Nutrição mineral de populações e híbridos de coqueiro (Cocos nucifera L.)
cultivados em Bebedouro (SP)
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
Nutrição mineral de populações e híbridos de coqueiro (Cocos nucifera L.)
cultivados em Bebedouro (SP)1
Mineral nutrition of populations and hybrids of coconut (Cocos nucifera L.)
grown in Bebedouro (SP), Brazil
Luiz Antonio Junqueira TeixeiraI; José Antônio Alberto da SilvaII
IPesquisador Científico do CAPTA-Frutas/Instituto Agronômico. Cx. Postal 28.
13001-970, Campinas-SP. teixeira@iac.sp.gov.br
IIPesquisador Científico da Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro-
SP
O cultivo de coco no Brasil apresenta duas realidades bastante distintas. De um
lado, têm-se os plantios destinados à produção de coco seco, geralmente com
baixa rentabilidade, o que, nos últimos anos, limitou a expansão dessa
atividade e, de outro, áreas visando à produção de coco verde, que tiveram um
grande incentivo devido ao mercado crescente para água de coco.
O estado nutricional dos coqueiros tem efeito sobre seu desenvolvimento
vegetativo, além de determinar, em grande parte, o volume e a qualidade da
produção. O acompanhamento do estado nutricional da cultura por meio de
análises de tecido foliar foi apontado por Sobral & Santos (1987) como
ferramenta auxiliar para a recomendação de adubação. Segundo Rognon (1984), o
conteúdo de nutrientes no tecido foliar de coqueiros pode variar em função do
tipo de planta (gigante ou híbridos).
Atualmente, o conhecimento sobre nutrição de coqueiros, bem como adubação
recomendada para a cultura, baseia-se na experiência de plantios conduzidos no
exterior ou na região Nordeste, já que, em São Paulo, estudos desta natureza
estão em fase inicial. Assim, o objetivo deste trabalho foi monitorar o estado
nutricional de cinco populações e dois híbridos de coqueiro, assim como os
efeitos do cultivo sobre a fertilidade do solo.
O experimento foi estabelecido na Estação Experimental de Citricultura de
Bebedouro (EECB)-SP (lat.: 20º53'S, long.: 48º28'W e altitude: 601 m), em 30/
nov/1999, num Latossolo Vermelho Distrófico A moderado textura média, com clima
mesotérmico de inverno seco (Cwa ' classificação de Köeppen). Alguns atributos
químicos do solo obtidos em amostragem prévia ao plantio são apresentados na
Tabela_1.
Os genótipos estudados fazem parte de um experimento da Rede Nacional de
Avaliação de Cultivares de Coqueiro, realizado em parceria da EECB com a
EMBRAPA-CPATC. Os sete tratamentos constituíram-se por cinco populações (Anão
Amarelo de Gramame ' AAG, Anão Amarelo da Malásia ' AAM, Anão Vermelho de
Gramame - AVG, Anão Verde do Jiqui ' AVJ e Gigante Brasileiro da Praia do Forte
' GBrPF) e dois híbridos (Anão Amarelo de Gramame x Gigante do Oeste Africano '
AAGx GOA e Anão Vermelho de Gramame x Gigante Brasileiro da Praia do Forte '
AVG x GBrPF).
As parcelas experimentais continham seis plantas, com espaçamento de 8 x 7 m,
dispostas em blocos ao acaso, com quatro repetições. As plantas foram irrigadas
por microaspersão e adubadas de acordo com cronograma da Tabela_2.
O estado nutricional das plantas está sendo monitorado por análise química de
tecido foliar, com amostragens efetuadas duas vezes ao ano (abril - fim da
estação das chuvas, e outubro ' fim da seca), coletando-se folíolos das folhas
4 e 9. A amostragem seguiu os procedimentos descritos por Rognon (1984), que
recomenda a coleta de folíolos da folha 4 para plantas de genótipos híbridos
com menos de 3 anos e da folha 9, para plantas com idade entre 3 e 4 anos. O
tecido foliar foi analisado quanto aos teores de macro e micronutrientes de
interesse agrícola, de acordo com Bataglia et al. (1983). Neste trabalho, serão
apresentados os resultados referentes à primeira amostragem realizada em 25/
abr/2002, dois anos e quatro meses após o plantio. Nesta data, foram coletadas
amostras de solo na projeção da copa (área de aplicação de fertilizantes) e
entre as linhas de plantio, das camadas de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm,
analisadas segundo Raij & Quaggio (1983).
