COMPOSIÇÃO E DIVERSIDADE NO CERRADO DO LESTE DE MATO GROSSO DO SUL, BRASIL
1. INTRODUÇÃO
Cerrado é o termo comumente utilizado para caracterizar as savanas que ocupam o
Planalto Central do Brasil e outras regiões no país, mas se estendem pelo
Paraguai e Bolívia (RATTER_et_al.,_2003; FIASCHI;_PIRANI,_2009). Trata-se de um
complexo vegetacional com fisionomias que vão desde formações campestres até
florestais (VELOSO, 1992), cuja composição e estrutura da vegetação são
determinadas por fatores como solo, presença de fogo e o histórico de
distúrbios (COUTINHO,_1978; RATTER_et_al.,_1997; RIZZINI,_1997). Depois da
Floresta Amazônica, o Cerrado é o maior bioma brasileiro, cobrindo
originalmente mais de 2 milhões de km2. Contudo, grande parte desse bioma já
foi convertida em áreas de pastagem e agricultura, de modo que poucos
remanescentes estão sob proteção em Unidades de Conservação (HARRIS_et_al.,
2005; PAGOTTO;_SOUZA,_2006). Considerado um dos hotspots mundiais, apenas 21%
da extensão original do Cerrado resta inalterada, ameaçando sua enorme
diversidade e seus altos índices de endemismo (CASTRO_et_al.,_1999).
Uma das características mais marcantes do Cerrado é a baixa similaridade
florística ao longo de sua extensão (RATTER_et_al.,_1997; CASTRO_et_al.,_1999;
BRIDGEWATER_et_al.,_2004). Entre as espécies lenhosas, por exemplo, Ratter_et
al._(2003) citaram mais de 65% das espécies do Cerrado como muito raras, ou
seja, possuem frequência d" 2,5%. Entre as espécies não lenhosas, apesar de o
conhecimento taxonômico e biogeográfico ser bastante limitado (CASTRO_et_al.,
1999), há heterogeneidade florística semelhante (ROSSATO_et_al.,_2008). Essa
heterogeneidade pode ser uma expressão das diferentes sete províncias
florísticas do Cerrado (RATTER_et_al.,_2006). Porém, mesmo entre diferentes
fitofisionomias de uma mesma área de Cerrado, há grande variação na composição
das espécies (VELOSO,_1992; RIZZINI,_1997; MARIMONJÚNIOR;_HARIDASAN,_2005).
Adicionalmente, estudos realizados no Cerrado têm revelado que diferentes
localidades são geralmente distintas em respeito à identidade de suas espécies
mais importantes (FELFILI;SILVA-JÚNIOR,_1993; SAPORETTI-JÚNIOR_et_al.,_2003;
BALDUINO_et_al.,_2005; NERI_et_al.,_2007). Tal característica se expressa mesmo
entre áreas relativamente próximas umas das outras (ANDRADE_et_al.,_2002;
FONSECA;SILVA-JÚNIOR,_2004).
Apesar da alta riqueza estimada para o Cerrado (total de 3.000 a 7.000 espécies
de angiospermas - CASTRO_et_al.,_1999), o número de espécies ocorrentes em
certa localidade é bem menor. Entre as espécies arbustivas e arbóreas, este
número raramente excede 120 espécies (FELFILI;_SILVA-JÚNIOR,_1993; FELFILI_et
al.,_2002). Ratter_et_al._(2003), usando metodologia padronizada, encontraram
valores médios de riqueza entre 32 e 79 espécies lenhosas por sítio amostrado,
com áreas nos Estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso, representando aqueles
com maiores médias (79, 72 e 65 espécies, respectivamente). Para o Estado de
Mato Grosso do Sul, onde este estudo foi realizado, o valor médio encontrado
pelos autores foi de 58 espécies.
Apesar do crescente número de estudos, existem várias lacunas de conhecimento
no Cerrado brasileiro. O Mato Grosso do Sul é um dos Estados brasileiros com
menor volume de dados disponíveis (RATTER_et_al.,_2003), especialmente na sua
porção Leste (extrapantanal), onde existem pouquíssimos estudos (e.g. RATTER_et
al.,_2001; PAGOTTO;_SOUZA,_2006). Esta região do Estado corresponde ao chamado
Distrito Florestal de Mato Grosso do Sul, que, durante a década de 1970 (auge
da política de incentivo florestal brasileira), teve extensas áreas de Cerrado
convertidas em plantios florestais e pastagens. Os Municípios de Três Lagoas e
Brasilândia, por exemplo, sofreram reduções de 40 e 74% da vegetação original,
respectivamente (MERCADANTE,_1994). Assim, entre 1965 e 1992 o Cerrado nessa
região do país sofreu espantosa redução, de modo que fitofisionomias como o
Cerrado sensu stricto e o Cerradão foram praticamente extintas. Adicionalmente,
o atual estado de conservação dos poucos remanescentes é bastante precário
(PAGOTTO;_SOUZA,_2006). Tais aspectos tornam a região particularmente
vulnerável (CASTRO_et_al.,_1999) e a realização de estudos científicos,
imprescindível.
Nesse contexto, este estudo teve como objetivo descrever a composição e riqueza
da flora vascular em fragmentos de Cerrado nos Municípios de Três Lagoas,
Brasilândia e Selvíria, todos no Leste de Mato Grosso do Sul. De maneira
complementar, parcelas foram instaladas em fragmentos de Cerrado sensu stricto,
visando comparar a composição, riqueza e diversidades entre esses municípios.
Assim, além da elaboração de uma lista de espécies e da descrição da riqueza e
diversidade dos fragmentos de Cerrado sensu stricto da região, foram
considerados os seguintes aspectos: a composição florística dos fragmentos no
Leste de Mato Grosso do Sul é comparável à encontrada nas demais regiões do
Cerrado brasileiro? E a riqueza de espécies arbustivas e arbóreas em Cerrado
sensu stricto? A alta dissimilaridade florística entre áreas de Cerrado também
se expressa na escala espacial estudada?
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Área de estudo
A área de estudo pertence à Bacia do Alto Rio Paraná, Municípios de Três
Lagoas, Brasilândia e Selvíria, Leste de Mato Grosso do Sul. O clima é Tropical
Quente Úmido, e os solos têm baixa disponibilidade de nutrientes e altos teores
de alumínio (IBGE,_1997). Predominam os Latossolos Vermelho-Escuros
Distróficos, que se desenvolvem sobre a Formação Marília, entre as cotas
altitudinais de 270 e 400 m (MERCADANTE,_1994). Dados pluviométricos de um
município vizinho (Castilho, SP) indicaram precipitação anual média de 1.240
mm, com estação seca entre junho e agosto. Segundo Ratter_et_al._(1997; 2003),
a vegetação pertence à região florística Centro-Oeste do Cerrado, estando
relativamente próxima ao contato com as florestas estacionais do Estado de São
Paulo. Apaisagem local caracteriza-se por fragmentos pequenos e geralmente
alterados em uma paisagem dominada pela agropecuária e plantios de eucalipto
(PAGOTTO;_SOUZA,_2006).
