Diagnose nutricional para nitrogênio e potássio em bananeira por meio do
sistema integrado de diagnose e recomendação (DRIS) e de níveis críticos
DIAGNOSE NUTRICIONAL PARA NITROGÊNIO E POTÁSSIO EM BANANEIRA POR MEIO DO
SISTEMA INTEGRADO DE DIAGNOSE E RECOMENDAÇÃO (DRIS) E DE NÍVEIS CRÍTICOS
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INTRODUÇÃO
O diagnóstico nutricional elaborado a partir de resultados de análise de tecido
vegetal constitui-se num instrumento importante para detectar eventuais
deficiências e auxiliar no processo de recomendação de fertilizantes.
Entretanto, diagnosticar deficiência nutricional exige, além de método adequado
para amostragem e análise de tecido vegetal, o estabelecimento de critérios
para a interpretação dos resultados (Munson & Nelson, 1973). Martin-Prével
(1984) demonstrou a importância da análise foliar para o monitoramento do
estado nutricional em bananeira e destacou os esforços para a padronização dos
procedimentos de amostragem.
A bananeira caracteriza-se por sua elevada exigência de N e K e necessidade de
um fornecimento equilibrado desses nutrientes. Na elaboração de diagnósticos
nutricionais, usualmente, comparam-se os resultados de análise foliar com
valores-padrão (concentrações críticas ou faixas de suficiência), admitindo-se
que nutrientes, cuja concentração seja inferior a esses limites, provavelmente
estejam limitando o crescimento, rendimento ou qualidade dos frutos (Martin-
Prével, 1990; Lahav, 1995). Lahav & Turner (1983) e Lahav (1995)
estabeleceram níveis críticos (NC) para as concentrações de elementos em tecido
foliar de bananeira com base em resultados de vários experimentos com bananeira
realizados em diversas condições de cultivo. Segundo os autores, esses padrões
têm-se mostrado consistentes e úteis para diagnosticar deficiências.
Uma abordagem alternativa, possivelmente mais eficiente para revelar
desequilíbrios nutricionais e mais robusta em relação a variações na amostragem
(idade da planta, época, etc.), é o sistema integrado de diagnose e
recomendação ' DRIS, no qual, são utilizadas relações entre as concentrações
foliares dos nutrientes para interpretar os resultados de análise de tecido
(Beaufils, 1973; Walworth & Sumner, 1987). Angeles et al. (1993), ao
analisar resultados de experimentos de adubação em bananeira, constataram
limitações em diagnósticos nutricionais estabelecidos por nutrientes
individualmente, sem considerar as relações de proporção entre eles. A partir
de um banco de dados com informações de composição foliar obtidas em
experimentos (915 observações) realizados em diversas condições de ambiente e
manejo da cultura, esses autores propuseram padrões (normas) DRIS preliminares
para bananeira. Por serem normas preliminares, Angeles et al. (1993)
recomendaram em sua conclusão que fossem realizadas validações em experimentos
do tipo fatorial, para subsidiar posssíveis ajustes.
Beverly & Hallmark (1992) demonstraram a necessidade de testar a qualidade
dos diversos procedimentos para interpretação de análise de tecido, a fim de
verificar sua utilidade como guia para a recomendação de fertilizantes e
propuseram um método para realizar tal avaliação. Esse método possibilita
quantificar o desempenho de critérios para diagnóstico nutricional (DRIS, NC,
faixa de suficiência, entre outros) mediante comparação entre o previsto
(situação de deficiência ou suficiência) e a resposta da planta à aplicação de
fertilizantes.
O objetivo desse trabalho foi avaliar o desempenho de diagnósticos nutricionais
para nitrogênio e potássio em bananeira estabelecidos a partir do critério de
níveis críticos de N e K e do sistema integrado de diagnose e recomendação
(DRIS).
MATERIAL E MÉTODOS
Diagnósticos nutricionais para N e K elaborados a partir de NC e DRIS foram
confrontados com a resposta de rendimento das plantas à aplicação de
fertilizantes nitrogenados e potássicos em dois ciclos de produção de
bananeiras-'Nanicão' (MusaAAA, subgrupo Cavendish). Dados de amostragem foliar
(limbo da folha três de plantas com cachos emitidos), bem como de produção,
foram obtidos a partir de um experimento de campo descrito por Teixeira (2000).
Os tratamentos foram arranjados em parcelas subdivididas, sendo as parcelas
principais constituídas por dois regimes hídricos: irrigado (microaspersão) e
sequeiro, e as subparcelas, pelo fatorial com quatro doses de nitrogênio (0;
200; 400 e 800 kg ha1de N) e quatro de potássio (0; 300; 600 e 900 kg ha1 de
K2O). Os adubos, nitrato de amônio e cloreto de potássio (fontes de N e K,
respectivamente), foram aplicados na superfície do solo, sem incorporação,
fracionados em quatro vezes durante a estação das chuvas. Resultados da análise
química do solo, em amostragem realizada na época da instalação do experimento,
encontram-se na Tabela_1.