A distribuição dos nutrientes no dossel das plantas foi estimada por meio da
comparação dos teores foliares obtidos em amostragens de folhas com idades
diferentes; folha 4, emitida mais recentemente, e folha 9, mais antiga. O
estado nutricional das plantas foi avaliado comparando-se os teores foliares
das amostras com os níveis críticos apresentados por Rognon (1984) e Sobral
(1998). O efeito do cultivo sobre o solo foi estimado comparando-se amostras
coletadas sob a projeção da copa com as das entrelinhas. Os resultados foram
analisados empregando-se módulo GLM (General linear models) do SAS, segundo
Freund & Littell (1981).
Apesar de as plantas estarem com pouco mais de dois anos, algumas conseqüências
do cultivo de coqueiros sobre atributos químicos do solo podem ser
identificadas nas Tabelas_3 e 4. Comparando-se as amostras retiradas na
projeção da copa (área de aplicação dos adubos) com as obtidas nas entre-
linhas, observam-se valores de pH, saturação por bases, Ca e Mg menores para as
primeiras. Os principais efeitos estão relacionados com a acidificação causada,
especialmente, pela aplicação de fertilizantes nitrogenados. Estes resultados
são compatíveis com os descritos para outros cultivos como bananeira (Saes,
1995; Teixeira et al., 2001), seringueira (Bataglia & Santos, 1999) e
citros (Sanches et al., 1999).
As estimativas dos teores foliares dos nutrientes foram mais precisas para as
amostras de folha 4 (menores erros padrões das médias e coeficientes de
variação) do que para as de folha 9 (Tabela_5). A maior precisão, somada à
amplitude maior de variação dos teores na folha 4, possibilitou discriminar
melhor os sete genótipos quanto ao seu estado nutricional, especialmente para
P, Ca, B e Zn.
Nitrogênio. Em média, os teores de N na folha 4 foram inferiores ao nível
crítico (22 g kg-1) sugerido por Rognon (1984), não sendo observadas diferenças
significativas entre os genótipos (Tabela_5). A dose de 360 g/planta/ano de N
(Tabela_2) fracionada em seis aplicações durante o ano que antecedeu a
amostragem foliar não foi suficiente para atender às necessidades dos diversos
genótipos. Para quase todos materiais, o teor de N foi maior na folha 4,
indicando que houve mobilização de N das folhas mais velhas (Tabela_6).
Broschat (1997) observou que, a partir da quarta folha de coqueiro, a
concentração de N diminuiu proporcionalmente à idade das folhas, atribuindo
esta variação à mobilidade do elemento na planta.
Potássio. Comparando-se os teores de K foliar dos sete genótipos com os níveis
críticos (NC) apresentados por Rognon (1984), observa-se que, com exceção do
GBrPF, para o qual o NC de K é 17,5 g kg-1, os demais apresentaram
concentrações de K foliar inferiores ao NC definido para híbridos (20 g kg-1)
(Tabela_5). A intensa mobilização de potássio das folhas velhas para as novas,
em todos os materiais estudados (Tabela_6), e os teores médios detectados na
quarta folha são indícios de deficiência nutricional; entretanto, as plantas
não apresentaram sintomas de deficiência de K. No ano que antecedeu a
amostragem foliar, foram aplicadas 360 g/planta de K2O (Tabela_2) o que,
aparentemente, não foi suficiente. Com a emissão dos cachos, caso não seja
aumentada a adubação com K, é possível que as folhas mais velhas de certos
genótipos manifestem sua falta. A movimentação de K das folhas velhas para as
mais novas é comum em várias espécies vegetais, sendo, geralmente, segundo
Broschat (1997), da mesma ordem de grandeza da mobilização de N e menor do que
a de P. Ollivier (1993) observou que os sintomas visuais de falta de K
manifestam-se com teores foliares abaixo de 5 g kg1, quando as plantas já estão
em processo severo de deficiência nutricional. As amostras de solo coletadas na
área mais próxima das plantas apresentaram teores de K trocável entre baixo e
médio (Tabela_3), segundo os limites de interpretação sugeridos por Raij et al.