O estudo foi conduzido em fazendas de produção de eucalipto que abrigam alguns
dos últimos remanescentes de Cerrado da região. Foram amostrados fragmentos em
três hortos de produção diferentes: (i) Barra do Moeda (20º58'40" S; 51º46'35"
W - altitude aproximada de 300 m); (ii) Rio Verde (20º55'35" S; 52º15'57" W -
altitude aproximada de 350 m); e (iii) Matão (20º26'04" S; 51º48'06" W -
altitude aproximada de 400 m). Esses hortos ficam próximos à fronteira com o
Estado de São Paulo e estão separados entre si por uma distância de
aproximadamente 60 km, exceto entre Moeda e Rio Verde, cuja distância em linha
reta é de 45 km. Os fragmentos foram previamente selecionados de acordo com sua
representatividade na área estudada e seu estado de conservação.
2.2. Levantamento dos dados
O levantamento das espécies vasculares foi realizado de maneira expedita, ao
longo de trilhas, com atenção especial à flora arbustivo-arbórea; contudo
ervas, subarbustos e lianas também foram amostrados. Em cada trilha, o
levantamento foi realizado por três pessoas até que registros novos não fossem
feitos em intervalos menores que 10 min. Foram incluídas apenas as seguintes
fitofisionomias: Cerradão, Cerrado sensu stricto, campo sujo, buritizal e campo
úmido (nomenclatura adaptada de VELOSO,_1992), ou seja, não foram consideradas
as formações florestais ribeirinhas, que mais se assemelham às formações
florestais estacionais ocorrentes no Estado de São Paulo. No total foram
amostrados sete fragmentos de Cerrado sensu stricto, quatro de campos sujos,
dois de Cerrados sensu stricto em transição para Cerradão e um fragmento de
Cerradão, de campo úmido e de buritizal. Nas áreas de Cerrado sensu stricto, um
levantamento por parcelas (detalhes abaixo) foi feito de maneira complementar
ao estudo florístico, visando caracterizar, de maneira mais completa, a flora
local. Nas áreas cuja identificação em campo não foi possível, material estéril
ou reprodutivo foi coletado para consulta à literatura taxonômica,
identificação em herbário e consulta a especialistas, quando necessário. A
classificação botânica adotada seguiu o APG II (2003). O material foi coletado
sob a série de J.G. Rando e depositado nos herbários CTES (IBONE-Argentina) e
ESA (ESALQ/USP).
Visando estimar a riqueza e diversidade de espécies arbustivas e arbóreas, foi
realizado um estudo complementar ao levantamento florístico geral. Este estudo
foi realizado apenas em fragmentos de Cerrado sensu stricto. Em função da baixa
disponibilidade de fragmentos bem conservados dessa fitofisionomia, um dos
fragmentos amostrados foi de Cerrado sensu stricto em transição para Cerradão.
Parcelas de 10×3 m foram instaladas perpendicularmente e a uma distância mínima
de 10 m dos limites do fragmento (100 m de distância entre unidades amostrais).
Foram amostrados 10 pontos em cada horto, num total de 30 unidades amostrais.
Para cada indivíduo, foram anotados a espécie e o diâmetro do caule à altura do
solo (DAS). Indivíduos mortos não foram avaliados e indivíduos vivos, porém sem
folhas, foram considerados como uma mesma morfoespécie, mas foram excluídos das
análises.
2.3.Análise dos dados
Para testar diferenças de composição de espécies entre os hortos estudados, foi
aplicada a análise Multi-Response Permutation Procedures - MRPP (distância de
Sørensen e opção de Weighting recomendada pelo programa) e a análise de
espécies indicadoras ISA; teste de Monte Carlo executado com 10.000
randomizações; á = 10%), que se baseia na abundância e frequência para
identificar espécies com ocorrência preferencial em algum tipo de ambiente, no
caso os hortos estudados. Ambas foram realizadas através do programa PcOrd
versão 4.10 (McCUNE;_MEFFORD,_1999) e apenas para os dados coletados no
interior das parcelas estudadas. Para as análises sociológicas, foram
utilizadas as fórmulas descritas em Mueller-Dombois_e_Ellenberg_(1974). Os
valores de densidade e área basal absoluta foram padronizados antes das
análises e de acordo com a área amostral de classe de tamanho avaliada. A área
basal foi obtida através da fórmula da área do círculo (A = ðr2), assumindo os
caules mensurados como circulares. Para indivíduos com vários fustes, foram
somadas as áreas basais calculadas para cada fuste individualmente.
Foi estimado o número máximo de espécies por horto e para os três hortos
juntos, utilizando o estimador não paramétrico Jackknife de primeira e de
segunda ordem, através do programa EstimateS versão 7.5 e 5.000 randomizações
(COLWELL,_2005). A riqueza de espécies foi comparada por um número comum de
indivíduos pela curva de rarefação (GOTELLI;_COLWELL,_2001). Além da riqueza, a
diversidade de Shannon (H') e a dominância de Berger-Parker (d) foram
calculadas para cada horto. Essas análises (rarefação, diversidade e
dominância) foram executadas com 10.000 randomizações pelo programa EcoSim
versão 7 (GOTELLI;_ENTSMINGER,_2001). A similaridade florística foi calculada
através do índice de Chao_et_al._(2005), que corrige a similaridade entre
amostras incompletas, também executada pelo programa EstimateS e 5.000
randomizações. Todas as comparações foram feitas baseadas nos Intervalos de
Confiança (α = 5%), gerados pelos próprios programas.
3. RESULTADOS
3.1. Florística geral
Foram realizados 699 registros, que totalizaram 220 espécies (Tabela_1),
pertencentes a 150 gêneros e 65 famílias botânicas (total de espécies por
horto: Moeda: 139; Rio Verde: 113; e Matão: 101 espécies). As 10 famílias mais
ricas em número de espécies foram: Fabaceae (38 espécies), Myrtaceae (18),
Bignoniaceae (12), Malpighiaceae e Rubiaceae (8), Annonaceae (7) e Asteraceae,
Erythroxylaceae, Euphorbiaceae e Malvaceae (6). Juntas, essas famílias
abrangeram 53% de todas as espécies encontradas. Essa ordem foi basicamente a
mesma para os hortos individualmente. Os gêneros mais ricos (mais de quatro
espécies) foram: Eugenia, Erythroxylum, Tabebuia, Bauhinia, Byrsonima, Myrcia e
Ouratea (78% dos gêneros estiveram representados por apenas uma espécie).
Considerando apenas espécies arbustivas e arbóreas nos fragmentos de Cerrado
sensu stricto, foi encontradas 158 espécies, distribuídas, da seguinte forma
entre hortos: Moeda: 101; Rio Verde: 100; e Matão: 79 espécies.
