): a) testemunha; b) benomyl 0,5 g, no dia de
marcação dos ramos (aplicação normal); c) benomyl 0,5 g, 3 a 4 dias depois da
marcação (aplicação tardia); e d) benomyl 0,5 g em 2 aplicações, uma na
marcação dos botões e outra uma semana depois. As aplicações foram feitas com
pulverizadores manuais, molhando-se apenas os ramos com flores marcadas até o
ponto de escorrimento.
Nestes experimentos, os botões florais foram mapeados em cada ramo marcado,
para seu acompanhamento. Foram convencionados os seguintes estágios florais
(abreviaturas em parênteses) (Figura_1): botão fechado verde (V); botão fechado
redondo branco (R); (1/4) e (1/2) de cotonete - tamanhos do botão floral em
relação ao seu desenvolvimento final, conhecido como "cotonete";
cotonete (C); aberto (AB); chumbinho (CH); e estilo caído (EC).
Pulverizações com atomizadores. Nos mesmos talhões dos experimentos anteriores,
e na mesma florada temporã, foram pulverizados fungicidas em 1 ou 2 aplicações,
usando equipamentos tratorizados. Na laranja-'Natal' foram utilizados
pulverizadores Rolanzir, com saída de calda unilateral, na velocidade de 1,5
km/h, com volume de 6 L/planta. O delineamento experimental foi o de blocos
casualizados, com 3 repetições e 4 tratamentos (doses por 2.000 L): a)
testemunha; b) benomyl 1 kg, em 4/jan; c) benomyl 1 kg, em 4 e 11/jan; e d)
benomyl 1 kg, em 8/jan. Foram marcados 20 ramos com flores aleatoriamente em
cada parcela para acompanhamento do desenvolvimento dos botões florais.
Na laranja-'Pêra', foram utilizados pulverizadores Rolanzir, com saída de calda
unilateral, na velocidade de 5 km/h, com volume de 8 L/planta. O delineamento
experimental foi o de blocos casualizados, com 3 repetições e 9 tratamentos:
(doses por 2.000 L): a) testemunha; b) benomyl 1 kg, 4/jan; c) benomyl 1 kg, 4
e 10/jan; d) benomyl 1 kg + captan 3,5 kg, 4/jan; e) benomyl 0,75 kg + captan
2,5 kg, 4/jan; f) benomyl 1 kg + captan 2,5 kg, 4/jan; g) benomyl 1 kg + captan
2,5 kg, 4/jan + benomyl 1 kg, 10/jan; h) benomyl 1,5 kg, 4/jan; e i) benomyl
1,5 kg, 4 e 10/jan. Foram pulverizadas faixas de plantas no talhão com florada
uniforme, e 20 ramos com flores marcadas em cada faixa.
Em todos os experimentos descritos anteriormente (pulverizações manuais e com
atomizadores), avaliaram-se a cada intervalo de dois dias, a freqüência e época
de ocorrência das lesões nas pétalas dos botões florais e do estilo necrosado,
a porcentagem de pegamento e o índice de cálices retidos de cada parcela, bem
como a evolução dos estágios dos botões durante o seu desenvolvimento. As
avaliações iniciaram-se na primeira aplicação dos fungicidas e estenderam-se
até a observação do pegamento efetivo dos frutos. A partir destes dados, foi
analisado o efeito das aplicações dos fungicidas sobre a PFC através da análise
de variância, e a separação das médias foi feita pelo teste de Duncan, a 5% de
probabilidade, no programa SAS (Statistical Analysis System) versão 6.14.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pulverizações manuais. O clima foi extremamente favorável à incidência de PFC,
com chuvas quase diárias durante toda a florada temporã. A distribuição dos
estágios dos botões florais no início dos tratamentos mostrou a predominância
de botões redondos brancos fechados na laranja-'Natal', e de botões totalmente
desenvolvidos, mas ainda fechados (cotonetes) na 'Pêra'.
Todos os tratamentos com benomyl resultaram em redução do número de flores com
sintomas de estilos necrosados, de cálices retidos e com significativo aumento
no pegamento de frutos (Tabelas_1 e 2). As aplicações em plantas molhadas,
seguidas de chuvas leves, resultaram em melhor pegamento (benomyl em 3/jan, na
'Natal') (Tabela_1), assim como o tratamento mais tardio com benomyl (aplicação
do dia 7/jan), foi eficiente nesta variedade. Na 'Pêra', este tratamento tardio
resultou em pegamento superior a 3 vezes quando comparado com a testemunha,
mesmo se considerar que o estágio de desenvolvimento dos botões, em 4/jan,
estivesse adiantado (predominância de cotonetes) e que não tenha ocorrido
diferença estatística.
Não houve diferença estatística também entre uma e duas aplicações do
fungicida. Na 'Natal', o tratamento com duas pulverizações reduziu
significativamente a incidência de estilos necrosados e de cálices retidos, sem
melhorar o pegamento (Tabela_1). Isto indica que, a partir de um certo
pegamento, outros fatores passam a ser mais importantes na determinação da
fixação das estruturas florais do que a PFC.
A distribuição dos estágios florais iniciais mostra que estágios de florada
temporã com botões redondos fechados brancos, no início do desenvolvimento das
pétalas ('Natal') ou quando do seu tamanho final ('Pêra') podem ser
eficientemente tratados contra PFC na florada temporã. A faixa de estágios de
florada entre estes extremos, portanto, pode ser considerada a ideal para
tratamento. O período médio entre os estágios de botão redondo branco e
cotonete foram de cerca de 7 dias para as condições de temperatura da florada
temporã da 'Natal'. Observações na 'Pêra' indicam um comportamento semelhante,
embora não tenha ocorrido número suficiente de botões florais redondos marcados
para acompanhamento do seu desenvolvimento.
Pulverizações tratorizadas. As floradas pulverizadas foram às mesmas das
aplicações manuais. As condições climáticas, portanto, foram muito favoráveis à
doença. O estágio dos botões florais foi de predominantemente redondo fechado
branco na 'Natal' e de fechado totalmente desenvolvido na 'Pêra'. Todos os
tratamentos com fungicidas resultaram em aumento significativo do pegamento, e
redução da incidência de cálices retidos (estrelinhas) (Tabelas_3 e 4). Na
'Pêra', o número de frutos em cada tratamento através da derriça foi também
avaliado, resultando em significativo aumento para todos os tratamentos com
fungicidas (Tabela_4).
Não houve diferença entre uma ou duas aplicações, entre tratamentos com doses
diferentes, ou com a adição de captan ao benomyl. Observou-se, no entanto, como
no caso das pulverizações manuais, uma tendência de redução de cálices retidos
(estrelinhas) e aumento do pegamento à medida que se acrescenta uma aplicação,
se adiciona outro fungicida, ou se aumenta à dose do benomyl.
CONCLUSÕES
1 - Benomyl é eficiente no controle da Podridrão Floral dos Citros em florada
temporã, em doses de 0,5 a 0,75 g.L-1, utilizando-se de aplicações com volumes
de calda de 6 a 8 L/planta.
2 - A resposta ao benomyl pode ser obtida em floradas temporãs de laranjeiras-
doces tratadas nos estágios de predominância de botões redondos brancos até
cotonetes.