(1996). Mesmo com a aplicação de fertilizantes potássicos, o teor de K trocável
na área de projeção da copa não diferiu daquele de amostras das entre- linhas,
sugerindo que a extração deste nutriente pelos coqueiros é elevada. Outras
culturas exigentes em K, como bananeira, causam significativa redução no teor
de K trocável do solo, como descrito por Teixeira et al. (2001).
Fósforo. Observa-se na Tabela_5 que os sete genótipos apresentaram teores
foliares de P adequados (> 1,4 g kg-1), com pequenas variações entre eles. A
aplicação de 180 g/planta de P2O5 durante o ano anterior à amostragem (Tabela
2) foi suficiente para atender às necessidades dos coqueiros. As diferenças
entre as amostras das folhas 4 e 9 (Tabela_6) estão de acordo com as
observações de Broschat (1997), revelando possível mobilização deste nutriente
das folhas velhas para novas. A concentração de P disponível no solo, na
projeção da copa (Tabela_3), classifica-se como média para a camada de 0 a 20
cm, e baixa, para 20 a 40 cm (Raij et al., 1996). Estes valores parecem ser
suficientes para suprir as necessidades da cultura, considerada por Khan (1985)
como pouco exigente em fósforo.
Cálcio. Os teores de Ca na folha 4 (Tabela_5) indicaram que todos os genótipos
estavam suficientemente nutridos com este elemento, pois foram superiores ao
nível crítico de 3,4 g kg- 1, apresentado por Sobral (1998). A maior
concentração de Ca nas folhas mais velhas (Tabela_6) foi decorrente de sua
baixa mobilidade na planta, o que concorda com as observações de Sobral (1998).
Segundo Broschat (1997), tanto em coqueiros como em tamareiras, a concentração
de Ca foliar decresce com a idade das folhas. A situação nutricional das
plantas foi coerente com a disponibilidade de Ca no solo sob a projeção da copa
(Tabela_4). Os teores de Ca trocável no solo classificam-se como altos (Raij et
al., 1996).
Magnésio. Os teores foliares de Mg (Tabela_4) variaram em torno dos níveis
críticos descritos por Sobral (1998), que são de 2,2 e 2,4 g kg- 1 para
gigantes e híbridos, respectivamente. Broschat (1997) afirmou que a relação
entre concentração foliar de Mg e idade da folha é variável entre espécies de
palmeiras e entre variedades de coqueiro. De acordo com a Tabela_6, apenas o
'GBrPF' não apresentou movimentação significativa de Mg para as folhas mais
novas, indicando que, provavelmente, ele estava suficientemente nutrido com Mg.
No solo, sob a projeção da copa, os teores Mg (Tabela_4) foram classificados,
segundo Raij et al. (1996), como médios. A acidificação decorrente da adubação
e a perda de cátions, reveladas pelas diferenças entre amostras coletadas na
projeção da copa e nas entrelinhas, exigem monitoração periódica da fertilidade
do solo e estado nutricional da cultura.
Micronutrientes. As classes de interpretação de teores de micronutrientes no
solo podem ser aprimoradas quando se conhecem as exigências próprias de cada
grupo ou espécie vegetal (Raij et al., 1996). A interpretação dos resultados de
análise foliar, com base em níveis críticos, também requer alguns cuidados,
pois estes variam em função dos genótipos e condições ambientais, entre outros
fatores (Rognon, 1984). Com culturas pouco estudadas, como é o caso do
coqueiro, a situação torna-se mais complexa.
