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BrBRCVAg0100-29452003000200052

BrBRCVAg0100-29452003000200052

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0100-2945
ano2003
Issue0002
Article number00052

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Nutrição mineral de populações e híbridos de coqueiro (Cocos nucifera L.) cultivados em Bebedouro (SP) COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Nutrição mineral de populações e híbridos de coqueiro (Cocos nucifera L.) cultivados em Bebedouro (SP)1

Mineral nutrition of populations and hybrids of coconut (Cocos nucifera L.) grown in Bebedouro (SP), Brazil

Luiz Antonio Junqueira TeixeiraI; José Antônio Alberto da SilvaII IPesquisador Científico do CAPTA-Frutas/Instituto Agronômico. Cx. Postal 28.

13001-970, Campinas-SP. teixeira@iac.sp.gov.br IIPesquisador Científico da Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro- SP

O cultivo de coco no Brasil apresenta duas realidades bastante distintas. De um lado, têm-se os plantios destinados à produção de coco seco, geralmente com baixa rentabilidade, o que, nos últimos anos, limitou a expansão dessa atividade e, de outro, áreas visando à produção de coco verde, que tiveram um grande incentivo devido ao mercado crescente para água de coco.

O estado nutricional dos coqueiros tem efeito sobre seu desenvolvimento vegetativo, além de determinar, em grande parte, o volume e a qualidade da produção. O acompanhamento do estado nutricional da cultura por meio de análises de tecido foliar foi apontado por Sobral & Santos (1987) como ferramenta auxiliar para a recomendação de adubação. Segundo Rognon (1984), o conteúdo de nutrientes no tecido foliar de coqueiros pode variar em função do tipo de planta (gigante ou híbridos).

Atualmente, o conhecimento sobre nutrição de coqueiros, bem como adubação recomendada para a cultura, baseia-se na experiência de plantios conduzidos no exterior ou na região Nordeste, que, em São Paulo, estudos desta natureza estão em fase inicial. Assim, o objetivo deste trabalho foi monitorar o estado nutricional de cinco populações e dois híbridos de coqueiro, assim como os efeitos do cultivo sobre a fertilidade do solo.

O experimento foi estabelecido na Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro (EECB)-SP (lat.: 20º53'S, long.: 48º28'W e altitude: 601 m), em 30/ nov/1999, num Latossolo Vermelho Distrófico A moderado textura média, com clima mesotérmico de inverno seco (Cwa ' classificação de Köeppen). Alguns atributos químicos do solo obtidos em amostragem prévia ao plantio são apresentados na Tabela_1.

Os genótipos estudados fazem parte de um experimento da Rede Nacional de Avaliação de Cultivares de Coqueiro, realizado em parceria da EECB com a EMBRAPA-CPATC. Os sete tratamentos constituíram-se por cinco populações (Anão Amarelo de Gramame ' AAG, Anão Amarelo da Malásia ' AAM, Anão Vermelho de Gramame - AVG, Anão Verde do Jiqui ' AVJ e Gigante Brasileiro da Praia do Forte ' GBrPF) e dois híbridos (Anão Amarelo de Gramame x Gigante do Oeste Africano ' AAGx GOA e Anão Vermelho de Gramame x Gigante Brasileiro da Praia do Forte ' AVG x GBrPF).

As parcelas experimentais continham seis plantas, com espaçamento de 8 x 7 m, dispostas em blocos ao acaso, com quatro repetições. As plantas foram irrigadas por microaspersão e adubadas de acordo com cronograma da Tabela_2.