Tabela 1 Espécies encontradas e sua ocorrência (número de registros) nos
fragmentos do Cerrado no Leste de Mato Grosso do Sul, Brasil. Hábito: Arv:
árvore; Arvt: arvoreta; Arb: arbusto; Sarb: subarbusto; Herb: herbáceo; Lian:
lianescente (inclui arbustos escandentes); e Par: parasita. Fitofisionomia: 1 =
Buritizal; 2 = Campo sujo; 3 = Campo úmido; 4 = Cerradão; 5 = Cerrado sensu
stricto; e 6 = Cerrado sensu stricto transição para Cerradão. Hortos: I =
Moeda; II = Rio Verde; e III = Matão. Valores entre parênteses referentes ao
número do coletor da série de J.G. Rando & R.A.F. Lima. Legenda: * =
espécies encontradas durante o levantamento sociológico; † e § = espécies muito
comuns (frequência > 50%) e espécies indicadoras de solos mesotróficos,
respectivamente, segundo Ratter et al. (2003)Table 1 — Species list and its
frequencies (number of records) in the Cerrado fragments in Eastern Mato Grosso
do Sul, Brazil. Life form: Arv: tree; Arvt: treelet; Arb: shrub; Sarb:
subshrub; Herb: herb; Lian: liana (scandentshrubs included); Par: parasites.
Cerrado physiognomy: 1 = ‘Buritizal’; 2 = ‘Campo sujo’; 3 = ‘Campo úmido’; 4 =
‘Cerradão’; 5 = ‘Cerrado sensu stricto’; 6 = ‘Cerrado sensu stricto’ transition
to ‘Cerradão’. Sites: I = Moeda; II = Rio Verde; e III = Matão. Inparentheses,
the collector's numbers of J.G. Rando & R.A.F. Lima. Legends: * = species
sampled during the phytosociological survey; † and § = very common (frequency >
50%) and mesotrophicsoil indicator species, respectively, according to Ratter
et al. (2003)
Família, espécie e autor (no do coletor) Háb.Fitofisionomia Horto
1 2 3 4 5 6 I II III
ANACARDIACEAE
Astronium fraxinifolium Schott. ex Spreng (302) *†Arv 2 1 1
§
Schinus molleoides Vell. * (= Lithrea molleoides Arvt 1 1
(Vell.) Engl.)
Tapirira guianensis Aubl. * Arv 1 4 1 2 1 3
ANNONACEAE
Annona coriacea Mart. *† Arvt 2 7 2 3 4 4
Annona crassiflora Mart. Arvt 1 1
Annona dioica A.St.-Hil. (304) * Arvt 1 1 2
Duguetia furfuracea (A. St.-Hil) Saff. * Arvt 2 4 1 1 2 4
Xylopia aromatica (Lam.) Mart. *† Arvt 1 1 3 5 5 4
0
Xylopia brasiliensis Spreng. Arvt 1 2 3
Xylopia emarginata Mart. (305) Arvt 1 1 1 1
APOCYNACEAE
Aspidosperma cf. discolor A. DC. (480) Arv 1 1
Aspidosperma cf. subincanum Mart. (306) § Arv 1 1
Aspidosperma tomentosum Mart. (482) *† Arvt 1 1 1 1
Hancornia speciosa B.A. Gomes (307) *† Arv 1 1
AQUIFOLIACEAE
Ilex affinis Gardner (309) Arvt 1 1
ARALIACEAE
Dendropanax cuneatus (DC.) Dcne. et Planch. (311) Arv 1 1
Schefflera vinosa (Cham. & Schltdl.) Frodin Arv 1 2 1 1 1
& Fiaschi (310) *
ARECACEAE
Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd.ex Mart.§ Arv 1 1 1 2 1
Attalea phalerata Mart. ex Spreng. § Arvt 1 2 3
Butia paraguariensis (Barb. Rodr.) L.H. Bayley Arvt 1 1
Mauritia flexuosa L. f. Arv 1 1 2 1 3
Syagrus flexuosa (Mart.) Becc. * Arvt 4 1 2 1 2
ARISTOLOCHIACEAE
Aristolochia esperanzae Kuntze (314) Lian 2 1 1
Aristolochia sp. Lian 1 1
ASTERACEAE
Achyrocline satureioides (Lam.) DC. Arvt 1 1
Baccharis dracunculifolia DC. (315) Arb 1 2 3
Bidens gardneri Backer Arb 1 1
Eupatorium squalidum DC. (316) * Arb 1 1
Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera * Arv 1 1
Vernonia rubriramea Mart. ex DC. (317, 318) * Arb 5 2 2 1 4
BALANOPHORACEAE
Langsdorffia hypogaea Mart. (321) Par 1 1
BIGNONIACEAE
Anemopaegma arvense (Vell.) Stellfeld ex de Souza Lian 1 1
(324)
Anemopaegma glaucum Mart. ex DC. (325) Lian 1 1
Arrabidaea brachypoda (DC.) Bureau (322) Lian 1 1
Arrabidaea sp. (323) Lian 1 1
Jacaranda caroba (Vell.) A. DC. (328, 330) * Arb 1 1 2 4
Pithecoctenium crucigerum (L.) A.H. Gentry Lian 1 1
Tabebuia caraiba (Mart.) Bureau (326) * Arv 1 5 4 2
Tabebuia ochracea (Cham.) Standl. *† Arv 1 7 1 2 5
Tabebuia roseoalba (Rid.) Sandw. (119, 329) * Arv 1 1 1 1
Tabebuia sp.1 (75) Arv 2 2
Tabebuia sp.2 Arv 1 1
Tabebuia vellosoii Toledo (327) Arv 1 1
BIXACEAE
Cochlospermum regium (Schrank) Pilger (335) Sarb 1 4 1 1 3
BROMELIACEAE
Bromelia balansae Mez Herb 1 1
BURSERACEAE
Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand (125, 331, Arvt 1 1 1 7 2 4 2 6
332) *
CACTACEAE
Cereus peruvianus Mart. * Arb 1 1
CANNABACEAE
Celtis cf. iguanae (Jacq.) Sarg. Arvt 1 1
Trema micrantha (L.) Blume § Arvt 1 1
CARYOCARACEAE
Caryocar brasiliense Cambess. (20) *† Arv 2 9 2 4 3 6
CELASTRACEAE
Hippocratea volubilis L. (333) Lian 1 1