Tecido foliar foi amostrado de acordo com as recomendações de Martin-Prével
(1984) e consistiu na coleta da porção central do limbo da terceira folha,
contando-se a partir do ápice, na época em que a inflorescência apresentava
duas ou três pencas masculinas abertas. As amostras foram processadas e
analisadas quanto aos teores de N, P, K, Ca e Mg de acordo com Bataglia et al.
(1983).
Para a elaboração dos diagnósticos nutricionais baseados na comparação dos
teores de N e K foliares com os padrões para níveis críticos desses nutrientes
em bananeira, empregaram-se os valores apresentados por Lahav (1995). Definiu-
se como diagnóstico de deficiência, valores de concentração foliar de N ou K
inferiores aos padrões expressos na Tabela_2.
Os índices para o sistema integrado de diagnose e recomendação (DRIS) foram
calculados a partir das normas publicadas por Angeles et al. (1993). Para o
cálculo das funções intermediárias (relações entre nutrientes), empregou-se a
fórmula proposta por Jones (1981):
f(X/Y) = (X/Y ' x/y) . K/s
onde: X/Y = valor da relação entre as concentrações dos dois nutrientes na
planta sob diagnóstico; conforme os nutrientes envolvidos, essa relação pode
ser uma razão ou produto (Tabela_2); x/y = valor ótimo ou norma para a relação
entre os nutrientes (Tabela_2); K = 10 (constante de valor arbitrário); s =
desvio-padrão da relação x/y (norma) na população de referência (Tabela_2).
Os índices para cada nutriente foram calculados de acordo com Walworth &
Sumner (1987). Diagnosticou-se deficiência nutricional de N ou K nas situações
em que os índices DRIS para esses nutrientes eram menores que zero, como
apresentado em Jones (1981).
Empregou-se o procedimento proposto por Beverly & Hallmark (1992) para
avaliar o desempenho dos diagnósticos nutricionais para N e K realizados com
base em DRIS e NC, cujos critérios são apresentados na Tabela_3. Os
diagnósticos foram confrontados com as respostas das plantas à aplicação de N e
K observadas no experimento fatorial. Selecionaram-se 48 casos (quatro doses de
N ou K, três incrementos de N ou K, duas safras e dois regimes hídricos), nos
quais a dose do nutriente em questão crescia, mantendo-se as demais condições
constantes. As situações nas quais se diagnosticou deficiência, foram
classificadas como positivas (+), aquelas cujo diagnóstico indicou suficiência,
como negativas (-). Em função da resposta na produção de frutos à aplicação de
N ou K, classificaram-se os diagnósticos como verdadeiros (V) ou falsos (F),
resultando nas quatro possibilidades V+, V-, F+ e F-. A eficiência dos
diagnósticos foi estimada pela soma dos percentuais de diagnósticos verdadeiros
(%V+ e %V-). Calculou-se outro indicador de qualidade definido pela proporção
entre diagnósticos verdadeiros e falsos para as situações nas quais se
diagnosticou deficiência nutricional (%V+¸%F+). Por fim, foi estimada
a variação no rendimento possivelmente associada ao método de diagnóstico (S d
(Y)); para tanto, incrementos de rendimento com diagnósticos V+ e decréscimos
com V- foram somados (respostas previstas pelo diagnóstico), decréscimos no
rendimento com F+ e incrementos com F- (respostas não previstas pelo
diagnóstico) foram subtraídos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela_4, são apresentados diagnósticos nutricionais para nitrogênio e
potássio elaborados com as médias dos teores foliares obtidos em cada uma das
quatro doses de N e K. A aplicação de fertilizantes nitrogenados e potássicos
determinou incrementos nos teores foliares de N e K, assim como nos índices
DRIS para esses nutrientes, mostrando que esses dois indicadores foram
sensíveis à maior disponibilidade. Para nitrogênio, foram diagnosticadas
deficiências, segundo o critério de NC no primeiro ciclo de cultivo, que não
corresponderam à resposta das plantas à aplicação de N, que foi negativa ou
nula (Tabela_5). Com o DRIS, nesse ciclo, os valores do índice para N sempre
foram positivos, indicando suficiência ou excesso, o que está de acordo com as
respostas apresentadas na Tabela_5.
Na segunda safra, pelo critério do NCs diagnosticou-se deficiência de N
independentemente da adubação nitrogenada. Tanto o critério dos NC como o DRIS
indicaram deficiência de potássio independentemente da adubação e irrigação nos
dois ciclos de cultivo (Tabela_4). Entretanto, pelo DRIS, detecta-se que o K
foi o nutriente mais limitante no primeiro ciclo, especialmente sem irrigação,
o que está coerente com a resposta positiva (Tabela_5) à adubação potássica
nessa situação.
