Avaliação do estado nutricional e do desenvolvimento da bananeira-prata-anã
(Musa spp.) em função da adubação nitrogenada
Avaliação do estado nutricional e do desenvolvimento da bananeira-prata-anã
(Musa spp.) em função da adubação nitrogenada1
Evaluation of the nutricional status and development of banana cultivar "prata
anã" (Musa spp.) in relation to nitrogen fertilization
Patrícia Soares Furno FontesI; Almy Junior Cordeiro de CarvalhoII; Bruno Sales
CerejaIII; Cláudia Sales MarinhoII; Pedro Henrique MonneratII
IEng. Agr., M.Sc., Doutoranda em Produção Vegetal, UENF/CCTA/LFIT, Campos-RJ,
CEP 28013-600
IIEng. Agr., D.Sc., Professores, UENF/CCTA/LFIT, Campos-RJ, CEP 28013-600 E-
mail: almy@uenf.br
IIIEng. Agr., Mestrando em Produção Vegetal, UENF/CCTA/LFIT, Campos-RJ, CEP
28013-600
INTRODUÇÃO
A bananeira é uma planta exigente em nutrientes, não só por produzir grande
massa vegetativa, mas também por apresentar elevadas quantidades de elementos
absorvidos pela planta e exportados pelos frutos (Silva et al., 1999).
Na diagnose foliar de bananeiras, devem ser levados em consideração os diversos
fatores que interferem nos teores dos nutrientes nas folhas, num dado momento,
e, segundo Martin-Prével (1977), são fatores de origem interna, tais como:
cultivar, estádio fenológico das plantas, posição e porção das folhas, além de
fatores externos, como clima, solo, parasitismos e tratos culturais.
Os níveis adequados de nutrientes encontrados pela análise foliar ainda não
foram estabelecidos para a bananeira. Porém, alguns autores admitem faixas
adequadas para macros e micronutrientes, nas condições em que foram
determinadas, observando-se grande variação nas informações apresentadas
(Tabela_1).
O N tem grande importância do início do desenvolvimento até a emissão da
inflorescência, havendo uma redução da sua absorção até a colheita (Martin-
Prével, 1977). Segundo Lahav e Turner (1983), em ordem decrescente, a bananeira
absorve os seguintes nutrientes: K>N>Ca>Mg>S>P>Cl>Mn>Fe>Zn>B>Cu.
O nitrogênio é muito importante para a bananicultura, atuando sobre o
crescimento vegetativo, emissão dos rebentos, além de aumentar a quantidade de
matéria seca (Borges et al., 1999). Brasil et al. (2000), estudando adubação
nitrogenada e potássica em bananeira, observaram que até os 240 dias de
plantio, apenas o N influenciou a circunferência do pseudocaule e altura da
planta. Silva et al. (2000), trabalhando com adubação nitrogenada na cultivar
Terra, observaram que, no primeiro ciclo da cultura, a adubação nitrogenada
influenciou a altura da planta, o número de frutos por cacho e diâmetro médio
dos frutos, sendo que a maior produtividade foi obtida com 231 kg ha-1 ano-1.
Os objetivos deste trabalho foram avaliar o estado nutricional e o efeito da
aplicação de N no desenvolvimento da bananeira Prata-Anã, na região Noroeste do
Estado do Rio de Janeiro.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em fevereiro de 2000, num Argissolo Amarelo em
Itaocara-RJ, Latitude de 21º39'12" Sul e Longitude de 42º04'36" Oeste, com
clima, classificado por Köppen como Awi, temperatura média anual próxima a
22,5ºC e precipitação anual de 1041 mm). O solo apresentava, na camada de 0 a
20 cm, as seguintes características: pH em H2O (1:2,5) = 5,8; P = 8 mg kg-1; Ca
= 2,9 cmolc kg-1; Mg = 1 cmolc kg-1; K = 104 mg kg-1; Al = 0; H + Al = 2,7
cmolc kg-1; Fe = 180 mg kg-1; Cu = 1,6 mg kg-1; Zn = 9,4 mg kg-1; Mn = 28,8 mg
kg-1; S = 10,3 mg kg-1; B = 0,20 mg kg-1; Carbono = 9,1 g kg-1; Areia fina =
590 g kg-1; Areia média = 50 g kg-1; Areia grossa = 10 g kg-1; Silte = 160 g
kg-1; Argila = 190 g kg-1. As análises do solo seguiram metodologias da Embrapa
(1999). Para P, K, Zn, Cu, Fe e Mn utilizou-se o extrator Mehlich-1; para Ca,
Mg e Al utilizou-se o extrator KCl 1M. O B foi extraído com água quente e o S
extraído por íons fosfato (500 mg de P L-1).
