MANUTENÇÃO DE FOLHAS ATIVAS EM BANANEIRA-'NANICÃO' POR MEIO DO MANEJO DAS
ADUBAÇÕES NITROGENADA E POTÁSSICA E DA IRRIGAÇÃO
INTRODUÇÃO
A bananicultura encontra-se presente em quase todo o País, apresentando
significativa diversidade, especialmente em relação às variedades e padrão
tecnológico das explorações. Segundo Souza & Torres (1997), a área ocupada
para a produção de banana é a segunda maior entre as destinadas às frutas para
consumo in natura.
A manutenção de área foliar ativa por mais tempo é uma luta constante para os
produtores de banana, sendo que a primeira preocupação é com o controle de
doenças foliares (Sigatoka, principalmente). Robinson et al. (1992) obtiveram
rendimento máximo de frutos em bananeira 'Williams' com a manutenção de oito
folhas durante o período entre emissão da inflorescência e colheita; com quatro
folhas, a produção de frutos comercializáveis foi afetada tanto em quantidade
como em qualidade. Na prática, alguns bananicultores afirmam que deve ser
mantido até a colheita, no mínimo, um número igual de folhas ativas e de
pencas.
Em relação à fertilidade do solo, há relatos de que o suprimento adequado de K
seja fundamental para a preservação da área foliar (Murray, 1960; Hasselo,
1961; Lahav, 1972; Lahav, 1995). Outrossim, segundo Delvaux (1995), a
manutenção do equilíbrio de cátions e de adequados níveis de potássio e
nitrogênio disponíveis no solo são as condições químicas mais importantes para
o cultivo de bananeiras visando a altos rendimentos.
O objetivo deste trabalho foi estudar os efeitos da adubação nitrogenada e
potássica, em condições de sequeiro e sob irrigação, sobre a durabilidade das
folhas de bananeira no período entre a emissão da inflorescência e a colheita
dos cachos.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado em Jaboticabal-SP, cuja altitude é de
aproximadamente 575 m e latitude 21o15'S. O clima é mesotérmico de inverno seco
(Cwa - Classificação de Koeppen), e o solo classificado como Latossolo Vermelho
Eutroférrico típico. Valores médios de alguns atributos do solo, em amostragem
realizada na época da instalação do experimento, encontram-se na Tabela_1.
Informações meteorológicas coletadas no período de condução do experimento são
apresentadas na Figura_1.
O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com duas repetições e
parcelas subdivididas. As parcelas principais foram constituídas por dois
regimes hídricos: irrigado (microaspersão) e sequeiro. Nas subparcelas, os
tratamentos, em arranjo fatorial, consistiram nas combinações de quatro doses
de nitrogênio (0; 200; 400 e 800 kg ha-1de N) e quatro de potássio (0; 300; 600
e 900 kg ha-1 de K2O). As unidades experimentais (subparcelas) foram compostas
por vinte plantas (104 m2), sendo seis consideradas para as avaliações (plantas
úteis). As doses de adubo (nitrato de amônio e cloreto de potássio, como fontes
de N e K, respectivamente) foram parceladas em quatro vezes durante a estação
das chuvas. Os fertilizantes foram sempre aplicados na superfície do solo sem
incorporação. No estabelecimento do bananal, foi aplicado fósforo (170 kg ha-
1 de P2O5) sob a forma de termofosfato.
O bananal foi implantado empregando-se mudas micropropagadas in vitroda
cultivar Nanicão (Musa AAA subgrupo Cavendish), em outubro de 1997. Sua
condução foi de acordo com as recomendações descritas por Moreira (1999). Fez-
se o controle de doenças, especialmente sigatoca-amarela, e pragas (nematóides
e broca) de forma preventiva, por meio da aplicação de defensivos indicados
para a cultura em épocas predeterminadas.
Os teores de N e K foliar foram estimados por meio de amostragem realizada
conforme as recomendações de Martin-Prével (1984). As amostras de tecido foliar
foram processadas e analisadas quanto aos teores de N e K de acordo com
Bataglia et al. (1983). Na época da emissão da inflorescência, contaram-se as
folhas ativas, ou seja, aquelas que apresentavam mais da metade do limbo verde
(NFE). Na colheita do cacho, determinou-se novamente o número de folhas ativas
(NFC).
Calculou-se a relação IDF = NFC ¸ NFE ´ 100 , na qual, IDFé o índice de
durabilidade foliar (%), NFC, o número de folhas ativas na época da colheita do
cacho e NFE, o número de folhas ativas na época da emissão da inflorescência.
