Efeito da adição de óleos mineral e vegetal a acaricidas no controle do ácaro-
da-leprose dos citros Brevipalpus phoenicis (Geijskes) (Acari: Tenuipalpide)
INTRODUÇÃO
O Brasil é o maior produtor de citros do mundo seguido dos Estados Unidos e da
China.
A cultura citrícola é, entre as frutíferas, a que demanda maior quantidade de
defensivos agrícolas, constituindo-se um dos principais componentes do custo de
produção da cultura, segundo a AGRIANUAL, 2000, que visam a controlar acarinos,
principalmente o ácaro-da-leprose dos citros, Brevipalpus phoenicis (Geijskes
1939), considerado seu transmissor. Trata-se de um ácaro polífago, podendo ser
também encontrado em outras culturas e em plantas ornamentais (Oliveira, 1986;
Trindade, 1990).
A leprose dos citros constitui-se em uma das principais doenças, devido à
grande perda que pode acarretar. É uma doença cujas evidências levam a crer ser
a mesma causada por uma entidade viral, dada a possibilidade de sua transmissão
por enxertia e por meios mecânicos, e a consistente presença de bastonetes
similares a outros vírus descritos (Kitajima et al., 1972; Chagas e Rossetti,
1980; Colariccio et al., 1995; Kitajima et al., 1995; Rosetti, 1995).
Os sintomas da leprose podem manifestar-se em folhas, ramos e frutos. Nas
folhas, surgem manchas, inicialmente amareladas com pontuações escuras e,
posteriormente, necrosadas. Nos ramos afetados, há presença de manchas marrons
que, depois secam e destacam-se, provocando sua morte. Em frutos, o sintoma se
manifesta através de manchas marrons deprimidas (Bitancourt, 1940).
As plantas doentes têm capacidade fotossintética baixa, os ramos secam e há
queda prematura das folhas. Quando há incidência severa da doença, o pomar pode
tornar-se economicamente inviável (Oliveira et al., 1991). Para que isso não
aconteça, o produtor deve manejar o seu pomar adequadamente, usando todas as
estratégias para garantir a produtividade.
Entre as várias medidas de controle do transmissor, destaca-se o tratamento
químico mediante o emprego de acaricidas.
A mistura de defensivos não tem sido uma recomendação generalizada, porém,
muitos agricultores a utilizam, objetivando melhorar a eficiência no controle.
A adição de óleo tem sido relativamente freqüente, todavia, pouco se conhece
sobre seus efeitos na eficácia de acaricidas.
Nesse sentido, foi desenvolvido o presente estudo que teve por objetivo avaliar
os efeitos da adição de óleos mineral e vegetal aos acaricidas, visando o
controle do ácaro da leprose dos citros.
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi conduzido em pomar da Fazenda Novo Mundo, de propriedade do Sr.
Antônio Luppi, no município de Viradouro, SP, em um talhão de laranjeiras da
variedade Natal, com 6 anos de idade, plantadas no espaçamento 6 x 7 metros. As
plantas encontravam-se medianamente enfolhadas, em razão da prolongada
estiagem. Durante a condução do experimento ficaram suspensos quaisquer outros
tratamentos fitossanitários com a finalidade de não prejudicar o programa
experimental. Adotou-se o delineamento experimental de blocos casualizados onde
21 tratamentos foram repetidos 4 vezes. Os blocos foram constituídos de plantas
que possuíam aproximadamente o mesmo número de ácaros, não se levando em
consideração a localização das plantas no pomar. Cada unidade experimental
constou de 3 plantas, sendo considerada como planta útil a central, e as
demais, como bordadura.
Para cada 100 L de água foram estabelecidos os seguintes tratamentos: 500 mL de
óleo mineral (Assist ou Triona) ou vegetal (Natur'l Óleo) adicionados às caldas
dos acaricidas pyridaben nas formulações CE e PM (Sanmite), respectivamente 75
mL e 20 g; 100 mL de propargite (Omite 720 CE BR); 80 mL de óxido de
fenbutatina (Torque 500 SC), 50 g de cyhexatin (Hokko Cyhexatin 500 PM).
A aplicação dos produtos foi efetuada em 19/10/94, com auxílio de um
pulverizador tipo pistola, dotado de bico D6, tracionado por trator regulado a
uma pressão aproximada de 300 lbf/pol2 e gastando-se 15 litros por planta, até
o ponto de escorrimento da calda. Após a preparação da calda e agitação para
homogeneização, ou seja, momentos antes da aplicação, foi determinado o pH,
através de um pH-metro portátil.
Foram realizados vários levantamentos populacionais do ácaro da leprose no
decorrer da condução do ensaio, tendo sido efetuado um antes, em 18/10/94 e os
demais a 9, 23 e 37 dias após a aplicação. Coletaram-se, ao acaso, 10 frutos
com sintomas de verrugose, colhidos ao redor da copa das árvores (Martinelli et
al., 1976). As amostras de frutos foram acondicionadas em sacos de papel
identificados e transportados para o laboratório de Acarologia da FCAV-UNESP,
Câmpus de Jaboticabal. A retirada dos ácaros dos frutos foi feita com o auxílio
de uma máquina de varredura. Os acarinos coletados na placa de vidro do
equipamento foram contados com o auxílio de um microscópio estereoscópico
(Oliveira, 1983).
