Inibição do amadurecimento da banana-'Prata-Anã' com a aplicação do 1-
metilciclopropeno
INTRODUÇÃO
A banana, Musa spp., é uma das frutas mais consumidas no mundo, sendo cultivada
na maioria dos países tropicais. O Brasil é o segundo maior produtor de bananas
com, aproximadamente, 11,2% da produção mundial. A banana-'Prata', subgrupo
Prata, subgênero Musa sapientum, muito explorada no Brasil, tem sido
comercializada somente no mercado interno devido a sua alta perecibilidade
(Moreira, 1987; Alves, 1997).
O Estado de Minas Gerais, um dos principais produtores de bananas do Brasil,
possui uma área de aproximadamente 38.014 ha cultivados com banana, onde
predominam as cultivares Prata e Prata-Anã.
Durante o amadurecimento da banana, muitas transformações químicas ocorrem. O
teor de sólidos solúveis aumenta, atingindo valores de até 27%, e a acidez
aumenta até atingir um máximo, quando a casca está totalmente amarela, para
depois decrescer, predominando o ácido málico. O pH do fruto verde varia de 5,0
a 5,6 e o fruto maduro de 4,2 a 4,7 (Bleinroth, 1993). O amido representa,
aproximadamente, 20 a 25% do peso fresco da polpa do fruto verde. Durante o
amadurecimento, o amido é degradado rapidamente, com o acúmulo de sacarose,
glicose e frutose, observando-se também pequenas quantidades de maltose. A
adstringência é representada pela presença de taninos e decresce à medida que o
fruto vai amadurecendo, podendo também variar com a época de colheita do fruto.
A firmeza normalmente diminui, acompanhada por uma mudança na coloração da
casca e da polpa devido à degradação da clorofila e à síntese de carotenóides.
O aroma característico da banana também se intensifica com o amadurecimento,
aumentando os teores de ésteres, sobretudo o acetato de isopentila ( Hulme,
1970; Kader, 1992 e Lichtemberg, 1999).
As práticas de pós-colheita realizadas, muitas vezes, não são suficientes para
garantir uma boa qualidade da fruta quando esta é comercializada em mercados
mais distantes. Portanto, o desenvolvimento e a adaptação de tecnologias de
refrigeração, atmosfera controlada e retardadores de amadurecimento permitirão
aos produtores e empresários alcançarem melhores condições e competitividade
nos mercados nacional e internacional.
O 1-metilciclopropeno(1-MCP) é um produto bloqueador da ação do etileno e tem
sido utilizado com sucesso em flores, hortaliças e frutos. Tem-se verificado um
aumento na vida útil destes produtos de forma bastante efetiva, mantendo uma
boa qualidade. Também recentemente, Macnish, Joyce e Jiang (1999), trabalhando
com banana do subgrupo Cavendish, constataram aumentos da vida útil do fruto
com preservação da qualidade, sobretudo quando o tratamento com o produto foi
associado com a embalagem dos mesmos em sacos de polietileno.
O objetivo deste trabalho foi retardar o amadurecimento da banana-'Prata' e
aumentar a sua vida útil testando diferentes níveis do 1- MCP.
MATERIAL E MÉTODOS
Os frutos da cultivar Prata-anã foram provenientes de Janaúba, Norte de Minas
Gerais, Brasil. Os frutos foram colhidos no estádio de maturação 1, que
corresponde ao estádio verde, classificados como "extra" (diâmetro
mínimo - 31,8 mm). Foram transportados do local de origem em caminhões
refrigerados com temperatura de 14oC e sem controle de umidade relativa. O
experimento foi instalado 2 dias após a colheita do fruto (08/06/2000),
correspondente ao período de transporte ( 24 horas) até chegar ao Laboratório
de Pós-colheita da Embrapa- Agroindústria de Alimentos, no Rio de Janeiro - RJ.
De um lote, proveniente de 6 caixas de banana (20kg), selecionaram-se os
melhores frutos, descartando-se aqueles que estavam fora do padrão (injuriados,
início de amarelecimento). As parcelas foram de 10 frutos constituídas de 2
buquês de 5 frutos, com 3 repetições para cada tratamento. Foram utilizados 4
níveis do produto 1- metilciclopropeno 0; 10; 30 e 90 ppb. O 1-MCP foi
utilizado na formulação pó, na concentração de 0,14% de ingrediente ativo. A
aplicação do produto foi realizada em caixas específicas com dimensões de
46x50x81 cm, hermeticamente fechadas, nas quais os frutos permaneceram por 13
horas. Os frutos foram armazenados à temperatura ambiente (temperatura média de
24oC ± 2 e umidade relativa de 78,5%) e avaliados aos 0, 4, 8 e 12 dias, após
submetidos à aplicação do produto.
As avaliações foram as seguintes:
1.Desenvolvimento da cor amarela da casca de acordo com a tabela de
classificação: 1 - verde; 2 - verde clara; 3 - predomina verde; 4 - predomina
amarela; 5 - amarela com extremidades verdes; 6 - amarela; 7 - amarela com
áreas marrons.
