Aspectos econômicos da cultura do abacaxi: sazonalidade de preços no Estado do
Rio de Janeiro
ECONOMIA E MARKETING
INTRODUÇÃO
Com base em estatísticas divulgadas pela Organização de Alimentação e
Agricultura das Nações Unidas (FAO), o Brasil destaca-se na produção mundial de
frutas, ocupando a terceira posição, precedida da China e da Índia. A
participação brasileira na produção mundial de laranja e mamão, considerados
isoladamente, é da ordem de 35 %, enquanto, na de abacaxi e na de banana, são
ao redor de 13 e 10 %, respectivamente (Santiago & Rocha, 2001). O Brasil é
o maior produtor mundial de frutas tropicais e, graças às suas condições de
solo e de clima diversificadas, pode também dedicar-se ao plantio de fruteiras
de clima temperado e subtropical, produtos com elevado potencial para o mercado
externo.
O mercado mundial de frutas frescas movimenta cerca de US$ 20 bilhões/ano. Os
maiores países exportadores de frutas são os EUA, a Espanha e a Itália. Esses
países são responsáveis por mais de 1/3 do valor das exportações mundiais. A
maior parte das exportações desses países é constituída por frutas de clima
temperado. Na América Latina, Chile e Equador são os maiores exportadores de
frutas frescas. O Chile concentra as suas exportações em frutas de clima
temperado, enquanto, o Equador é, basicamente, exportador de bananas. As
exportações brasileiras de frutas frescas têm oscilado em torno de US$ 100
milhões/ano, o que representa 0,5 % do mercado mundial de frutas frescas e
cerca de 0,8 % do mercado mundial de frutas tropicais (Orioli et al., 1999).
A Tailândia, em 1997, foi o maior produtor mundial de abacaxi. Logo a seguir,
com um volume bastante próximo, aparece o Brasil e, em seqüência, Filipinas,
Índia, China, Nigéria e Indonésia. A Figura_1 ilustra esta situação.
Souza et al. (1999) compararam as produções médias de abacaxi, no período de
1979 a 1981, dos nove maiores produtores mundiais, com a produção obtida pelos
mesmos em 1997 e constataram que o Brasil foi o país que apresentou o maior
acréscimo de produção (228,86 %).
No período de 1991 a 2001, a produção brasileira de abacaxi evoluiu de
1.106.960 toneladas para 3.113.464, o que representou um aumento anual da ordem
de 8 %. Este aumento foi resultante, não só da expansão da área colhida, mas
também do aumento da produtividade, que evoluiu de 32,435 t/ha para 49,295 t/ha
(Tabela_1).
Analisando-se a Tabela_2, observa-se que, no Brasil, a produção de abacaxi
concentra-se nas Regiões Sudeste e Nordeste. Em 2001, estas regiões foram
responsáveis, respectivamente, por 40,49 e 37,15 % da produção brasileira de
abacaxi, cabendo os 22,36 % restantes ao conjunto das demais regiões.
Os Estados de Minas Gerais e Paraíba são os maiores produtores de abacaxi,
cujas produções, somadas, representam mais da metade da produção brasileira. Em
seguida, com produções menos representativas, destacam-se: Pará, Bahia, São
Paulo, Rio Grande do Norte, Espírito Santo e Rio de Janeiro (Figura_2).
O Estado do Rio de Janeiro, apesar de participar apenas com cerca de 2% da
produção brasileira de abacaxi, apresenta um perfil adequado e bastante
propício ao seu cultivo. Segundo Gadelha et al. (1996), estudos realizados pelo
Ministério da Agricultura sobre a aptidão agrícola dos solos concluíram que,
dentre as oito regiões que compõem o Estado, a Norte e a das Baixadas
Litorâneas são as mais aptas e promissoras para a exploração da cultura do
abacaxi em escala comercial, com médio ou alto nível tecnológico.
O crescimento da produção agrícola, através da ampliação da área cultivada e/ou
produtividade agrícola, é oportuna na medida em que existam perspectivas
concretas do aumento do consumo. Desta forma, um aspecto importante a ser
considerado é o mercado. Os preços dos produtos agrícolas tendem a repetir
determinados padrões de comportamento, em decorrência das características de
produção e consumo. Dentre esses padrões, segundo Aguiar & Santos (2001),
um dos mais importantes é a variação sazonal, ou seja, a variação que os preços
experimentam ao longo do ano, como reflexo da alternância entre períodos de
maior e menor oferta do produto e/ou de maior e menor consumo.
As Regiões Norte e Noroeste Fluminense(2) são compostas por nove e por treze
municípios que ocupam as áreas de 9.767,8 km2 e 5.385,4 km2, respectivamente,
que correspondem a 22,3 e 12,3 % da área total do Estado do Rio de Janeiro
(CIDE, 2001). A cultura da cana-de-açúcar e a pecuária constituem as principais
atividades de importância econômica do setor agrícola desta região. Entretanto,
deve-se ressaltar o crescimento da fruticultura, nos últimos anos, sobretudo na
Região Norte do Estado.
Hemerly (1996), após realizar um estudo da variação sazonal de preços de
produtos agrícolas, nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense, concluiu que
existem possibilidades de alterar-se o perfil do setor agrícola regional,
através de ações de pesquisa e assistência técnica, orientadas para o
calendário de produção e para o comportamento do mercado.
O objetivo deste estudo foi analisar aspectos importantes relacionados à
produção e comportamento dos preços recebidos pelos produtores de abacaxi.
