Caracterização fenológica e produtiva da variedade de uva Superior Seedless
cultivada no Vale do São Francisco
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
A região do Vale do São Francisco consagrou-se como pólo produtor e exportador
de uvas de mesa de alta qualidade, a partir do cultivo da uva
"Itália", com elevado padrão tecnológico. Nos últimos anos, os
viticultores tem-se preocupado em diversificar a produção vitícola com a
introdução de novas variedades não somente para evitar a saturação do mercado
com a oferta exclusiva de uva Itália, mas também para adaptarem às novas
exigências do mercado interno e principalmente externo pela preferência ao
consumo de uvas sem sementes.
Algumas variedades de videira sem sementes foram avaliadas na região,
destacando-se a Perlette (Camargo et al., 1997), a Vênus e a Marroo Seedless
(Leão, 1999). Entretanto, apesar de todas apresentarem boas características de
qualidade (diâmetro de bagas e teor de açúcar) eprodutividade satisfatória, as
preferências do mercado externo por outras variedades limitaram o seu cultivo.
Há aproximadamente quatro anos, algumas empresas do Vale do São Francisco
iniciaram o cultivo comercial de uvas sem sementes, com o plantio de uma
variedade americana, patenteada pela empresa Sun World, denominada 'Superior
Seedless' ou 'Sugraone', e também conhecida na região como Festival.
Esta, caracteriza-se pela sua precocidade, com ciclo médio entre 90 e 100 dias,
dependendo da época de poda; e excelentes características comerciais, como
tamanho de cacho e de baga, baixa acidez e sólidos solúveis totais superior a
15º Brix; no entanto, a produtividade é baixa e irregular. O presente estudo
teve como objetivo avaliar o comportamento fenológico e produtivo da variedade
de videira Superior Seedless, cultivada na região do Vale do São Francisco.
As avaliações foram realizadas em uma empresa produtora de uvas do Vale do São
Francisco, no segundo semestre de 1999 (ciclo 1999.2) e no primeiro semestre de
2000 (ciclo 2000.1). Foram selecionadas 20 plantas de videira da variedade
Superior Seedless no segundo ano de produção, enxertadas sob o porta-enxerto
IAC 572. A poda realizada foi do tipo mista, deixando varas longas (média 15
gemas/vara) e esporões (3-4 gemas). Após a poda e torção dos ramos, aplicou-se
via pulverização o produto comercial Dormex a 3%. Para proporcionar o aumento
dos cachos e das bagas, duas pulverizações com ácido giberélico foram
realizadas, sendo a primeira antes da abertura das flores e a segunda quando a
baga estava na fase "chumbinho" (aproximadamente 45 dias após a
poda), nas concentrações de 5 e 10 ppm, respectivamente. As observações
fenológicas foram realizadas durante todo o ciclo, a partir da poda até a
colheita, utilizando-se a classificação proposta por Eichorn e Lorenz (1977).
Os seguintes estádios fenológicos foram observados: E1 ' período da poda a
início de brotação; E2 - início de brotação à plena floração; E3 ' período da
plena floração ao início do amadurecimento de bagas; e E4 - início do
amadurecimento das bagas à plena maturação. Por ocasião da colheita, foram
avaliados, em cada uma das 20 plantas, o número e o peso médio de cachos e a
produtividade. Em seguida, dois cachos por planta foram selecionados e levados
para o laboratório de Pós-colheita da Embrapa Semi' Árido, para a realização
das seguintes avaliações:comprimento e diâmetro de bagas (mm), sólidos solúveis
totais (ºBrix), acidez total titulável (g de ácido tartárico/100 mL de suco) e
relação sólidos solúveis/acidez total titulável.