O desempenho dos diagnósticos nutricionais para N e K, empregando-se o DRIS, e
o critério dos NCs em bananeira, avaliado segundo critérios de Beverly &
Hallmark (1992), é apresentado na Tabela_6.
Para N, o desempenho do DRIS foi superior ao critério de NC. A eficiência do
DRIS (69%) foi maior que a do NC (48%) devido ao elevado percentual de
diagnósticos de deficiência que não se confirmaram com aplicação de
fertilizante nitrogenado (F+). A baixa eficiência do critério do NC para
diagnosticar necessidade de aplicação de N implicou que, em quase metade dos
casos (46%), fossem indicadas aplicações que, além de desnecessárias, causaram
queda no rendimento. Entre as situações nas quais se diagnosticou deficiência
de N por meio do DRIS, houve mais diagnósticos verdadeiros do que falsos, na
proporção de 1,5:1. Com NC, entre os diagnósticos de deficiência, constatou-se
que a maior parte era falsa. Por fim, as variações no rendimento decorrentes da
aplicação de N associadas aos diagnósticos foram superiores com o DRIS. O
somatório das variações de rendimento, nos 48 casos estudados, também indicou
que o desempenho do DRIS foi superior ao critério de NC. Melhor desempenho do
DRIS, em relação ao NC, para diagnósticos com N em tomateiro foi relatado por
Caron et al. (1991), que o relacionaram com a maior sensibilidade do DRIS para
detectar situações de desequilíbrio por excesso de N.
Nos diagnósticos para K, tanto o critério dos NC, como o DRIS, apresentaram
desempenho equivalente. A eficiência dos diagnósticos foi superior a 50%, e a
proporção entre os diagnósticos verdadeiros e falsos para situações de
deficiência foi maior do que um (Tabela_6). Os dois métodos de diagnósticos
indicaram deficiência de K em todos os casos estudados.
Na prática, a decisão de aplicar fertilizante é tomada levando em consideração
outros aspectos, como histórico da área, análise de solo, potencial da cultura,
etc., além do diagnóstico baseado na análise de tecido foliar. Entretanto,
valores de eficiência menores que 50% são inaceitáveis para qualquer método de
diagnóstico. Segundo Beverly & Hallmark (1992), caso a eficiência seja
inferior a 50% (mais da metade dos diagnósticos não confirmados por respostas à
aplicação de fertilizantes), prever a necessidade de fertilizante, jogando cara
ou coroa com uma moeda não viciada, teria maior probabilidade de acerto.
Angeles et al. (1993) observaram que o DRIS foi superior ao critério dos NCs no
acerto de diagnósticos nutricionais para N, P e K em bananeira. Com laranjeira,
Beverly et al. (1984) concluíram que os diagnósticos por meio de NC e do DRIS
foram equivalentes. Entretanto, observaram que o DRIS foi sensível ao tipo e
idade do tecido amostrado, o que contraria a maioria da literatura. O DRIS
possibilitou fazer diagnósticos para N, P e K com maior percentual de acertos
do que o critério dos NCs em abacaxizeiro (Angeles et al., 1990).
A interpretação para bananeira dos teores de nutrientes com base em NC
preestabelecidos requer alguns cuidados. Além da amostragem padronizada para a
cultura (época e tipo de tecido), devem-se considerar possíveis variações
devidas ao ambiente e variedades (Martin-Prével, 1977; Lahav & Turner,
1985; Turner & Lahav, 1985). Por outro lado, o emprego do DRIS, por ser um
critério menos sensível a variações na amostragem (época, idade da planta,
etc.), poderia ser mais flexível. Esse aspecto, de certa forma, foi confirmado
neste trabalho, pois foi possível obter diagnósticos com base no DRIS para N e
K com qualidade equivalente ou superior àqueles baseados em NC, mesmo
utilizando-se de normas DRIS preliminares e obtidas em condições bem diversas
do experimento que originou esta validação.
CONCLUSÕES
1. A eficiência dos diagnósticos com DRIS para nitrogênio foi superior à
daqueles baseados no critério de nível crítico, assim como a proporção de
diagnósticos de deficiência que se confirmaram com respostas positivas à
aplicação de N.
2. Para potássio, tanto o DRIS como o critério de nível crítico apresentaram
desempenhos semelhantes.
3. A variação líquida no rendimento decorrente da aplicação de N associada a
diagnósticos corretos foi superior para o DRIS em relação ao critério de nível
crítico. Para potássio, essa variação foi a mesma para os dois critérios de
diagnóstico.