Foram determinados os índices de variação sazonal dos preços médios mensais
praticados nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo analisou o comportamento do preço do abacaxi, utilizando dados
referentes aos preços médios correntes por unidade de abacaxi, pago aos
produtores das Regiões Norte e Noroeste Fluminense.
Os dados foram obtidos através dos Levantamentos Sistemáticos da Produção
Agropecuária (LSPA), realizados mensalmente pelo IBGE, compreendendo o período
de janeiro de 1995 a dezembro de 2001 (Tabela_3).
Os preços médios mensais foram deflacionados, utilizando-se como deflator do
IGP-DI da FGV(3), tendo como base de referência o mês de janeiro de 2002.
Esta pesquisa baseou-se em estatísticas, obtidas em relatórios, publicações e
páginas na Internet do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
do Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro (CIDE), da FNP Consultoria
& Comércio: AGRIANUAL 2002, bem como,em uma revisão bibliográfica de
trabalhos que analisam a viabilidade da implantação de um pólo de fruticultura
na Região Norte e Noroeste Fluminense, elaborada por Orioli et al. (1999).
A metodologia adotada para a determinação do padrão de variação sazonal do
preço do abacaxi nesta série temporal é a proposta por Hoffman (1991), com a
utilização da média geométrica móvel centralizada de 12 meses.
Considerou-se que o preço é igual ao produto de três componentes: I- um fator
Xt, que inclui a tendência e todas as variações no nível de preços entre anos;
II- um fator åj que representa as variações sazonais, e III ' um fator Ut, que
se refere às variações aleatórias nos preços mensais.
Empregou-se a seguinte expressão:
Pij = Pt = Xt åj Ut,
Onde:
P = preço do produto;
i = indica o ano;
j = indica o mês.
Foram realizados os seguintes cálculos:
i- da média geométrica móvel centralizada (Gt), onde são eliminadas
as variações sazonais e grande parte das variações aleatórias;
ii- dos índices estacionais de preços;
iii- das médias geométricas dos índices estacionais;
iv- dos índices sazonais para cada mês;
v- dos índices de irregularidades para cada mês;
vi- estabelecimento de um intervalo de dispersão dos índices
sazonais, limites inferiores e superiores, que são obtidos
multiplicando e dividindo o índice sazonal pelo índice de
irregularidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Analisando-se os índices sazonais dos preços médios de abacaxi, recebidos pelos
produtores do Norte e Noroeste Fluminense, verifica-se que apenas os meses de
novembro e dezembro apresentam índices de preços abaixo da média anual. Para
todos os demais meses, os índices foram superiores à média anual.
De acordo com Barbosa et al. (1988), o período de floração natural do
abacaxizeiro é de julho a setembro, o que faz com que a safra de abacaxi se
concentre entre os meses de novembro e janeiro, exercendo forte influência
sobre os preços.
Gadelha (1998) observou que a quantidade de abacaxi comercializada na CEASA/RJ
tendeu a ser menor no período de fevereiro a setembro, sendo isso
agronomicamente correto, por estar diretamente relacionado com a época de
produção do fruto. Esta mesma tendência foi também notada por Fagundes et al.
(2000), ao analisarem a evolução das quantidades comercializadas nos CEASAS do
Distrito Federal, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
A análise gráfica da variação sazonal dos preços do abacaxi mostra que, no
período de janeiro a outubro, ocorre uma certa estabilidade dos preços,
apresentando valores máximos nos meses de março e abril. Estas observações
coincidem com as de Barbosa et al. (1998) que constataram que os preços do
abacaxi são maiores nos meses de fevereiro a maio. Os meses de novembro e
dezembro são os que apresentam os menores valores recebidos pelos produtores de
abacaxi, do Norte e Noroeste Fluminense.
Apesar de este estudo não ter analisado o comportamento da produção durante o
ano, admite-se que a brusca redução nos preços do abacaxi, nos meses de
novembro e dezembro, se deve à concentração da oferta neste período (safra).
CONCLUSÕES
Os resultados deste trabalho visam a fornecer indicações aos produtores de
abacaxi, sobre as épocas de melhores preços de venda, permitindo um
planejamento racional da produção e comercialização do produto. Essas
informações também podem ser úteis à indústria de processamento para planejar
melhor as suas compras e ao governo para adotar políticas de abastecimento que
regulem o suprimento e estabilizem os preços.
Com base nos resultados do presente estudo, observa-se a necessidade de
pesquisas e adoção de tecnologias de produção que promovam uma expansão do
período de safra, bem como, maior atuação das indústrias de beneficiamento do
produto nos meses de novembro e dezembro, período em que se concentra a
produção, de maneira que o produtor aumente a sua renda.
Em resumo, concluiu-se que:
1) Os preços médios recebidos pelos produtores de abacaxi das Regiões Norte e
Noroeste do Estado do Rio de Janeiro mostram que, no período de janeiro a
outubro, ocorre certa estabilidade, enquanto, nos meses de novembro e dezembro,
ocorre uma queda brusca.
2) Apesar de este estudo não ter analisado o comportamento da oferta, admite-se
que a brusca redução dos preços do abacaxi, nos meses de novembro e dezembro,
se deve à concentração da produção, neste período (safra).
3) Existe um grande espaço para os pesquisadores e agentes de assistência
técnica e de extensão rural atuarem, no sentido de geração e introdução de
novas tecnologias que viabilizem a obtenção de melhores preços pelos
produtores, na fase de comercialização.