Uso do Ethephon antes da poda de produção em videira 'Niagara Rosada' (Vitis
labrusca L.)
FITOTECNIA
Uso do Ethephon antes da poda de produção em videira 'Niagara Rosada' (Vitis
labrusca L.)1
Use of Ethephon before yield pruning of Niagara (Vitis labrusca L.)
Antonio Augusto FracaroI; Fernando Mendes PereiraII; Jair Costa NachtigalIII
IDoutorando em Agronomia, Departamento de Produção Vegetal, Universidade
Estadual Paulista-UNESP, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias- FCAV,
Campus de Jaboticabal, Rodovia de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n,
CEP14884-900, Jaboticabal-SP. Bolsista CNPq. Fone 17 3621 6884. E-mail:
fracaro@melfinet.com.br
IIDr., Prof. Titular Aposentado, Departamento de Produção Vegetal, FCAV/UNESP,
Campus de Jaboticabal, Jaboticabal-SP
IIIDr., Pesquisador Embrapa Uva e Vinho, Estação Experimental de Jales, SP.
Caixa Postal 241, CEP15700-000, Jales-SP
INTRODUÇÃO
A viticultura brasileira abrange uma área de 63.816ha, situada entre o paralelo
30ºS, no Estado do Rio Grande do Sul, e o paralelo 9ºS, na região Nordeste do
Brasil (Protas et al.,2002)
O Estado de São Paulo apresenta 9.082 ha cultivados com videira, sendo 5.270,2
ha de 'Niagara Rosada' (Vitis labrusca L.). A região Noroeste do Estado possui
1.212 ha com variedades de mesa, sendo 108,5 ha de 'Niagara Rosada' (Protas et
al., 2002).
Essa variedade representa cerca de 28% do volume de uvas comercializadas na
CEAGESP-SP (Cato et al., 1999). As quantidades comercializadas nos anos de 1995
a 2000 foram de 21.935; 14.686; 21.513; 16.256; 13.415 e 18.467 T, sendo
obtidos preços médios em torno de 1,16; 1,11; 0,70; 0,88; 0,59 e 0,63 US$/kg,
respectivamente (AGRIANUAL, 2000; 2002).
A região Noroeste de São Paulo cultiva, principalmente, uvas finas de mesa
(Vitis vinifera L.), como 'Itália', 'Rubi', 'Benitaka' e 'Brasil', que
apresentam um elevado custo de produção, em virtude da necessidade intensa de
mão-de-obra e de tratamentos fitossanitários. Tal fato tem levado muitos
produtores a optarem pelo plantio de outras variedades, dentre as quais a
'Niagara Rosada'.
Esta variedade tem se apresentado como ótima alternativa para a região, devido
ao menor custo com mão-de-obra (por não necessitar de raleio de bagas), à menor
suscetibilidade às doenças fúngicas, à boa aceitação no mercado interno e aos
bons rendimentos obtidos em condições irrigadas (Conceição, 1999).
Normalmente, a época de colheita ocorre na entressafra das regiões produtoras
tradicionais, quando os preços são mais elevados.
Na região de Jales-SP, os viticultores conduzem os vinhedos com duas podas
anuais. Assim, faz-se necessário realizar a poda de produção (6 a 8 gemas por
ramo) durante o primeiro semestre do ano e uma poda de renovação (2 a 3 gemas
por ramo) após a colheita (Boliani, 1994).
Entretanto, a produção de 'Niagara Rosada' tem sido problemática na região,
principalmente devido à dificuldade de emissão e desenvolvimento das brotações
após as podas de produção, quando estas são todas realizadas nos meses de
ocorrência de temperaturas mais baixas (maio a julho), causando baixas
produções e desestimulando os viticultores.
Na região Noroeste do Estado de São Paulo, Fracaro (2000) utilizou o ethephon
em videira 'Rubi' e obteve excelentes resultados para aumentar a intensidade de
brotação, pulverizando a planta em torno de 20 dias antes da poda de produção,
com 5 L.ha-1. Embasado nesses resultados e na tentativa de sanar os problemas
de brotação desta variedade, iniciaram-se pesquisas com a utilização deste
produto em 'Niagara Rosada'. Esta ação será de grande importância para a
expansão da cultura, não somente na região, mas também nas demais regiões
tropicais e subtropicais que apresentam interesse pelo cultivo desta variedade.
Esta técnica permitirá a realização de podas em épocas que propiciarão a
obtenção de colheitas cujo período apresenta preços mais elevados.
Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de estudar o efeito de diferentes
doses de ethephon, aplicado via foliar, antes da poda de produção, no
desfolhamento, na emissão e desenvolvimento das brotações e na duração do
período da poda até a floração da videira 'Niagara Rosada'.