Os efeitos dos tratamentos aplicados às parcelas principais (sequeiro e
irrigação) foram avaliados empregando-se o teste F. Para as situações nas quais
se detectaram efeitos significativos dos tratamentos de adubação, foram
ajustadas equações de regressão relacionando doses de potássio e nitrogênio com
as variáveis respostas, para condições de sequeiro e irrigação. Nas análises de
variância, empregou-se o módulo GLM (General Linear Models) do SAS, segundo
Freund & Litttell (1981); os parâmetros dos modelos de regressão foram
estimados por máxima verossimilhança, empregando-se o módulo MIXED (Mixed
Models), conforme Littell et al. (1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos dois ciclos de cultivo, houve efeito (p<0,05)da adubação potássica e da
irrigação sobre a durabilidade das folhas e número de folhas existentes na
época da colheita (Tabela_2), não obstante a realização de um eficiente
controle preventivo de sigatoca-amarela. Apesar de a irrigação possibilitar
maior absorção de N e K, não foi detectado efeito significativo (p>0,05) do
regime hídrico sobre os teores foliares de N ou K. Provavelmente, ao
incrementar o crescimento das plantas, a quantidade de nutrientes no tecido
foliar foi diluída num volume maior. Os maiores efeitos sobre a concentração de
N e K nas folhas foram decorrentes da aplicação dos fertilizantes.
Na Tabela_3, é apresentado o efeito da irrigação (médias de todos os
tratamentos de adubação com N e K) sobre as variáveis relacionadas ao estado
das folhas. Ressalta-se que, com irrigação, foi possível atingir o período de
colheita com quase o dobro de folhas do que sob a condição de sequeiro, pois as
folhas existentes na época da emissão da inflorescência tiveram sua
durabilidade favorecida pela maior disponibilidade de água. A irrigação
possibilitou que mais da metade das folhas existentes na época da emissão da
inflorescência se mantivessem ativas até o momento da colheita (IDF>50%). Sob
sequeiro, o IDF foi aproximadamente 30% nos dois ciclos de cultivo. Pelos
resultados, infere-se que o estresse hídrico acelerou a senescência foliar,
freqüentemente resultando em redução irreversível da área fotossinteticamente
ativa. Boyer (1976) considerou que essa associação entre perda de área foliar e
diminuição na fotossíntese representa um grande potencial de diminuição na
produção de fotossintetizados, com reflexos sobre a produção. O efeito da
irrigação sobre a durabilidade foliar, observado no presente trabalho, foi
semelhante ao determinado por Manica et al. (1975) para 'Nanicão'. Esses
autores constataram que a manutenção de um número maior de folhas até a
colheita foi favorecida pela irrigação, observando que, na época da colheita,
as plantas sob sequeiro apresentavam, em média, 3,7 folhas, enquanto as plantas
irrigadas estavam com 6,4 folhas. A irrigação em bananeiras 'Robusta', segundo
Holder & Gumbs (1983), também determinou um incremento significativo na
durabilidade das folhas.
Na Figura_2, tem-se a relação entre o índice de durabilidade foliar e a
aplicação de potássio. Em sequeiro, o IDF aumentou linearmente com as doses
crescentes de K nas duas safras. Chama a atenção, a obtenção de resposta à
adubação potássica num solo com teor médio de K trocável superior a
3,0 mmolc dm-3. Observa-se que essa resposta foi obtida somente em sequeiro,
indicando que a irrigação tenha possibilitado que as bananeiras suprissem suas
necessidades de K a partir das reservas potássicas do solo.
Observou-se em campo que a durabilidade das folhas variava em função dos
tratamentos de adubação com N e K. O secamento de folhas que ocorria no período
entre a emissão da inflorescência e a época de colheita dos cachos,
correspondia aproximadamente aos sintomas de deficiência de K descritos por
Martin-Prével & Charpentier (1964). As plantas não apresentavam alterações
significativas de cor ou arquitetura até próximo da época da emissão da
inflorescência. A partir desse momento, as folhas mais velhas amareleciam
subitamente, necrosando logo em seguida. Essas parcelas quase sempre
correspondiam aos tratamentos de doses mais altas de N e dose zero de K. A
partir dessa constatação, buscou-se verificar se havia alguma relação entre o
índice de durabilidade foliar e os teores de K e N na folha-índice. Na Figura
3, tem-se o IDF expresso em função da razão entre os teores foliares de K e N.
No primeiro ciclo de cultivo, houve um incremento linear na durabilidade das
folhas com o aumento da relação K/N foliar. No segundo ciclo, a durabilidade
foliar variou numa relação quadrática com a razão K/N. Nesse ciclo, a máxima
durabilidade foliar foi obtida com uma razão K/N em torno de 1,6 para sequeiro
e de 1,4 sob irrigação. Acredita-se que as doses crescentes de N tenham
favorecido o crescimento e a translocação de nutrientes para os frutos. Esse
fato, sem o suficiente aporte de K, determinou incremento na velocidade de
senescência foliar. Outrossim, o potássio, segundo Beringer & Trolldenier
(1979), atua na regulação osmótica e resistência das plantas ao estresse
hídrico, fazendo com que plantas com nutrição adequada desse elemento
apresentem níveis mais baixos de ácido abcísico (ABA), fito-hormônio que
acelera a senescência foliar.
CONCLUSÕES
A irrigação possibilitou a manutenção de folhas fotossinteticamente ativas em
bananeiras no período entre a emissão da inflorescência e a colheita do cacho.
A adubação potássica favoreceu a manutenção de folhas ativas, especialmente sob
sequeiro.
A senescência das folhas em bananeiras, entre a época da emissão da
inflorescência e a colheita dos cachos, foi acelerada em condições de
desequilíbrio nutricional de N e K.