2. Despencamento de dedos no buquê.- através da contagem dos frutos soltos.
3. Firmeza- determinada por penetrômetro MC Cormick, modelo FT 327, com
ponteira de 8mm de diâmetro. As medidas foram realizadas após remoção de
pequena porção da casca na região mediana do fruto. Foram realizadas duas
leituras por fruto e expressas em Newtons
4.Acidez total titulável l (%) ATT- determinada por titulação com NaOH 0,1N, de
acordo com a técnica preconizada pela AOAC (1992) e expressa em porcentagem de
ácido málico.
5.pH : determinado por potenciometria em eletrodo de vidro, segundo técnica da
AOAC (1992).
6.Sólidos solúveis totais: determinados por refratometria, utilizando-se do
refratômetro digital, com compensação de temperatura automática.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No dia da instalação do experimento, foi feita uma amostragem dos frutos, os
quais apresentaram firmeza média de 45,72 N e acidez total titulável de 0,23 %
e 2,2 % de sólidos solúveis totais. Esta caracterização teve como finalidade a
caracterização inicial dos frutos utilizados no experimento. Após 4 dias,
quando foi realizada a primeira avaliação, a maior firmeza e pH foram
detectados no tratamento que se aplicou 30 ou 90 ppb de EthylBloc, e a menor
firmeza, no tratamento-controle (Figuras_1 e 2). O maior teor de acidez e de
sólidos solúveis foi encontrado no tratamento-controle, indicando um maior
avanço do amadurecimento nestes frutos e menor teor de sólidos solúveis e
acidez nos frutos tratados com 30 ppb (Figuras_3 e 4).
Analisando-se os resultados aos 8 dias após a aplicação do produto, verificou-
se que o processo de amadurecimento continuou progredindo no tratamento-
controle, caracterizado pela diminuição da firmeza e pelo aumento de sólidos
solúveis e acidez, conforme se pode verificar nas Figuras_1, 3 e 4. Observou-
se, também, nesta avaliação, efeito positivo em retardar o amadurecimento dos
frutos, à medida que se aumentou a concentração do produto. Menores teores de
sólidos solúveis, acidez titulável e maior firmeza foram observados nos frutos
tratados com 30 e 90 ppb quando comparados com 0 e 10ppb do produto. Quanto ao
pH, o maior valor foi encontrado nos frutos tratados com 30 ppb, e o menor, nos
frutos tratados com 10 ppb (Figura_4).
Nos resultados encontrados na última avaliação, aos 12 dias, foi ainda mais
evidente o efeito do produto, constatando-se que os melhores tratamentos foram
aqueles onde se aplicou 30 e 90 ppb de 1-MCP, sobressaindo-se o tratamento com
90ppb, com maior firmeza e menor teor de sólidos solúveis. Quanto ao pH,
verificou-se que o menor valor foi encontrado nos frutos tratados com 30ppb, e
valor maior, nos frutos tratados com 90 ppb.
De modo geral, os teores de sólidos solúveis, firmeza e acidez titulável, que
são os principais parâmetros de avaliação do processo de amadurecimento,
apresentaram grandes variações, demonstrando a eficiência do 1-MCP em retardar
o amadurecimento dos frutos, sobretudo quando se utilizou 90ppb do produto.
No que se refere ao despencamento de frutos no buquê, independentemente da
concentração do produto, todos os frutos tratados com o 1- MCP permaneceram
presos à almofada, enquanto os sem aplicação se soltaram da almofada quando
atingiram pleno amadurecimento no último dia de avaliação.
Com relação à avaliação da coloração da casca do fruto (Tabela_1), observou-se
que, no 4o dia de avaliação, 91 % dos frutos sem o tratamento com 1 ¾ MCP
atingiram o estádio 6 de amadurecimento, enquanto os 60 % dos frutos tratados
com 30 e 90 ppb permaneceram no estádio 1 e 40% no estádio 2, quando se aplicou
10ppb do produto. No 8o dia, os tratamentos com 30 e 90ppb mostraram-se mais
eficientes com relação à retenção da degradação da clorofila. Já na última
avaliação (12o dia), apenas a aplicação de 90ppb de 1-MCP retardou com mais
eficiência o processo de amadurecimento, permanecendo 30 e 40% dos frutos nos
estádios 2 e 3, respectivamente. Desta forma, verificou-se que o nível de 90ppb
foi mais eficiente na retenção da cor verde. Em termos de supressão do
amadurecimento de bananas Jiang, Joyce e Macnish (1999), trabalhando com
bananas 'Cavendish', verificaram que o 1-MCP é um potente retardador do
amadurecimento, observando também retenção da cor verde da casca e da firmeza
dos frutos, como foi verificado neste trabalho.
CONCLUSÃO
A aplicação de 90 ppb de EthylBloc nas bananas-'Prata-Anã' mostrou ser um
tratamento eficiente para retardar o amadurecimento dos frutos. Com 30 ppb, o
amadurecimento foi retardado por 8 dias, e com 90ppb, por 12 dias. Essa técnica
apresenta-se como uma alternativa para prolongar a vida útil dessa cultivar
considerada bastante perecível, porém ocorre heterogeneidade no amadurecimento
após a sua retomada.