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram realizados em três diferentes vinhedos comerciais de
'Niagara Rosada', implantados sobre o porta-enxerto IAC 572-Jales, no sistema
de latada, com irrigação por microaspersão e espaçamento 2,5 x 2,0m, na região
de Jales, Noroeste do Estado de São Paulo (latitude 20°16' S, longitude 50°33'
W) e altitude média de 483 m (Terra et al., 1998).
Segundo o sistema de classificação de Köeppen, o clima da região é subtropical
úmido, CWa, com inverno seco e ameno e verão quente e chuvoso. A precipitação
pluvial média anual é de 1.280mm, distribuídos principalmente durante os meses
de novembro a março, sendo janeiro o mais chuvoso (média de 265mm) e julho o
mais seco (média de 16mm). A temperatura média anual é 22,3°C, com média das
mínimas de 19,9°C e média das máximas de 29,0°C, e a umidade relativa média é
de 69%, com máxima em março (76%) e mínima em setembro (61%) (Boliani, 1994).
Os tratamentos utilizados foram:1 - Testemunha (sem aplicação de ethephon); 2 -
3L.ha-1; 3 - 6L.ha-1, e 4 - 9L.ha-1 do produto comercial contendo 240g.L-1 de
ethephon.
Nos dias 22-05-2001, 30-05-2001 e 06-06-2001, o produto diluído em água foi
aplicado sobre as plantas por meio de um pulverizador costal até o ponto de
escorrimento (1.000 litros por hectare). As plantas foram submetidas à poda nos
dias 11-06-2001, 18-06-2001 e 25-06-2001, respectivamente, para os experimentos
1; 2 e 3.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro
doses de ethephon e cinco repetições de uma planta por parcela. As avaliações
foram: porcentagem de desfolhamento, realizado através da diferença de folhas
contadas antes da aplicação de ethephon e no momento da poda; número de gemas
brotadas foi avaliado e a quantidade de brotos emitidos nas últimas 5 gemas
apicais dos ramos podados; comprimento e diâmetro das novas brotações, medidos
a 10cm da base no período de floração, e a duração do período da poda até a
plena floração. A porcentagem de desfolhamento foi avaliada somente nos
experimentos 2 e 3.
Os tratos culturais, como adubação, irrigação, quebra de dormência com
cianamida hidrogenada, controle fitossanitário, podas e outros, foram os
convencionais adotados na região.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados de porcentagem de desfolhamento dos experimentos 2 e 3 estão
apresentados na Tabela_01. Após cinco dias da aplicação, as plantas que
receberam o tratamento com ethephon apresentaram amarelecimento generalizado
das folhas e início de queda das mesmas. Após quinze dias, os ramos
apresentavam de 71 a 91% de desfolhamento (Exp. 02) e de 74 a 95% de
desfolhamento (Exp. 03), sendo que as doses 6 e 9 L.ha-1proporcionaram maior
desfolha que a observada na testemunha, mas não diferiram da dose 3 L.ha-1.
Na cultivar Rubi, observou-se o início de queda de folhas no nono dia após a
aplicação de ethephon, o que pode ser atribuído, provavelmente, à diferença de
cultivar. Entretanto, no decorrer de quinze dias da aplicação, as folhas na
região do ramo a ser podado já haviam caído, fato similar ao ocorrido na uva
'Niagara Rosada' (Fracaro & Boliani, 2001).
Trabalhando com a variedade 'Rubi', Fracaro (2000) também obteve valores
pequenos de desfolhamento no tratamento-testemunha (4,41%), enquanto, no
presente trabalho, foram encontrados percentuais acima de 54% de desfolhamento
para a testemunha. Isso se deve ao estádio fenológico da planta, ou seja, ao
envelhecimento natural da folha e, conseqüentemente, queda. O número de folhas
no momento da aplicação de ethephon, em ambos os experimentos, era pequeno, em
torno de 4 a 6 folhas em ramos de 15 gemas (nó), pois os ramos apresentavam-se
bem maduros, com mais de 170 dias da poda de renovação.
No experimento 02, o tratamento com 6L.ha-1 proporcionou o maior desfolhamento,
com 91,70%, comparado com os demais. Houve uma diferença de 40,37%, 21,72% e
1,98% de desfolhamento a mais que os tratamentos- testemunha, 3L.ha-1 e 9 L.ha-
1, respectivamente.
No Experimento 03, comparando-se o tratamento 9L.ha-1 com a testemunha, nota-se
um desfolhamento de 34,21% maior, e de 21,93% e 4,67% quando comparado com os
tratamentos 3 e 6 L.ha-1, respectivamente.
Desfolhamento é um processo natural da videira quando ela entra em dormência.
Com a utilização da técnica, ocorre a aceleração deste momento. As plantas
tratadas com ethephon, mesmo nas maiores doses, não manifestaram nenhuma forma
de anomalia, quando comparadas à testemunha.