De acordo com a Tabela_1, observa-se que a variedade Superior Seedless
apresentou uma variação no número de dias, para cada fase fenológica entre os
dois ciclos, com ciclo médio da poda à colheita de 94 dias. A mesma pode ser
considerada precoce, quando comparada a outras variedades como 'Itália' e
'Redglobe', mais plantadas no Vale do São Francisco, que apresentam, em média,
ciclo da poda à colheita de 120 dias. Entretanto, quando avaliada no Estado de
São Paulo, a variedade Superior Seedless apresentou ciclo de 130 dias (Leão et
al., 2000).
A época de poda influenciou na duração do ciclo fenológico, sendo que a poda
realizada no primeiro semestre (16/02/2000) ocasionou uma antecipação de 14
dias na colheita. Geralmente, o ciclo das videiras no Vale do São Francisco é
reduzido no primeiro semestre do ano. Isto, muito provavelmente, é devido às
condições climáticas, principalmente temperatura. Neste período, as
temperaturas máxima (diurna) e mínima (noturna) são maiores em relação ao
segundo semestre, o que proporciona uma antecipação da maturação dos frutos.
Os dados referentes à caracterização produtiva são apresentados na Tabela_2. A
variedade Superior Seedless apresentou produtividade média de 5,3 t.ha-1, bem
inferior àquelas obtidas na região com variedades de uva com sementes. Outro
fato interessante observado é a superioridade no rendimento das plantas obtida
no segundo semestre de 1999. Esta irregularidade tem caracterizado o
comportamento desta variedade na região do Vale do São Francisco. As condições
climáticas, principalmente temperatura e luminosidade no momento da
diferenciação floral, podem ser os principais responsáveis por este
comportamento; no entanto, não se pode deixar de lado o grande efeito que o
manejo cultural exerce.
O peso médio de cachos foi de 280 g, inferiores aos 468 g encontrados por
Sansavini & Fanigliulo (1998), quando trabalharam com esta variedade na
Itália. O comprimento e diâmetro médio de bagas foram, respectivamente, 22,33 e
19,10 mm. A 'Superior Seedless' apresenta, como grande vantagem diferencial, o
excelente diâmetro de bagas, bem superiores a outras variedades de uvas sem
sementes avaliadas na região, por Leão (1999), (Thompson Seedless 16,01 mm;
Marroo Seedless 18,26 mm e Vênus 17,83) e Camargo et al. (1997) (Perlette 17,64
mm; Centennial Seedless 18,17 mm e Catalunha 16,85 mm). No Vale do São
Francisco, o diâmetro de bagas e o peso médio de cachos mínimos para uva sem
sementes, considerado para exportação, são 19 mm e 250 g, respectivamente
(Brazilian Grapes, 1999).
O teor de sólidos solúveis totais pode ser considerado muito bom, nos dois
ciclos, com média superior a 17º Brix (Tabela_2), ficando acima do recomendado
pelas normas internacionais de comercialização, que é de 17º Brix para uvas de
mesa (Barros et al., 1995); sendo adotada no Vale do São Francisco, para as
variedades sem sementes, valores mínimos de 15º Brix.
A 'Superior Seedless' destacou-se com baixa acidez total titulável (Tabela_2),
o que diferencia esta variedade de outras produzidas na região, sendo bastante
inferior ao encontrado na variedade Itália por Lima (1998), e daquelas sem
sementes por Camargo et al. (1997) e Leão (1999). Esta baixa acidez contribuiu
para uma relação sólidos solúveis/acidez titulável alta, bem superior ao
considerado ideal pela literatura, que é 20 (Bleinroth, 1993).
Pelas características apresentadas, a variedade Superior Seedless, constitui-se
em uma boa alternativa para a viabilização da produção de uva sem sementes no
Vale do São Francisco, devido às boas características de cachos e bagas, sabor
agradável, o que lhe confere excelente aceitação no mercado internacional. No
entanto, a baixa e irregular produtividade demonstram dificuldades na adaptação
desta variedade às condições climáticas tropicais semi-áridas, necessitando,
desta forma, de maiores pesquisas nas técnicas de manejo cultural.