Flutuação populacional e controle da mariposa oriental (Grapholita molesta
Busck, 1916) em produção convencional e integrada de pessegueiro
Flutuação populacional e controle da mariposa oriental (Grapholita molesta
Busck, 1916) em produção convencional e integrada de pessegueiro1
Populational fluctuation and control of oriental moth (Grapholita molestaBusck,
1916) in conventional and integrated production of peach-tree
José Luis da Silva NunesI; Roseli de Mello FariasII; Denis Salvati GuerraIII;
Vinícius GrasselliIV; Gilmar Arduino Bettio MarodinV
IEng. Agr., M.Sc., Faculdade de Agronomia da UFRGS, Av. Bento Gonçalves 7712,
Caixa Postal 776, CEP:91501-970, Porto Alegre, RS, e-mail: tobnunes@ig.com.br
IIEng. Agr., M.Sc. Prof. FZA/PUC, Câmpus II ' Uruguaiana, RS, cp 249, CEP
97500-970, e-mail: roselifarias@bol.com.br
IIIEng. Agr., Mestrando, Faculdade de Agronomia da UFRGS, Av. Bento Gonçalves
7712, Caixa Postal 776, CEP:91501-970, Porto Alegre, RS, e-mail:
denissalatiguerra@zipmail.com.br
IVEstudante de Graduação, Bolsista PIBIC, Faculdade de Agronomia da UFRGS, Av.
Bento Gonçalves 7712, Caixa Postal 776, CEP:91501-970, Porto Alegre, RS, e-
mail: vgrasselli@zipmail.com.br
VEng. Agr. Prof. Dr., Faculdade de Agronomia da UFRGS, Av. Bento Gonçalves
7712, Caixa Postal 776, CEP:91501-970, Porto Alegre, RS, e-mail:
marodin@vortex.ufrgs.br
INTRODUÇÃO
A mariposa oriental ou grafolita (Grapholita molesta) é uma das principais
pragas da cultura do pessegueiro, ocasionando perdas na produção de 3% a 5%,
principalmente nas cultivares tardias. Além dos danos em ponteiros e frutos, a
abertura provocada pela alimentação das lagartas nos frutos torna-se porta de
entrada para a podridão parda. Esta doença, causada pelo fungo Monilinia
fructicola,resulta em perdas adicionais durante o armazenamento dos frutos
destinados ao consumo in natura (Botton et al., 2001).
Para o controle do inseto, normalmente são realizadas aplicações seqüenciais de
inseticidas, sem que seja levada em consideração a população da praga nos
pomares (Salles, 1998). O uso indiscriminado de agrotóxicos, visando o controle
desta praga por parte dos agricultores, tem preocupado alguns segmentos da
sociedade, não só sobre o aspecto de poluição ambiental mas, também, na
qualidade da fruta (Grellmann et al., 1992).
A Produção Integrada de Frutas de Caroço (PI) apresenta-se como alternativa
para a produção de frutas de qualidade, com a utilização de técnicas e práticas
de forma integrada, com ênfase na redução de agroquímicos, priorizando métodos
biológicos, culturais e físicos no controle de pragas e doenças, minimizando
assim, os riscos de contaminação ambiental e da saúde humana (Fachinello et
al., 2001).
Segundo Salles (1998), devem ser preconizadas práticas que favoreçam o controle
biológico natural, efetuando-se o controle das pragas somente quando o
monitoramento indicar a necessidade de intervenção. Além disso, na PI, foram
suprimidos produtos de elevada carência (como o fenthion), os altamente nocivos
aos inimigos naturais, como os piretróides, e os de alta toxicidade, como o
parathion methil, além das restrições de aplicação de outros, como o dimetoato,
que poderá ser aplicado somente uma vez por safra (Fachinello, 2000).
Conforme Mandail (1998), no cultivo do pessegueiro, o monitoramento da
grafolita atende aos objetivos estabelecidos pelas normas para Produção
Integrada de Pêssegos (PIP).
O objetivo deste trabalho foi monitorar a população da grafolita e comparar as
formas de controle preconizadas no Sistema de Produção Integrada e
Convencional, realizada pelo produtor, seus reflexos nos danos em frutos e na
planta num pomar adulto de pessegueiro cv. Marli.
MATERIAL E MÉTODOS
A comparação entre o manejo da mariposa oriental nos Sistemas de Produção
Integrada (PI) e Convencional (PC) do pessegueiro realizou-se em um pomar
comercial, localizado no município de São Jerônimo/RS, durante as safras 2000/
2001 e 2001/2002. Utilizou-se a cultivar de mesa 'Marli'. O pomar foi dividido
em duas áreas e, em cada área de 1 hectare, utilizou-se a Produção Integrada e
Convencional. Os dados meteorológicos dos anos de 2000 e 2001foram obtidos
junto à Estação Agrometeorológica da Estação Agronômica da UFRGS ' Eldorado do
Sul.
