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BrBRCVAg0100-29452004000200013

BrBRCVAg0100-29452004000200013

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0100-2945
ano2004
Issue0002
Article number00013

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Biologia e tabela de vida de fertilidade de Deuterollyta majuscula (Lep.: Pyralidae) em abacateiro (Persea americana MILL.) DEFESA FITOSSANITÁRIA

INTRODUÇÃO O abacate é um fruto tropical rico em proteínas, vitaminas, glicídios e óleo.

Além das características alimentícias, é utilizado na indústria farmacêutica e de cosméticos (Koller, 1984). Apesar disso, a produção mundial e brasileira se mantém estável (2 milhões e 300 mil toneladas anuais, respectivamente), devido a uma série de problemas de ordem comercial e, nos últimos anos, fitossanitários.

uma década, o abacateiro era considerado uma cultura atacada por poucas pragas (Teixeira, 1992), entretanto, nos últimos anos, com o aumento da intensidade de ataque de certos insetos e o aparecimento de outros, houve a necessidade de intensificar as aplicações de inseticidas e, em diversas regiões do Brasil, ocorreu o abandono do cultivo devido à severidade do ataque da praga. Entre os principais lepidópteros-praga, destaca-se a broca-do-fruto, Stenoma catenifer (Walsingham), considerada praga-chave, sendo um dos fatores que limita o aumento da área de cultivo e de produção desta frutífera (Hohmann et al., 2000). Além desta praga, as lagartas desfolhadoras, Pterourus scamander (Boisduval) e Saurita cassandra (Linné) são relatadas freqüentemente e causam prejuízos consideráveis em diversas regiões (Teixeira, 1992; Gallo et al., 2002). No Estado do Espírito Santo, ocorre ataque de Nipteria panacea Tierry - Mieg (Andrade, 2000) e no sul de Minas Gerais, de Anadasmus vacans (Meyrick), causando desfolhas (Becker, 1977). Na região de São Tomás de Aquino-MG, tem sido observada, nos últimos anos (2001-2003), a espécie Deuterollyta majuscula (Herrich-Schaffer), provocando danos aos frutos e folhas.

Devido à falta de informações sobre a biologia e descrições dos danos de D.

majuscula, desenvolveu-se a presente pesquisa.

MATERIAL E MÉTODOS Os estudos foram realizados no Laboratório de Biologia de Insetos do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da ESALQ/USP, sob condições controladas de temperatura (25±±2ºC), umidade relativa (70±±10%) e fotofase (14 horas), sendo as lagartas utilizadas na biologia provenientes de plantas de abacate do município de São Tomás de Aquino-MG. Os insetos coletados foram identificados como Deuterollyta majuscula (Herrich-Schaffer) pelo Dr.

Vitor Osmar Becker.

No laboratório, as lagartas foram colocadas em recipientes de material plástico (30 cm de comprimento x 10 cm de largura x 6 cm de altura) e alimentadas com folhas de abacateiro da cultivar Margarida. As pupas foram individualizadas e colocadas no interior de placas de acrílico, contendo algodão embebido em água, para manter a umidade. Após a emergência, foram individualizados casais em gaiolas de PVC (10 cm de altura x 10 cm de diâmetro). A parte interna das gaiolas foi revestida com papel toalha e os adultos alimentados com uma solução de mel a 10%, fornecido por capilaridade em pequenos recipientes de vidro, por meio de rolo dental. O papel que revestia a gaiola internamente, servindo de local de postura, era retirado diariamente e o alimento trocado de dois em dois dias. Para o estudo da biologia, realizado com 150 lagartas, foram avaliados os seguinte parâmetros biológicos: duração e viabilidade das fases de ovo ( postura), de lagarta, de pré-pupa e de pupa, e peso de pupas com 24 h (machos e fêmeas); para adultos (20 casais), observaram-se: longevidade de machos e fêmeas, fecundidade, duração do período de pré-oviposição e oviposição. A partir destes dados, elaborou-se uma tabela de fertilidade, visando a quantificar a capacidade de crescimento de D. majuscula em cada geração.

Determinaram-se também o número e a duração dos instares, realizando-se a medição diária da largura da cápsula cefálica de 20 lagartas, por meio de uma ocular micrométrica Wild, modelo MM 5235, acoplada a um microscópio estereoscópico. Para a determinação do número de instares, utilizou-se a curva multimodal de freqüência de medidas de cápsula cefálica, sendo as hipóteses formuladas e testadas no modelo linearizado da regra de Dyar, através do software MOBAE (Modelos Bioestatísticos para a Entomologia) (Haddad et al., 1995). Os dados de peso de pupas foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Biologia. Em campo, os ovos de Deuterollyta majuscula (Herrich-Schaffer) são colocados em grupos, de forma imbricada, semelhante a "escamas de peixe" nas folhas do abacateiro e, no laboratório, as posturas são realizadas isoladamente nas depressões do papel toalha. Os ovos possuem forma elíptica, córion pouco resistente e coloração amarela (Figura_2A), sendo que, com o desenvolvimento, vão adquirindo tonalidade escura. No presente trabalho, foi observada uma duração do período embrionário de 6,0 dias, com viabilidade de 67,9% (Tabela 1).

