Competição de genótipos de goiabeira (Psidium guajava L.) na região do submédio
São Francisco
GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PLANTAS
Competição de genótipos de goiabeira (Psidium guajava L.) na região do submédio
São Francisco1
Evaluation of guava genotypes in the submiddle of San Francisco Valley
Luiz Gonzaga NetoI; João Emmanoel Fernandes BezerraII; Rosileide de Souza
CostaIII
IEng. Agronômo,MS.c Fruticultura, Pesquisador da Embrapa Semi-Árido, C.P. 23.
BR 428, KM 152, Zona Rural, Petrolina-PE Fone: (0xx 87)-3862-1711. e-mail:
lgonzaga@cpatsa.embrapa.br
IIEng. Agronômo, MS.c Fitotecnia, Pesquisador do IPA, C.P. 1022. Fone: (0xx
81)-445-2200 Ramal 169, Recife-PE. e-mail: emmanoel@ipa.br
IIIGraduando em Biologia- FFPP-UPE. Petrolina-PE. Bolsista da Embrapa Semi-
Árido. e-mail: rosesud@yahoo.com.br. Fone: (0xx 87) 3862-1711, ramal 239
INTRODUÇÃO
Diversas fruteiras estão sendo cultivadas com sucesso nas diversas áreas
irrigadas do Nordeste. Dentre elas a goiabeira tem apresentado importância,
pois seus frutos possibilitam várias formas de aproveitamento, sendo
atualmente, comercializados para consumo "in natura". Apesar do crescimento da
área cultivada com a goiabeira na região do Vale do São Francisco,
aproximadamente de 4000 hectares (Codevasf 1999), verifica-se a utilização de
praticamente uma única variedade, a Paluma. Este aspecto pode ser
comprometedor, pois na ocorrência de problemas fitossanitários com esta
variedade ou até mesmo uma mudança de hábito de consumo pode inviabilizar todo
o sistema de produção praticado, uma vez que a predominância desta variedade
constitui uma base genética muito estreita. Nenhum sistema agrícola moderno e
competitivo pode estar baseado em apenas uma variedade.
A utilização de outras variedades, além de tornar o sistema de produção menos
instável, poderá oportunizar a ampliação do mercado consumidor de goiaba,
tornando mais seguro o que é hoje um dos principais pólos de agricultura
irrigada do Brasil. Foi estimado que a região do Submédio São Francisco deveria
produzir divisas da ordem de 960 milhões de dólares com a produção de 2,6
milhões de toneladas de frutos (Codevasf 1989).
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de goiaba, destacando-se os
Estados de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco como os mais importantes (Ital,
1988).
Apesar da goiaba já apresentar importância econômica como cultivo comercial
(Maia et al.; 1988) e de existir diversos relatos de pesquisa sobre a
caracterização e selecão de variedades para consumo in natura e fins
industriais (Gonzaga Neto et al., 1991), é importante introduzir, caracterizar
e avaliar o potencial agronômico e de mercado dos genótipos conhecidos, gerados
em outros ecossistemas e de genótipos desconhecidos em áreas de grande
potencial econômico, como a região do Vale do São Francisco.
Gonzaga Neto et al. (1991), em estudo com a goiabeira na região do Vale do Rio
Moxotó, avaliando seis genótipos, observaram produções anuais de até 170 kg/
planta/ano, em variedades diferentes da Paluma e que poderão aumentar a base
genética em uso nas áreas irrigadas da região do Submédio São Francisco.
Gonzaga Neto et al. (1988) elegeram, num estudo de competição de variedades,
alguns clones com características promissoras, que poderão compor um estudo de
competição com a variedade Paluma, visando oferecer opções ao seu cultivo nas
áreas irrigadas da região do Submédio São Francisco. Paiva et al. (1993), em
estudo de competição e seleção de goiabeira, encontraram variações na produção,
produtividade e no peso médio do fruto. Rhatore, citado por Paiva et al.
(1993), observou que ocorrem períodos diferenciados de floração e frutificação
entre cultivares e condições climáticas, o que pode determinar maior ou menor
performance agronômica dos cultivos comerciais.
Webber, citado por Pereira & Martinez Junior (1986), depois de estudar
progênies variadas, chegou a selecionar trinta e duas variedades de goiabeira.
A introdução e avaliação de germoplasma provenientes de outras áreas na região
do Submédio São Francisco poderá resultar numa diversidade genética bastante
interessante e oportunizar a discriminação e seleção de variedades de goiabeira
adaptadas às nossas condições edafo-climáticas.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no campo experimental de Bebedouro, em Petrolina-
PE, num delineamento de blocos ao acaso com cinco tratamentos e cinco
repetições. A região apresenta altitude de 266,4 m, com temperatura média anual
de 26,3º C e umidade relativa do ar em torno de 68%.
As mudas foram propagadas pelo processo de borbulhia de placa em janela aberta,
sendo o enxerto realizado durante o mês de março de 1998, em condições de
campo, em porta-enxertos, com oito meses de idade , provenientes de sementes.