O estado nutricional das plantas está sendo monitorado por análise química de tecido foliar, com amostragens efetuadas duas vezes ao ano (abril - fim da estação das chuvas, e outubro ' fim da seca), coletando-se folíolos das folhas 4 e 9. A amostragem seguiu os procedimentos descritos por Rognon (1984), que recomenda a coleta de folíolos da folha 4 para plantas de genótipos híbridos com menos de 3 anos e da folha 9, para plantas com idade entre 3 e 4 anos. O tecido foliar foi analisado quanto aos teores de macro e micronutrientes de interesse agrícola, de acordo com Bataglia et al. (1983). Neste trabalho, serão apresentados os resultados referentes à primeira amostragem realizada em 25/ abr/2002, dois anos e quatro meses após o plantio. Nesta data, foram coletadas amostras de solo na projeção da copa (área de aplicação de fertilizantes) e entre as linhas de plantio, das camadas de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm, analisadas segundo Raij & Quaggio (1983).

A distribuição dos nutrientes no dossel das plantas foi estimada por meio da comparação dos teores foliares obtidos em amostragens de folhas com idades diferentes; folha 4, emitida mais recentemente, e folha 9, mais antiga. O estado nutricional das plantas foi avaliado comparando-se os teores foliares das amostras com os níveis críticos apresentados por Rognon (1984) e Sobral (1998). O efeito do cultivo sobre o solo foi estimado comparando-se amostras coletadas sob a projeção da copa com as das entrelinhas. Os resultados foram analisados empregando-se módulo GLM (General linear models) do SAS, segundo Freund & Littell (1981).

Apesar de as plantas estarem com pouco mais de dois anos, algumas conseqüências do cultivo de coqueiros sobre atributos químicos do solo podem ser identificadas nas Tabelas_3 e 4. Comparando-se as amostras retiradas na projeção da copa (área de aplicação dos adubos) com as obtidas nas entre- linhas, observam-se valores de pH, saturação por bases, Ca e Mg menores para as primeiras. Os principais efeitos estão relacionados com a acidificação causada, especialmente, pela aplicação de fertilizantes nitrogenados. Estes resultados são compatíveis com os descritos para outros cultivos como bananeira (Saes, 1995; Teixeira et al., 2001), seringueira (Bataglia & Santos, 1999) e citros (Sanches et al., 1999).

As estimativas dos teores foliares dos nutrientes foram mais precisas para as amostras de folha 4 (menores erros padrões das médias e coeficientes de variação) do que para as de folha 9 (Tabela_5). A maior precisão, somada à amplitude maior de variação dos teores na folha 4, possibilitou discriminar melhor os sete genótipos quanto ao seu estado nutricional, especialmente para P, Ca, B e Zn.

Nitrogênio. Em média, os teores de N na folha 4 foram inferiores ao nível crítico (22 g kg-1) sugerido por Rognon (1984), não sendo observadas diferenças significativas entre os genótipos (Tabela_5). A dose de 360 g/planta/ano de N (Tabela_2) fracionada em seis aplicações durante o ano que antecedeu a amostragem foliar não foi suficiente para atender às necessidades dos diversos genótipos. Para quase todos materiais, o teor de N foi maior na folha 4, indicando que houve mobilização de N das folhas mais velhas (Tabela_6).

Broschat (1997) observou que, a partir da quarta folha de coqueiro, a concentração de N diminuiu proporcionalmente à idade das folhas, atribuindo esta variação à mobilidade do elemento na planta.

Potássio. Comparando-se os teores de K foliar dos sete genótipos com os níveis críticos (NC) apresentados por Rognon (1984), observa-se que, com exceção do GBrPF, para o qual o NC de K é 17,5 g kg-1, os demais apresentaram concentrações de K foliar inferiores ao NC definido para híbridos (20 g kg-1) (Tabela_5). A intensa mobilização de potássio das folhas velhas para as novas, em todos os materiais estudados (Tabela_6), e os teores médios detectados na quarta folha são indícios de deficiência nutricional; entretanto, as plantas não apresentaram sintomas de deficiência de K. No ano que antecedeu a amostragem foliar, foram aplicadas 360 g/planta de K2O (Tabela_2) o que, aparentemente, não foi suficiente. Com a emissão dos cachos, caso não seja aumentada a adubação com K, é possível que as folhas mais velhas de certos genótipos manifestem sua falta. A movimentação de K das folhas velhas para as mais novas é comum em várias espécies vegetais, sendo, geralmente, segundo Broschat (1997), da mesma ordem de grandeza da mobilização de N e menor do que a de P. Ollivier (1993) observou que os sintomas visuais de falta de K manifestam-se com teores foliares abaixo de 5 g kg1, quando as plantas estão em processo severo de deficiência nutricional. As amostras de solo coletadas na área mais próxima das plantas apresentaram teores de K trocável entre baixo e médio (Tabela_3), segundo os limites de interpretação sugeridos por Raij et al.