A população da mariposa oriental (Grapholita molesta) foi avaliada nas áreas
experimentais utilizando-se duas armadilhas Delta por área, contendo o
feromônio sexual sintético da fêmea de grafolita. As armadilhas foram colocadas
no dia 03 de março de 2000, ao acaso, a 1,8 metros do solo e a uma distância
mínima de 100 metros entre os pontos de monitoramento. O septo contendo o
atrativo sexual foi trocado a cada 40 dias e o piso com cola, sempre que
necessário. A flutuação populacional foi monitorada nas duas áreas, servindo
como indicativo para o nível de controle (NC) no sistema Integrado. Avaliou-se
o número de machos capturados semanalmente. O número de ponteiros brotados e os
que foram atacados pela praga foram avaliados pela contagem dos mesmos em uma
ramificação de cada uma das plantas marcadas de cada área, somente no ano de
2001. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado
(DI), com dez plantas marcadas em cada área experimental.
No sistema de Produção Integrada, o tratamento para o controle da praga
realizou-se quando a população atingiu o nível de controle, 30 insetos/
armadilha/semana, utilizando-se 150 ml do produto comercial à base de
fenitrotiom para cada 100 litros de água, em um tanque com 1000 litros, sendo
limitada a três aplicações por safra. No sistema de Produção Convencional, os
tratamentos para o controle da praga foram realizados em aplicações seqüenciais
estabelecidas pelas necessidades do produtor. Utilizou-se 200 ml de produto
comercial à base de parathion metil, em um tanque de 2000 litros. Na colheita,
os danos causados pela praga foram avaliados nos frutos colhidos nas áreas
experimentais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O monitoramento de adultos de Grapholita molesta no pomar, tanto da PI como da
PC, mostrou que o pico populacional (30 machos/ armadilha/ semana), no primeiro
ano de observação (2000), ocorreu no final do agosto (25/08/00) e,
posteriormente, próximo à colheita, dias 10/11/00 e 01/12/00 (Figura_1). No
segundo ano de observação (2001), devido às condições climáticas favoráveis (em
2000 a temperatura média do mês mais quente foi de 24,4ºC e a temperatura média
do mês mais frio foi de 9,8ºC, enquanto que em 2001 a temperatura média do mês
mais quente foi de 25,6ºC e a temperatura média do mês mais frio de 13,8ºC) e,
uma vez que a grafolita tem seu desenvolvimento regulado basicamente pela
temperatura, sucederam-se picos populacionais na PI, sendo os mais preocupantes
os que ocorreram em agosto (10/08/01), setembro (29/09/01) e novembro (09/11/
01). Na PI, os tratamentos foram aplicados nos picos, em um limite de 3
aplicações, utilizando-se o Fenitrotion como produto, segundo recomendado pelas
Normas de Produção Integrada de Frutas de Caroço (2001) em ambos os anos. Na
PC, os tratamentos foram feitos segundo critério do produtor com aplicações de
Parathion Methil, em um número de 7 no primeiro ano e 9 no segundo ano.
Em ambos os anos, o uso de monitoramento na PI mostrou-se eficiente para
diminuir a população a níveis baixos e com isto diminuir o número de aplicações
necessárias de inseticidas para controle do inseto. Na PC, o produtor fez
aplicações a cada 10 dias, a partir da segunda quinzena de outubro.
Os danos ocasionados pela praga em frutos colhidos na PI, no primeiro ano,
foram mais acentuados que na PC, já que a área é rodeada de pomares com
cultivares precoces e que, após a colheita das mesmas, possibilitava o vôo dos
insetos para a área da PI. Na primeira aplicação, ocorreram algumas falhas, uma
vez que o inseticida deveria ter sido aplicado em 10/11/00, mas só o foi
aplicado em 17/11/00, acentuando os danos. No segundo ano, os danos foram
iguais para ambos os sistemas, devido, principalmente, às condições climáticas,
que aumentou a população de grafolita nos dois sistemas. O controle da área da
PI foi tão eficiente quanto o da PC, com a vantagem da redução de aplicações de
produtos. O número de ponteiros brotados na PI foi superior a PC, devido a uma
antecipação da poda de inverno na PI de cerca de 15 dias. Com relação aos
ponteiros atacados, o monitoramento ocorreu somente no segundo ano, sendo que
na PI os danos foram mais intensos que na PC, provavelmente devido ao maior
intervalo entre aplicações, já que surgem a cada semana muitos ponteiros novos,
sujeitos ao ataque (Figura_2). O manejo na PI permitiu que o controle da
grafolita fosse feito em três aplicações, enquanto que na PC o número de
pulverizações aumentou de 7 para 9 de 2000 para 2001 (Figura_2).
CONCLUSÕES
1) O pomar de Produção Integrada apresentou maior intensidade de danos por
grafolita no primeiro ano. No segundo ano os danos foram iguais para ambos os
sistemas.
2) O controle da área da PI foi tão eficiente quanto o da PC, com a vantagem da
redução de aplicações de produtos.
3) O monitoramento mostrou-se eficaz na redução do número de aplicações de
agroquímicos, com considerável redução nos custos de produção do pêssego, porém
deve ser operado com presteza para evitar erros.