O delineamento experimental foi em blocos casualizados (5 x 3), os tratamentos
foram constituídos de cinco doses de nitrogênio (0; 150; 300; 450 e 600 kg ha-
1 ano-1 de N) e 3 repetições. Cada parcela era constituída por 24 plantas
(famílias), sendo as quatro centrais consideradas úteis. O adubo nitrogenado
utilizado foi a uréia, aplicado bimestralmente em cobertura. Todas as plantas
receberam, em cobertura, doses de 45 g de K2O (Cloreto de potássio) a cada dois
meses, 50 g de P2O5 (superfosfato simples) a cada seis meses e 50 g do
formulado com micronutriente FTE-BR12, cuja composição, por kg, tinha 18 g de
B; 8,0 g de Cu; 30 g de Fe; 30 g de Mn; 1,0 g de Mo; e 90 g de Zn.
O plantio foi realizado em fevereiro de 2000, em espaçamento 3 x 3 m e irrigado
por microaspersão. Foram feitos os tratos culturais recomendados para a
cultura, tais como: desbaste de filhotes a cada mês, deixando três plantas '
mãe, filha e neta, eliminação das folhas velhas, manejo de plantas daninhas e
controle de pragas e doenças.
Coletou-se a terceira folha a contar do ápice, utilizando-se de 10 cm da parte
interna mediana do limbo foliar, eliminando-se a nervura central (Teixeira et
al., 1997). As folhas foram secas em estufa com circulação forçada de ar à
temperatura de 70 ºC, durante 48 horas. Após a secagem, o material foi
triturado em moinho (tipo Wiley) com peneira de 20 mesh e armazenado em frascos
hermeticamente fechados (Malavolta et al., 1989).
Foram analisados os seguintes elementos: nitrogênio orgânico (Norg); nitrogênio
nítrico (NO3-); fósforo (P); potássio (K); cálcio (Ca); magnésio (Mg); enxofre
(S); cloro (Cl); ferro (Fe); zinco (Zn); cobre (Cu); manganês (Mn), e boro (B).
O Norg, o P e o K foram determinados pelos métodos de Nessler, do azul de
molibdato e por espectrofotometria de emissão de chama, respectivamente, após
submeter o material vegetal à oxidação pela digestão sulfúrica (H2SO4 e H2O2).
Os elementos Ca, Mg, Fe, Zn, Cu e Mn foram determinados por espectrofotometria
de absorção atômica, a partir de extratos obtidos após oxidação do material
vegetal pela digestão nitroperclórica (HNO3 e HCLO4). O B foi determinado
colorimetricamente pela azometina-H, após incineração em mufla. O NO3- e o Cl
foram determinados pelo método colorimétrico do ácido salicílico e por
titulação com AgNO3, respectivamente, após submeter o tecido vegetal a banho-
maria por 1 hora.
Avaliou-se a altura da roseta, tomando-se a distância do nível do solo até o
ângulo formado pelas duas folhas mais velhas; circunferência do pseudocaule a
0,30 m do solo; número de folhas totais; número de folhas emitidas e número de
folhas funcionais, com mais de 50% de sua superfície verde; número de dias
entre o plantio e a emissão da inflorescência (1a geração) da planta-mãe;
número de filhotes emitidos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De modo geral, as médias dos valores observados para os nutrientes estão dentro
das faixas encontradas por alguns autores (Tabela_1). Destaca-se apenas que os
teores observados para Zn e Cl, que foram respectivamente 15,7 mg kg-1 e 6,8 g
kg-1, na planta-mãe (Figura_1) e 14,3 mg kg-1 e 5,3 g kg-1, na planta-filha
(Figura_2), ficaram com as médias abaixo das faixas apresentadas por alguns
autores (Tabela_1).
Não houve diferenças significativas nos teores de Norg e nitrato na matéria
seca das folhas amostradas, em nenhuma época, em função do incremento na dose
do adubo nitrogenado. Isto pode sugerir perdas por lixiviação e/ou
volatilização do N, ou devido ao comprimento do sistema radicular, que pode
atingir em torno de 10 m e, assim, a dose de N aplicada num tratamento poderia
ter sido absorvida por outro tratamento, igualando os resultados. É possível,
ainda, que a folha coletada para amostragem não tenha apresentado variação
deste nutriente.
Os teores de N orgânico variaram entre as diferentes épocas analisadas, de 25,8
a 29,8 g kg-1 na planta-mãe (Figura_1C), e 29,2 g kg-1 a 31,6 g kg-1 na planta-
filha (Figura_2C). Para o nitrato, houve uma variação de 0,44 g kg-1 a 0,66 g
kg-1 na planta-mãe (Figura_1C), e de 0,43 g kg-1 a 0,64 g kg-1 (Figura_2C) na
planta-filha.
O incremento da adubação nitrogenada não influenciou os teores dos nutrientes
analisados, exceções feitas para o Mn, que aumentou nas plantas da 1a e 2a
gerações (Figura_3) e Cl, que diminuiu nas plantas da 1a geração (Y = 7,4 -
0,0021N R2 = 0,87**).