Ao eclodirem, as lagartas possuem o hábito de se agregarem e construírem uma proteção com fios de seda unindo as folhas (Figura_2B). Com o desenvolvimento, tornam-se solitárias e são ágeis, de tal forma que, ao serem tocadas, se deixam cair no chão. A duração e a viabilidade desta fase foram de 19,7 dias e 87,0%, respectivamente (Tabela_1). O número de ínstares foi de 5 (Figura_1), com duração de 4,5 ± 0,19; 2,4 ± 0,21; 3,5 ± 0,21; 4,0 ± 0,18 e 5,5 ± 0,15 dias para o , , , e instares, obedecendo à regra de Dyar (Dyar, 1890), ou seja, a largura das cápsulas cefálicas aumentou a cada instar, numa razão de 1,56 (a regra prevê uma variação de 1,1 a 1,9, com média de 1,4).

O início da fase de pré-pupa foi considerado quando as lagartas pararam de se alimentar e construíram uma proteção de seda entre o resto de alimento (folhas) e os excrementos. A duração da fase de pré-pupa foi, em média, de 2,1 dias e a viabilidade de 100% (Tabela_1).

A fase de pupa (Figura_2D) apresentou uma duração média de 11,8 dias, com viabilidade de 93,0% (Tabela_1). O peso de pupas foi de 0,0966 ± 0,0019 e 0,0901 ± 0,0029 mg, para fêmeas e machos, respectivamente. Apesar de o peso das fêmeas ser numericamente maior do que o dos machos, não foi observada diferença estatística significativa ao nível de 5% de probabilidade entre sexos, embora em lepidópteros, normalmente, as fêmeas sejam mais pesadas do que os machos (Slansky & Scriber, 1985).

A duração do ciclo biológico (ovo-adulto) foi de 39,6 dias e a viabilidade total de 55,0% (Tabela_1).

Os adultos possuem 17,5 ± 0,94 mm de envergadura, antenas filiformes e as asas anteriores de coloração esverdeada. Os palpos maxilares dos machos são pilosos e bem desenvolvidos (Figura_2E), enquanto nas fêmeas não é possível visualizar nitidamente tal característica (Figura_2F). A cópula e a postura são realizadas durante a noite, sendo que, durante o dia, os adultos permanecem em repouso, mesmo quando tocados. O período de pré-oviposição e de oviposição foi de 3,1 ± 0,09 e 7,6 ± 0,64 dias, respectivamente. As fêmeas colocaram em média, 201 ± 28,25 ovos. A longevidade de machos e fêmeas variou de 15,3 ± 0,95 e 13,9 ± 0,65 dias, respectivamente, sendo a razão sexual de 0,56.

Danos. As lagartas ocorrem no campo, geralmente, durante a época chuvosa (outubro/março), causando danos principalmente pelo consumo de folhas novas. Em determinadas situações, quando as folhas estão próximas do fruto, podem alimentar-se do exocarpo (Figura_2C), deixando-o com aspecto indesejável e diminuindo o valor comercial do fruto. Segundo Becker, V. (informação pessoal), especialista na taxonomia deste grupo, esta espécie alimenta-se de plantas da família Lauracea e, dentre elas, o abacateiro, que possivelmente não é o hospedeiro natural, mas que, com o desmatamento e a eliminação das espécies nativas, passou a se alimentar de culturas de interesse comercial.

Tabela de vida de fertilidade. Determinou-se, pela taxa líquida de reprodução (R0), que essa espécie tem capacidade de aumento de 64 vezes a cada geração, em laboratório, caracterizando uma praga com um elevado potencial biótico. Também foi determinado que a duração média da geração (T) de D. majuscula foi de 46 dias, isto é, o tempo que decorre do nascimento dos pais ao nascimento dos seus descendentes. Com relação à razão finita de aumento (ll), esta foi de 1,095 (Tabela_2). Estes resultados indicam que, decorridos 46 dias (duração média da geração), pode-se esperar cerca de 64 fêmeas resultantes de cada fêmea em fase de reprodução, demonstrando, assim, o grande potencial de reprodução de D.

majuscula nas condições laboratoriais testadas. Entretanto, no campo, o inseto deve sofrer adversidade em função de fatores bióticos (parasitóides, predadores e patógenos) e abióticos (clima, alimento, etc.), reduzindo-se, desta maneira, a sua descendência. Neste caso, para avaliação destes fatores ecológicos, seriam necessários estudos de tabela de vida ecológica, como foi feita para Diatraea saccharalis (Fabr.) em cana-de-açúcar (Botelho, 1985), sugerindo-se pesquisas nesta direção, bem como estudos que identifiquem as razões do aparecimento deste inseto como praga. Uma das razões para tal aparecimento poderia estar ligada à aplicação de piretróides na área, com o objetivo de controlar Stenoma catenifer (Walsingham), destruindo a fauna benéfica e causando a explosão de pragas secundárias, no caso D. majuscula, pois este inseto nunca tinha sido referido como tal, em abacateiros no Brasil (Vitor Becker, informação pessoal).


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