Após o enxerto atingir 8 a 10 cm de comprimento foram realizadas podas de
formação, visando conduzir a muda em haste única até a altura de 50 a 60 cm a
partir do nível do solo. Procedeu-se o corte do broto terminal a fim de
orientar a formação de três ou quatro ramos principais, bem distribuídos, para
formação da copa da planta. O pomar recebeu todas as práticas necessárias de
irrigação, capina, adubacão, tratos fitossanitários e poda de frutificação tipo
drástica a cada dez meses, sem desbaste de fruto (Gonzaga Neto & Soares,
1995). Foram observados, preliminarmente, os seguintes parâmetros: produção por
planta, número e peso médio do fruto. Os resultados obtidos foram submetidos à
análise de variância e as médias comparadas pelo teste de tukey a 5% de
probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Analisando os resultados de produção após a primeira poda de frutificação,
verifica-se que o genótipo denominado Surubim, apesar de não diferir
estatisticamente dos genótipos Ruby Supreme e Red Fleshed, destacou-se com uma
produção de 79,90 kg/planta (Tabela_1), produtividade considerada excelente em
plantas de goiabeira após a primeira poda.
O genótipo Surubim foi inclusive superior, em produção, à Paluma, tradicional
variedade que compõe o sistema de produção das áreas irrigadas do Nordeste
Brasileiro. Considerando que o genótipo Surubim venha a produzir frutos com
resistência pós-colheita, igual a Paluma, poderá ser oferecido como uma opção
de cultivo. Vale salientar que os frutos do genótipo Surubim apresentam formato
arredondados, isto é uma vantagem comparativa em relação às variedades de
formato piriforme, como os frutos da variedade Paluma e Ruby Supreme. O formato
arredondado do fruto facilita o embalamento, principalmente em caixas de 3,5
kg. No que se refere ao peso médio do fruto, observa-se ainda, na Tabela_1, que
de modo geral todos os genótipos produziram frutos com peso médio superior a
170 g, considerados grandes. Estes números elevados de peso médio são reflexos
das primeiras produções, quando as plantas ainda não expressaram todo o seu
potencial produtivo, e por isso produzem frutos maiores. Em geral a tendência é
o peso médio do fruto diminuir com a estabilização da produção comercial,
quando a planta tende a produzir maior número de frutos. Considerando o número
de frutos colhido por variedade, observa-se, ainda na Tabela_1, que variou de
300 na variedade Red Selection of Florida a 882 frutos/ planta na variedade
Surubim, que foi superior às demais quanto a esta característica . Paiva et al.
(1993) também encontraram variações significativas quanto à produção, peso
médio do fruto e número de frutos colhidos, em trabalho de competição de
variedades. Estudos conduzidos por Gonzaga Neto et al. (1988) e Gonzaga et al.
(1999) também encontraram variações entre genótipos de goiabeira conduzidos com
irrigação. Apesar dos números provenientes da primeira poda de frutificação não
expressarem todo o potencial genético de produção das variedades em estudo,
sinalizaram diferenças de performance entre os genótipos estudados e assim a
possibilidade de discriminá-los.
Considerando os dados obtidos na segunda poda de frutificação ( Tabela_1 ),
verifica-se que a variedade Surubim continuou a destacar-se das demais,
registrando uma produção de 87,18 kg/planta, que já é bastante expressivo em
goiabeiras, após a segunda poda de frutificação, sob irrigação. Vê-se ainda que
a variedade Surubim destacou-se também com relação ao número de frutos
colhidos.
Quanto ao peso médio do fruto pode-se afirmar que todas as variedades em estudo
apresentaram excelente performance, produzindo frutos com peso médio superior a
215,45 g.
Analisando-se conjuntamente os dados relativos à primeira e segunda poda de
frutificação (Tabela_2), observa-se que as respostas agronômicas expressadas
pelos genótipos em estudo mantiveram a tendência das duas safras analisadas
isoladamente. Desta forma percebe-se que a variedade Surubim continuou a
destacar-se com referência à produção, 83,5 kg/planta, e ao número de frutos
colhidos, 849 frutos/planta. Caso a variedade Surubim confirme esta expressão
nos ciclos de produção subsequentes e apresente nos frutos uma durabilidade
pós-colheita pelo menos igual aos frutos da variedade Paluma, pode-se
selecioná-lo como uma opção de cultivo, aumentando a sustentabilidade do
sistema de produção de goiabeira nas áreas irrigadas do Nordeste Brasileiro,
pela oferta de outros genótipos. É importante observar que as variedades Red
Fleshed e Ruby Supreme também se destacaram, principalmente no que se refere à
produção e ao número de frutos por planta.
CONCLUSÕES
Considerando os resultados obtidos pode-se concluir que:
1) O genótipo de goiabeira identificado como "Surubim" apresenta potencial
produtivo em termos de produção por planta e número de frutos por ciclo
produtivo, que a credencia como opção de cultivo nas áreas irrigadas da região
do Submédio São Francisco.