Observou-se um aumento no teor de Mn nas plantas da 1a e 2a gerações de 173% e
89%, respectivamente, na matéria seca foliar da bananeira, quando se comparou o
teor obtido entre a dose mínima e máxima de N (Figura_3). Este aumento pode ser
resultado da maior solubilidade do Mn em função da possível redução do pH do
solo, provocado pelo incremento das doses de N. Verificaram-se, também,
aumentos nas concentrações foliares de Mn nas plantas da 1a geração em relação
às épocas amostradas (Figura_1D).
Quanto ao K, verificou-se que, na época da inflorescência e formação do cacho
nas plantas da 1a geração (Janeiro e Fevereiro), se encontraram menores teores
de K na matéria seca foliar (Figura_1A). Isto foi ocasionado, provavelmente,
pela translocação deste nutriente das folhas para o cacho, que, neste momento,
era o dreno mais forte da planta. Segundo Lahav e Turner (1983), o K é o
nutriente mais encontrado nos frutos da bananeira. Com isto, sua exigência é
maior na época de formação do cacho.
Os teores dos nutrientes na matéria seca foliar, na bananeira-Prata-Anã,
seguiram a seguinte ordem de concentração: (1a geração) K>N>Cl>Ca>Mg>S>P >
Mn>Fe>B>Zn>Cu; (2a geração) K>N>Cl>Ca>Mg>P>S > Mn>Fe>B>Zn>Cu (Figuras_1 e 2).
Os teores dos nutrientes analisados foram influenciados pela época de
amostragem, com exceção do Ca na planta-mãe, e Ca e Mg na filha, que não
apresentaram diferença significativa entre as épocas (Figura_1A e 2A).
A adubação nitrogenada não afetou o número de dias do plantio ao florescimento
e, também, a altura da roseta foliar da 1a geração ou ciclo de cultivo da
bananeira-Prata-Anã. Estas duas características apresentaram, respectivamente,
médias de 349 dias e 249 cm.
Observaram-se comportamentos semelhantes para plantas da 1a e 2a gerações, em
relação às médias da circunferência do pseudocaule a 0,30 m do solo, em função
das doses de N, tendo sido encontrados pseudocaules de maior circunferência com
a dose de 244 kg ha-1 ano-1 de N (Y = 64,6 + 0,0536N ' 0,00011N2 R2 = 0,85**).
Comparando-se plantas da 1a e 2a gerações, verificou-se a maior relação altura/
circunferência do pseudocaule nas plantas da 2a geração, evidenciando um
provável "estiolamento" nestas plantas em relação às da 1a geração (Quadro 1).
No primeiro e segundo ciclos, o comportamento foi semelhante para o número de
folhas totais (Quadro 1), sendo esta característica influenciada pelo N.
Encontrou-se maior nº de folhas totais com a dose de 251 kg ha-1 ano-1 de N.
Observou-se maior número de folhas funcionais nas plantas da 1a geração,
possivelmente devido à retirada de folhas pendentes ou doentes que ocorreram em
maior quantidade nas plantas da 2a geração (Quadro 1); observou-se um efeito
quadrático em relação ao incremento de N, com um maior número de folhas
funcionais na dose de 255 kg ha-1 ano-1 para as plantas da 1a e 2a gerações.
Observou-se maior nº de folhas emitidas nas plantas da 2a geração (Quadro 1),
provavelmente, devido à maior influência do N na planta-filha, que as recebeu
desde o início de seu surgimento, o que não ocorreu com a planta-mãe. Porém,
não houve diferença para o Nº de folhas totais entre as plantas da 1a e 2a
gerações, possivelmente, por a planta-mãe ter apresentado maior manutenção das
folhas fotossinteticamente ativas por período de tempo maior, ocasionando,
assim, maior número de folhas funcionais (Quadro 1).
Observou-se redução na emissão de filhotes da bananeira-Prata-Anã com o aumento
na dose de N (Y = 6,4 - 0,0024N R2 = 0,89*).
CONCLUSÕES
1) Os nutrientes analisados não foram influenciados pelo incremento das doses
de N, exceções feitas ao Mn, que aumentou, e ao Cl, que reduziu.
2) Houve diferença nos teores foliares dos nutrientes entre as épocas
analisadas, exceção feita ao Ca.
3) Os teores dos nutrientes na matéria seca foliar da banana-Prata-Anã,
obedeceram à seguinte ordem de concentração: K>N>Cl>Ca>Mg>S>P > Mn>Fe>B>Zn>Cu.
4) A adubação nitrogenada não provocou variação no teor de N na folha
analisada.
5) No primeiro ciclo de cultivo, a adubação nitrogenada não afetou a altura da
roseta foliar e o intervalo entre o plantio e o florescimento.
6) Houve diminuição na emissão de filhotes com o incremento das doses de N.