Plenckia populnea Reissek (334) Arv 1 3 1 3
CHRYSOBALANACEAE
Hirtella gracilipes (Hook.) Prance (342) * Sarb 1 1 2
Licania humilis Cham. & Schltdl. Arv 1 1
CLUSIACEAE
Calophyllum brasiliense Cambess. Arv 1 1 1 1
Kielmeyera variabilis Mart. Arvt 1 1 1 1
COMBRETACEAE
Buchenavia tomentosa Eichler (159, 338) * Arv 1 2 1 2
Terminalia argentea Mart. (337) *§ Arv 1 2 1 3 1
CONNARACEAE
Connarus suberosus Planch. (430) *† Arv 10 2 2 5 5
Rourea induta Planch. (482) Arv 1 1
CONVOLVULACEAE
Cuscuta racemosa Mart.(538) Lian 1 1
COSTACEAE
Costus spiralis (Jacq.) Roscoe Herb 1 1
DILLENIACEAE
Curatella americana L. (341)f Arv 1 1 1 1
Davilla elliptica A.St.-Hil. (340) *† Arb 1 3 1 1 1 3
Doliocarpus dentatus (Aubl.) Standl. Lian 1 1
EBENACEAE
Diospyros brasiliensis Mart. (344) * Arvt 1 1
Diospyros hispida DC. (343) *† Arvt 3 1 4
ERIOCAULACEAE
Paepalanthus cf. lamarckii Kunth (361) Herb 1 1
Paepalanthus sp. (359) Herb 1 1
Syngonanthus gracilis (Bong.) Ruhland (362) Herb 1 1
Syngonanthus helminthorrhizus (Mart.) Ruhland (360) Herb 1 1
ERYTHROXYLACEAE
Erythroxylum cf. campestre A. St.-Hil. (356) * Arb 1 1
Erythroxylum cf. daphnites Mart. (355) * Arb 1 6 2 1 4
Erythroxylum cuneifolium (Mart.) O. E. Schulz (354) Arb 1 1 1 1
Erythroxylum suberosum A. St.-Hil. (353, 357, 358) Arb 1 2 3 5 1
*†
Erythroxylum tortuosum Mart. * Arb 1 6 1 3 5
EUPHORBIACEAE
Actinostemon communis (Müll. Arg.) Pax (345, 346) Arb 1 1
Alchornea glandulosa Poepp. Arv 1 1
Croton cf. floribundus Spreng. (349) Arv 1 1
Mabea fistulifera Mart. (351, 352) * Arvt 1 2 3
Maprounea guianensis Aubl. (350) * Arv 1 1 1 1 4
Sebastiania sp. (348) Herb 1 1
FABACEAE/CAESALPINIOIDEAE
Bauhinia cf. bauhinioides (Mart.) J.F. Macbr. (169) Arb 1 1
Bauhinia holophylla (Bong.) Steud. (432) * Arb 2 3 1 4
Bauhinia longifolia D. Dietr. (431) * Arvt 2 1 1 3 1
Bauhinia rufa (Bong.) Steud. (81) * Arvt 1 1 7 1 1 3 6
Bauhinia sp. * Arvt 1 1
Chamaecrista desvauxii (Collad.) Killip (427) Herb 1 1
Chamaecrista flexuosa (L.) Greene (426) Herb 1 1
Chamaecrista ramosa (Vogel) H.S. Irwin & Herb 1 1
Barneby
Copaifera langsdorffii Desf. (416, 417) * Arv 1 1 9 2 3 5 5
Dimorphandra mollis Benth. *† Arv 1 2 2 3 2
Diptychandra aurantiaca Tul. (408) Arv 5 1 1 2 3
Hymenaea courbaril L. Arv 1 2 2 1
Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne (15) *† Arv 1 6 2 2 4 3
Peltophorum dubium (Spreng.) Taub. (421) Arv 1 1
Senna rugosa (G. Don) H.S. Irwin & Barneby Arb 1 4 2 1 3 3
(413)
Senna velutina (Vogel) H.S. Irwin & Barneby Arb 1 1 1 1 2 2
(429)
FABACEAE/FABOIDEAE
Acosmium subelegans (Mohlenbr.) Yakovlev (411) * Arv 2 2 1 2 1
Andira cujabensis Benth. (540) * Arv 4 1 1 4
Bowdichia virgilioides Kunth (415)^ Arv 2 2 1 3
Camptosema ellipticum (Desv.) Burkart (428) Lian 2 1 1
Dioclea glabra Mart. Lian 1 1
Dipteryx alata Vogel. § Arv 1 2 1 2
Machaerium aculeatum Raddi Arv 1 1
Machaerium acutifolium Vogel *† Arv 1 3 2 3 3
Machaerium opacum Vogel (423) * Arv 3 3
Ormosia arborea (Vell.) Harms Arv 1 1
Platypodium elegans Vogel (418) § Arv 1 1 1 2 3 2
Pterodon pubescens (Benth.) Benth. (422) * Arv 2 3 1 2 2
Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke (407) *† Arv 2 2
FABACEAE/MIMOSOIDEAE
Acacia polyphylla DC. Arv 1 1
Albizia hasslerii (Chodat) Burkart § Arv 1 1
Anadenanthera falcata (Benth.) Spreng. (414) * Arv 1 1 3 3 2
Enterolobium gummiferum (Mart.) J.F. Macbr. (409) Arv 2 2
Mimosa caesalpiniifolia Benth. * Arvt 3 3
Mimosa hebecarpa Benth. (425) * Arvt 1 1 1 1
Mimosa sp. (424) Nc 1 1
Plathymenia reticulata Benth. (24, 410) *† Arv 3 1 1 1 2
Stryphnodendron polyphyllum Mart. (412) * Arv 2 4 1 2 1 4
GENTIANACEAE
Schultesia guianensis (Aubl.) Malme Herb 2 2
LAMIACEAE
Aegiphila lhotzkiana Cham. * Arvt 1 1
LAURACEAE
Aiouea trinervis Meisn. (405) * Arb 1 3 1 2 3
Nectandra cuspidata Nees & Mart. (366, 402) Arv 2 2
Ocotea corymbosa (Meisn.) Mez (367) * Arv 1 1
Ocotea minarum (Nees & Mart.) Mez (162, 403, Arv 4 1 3 1 1
404) *
Ocotea velloziana (Meisn.) Mez (141, 160, 365) Arv 1 1
LECYTHIDACEAE
Eschweilera nana (O. Berg) Miers (433) Arv 1 1
LOGANIACEAE
Strychnos brasiliensis (Spreng.) Mart. (406) Arb 1 1
LYTHRACEAE
Lafoensia pacari A. St.-Hil.f Arv 1 1
MAGNOLIACEAE
Magnolia ovata (A. St.-Hil) Spreng. Arv 1 1
MALPIGHIACEAE
Banisteriopsis pubipetala (A. Juss.) Cuatr. (535) Lian 2 2
Byrsonima basiloba A. Juss. (437) * Arvt 4 2 2