(1996). Mesmo com a aplicação de fertilizantes potássicos, o teor de K trocável na área de projeção da copa não diferiu daquele de amostras das entre- linhas, sugerindo que a extração deste nutriente pelos coqueiros é elevada. Outras culturas exigentes em K, como bananeira, causam significativa redução no teor de K trocável do solo, como descrito por Teixeira et al. (2001).

Fósforo. Observa-se na Tabela_5 que os sete genótipos apresentaram teores foliares de P adequados (> 1,4 g kg-1), com pequenas variações entre eles. A aplicação de 180 g/planta de P2O5 durante o ano anterior à amostragem (Tabela 2) foi suficiente para atender às necessidades dos coqueiros. As diferenças entre as amostras das folhas 4 e 9 (Tabela_6) estão de acordo com as observações de Broschat (1997), revelando possível mobilização deste nutriente das folhas velhas para novas. A concentração de P disponível no solo, na projeção da copa (Tabela_3), classifica-se como média para a camada de 0 a 20 cm, e baixa, para 20 a 40 cm (Raij et al., 1996). Estes valores parecem ser suficientes para suprir as necessidades da cultura, considerada por Khan (1985) como pouco exigente em fósforo.

Cálcio. Os teores de Ca na folha 4 (Tabela_5) indicaram que todos os genótipos estavam suficientemente nutridos com este elemento, pois foram superiores ao nível crítico de 3,4 g kg- 1, apresentado por Sobral (1998). A maior concentração de Ca nas folhas mais velhas (Tabela_6) foi decorrente de sua baixa mobilidade na planta, o que concorda com as observações de Sobral (1998).

Segundo Broschat (1997), tanto em coqueiros como em tamareiras, a concentração de Ca foliar decresce com a idade das folhas. A situação nutricional das plantas foi coerente com a disponibilidade de Ca no solo sob a projeção da copa (Tabela_4). Os teores de Ca trocável no solo classificam-se como altos (Raij et al., 1996).

Magnésio. Os teores foliares de Mg (Tabela_4) variaram em torno dos níveis críticos descritos por Sobral (1998), que são de 2,2 e 2,4 g kg- 1 para gigantes e híbridos, respectivamente. Broschat (1997) afirmou que a relação entre concentração foliar de Mg e idade da folha é variável entre espécies de palmeiras e entre variedades de coqueiro. De acordo com a Tabela_6, apenas o 'GBrPF' não apresentou movimentação significativa de Mg para as folhas mais novas, indicando que, provavelmente, ele estava suficientemente nutrido com Mg.

No solo, sob a projeção da copa, os teores Mg (Tabela_4) foram classificados, segundo Raij et al. (1996), como médios. A acidificação decorrente da adubação e a perda de cátions, reveladas pelas diferenças entre amostras coletadas na projeção da copa e nas entrelinhas, exigem monitoração periódica da fertilidade do solo e estado nutricional da cultura.

Micronutrientes. As classes de interpretação de teores de micronutrientes no solo podem ser aprimoradas quando se conhecem as exigências próprias de cada grupo ou espécie vegetal (Raij et al., 1996). A interpretação dos resultados de análise foliar, com base em níveis críticos, também requer alguns cuidados, pois estes variam em função dos genótipos e condições ambientais, entre outros fatores (Rognon, 1984). Com culturas pouco estudadas, como é o caso do coqueiro, a situação torna-se mais complexa.