Boro. Os teores foliares de B (Tabela_5) foram superiores 10 mg kg1, que é o
nível crítico apresentado por Rognon (1984) e Sobral (1998). Segundo este
último autor, o boro é relativamente imóvel, o que se confirma pelos resultados
da Tabela_6, pois, em todos os genótipos, não se detectou mobilização deste
nutriente para as folhas mais novas. A disponibilidade de B no solo (Tabela_4)
classifica-se, segundo Raij et al. (1996), como média. No momento, as plantas
estão bem nutridas em boro; entretanto, no ano anterior, apresentaram sintomas
de deficiência, o que exigiu a aplicação deste nutriente. A última aplicação de
boro via foliar foi há cerca de seis meses antes da amostragem de folhas,
quando a folha 4 ainda não havia sido emitida, o que também explica os teores
mais elevados deste nutriente na folha 9.
Cobre. Para este nutriente, o estado nutricional dos diversos genótipos pode
ser um pouco pior do que em relação ao B. Os teores médios de Cu (Tabela_5) são
menores do que o nível crítico (4 a 5 mg kg-1, segundo Rognon, 1984) e
detectou-se significativa mobilização deste nutriente para as folhas mais novas
em quase todos os genótipos (Tabela_6). Entretanto, no solo (Tabela_4), os
teores de Cu variaram de médio a altos (Raij et al., 1996).
Ferro. Os teores de Fe (Tabela_5) indicaram que as plantas estão
suficientemente nutridas deste elemento, pois são superiores ao nível crítico
(40 mg kg-1) apresentado por Sobral (1998). Sua baixa mobilidade, aliada à
condição de suficiência, determinou que não houvesse mobilização de Fe das
folhas velhas para as novas (Tabela_6). O estado nutricional das plantas em
relação ao Fe também refletiu sua disponibilidade no solo, onde os teores
(Tabela_4) foram superiores a 12 mg kg1, nível que Raij et al. (1996)
consideram como suficiente.
Manganês. O estado nutricional dos sete genótipos em relação a este nutriente
foi semelhante ao descrito para o ferro, com as plantas apresentando teores
superiores ao nível crítico (100 mg kg-1) e sem aparente redistribuição
(Tabelas_5 e 6). No solo (Tabela_4), os teores de Mn enquadram-se na classe de
interpretação média (Raij et al., 1996).
Zinco. A concentração de Zn nas folhas de todos os genótipos (Tabela_5) ficou
abaixo do nível crítico de 15 mg kg-1, apresentado por Sobral (1998). Ainda que
o Zn seja considerado um nutriente de baixa mobilidade nas plantas, sua
concentração na folha 4 foi superior à das folhas mais velhas em todos os
genótipos (Tabela_6), indicando possível deficiência nutricional. A
movimentação de Zn fica mais significativa, ainda, ao constatar-se que a última
aplicação foliar de Zn se deu antes da emissão da folha 4 (Tabela_2). Os teores
de Zn no solo (Tabela_4) estão entre médios e baixos, segundo Raij et al.
(1996). A baixa disponibilidade no solo e o estado nutricional das plantas
implicam que seja revisto o manejo deste nutriente no experimento.
Em síntese, com estas observações, demonstrou-se que amostras de folha 4, em
comparação com as de folha 9, foram mais eficientes para discriminar as
populações e híbridos de coqueiro quanto aos seu estado nutricional. Observou-
se que as maiores limitações nutricionais dos genótipo em estudo são as de
zinco, potássio, nitrogênio e cobre. Aparentemente, todas as populações e
híbridos observados estão adequadamente nutridos com fósforo, cálcio, boro,
ferro e manganês. Recomenda-se, como medida de correção mais urgente, aumentar
o fornecimento de zinco às plantas. Por fim, constatou-se que os principais
efeitos do cultivo de coqueiro sobre a fertilidade foram relacionados com a
acidificação do solo na área de aplicação de adubos.