Byrsonima cf. crassifolia (L.) Kunth (443) Arvt 1 1
Byrsonima cf. verbascifolia (L.) DC. (442)f Arvt 1 1
Byrsonima coccolobifolia (L.) Kunth (434, 436) *† Arvt 1 1 3 1 2 4
Byrsonima intermedia A. Juss. (444) * Arvt 1 1 5 1 2 2 4
Heteropterys byrsonimifolia A. Juss. (440) Arb 2 4 2 1 3
Mascagania cordifolia (A. Juss.) Griseb. (439) Arb 1 1
Peixotoa reticulata Griseb. (438, 439) Lian 1 3 2 2 3 1
MALVACEAE
Eriotheca gracilipes (K. Schum.) A. Robyns (29) *†Arv 2 6 2 3 3 4
Guazuma ulmifolia Lam.(446) § Arvt 1 1
Luehea divaricata Mart. & Zucc. (447) * Arv 1 1 1 1
Luehea grandiflora Mart. (448) § Arv 1 1 3
Lueheopsis hoehnei Burret (445) Arv 1
Pseudobombax longiflorum (Mart. & Zucc.) A. Arv 2
Robyns
MELASTOMATACEAE
Macairea radula (Bonpl.) DC. (453) Arb 1 1 2
Miconia albicans (Sw.) Triana (451) * Arb 1 1 2 2 3 4
Miconia chamissois Naudin (454) Arvt 1 1
Miconia stenostachya DC. (452) Arb 1 1 1
Microlicia isophylla DC. Sarb 1 1
MELIACEAE
Guarea guidonia (L.) Sleumer (449) Arv 1 2
Trichilia pallida Sw. (450) * Arv 2 2 1
MORACEAE
Brosimum gaudichaudii Trécul (456) *† Arb 1 1 1 4 1 3
Brosimum sp. Nc 1
Ficus guaranitica Chodat (455) Arv 1
MYRISTICACEAE
Virola sebifera Aubl. (489) * Arv 1 1 1 2
MYRSINACEAE
Rapanea ferruginea (Ruiz & Pav.) Mez Arvt 1
Rapanea guianensis Aubl. (544) * Arv 1 1 4 2
MYRTACEAE
Eugenia aurata O. Berg (462) * Arv 1
Eugenia bimarginata DC. (458) Arv 1 1
Eugenia florida DC. (459) * Arb 1 1
Eugenia sp.1 (463) Arb 1
Eugenia sp.3 (472) * Arb 1
Eugenia sp.4 (473) * Arb 2 1
Eugenia uniflora L. (467) Arv 2
Myrcia albotomentosa DC. (461) Arv 1
Myrciamultiflora (Lam.) DC. (468) * Arv 1 1
Myrcia sp.1 (457) * Arb 1
Myrcia sp.2 (470) * Arb 1 2 3
Myrciasubcordata DC. (471) * Arv 1 1 1
Myrtaceae sp.1 * Arv 1 1
Myrtaceae sp.2 * Arb 1 3
Myrtaceae sp.3 * Arb 1 1
Myrtaceae sp.4 * Arb 2 3
Psidium guineense Pers. (464) Arvt 1
Psidium sp. (466) Arb 1
NYCTAGINACEAE
Guapira noxia (Netto) Lundell (490) Arv 1 1
Guapira opposita (Vell.) Reitz * Arv 1 2
OCHNACEAE
Ouratea castaneifolia (DC.) Engl. (492) Arv 1 1
Ouratea hexasperma (A. St.-Hil.) Benth. (507)f Sarb 1 1
Ouratea spectabilis (Mart. ex. Engl.) Engl. (491) * Arvt 2 1 3 7
OLEACEAE
Chionanthus filiformis (Vell.) P.S. Green (543) Arv 1
PHYLLANTHACEAE
Hyeronima alchorneoides Allemão Arv 1 1
PIPERACEAE
Piper tuberculatum Jacq. (495) Sarb 1 1 1 1
POLYGONACEAE
Coccoloba mollis Casar. (336, 493) * Arv 1 1 12 2 3 6 7
PROTEACEAE
Roupala montana Aubl. *† Arv 1 6 2 2 2 5
RHAMNACEAE
Rhamnus sp. * Arvt 1 1
RUBIACEAE
Alibertia edulis (Rich.) A. Rich ex DC. (469) * Arvt 1 9 5 4 5 6
Alibertia macrophylla K. Schum. (475) * Arvt 1 1 1 1
Alibertia sessilis (Vell.) K. Schum. (477) * Arvt 2 1 1
Borreria quadriculata Cabral (472) Sarb 1 2 1 2
Chomelia pohliana Müll. Arg. (474) * Arb 4 4
Guettarda viburnoides Cham. & Schltdl. (541) *§Arv 1 1
Randia armata (Sw.) DC. Arvt 1 1
Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) K. Schum Arb 4 2 2 2 2
(542) *†
RUTACEAE
Zanthoxyllum riedelianum Engl. (471) § Arv 1 1
SALICACEAE
Casearia sylvestris Sw. (503, 504) *† Arvt 2 8 2 3 6 3
SAPINDACEAE
Magonia pubescensA. St.-Hil.(499, 500) *§ Arv 4 1 3
Matayba guianensis Aubl. (497, 498) * Arv 2 1 8 2 4 4 5
Serjanialethalis A. St.-Hil.(496) Lian 1 1 4 2 2 3 3
Toulicia tomentosa Radlk. (479) Arb 1 1
SAPOTACEAE
Chrysophyllum marginatum (Hook. & Arn.) Radlk. Arv 1 1
*
Pouteria cf. gardneri (Mart. & Miq.) Baehni Arv 2 2
(501) *
Pouteria ramiflora (Mart.) Radlk. (502) *† Arv 1 1
Pouteria torta (Mart.) Radlk. * Arv 1 3 1 1 4
SIMAROUBACEAE
Simarouba versicolor A. St.-Hil (483) Arv 1 1
SIPARUNACEAE
Siparuna guianensis Aubl. Arvt 1 1
SMILACACEAE
Smilax sp. (505) Lian 1 2 1 1 3
SOLANACEAE
Cestrum intermedium Sendtn. Arvt 1 1
Solanum lycocarpum A. St.-Hil. (506) Arvt 1 1
STYRACACEAE
Styrax camporum Pohl (485) * Arvt 1 4 5
URTICACEAE
Cecropia pachystachya Trécul Arv 1 1
VERBENACEAE
Lippia lasiocalycina Cham. (487) Sarb 1 1
Lippia lupulina Cham. Sarb 2 2
VOCHYSIACEAE
Qualea cordata (Mart.) Spreng. (539) * Arv 2 2
Qualea grandiflora Mart. (488) *† Arv 1 1 9 2 2 6 5
Qualea multiflora Mart. *† Arv 1 1 2
Qualea parviflora Mart. *† Arv 1 1
Vochysia tucanorum Mart. * Arv 1 1 1 1
Algumas espécies foram mais frequentes que outras, com considerável variação
entre os hortos (Tabela_1). Apenas 50 espécies foram comuns a todos os hortos.