Com o desfolhamento provocado pelo ethephon, os ramos da videira localizados
acima do aramado praticamente não apresentavam folhas no momento da poda, fato
que proporcionou melhor visualização dos ramos a serem podados e aumentou o
rendimento da operação.
A desfolha causada pelo uso do ethephon é uma prática que facilita a poda, pois
as folhas necessitam ser retiradas manualmente por um ou dois funcionários, o
que aumenta consideravelmente o tempo gasto para a realização desta operação
(Fracaro, 2000).
O aumento da desfolha possibilitou uma economia de 21,60 horas/homem/hectare
nos custos de mão-de-obra, facilitando a poda e aumentando o rendimento, devido
à eficiência do regulador de crescimento (Fracaro & Boliani, 2001).
Em plantas com bom estado fitossanitário e em bom estado nutricional, Fracaro
(2000) salienta a importância de usar o regulador de crescimento para suportar
as modificações fisiológicas ocorridas nas plantas. Por isto, é importante a
presença de folhas para haver maior absorção do produto, proporcionando
melhores resultados.
Na Tabela_2, observa-se que não houve diferença significativa entre os
tratamentos. No trabalho publicado por Fracaro & Boliani (2001), foi
observado o aumento da brotação com o aumento da concentração de ethephon. Este
fato pode ser atribuído ao pequeno número de folhas na região do ramo a ser
podado no momento da aplicação de ethephon. De acordo com Ben-Tal et al.
(1993), a maior quantidade aplicada de reguladores de crescimento não é
absorvida por outro órgão da planta, mas, sim, pelo tecido atingido. Por isso,
é imprescindível a presença de folhas para haver maior absorção do produto e
queda das folhas, proporcionando melhor brotação.
No período de realização dos experimentos, não foram observadas temperaturas
baixas no momento da brotação, o que pode ter facilitado a brotação nos
tratamentos sem aplicação do produto (Tabela_6).
Nos experimentos, o comprimento médio dos ramos variou de 23,6 até 82,7 cm, não
se observando diferenças estatísticas entre os tratamentos (Tabela_03).
As proximidades dos valores de comprimento médio dos mesmos, obtidos nos
experimentos 1 e 2, devem ser atribuídas às temperaturas mais baixas do início
da brotação até a florada, enquanto, no experimento 3, as temperaturas mais
elevadas, no mesmo período, favoreceram um maior crescimento dos ramos.
Na Tabela_4, nos três experimentos, nota-se o efeito da aplicação de ethephon
no diâmetro do ramo da videira e não se observaram diferenças significativas
entre nenhum tratamento.
Nos três experimentos, observam-se as variações do comprimento e do diâmetro
(Tabela_3 e 4). No experimento 3, podem-se atribuir os maiores valores
encontrados às temperaturas mais elevadas, ocorridas no período de brotação
(Tabela_6). Além do efeito da temperatura, percebe-se uma tendência em aumentar
o comprimento e o diâmetro do ramo com o aumento da dose de ethephon.
Para todos os tratamentos (Tabela_5), não houve diferença estatística
significativa em termos de adiantamento ou atraso do florescimento.
No presente trabalho, foi observado que o ethephon promoveu melhor
desfolhamento na videira 'Niagara Rosada', utilizando-se de 6 a 9L.ha-1, tendo
o início da queda de folhas ocorrido a partir do quinto dia após a aplicação.
Provavelmente, o uso do ethephon como agente capaz de propiciar melhoria na
emissão e desenvolvimento das brotações deve ser aplicado sobre plantas com
maior enfolhamento, principalmente com folhas na base dos ramos (6 a 8), onde
será realizada a poda de produção.
Nas condições em que foram desenvolvidos os experimentos, com poucas folhas no
momento da aplicação de ethephon e temperaturas não prejudiciais ao
desenvolvimento normal da videira, os efeitos do regulador não foram muito
expressivos como os obtidos por Fracaro (2000).
É importante salientar que, da aplicação do ethephon até o início da emissão da
brotação, decorre um período de cerca de 30 dias. Isso praticamente inviabiliza
qualquer previsão sobre a ocorrência de baixas temperaturas que possam
prejudicar o desenvolvimento das brotações, o que reforça ainda mais a
necessidade de viabilização do uso do ethephon, cuja aplicação não causou
nenhum prejuízo à emissão e ao desenvolvimento das plantas de videira.
CONCLUSÕES
Em vinhedos com baixo índice de enfolhamento e com ocorrência de temperaturas
amenas na época de brotação, a aplicação de ethephon em cv. Niagara Rosada,
antes da poda, permitiu as seguintes conclusões:
1) O ethephon, nas doses de 6 e 9 L.ha-1, promoveu o desfolhamento das plantas.
2) Ocorreu uma tendência de aumento no número de gemas brotadas, no comprimento
e diâmetro dos ramos com a utilização de ethephon.
3) O ethephon não causou danos à videira nem alterou a duração do período da
poda até a floração.