Os dados meteorológicos registrados (precipitação e temperatura) 2 meses antes
e durante a condução do experimento, foram fornecidos pela Estação
Meteorológica da Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro, por
encontrar-se próxima ao local do experimento.
Os dados observados nos levantamentos foram transformados em log (x + 1,50) e
analisados pelo teste F e Tukey no esquema fatorial de 2 fatores com testemunha
(sem óleo) (5 x 4), sendo 5 produtos e 4 óleos. Determinou-se o grau de
insaturação das misturas aparentes (acaricidas + óleos) através do teste de
índice de iodo pelo método de Hübl (Instituto Adolfo Lutz, 1985).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores de pH das caldas de pulverização, determinados momentos antes da
aplicação, indicam que os acaricidas adicionados à água causaram uma diminuição
do pH da ordem de 0,46, em média, em relação ao da água, o mesmo acontecendo
com os acaricidas mais o Assist (0,57) e Natur'l Óleo (0,47). Todavia, as
misturas de acaricidas com Triona acarretam, em média, um acréscimo no pH da
ordem de 0,51. A adição de óleos Assist e Natur'l Óleo pouco influiu no pH, uma
vez que as reduções registradas foram muito próximas às reduções causadas pelos
acaricidas; em contrapartida, o Triona causou um aumento em relação ao pH das
caldas (água + acaricidas) de aproximadamente 1. A despeito desse acréscimo, a
eficiência biológica dos acaricidas no controle do ácaro da leprose parece não
ter sido afetada devido a essas alterações (Tabela_1).
Pela análise dos dados relativos ao levantamento prévio, constata-se que a área
experimental encontrava-se uniformemente infestada, com nível populacional
considerado elevado, ideal para estudos dessa natureza.
Verificou-se que, após 9 dias (Tabela_2), os acaricidas aplicados isoladamente
apresentaram alta eficiência no controle do ácaro da leprose, não diferindo
estatisticamente entre si; todavia, o mesmo não se observou com relação às
misturas de acaricidas com óleos, onde o Natur'l Óleo teve uma influência
negativa, o que não ocorreu em relação ao Triona.
Decorridos 23 e 37 dias da aplicação (Tabelas_2 e 3), os produtos pyridaben 750
PM, propargite 720 CE, óxido de fenbutatina 500 SC e cyhexatin 500 PM
mostraram-se ligeiramente superiores ao pyridaben 200 CE. A alta eficiência
desses produtos, exceto o pyridaben 200 CE, foi comprovada por Oliveira et al.,
1991. Quanto à adição de óleos, verificou-se que o Natur'l Óleo prejudicou a
eficiência do pyridaben 750 PM e cyhexatin, não se registrando nenhum efeito
negativo sobre propargite e óxido de fenbutatina.
Para pyridaben 200 CE não houve diferença significativa ao tratamento sem óleo;
já os óleos Assist e Triona (minerais) diferem do tratamento sem óleo e
portanto podem ter seu efeito positivo considerado.
Cottas (1991) constatou que o óxido de fenbutatina 500 SC em mistura com óleo
mineral Triona e óleo vegetal Natur'l Óleo, não teve sua eficiência melhorada
em função da adição dos óleos.
Com relação ao Assist e Triona (Tabela_3), observou-se que esses óleos minerais
não afetaram a eficácia de quaisquer dos produtos testados. Ressalta-se que o
experimento foi conduzido após um período de prolongada estiagem com plantas
apresentando um acentuado estresse hídrico, voltando a chover dias após a
aplicação, o que provavelmente tenha causado direta ou indiretamente a
diminuição da população na testemunha.
Pelos índices de iodo calculados (Tabela_4), pode-se constatar que as ligações
insaturadas do óleo incorporam as moléculas de todos os acaricidas e não apenas
daquelas que, no campo, foram menos eficientes em misturas com óleo; portanto,
pelo teste efetuado não se pode inferir que o grau de insaturação tenha sido o
responsável pela diminuição da eficiência dos acaricidas em misturas com óleos.
A diferença de comportamento entre o óleo vegetal e o mineral, provavelmente,
seja em decorrência de suas composições, uma vez que o mineral é proveniente da
destilação do petróleo, fração mais homogênea, e o vegetal é composto por um
conjunto de diferentes gorduras, quimicamente distintas, normalmente
insaturadas, heterogêneo e mais facilmente oxidável, o que pode afetar a
eficácia do acaricida.
Outro aspecto que necessita ser melhor pesquisado é quanto ao efeito das chuvas
sobre as misturas dos acaricidas pyridaben e cyhexatin com Natur'l Óleo.