Entre estas, as mais frequentes foram: Coccoloba mollis Casar. (16 registros),
Alibertia edulis (Rich.) A. Rich ex DC. (15), Xylopia aromática (Lam.) Mart.
(14), Caryocar brasiliense Cambess. (13), Copaifera langsdorffii Desf., Matayba
guianensis Aubl., Qualea grandiflora Mart. (13), Casearia sylvestris Sw.,
Connarus suberosus Planch., Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand (12) e Annona
coriácea Mart. (11). Contudo, 126 espécies ocorreram em apenas um dos hortos
estudados (Moeda: 59 espécies; Rio Verde: 30; e Matão: 36). Exemplos de
espécies exclusivas, mas com frequência elevada, são: Mabea fistulifera Mart.,
Jacaranda caroba (Vell.) A. DC., Maprounea guianensis Aubl. no Horto Moeda;
Diospyros hispida DC., Mimosa caesalpiniifolia Benth., Vatairea macrocarpa
(Benth.) Duckeno Horto Rio Verde; e Styrax camporum Pohl, Chomelia pohliana
Müll. Arg., Attalea phalerata Mart. ex Spreng., Machaerium opacum Vogel e
Xylopia brasiliensis Spreng. no Horto Matão. Foram encontradas 14 espécies
indicadoras de solos mesotróficos (sensu RATTER_et_al.,_1997; Tabela_1), cujas
proporções nos hortos estudados foram: Moeda: 0,07; Rio Verde: 0,07; e Matão:
0,06.
3.2. Diversidade de espécies arbustivas e arbóreas
O levantamento por parcelas nas áreas de Cerrados sensu strictoresultou num
total de 651 indivíduos, pertencentes a 40 famílias, 72 gêneros e 105 espécies.
Através dos estimadores Jackknife de primeira e segunda ordens, estimou-se um
número total máximo de 149 e 165 espécies arbustivas e arbóreas para a região,
respectivamente. Esses valores são condizentes com a riqueza de arbustos e
árvores observada nos três hortos juntos, que foi de 158 espécies.
Curiosamente, os três hortos apresentaram praticamente o mesmo número de
espécies observadas (Tabela_2). Contudo, quando se compara o número de espécies
com um mesmo número de indivíduos (rarefação), percebe-se que o Horto Matão foi
aquele com maior riqueza de espécies (os demais hortos não diferiram entre si).
Quanto ao índice de Shannon (H'), o horto Matão também obteve os maiores
valores, seguido dos hortos Rio Verde e Moeda (H' geral = 3,81). Um padrão um
pouco distinto pode ser observado para a dominância de Berger-Parker (Tabela
2).
Tabela 2 Resultados de riqueza (observada, média e máxima), diversidade de
Shannon e dominância de Berger-Parker. Riquezas média e máxima estimadas por
rarefação (N = 175 indivíduos) e pelo método Jackknife de primeira ordem,
através de 10.000 randomizações. Letras supraescritas diferentes indicam médias
estatisticamente diferentes (α = 5%)Table 2 – Richness results (observed, mean,
and maximum), Shannon diversity and Berger-Parker dominance. Mean and maximum
richness estimated by rarefaction (N = 175 individuals) and by the first order
Jackknife method (10,000 randomizations). Superscript different letters
indicate that means are statistically different (α = 5%).
Parâmetro Horto
Moeda Rio Verde Matão
S observada 5 7 5 7 5 8
S media 48,8 ± 4,8a53,7 ± 2,6a 58b
S máxima 87,6 ± 5,7a79,5 ± 4,7a84,9 ± 4,9a
Diversidade 3,410a 3,522b 3,698c
Dominância 0,146ab 0,160a 0,125b
Quanto à composição, as famílias com mais de quatro espécies somaram 56% das
espécies e foram: Fabaceae (20 espécies), Myrtaceae (12), Rubiaceae (seis),
Vochysiaceae (cinco), Annonaceae, Bignoniaceae, Erythroxylaceae e Sapotaceae
(quatro). Com alterações mínimas, essa foi a mesma ordem encontrada nos hortos
individualmente. Contudo, houve considerável variação florística entre os
hortos (média e desvio-padrão do índice de Chao e, entre parênteses, o índice
de Sørensen): Moeda-Rio Verde: 0,53 ± 0,12 (0,47); Moeda-Matão: 0,42 ± 0,11
(0,40); e Rio Verde-Matão: 0,51 ± 0,11 (0,49). Apenas o valor médio de
similaridade obtido entre os hortos Moeda e Matão foi significativamente menor
que entre os demais pares. Houve um número relativamente grande de espécies
presentes em apenas um horto: Moeda: 20 espécies; Rio Verde: 17; e Matão: 21.
Além da composição, a análise fitossociológica evidenciou grande variação entre
hortos. Essa afirmação não é verdadeira apenas entre as espécies mais
abundantes (Tabela_3), de modo que os fragmentos estudados foram bastante
distintos em termos sociológicos. Nos três hortos, houve tendência de poucas
espécies com altos valores de importância (VI > 10), que juntas tiveram grande
contribuição no VI total (Moeda: sete espécies com 41,4% do VI total; Rio
Verde: nove com 43,2%; e Moeda: cinco com 34,5%). Adicionalmente, a ISA revelou
a presença de algumas espécies significativamente indicadoras dos hortos
estudados [Moeda: Matayba guianensis, Chrysophyllum marginatum (Hook. &
Arn.) Radlk., Rapanea guianensisAubl., Qualea multiflora Mart., Myrcia
multiflora(Lam.) DC.e Maprounea guianensis; Rio Verde: Diptychandra aurantiaca
Tul., Vochysia tucanorum Mart., D. hispida e Qualea cordata (Mart.) Spreng.; e
Matão: Myrtaceae sp.1, Magonia pubescens A. St.-Hil., C. pohliana e Vernonia
rubriramea Mart. ex DC.]. Essa diferenciação entre hortos foi confirmada pela
MRPP, que mostrou uma dissimilaridade florística diferente do esperado pelo
acaso entre os pares de hortos (Moeda-Rio Verde: A = 0,026; p = 0,012; Moeda-
Matão: A = 0,035; p = 0,002; e Rio Verde-Matão: A = 0,020; e p = 0,015).
Tabela 3 Parâmetros sociológicos das espécies mais abundantes por horto. São
apresentadas, em ordem decrescente de densidade relativa total, apenas as
espécies entre as 10 mais abundantes em cada horto. Legenda: Dr = Densidade
relativa; Fr = Frequência relativa; DoR = Dominância relativa; e VI = Valor de
importância (todos os valores em porcentagem). Hortos: I = Moeda; II = Rio
Verde; e III = Matão.Table 3 - Sociological parameters of the most abundant
species per site. Only the 10 most abundant species in each site are shown, in
decreasing order of total relative density. Subtitle: Dr = Relative density; Fr
= Relative frequency; DoR: Relative dominance; and VI = value of importance
(all values in percentage). Sites: I = ‘Moeda’; II = ‘Rio Verde’; and III =
‘Matão’.