Boro. Os teores foliares de B (Tabela_5) foram superiores 10 mg kg1, que é o nível crítico apresentado por Rognon (1984) e Sobral (1998). Segundo este último autor, o boro é relativamente imóvel, o que se confirma pelos resultados da Tabela_6, pois, em todos os genótipos, não se detectou mobilização deste nutriente para as folhas mais novas. A disponibilidade de B no solo (Tabela_4) classifica-se, segundo Raij et al. (1996), como média. No momento, as plantas estão bem nutridas em boro; entretanto, no ano anterior, apresentaram sintomas de deficiência, o que exigiu a aplicação deste nutriente. A última aplicação de boro via foliar foi cerca de seis meses antes da amostragem de folhas, quando a folha 4 ainda não havia sido emitida, o que também explica os teores mais elevados deste nutriente na folha 9.

Cobre. Para este nutriente, o estado nutricional dos diversos genótipos pode ser um pouco pior do que em relação ao B. Os teores médios de Cu (Tabela_5) são menores do que o nível crítico (4 a 5 mg kg-1, segundo Rognon, 1984) e detectou-se significativa mobilização deste nutriente para as folhas mais novas em quase todos os genótipos (Tabela_6). Entretanto, no solo (Tabela_4), os teores de Cu variaram de médio a altos (Raij et al., 1996).

Ferro. Os teores de Fe (Tabela_5) indicaram que as plantas estão suficientemente nutridas deste elemento, pois são superiores ao nível crítico (40 mg kg-1) apresentado por Sobral (1998). Sua baixa mobilidade, aliada à condição de suficiência, determinou que não houvesse mobilização de Fe das folhas velhas para as novas (Tabela_6). O estado nutricional das plantas em relação ao Fe também refletiu sua disponibilidade no solo, onde os teores (Tabela_4) foram superiores a 12 mg kg1, nível que Raij et al. (1996) consideram como suficiente.

Manganês. O estado nutricional dos sete genótipos em relação a este nutriente foi semelhante ao descrito para o ferro, com as plantas apresentando teores superiores ao nível crítico (100 mg kg-1) e sem aparente redistribuição (Tabelas_5 e 6). No solo (Tabela_4), os teores de Mn enquadram-se na classe de interpretação média (Raij et al., 1996).

Zinco. A concentração de Zn nas folhas de todos os genótipos (Tabela_5) ficou abaixo do nível crítico de 15 mg kg-1, apresentado por Sobral (1998). Ainda que o Zn seja considerado um nutriente de baixa mobilidade nas plantas, sua concentração na folha 4 foi superior à das folhas mais velhas em todos os genótipos (Tabela_6), indicando possível deficiência nutricional. A movimentação de Zn fica mais significativa, ainda, ao constatar-se que a última aplicação foliar de Zn se deu antes da emissão da folha 4 (Tabela_2). Os teores de Zn no solo (Tabela_4) estão entre médios e baixos, segundo Raij et al.

(1996). A baixa disponibilidade no solo e o estado nutricional das plantas implicam que seja revisto o manejo deste nutriente no experimento.

Em síntese, com estas observações, demonstrou-se que amostras de folha 4, em comparação com as de folha 9, foram mais eficientes para discriminar as populações e híbridos de coqueiro quanto aos seu estado nutricional. Observou- se que as maiores limitações nutricionais dos genótipo em estudo são as de zinco, potássio, nitrogênio e cobre. Aparentemente, todas as populações e híbridos observados estão adequadamente nutridos com fósforo, cálcio, boro, ferro e manganês. Recomenda-se, como medida de correção mais urgente, aumentar o fornecimento de zinco às plantas. Por fim, constatou-se que os principais efeitos do cultivo de coqueiro sobre a fertilidade foram relacionados com a acidificação do solo na área de aplicação de adubos.


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