Espécies Dr Fr DoR VI
I II II I II II I II II I II II
Matayba 17,88 7,08 1,98 7,08 4,10 2,46 3,07 0,93 0,69 9,34 4,04 1,78
guianensis
Coccoloba 5,96 2,06 9,24 3,54 3,28 4,92 12,06 2,81 11,39 7,19 2,72 8,88
mollis
Diptychandra 1,55 14,75 2,64 0,88 4,10 2,46 0,09 20,33 3,14 0,84 13,06 2,86
aurantiaca
Xylopia 6,99 3,83 1,65 5,31 4,10 4,10 8,45 3,84 22,71 6,92 3,92 9,89
aromatica
Mabea 10,10 - - 1,77 - - 5,84 - - 5,90 - -
fistulifera
Qualea 1,04 5,01 2,97 2,65 4,10 1,64 2,74 5,22 3,62 2,14 4,78 2,86
grandiflora
Alibertia 2,85 3,24 2,97 4,42 4,10 2,46 2,35 2,72 1,45 3,21 3,36 2,39
edulis
Roupala 3,37 3,54 2,64 3,54 2,46 2,46 1,30 2,90 0,59 2,74 2,97 1,98
montana
Tabebuia - - 5,28 - - 0,83 - - 9,52 - - 5,42
roseoalba
Rapanea 3,63 2,36 - 5,31 1,64 - 2,81 1,70 - 3,92 1,90 -
guianensis
Vochysia - 7,08 - - 2,46 - - 5,21 - - 4,91 -
tucanorum
Myrtaceae - 3,54 3,96 - 3,28 4,10 - 1,58 0,51 - 2,80 2,98
sp.1
Casearia 2,59 3,24 - 1,77 4,10 - 0,75 2,22 - 1,71 3,19 -
sylvestris
Trichilia 5,44 - - 0,88 - - 0,89 - - 2,40 - -
pallida
Ocotea 2,59 1,18 0,66 3,54 1,64 0,82 2,40 0,15 0,07 2,84 0,99 0,54
minarum
Erythroxylum 0,78 - 3,96 1,77 - 3,31 0,66 - 6,49 1,07 - 4,77
cf. daphnites
Bauhinia rufa - 1,47 3,96 - 1,65 2,48 - 0,44 1,44 - 1,19 2,73
Chrysophyllum 3,11 - - 3,54 - - 6,71 - - 4,45 - -
marginatum
Qualea - 2,95 - - 2,46 - - 5,19 - - 3,53 -
cordata
Protium 3,37 3,54 2,64 3,54 2,48 2,48 1,30 2,90 0,59 2,74 2,97 1,98
heptaphyllum
4. DISCUSSÃO
4.1. Florística geral
No geral, a riqueza por família encontrada nas áreas de Cerrado estudadas
corroborou o padrão relatadopara o Cerrado brasileiro (e.g. COSTA;_ARAÚJO,
2001; Fabaceae, a família mais rica em espécies lenhosas no Neotrópico e no
Brasil (GENTRY,_1988; GIULIETTI_et_al.,_2005), foi predominante. Pequenos
desvios se referem à maior riqueza de Bignoniaceae, principalmente devido ao
elevado número de lianas, e Vochysiaceae, superada aqui por Malpighiaceae,
Rubiaceae, Malvaceae e Asteraceae. Esse padrão geral é bastante consistente,
apesar da grande dissimilaridade florística entre localidades (FELFILI;_SILVA-
JÚNIOR,_1993; CASTRO_et_al.,_1999; RATTER_et_al.,_2003). Na área de estudo, por
exemplo, apesar do grande número de espécies exclusivas a um dos hortos (126
espécies), as famílias mais ricas mantiveram-se basicamente as mesmas,
considerando todas as espécies simultaneamente ou arbustos e árvores
separadamente. Devido ao foco dado às espécies arbustivas e arbóreas, famílias
ricas em espécies no Cerrado (e.g. Asteraceae, Cyperaceae, Poaceae e
Verbenaceae) foram claramente subamostradas neste estudo (PAGOTTO;_SOUZA,
2006).
Algumas das espécies encontradas são consideradas raras no Cerrado (ocorrentes
em apenas uma das 376 localidades listadas por Ratter et al., 2003), entre
elas: Cereus peruvianus Mart., Ficus guaraníticaChodat, Miconia chamissois
Naudin, Mimosa hebecarpaBenth., Ormosia arbórea (Vell.) Harms e Ocotea
velloziana (Meisn.) Mez. Vale ressaltar, contudo, que algumas dessas espécies
são mais comuns no Cerradão e nas florestas estacionais, revelando o caráter
ecotonal da região estudada. Vale destacar ainda a primeira ocorrência do
gênero Lueheopsis (Malvaceae) no Mato Grosso do Sul, ampliando a distribuição
do gênero no país (SETSER,_1977). Outras espécies não constam na extensa lista
apresentada por Ratter_et_al._(2001) e provavelmente são novas ocorrências nos
Cerrados sensu stricto de Mato Grosso do Sul: Ilex affinis Gardner, Qualea
cordata, Machaerium opacum e Styrax camporum. Como encontrado por outros
autores (SAPORETTI-JÚNIOR_et_al.,_2003; BORGES;_SHEPHERD,_2005; NERI_et_al.,
2007), a inclusão de indivíduos de menor porte foi importante na descrição mais
completa da flora local (33 espécies foram exclusivas aos indivíduos de menor
porte) e deve ser adotada em futuros estudos do Cerrado (e.g. ROSSATTO_et_al.,
2008).
Das 38 espécies lenhosas citadas por Ratter_et_al._(2003) como as mais comuns
do Cerrado brasileiro, apenas cinco não foram encontradas aqui (Acosmium
dasycarpum (Vogel) Yakovlev, Himatanthus obovatus (Müll.Arg.) Woodson,
Kielmeyera coriácea Mart. & Zucc.,Salvertia convallariodoraA.St.-Hil. e
Tachigali áurea Tul.). Entre essas espécies, Xylopia aromatica, Caryocar
brasiliense, Qualea grandiflora, Casearia sylvestris, Connarus suberosus e
Annonacoriaceafiguraram entre as mais comuns também nos hortos estudados aqui.
Apesar de a proximidade com florestas do interior do Estado de São Paulo, as
proporções de espécies indicadoras de solos mesotróficos foram baixas (6-7%).
Tal resultado contraria o proposto por Ratter_et_al._(2003)para os Cerrados de
Mato Grosso do Sul e talvez esteja relacionado à predominância de solos
distróficos no Leste do Estado (MERCADANTE,_1994).
4.2. Diversidade de espécies arbustivas e arbóreas
Um aspecto marcante deste estudo foi a baixa similaridade florística entre os
hortos estudados, com valores entre 0,42 e 0,53 (índice corrigido de Chao). A
MRPP também indicou assembleias distintas entre hortos. Por vezes, espécies com
alta densidade relativa em um dos hortos simplesmente não estiveram presentes
em outro horto. Valores de similaridade medianos a baixos têm sido citados como
característica marcante para espécies lenhosas no Cerrado (FELFILI;
SILVAJÚNIOR,_1993; RATTER_et_al.,_1997; 2003). Nesse caso, contudo, tal
diferenciação foi observada entre distâncias relativamente curtas (d" 60 km), o
que de certo modo se opõe aos resultados obtidos por Bridgewater et al. (2004)
para 13 locais no Distrito Federal. Esses autores encontram valores de
similaridade acima de 60% na maioria dos casos. Como discutido pelos próprios
autores, esses resultados influenciam diretamente o estabelecimento de áreas
para a conservação das espécies.
Os fatores que levam a essa distinção florística em distâncias tão curtas são
difíceis de equacionar(FELFILI;_SILVA-JÚNIOR,_1993). Além de possíveis
influências relacionadas ao solo e, ou, à topografia (RATTER_et_al.,_2003;
FONSECA;_SILVA-JÚNIOR,_2004; MARIMON-JÚNIOR;_HARIDASAN,_2005), dois fatores
podem ter sido determinantes. Primeiramente, pouco se sabe sobre o histórico de
perturbação dos fragmentos estudados, capaz de influenciar a composição de
espécies (COUTINHO,_1978; OLIVEIRA_et_al.,_2006). Sabe-se, contudo, que vários
fragmentos na região foram transformados em pasto na década de 1970, enquanto
outros permaneceram conservados (MERCADANTE,_1994). Contudo, não se sabe
exatamente quais fragmentos estiveram submetidos a tal distúrbio. Outro
importante fator é a proximidade dos fragmentos das demais formações vegetais e
corpos de água (RIZZINI,_1997). O horto Moeda, por exemplo, é influenciado
pelas Florestas Estacionais do Estado de São Paulo e pelo rio Paraná, que
certamente condicionaram a presença de espécies como Mabea fistulifera,
Maprounea guianensis, Trichilia pallida Sw., Myrcia multiflora e Guapira
opposita (Vell.) Reitz.
Não houve diferenciação entre hortos no tocante à riqueza observada. Porém, o
horto Matão teve maior riqueza média e maior diversidade de espécies que os
demais hortos. Como exposto, distúrbios no horto Matão podem ter sido menos
intensos que nos demais hortos. A densidade relativa crescente entre hortos de
espécies associadas a áreas mais abertas (e.g. Xylopia aromatica e Matayba
guianensis) talvez seja indicativo nesse sentido. A diferenciação entre hortos
não se expressou apenas em relação à sua composição e diversidade. Houve grande
variação na densidade e frequência das espécies entre hortos. Apenas Roupala
Montana Aubl. e Alibertia edulisestiveram entre as mais abundantes nos três
hortos. Assim, de acordo com o que foi encontrado por vários autores no Cerrado
(e.g. ANDRADE_et_al.,2002; FELFILI_et_al.,_2002; MARIMON-JÚNIOR;_HARIDASAN,
2005; NERI_et_al.,_2007), a identidade das espécies mais abundantes varia de
uma área para outra. Neste estudo, apenas Xylopia aromatica, Qualea grandiflora
e Roupala montana estiveram entre as mais abundantes em alguns dos trabalhos
anteriormente citados.
Considerando apenas árvores e arbustos em Cerrado sensu stricto, os
levantamentos expeditos indicaram elevada riqueza específica no Leste de Mato
Grosso do Sul. Em 31 locais do Estado, Ratter_et_al._(2003) encontraram um
número de espécies lenhosas (28-88; média 59 spp) quase sempre abaixo do
normalmente observado (79-101; média 93 spp). Apesar das diferenças no critério
de inclusão, o levantamento por parcelas reforça esse resultado, visto que
estudos com esforços amostrais bem maiores resultaram em riquezas entre 52 e
131 espécies (média 73; ANDRADE_et_al.,_2002; BALDUINO_et_al.,_2005; BORGES;
SHEPHERD,_2005; COSTA;_ARAÚJO,_2001; FELFILI_et_al.,_2002; FELFILI;_SILVA-
JÚNIOR,_1993; FONSECA;_SILVA-JÚNIOR,_2004; MARIMON-JÚNIOR;_HARIDASAN,_2005;
NERI_et_al.,_2007; SAPORETTI-JÚNIOR_et_al.,_2003). A riqueza proporcional (i.e.
espécies/N) foi similar àquela encontrada por Borges_e_Shepherd_(2005), estudo
de maior riqueza entre os pesquisados. O mesmo pode ser dito sobre
o índice de Shannon, que variou entre os estudos de 3,11 a 3,80 e aqui foi de
3,81. Esses resultados são válidos mesmo desconsiderando as espécies de menor
porte (DAS <3 cm), o que reforça que a elevada riqueza encontrada não é apenas
uma questão meramente amostral.
5. CONCLUSÃO
Apesar de a flora nas áreas estudadas ter seguido o padrão de riqueza por
família encontrado em outras áreas do Cerrado, foi constatada elevada riqueza
de espécies e heterogeneidade florística, além de novas ocorrências para o
Cerrado de Mato Grosso do Sul. Esses resultados foram obtidos usando tanto o
levantamento expedito quanto o levantamento por parcelas. Assim, é possível
sugerir que um levantamento mais intensivo da flora arbustiva e arbórea
certamente colocaria o Leste de Mato Grosso do Sul entre as áreas com maior
riqueza de espécies do país, juntamente com Goiás, Tocantins e Mato Grosso.
Conclui-se, portanto, que os locais estudados estão entre os mais ricos em
espécies do Cerrado brasileiro, mostrando que áreas marginais de Cerrado podem
ser tão ricas quanto suas áreas centrais, mesmo que através da contribuição de
elementos florísticos de outras formações florestais.
6.AGRADECIMENTOS
À Votorantim Celulose e Papel/MS, pelo acesso aos fragmentos; e Valdeir de
Souza Santos, pelo auxílio técnico em campo; aos pesquisadores Daniela Sampaio
(Elaeocarpaceae), Fiorela F. Mazzine-Capelo (Myrtaceae), José R. Pirani
(Rutaceae e Simaroubaceae), Lúcia G. Lohman (Bignoniaceae), Marcelo P. Ferreira
(Rubiaceae), Maria S. Ferrucci (Sapindaceae e Malvaceae) e Vinicius C. Souza
(diversas famílias), pelo auxílio na identificação botânica. Também, a Jim A.
Ratter, pelos valiosos comentários em versões preliminares do manuscrito deste
trabalho.