Associação Brasileira de Enfermagem-1926/1976: documentário
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Associação Brasileira de Enfermagem-1926/1976: documentário1
Anayde Corrêa de Carvalho
Professora aposentada da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.
Autora do livro
Os instrumentos utilizados pela Associação Brasileira de Enfermagem para
estabelecer comunicação mais freqüente com seus associados, espalhados de Norte
a Sul do país, são ainda muito escassos. São eles, a Revista Brasileira de
Enfermagem (RBEn), seu órgão oficial, e o Boletim Informativo (BI), noticiário
mensal.
Neste capítulo serão relatados os fatos que marcaram a vida de uma e de outro,
assim como as tentativas feitas pela ABEn para ampliar esse campo de ação com
outras publicações. Serão incluídos, também, o concurso "Marina de Andrade
Rezende", estabelecido pela direção da revista, e o Fundo de Impressão. Esse,
criado pela ABEn com a finalidade de amparar as publicações produzidas pelos
enfermeiros ou publicar obras traduzidas, de interesse geral, não conseguiu
sobreviver.
REVISTA BRASILEIRA DE ENFERMAGEM
Há quarenta e quatro anos a Associação Brasileira de Enfermagem vem, teimosa e
valentemente, mantendo seu órgão oficial de divulgação cultural, a Revista
Brasileira de Enfermagem. Sua história é testemunho da perseverança com que
suas organizadotas trabalharam para trazê-la, fortalecida, até nossos dias.
A publicação de uma revista depende de muitas e variadas decisões sobre fatores
considerados indispensáveis para que ela exista; essas vão desde a escolha da
capa até a organização de seu corpo administrativo. Não raras vezes o êxito do
empreendimento não depende somente dessas decisões mas de elementos outros que
nem sempre podem ser facilmente controlados. Para conhecer a história da
Revista Brasileira de Enfermagem será necessário conhecer o modo pelo qual cada
um desses fatores se desenvolveu, os problemas surgidos e os meios utilizados
para enfrentá-los, assim como as modificações que os caracterizaram em
determinada época.
Foram quatro as fases pelas quais passou a revista na trajetória de sua
existência, fases essas demarcadas por grandes modificações, introduzidas
sempre tendo em vista a maior aceitação e o melhor aproveitamento, pelos
associados, do único veículo de cultura de que a Associação dispõe. A primeira
fase compreende o período que vai de seu nascimento, em 1932, até 1945,
incluindo aquele em que a publicação foi interrompida; a segunda abrange apenas
os anos de 1946 e 1947; a terceira inicia-se com as modificações efetuadas em
1948 e vai até 1955; nesse ano Anais de Enfermagem passou a denominar-se
Revista Brasileira de Enfermagem; a quarta e última abrange o período de 1955
aos dias atuais. Em cada um desses períodos a Associação defrontou-se com
dificuldades que, por vezes, pareciam insolúveis e intransponíveis.
ORIGEM E PRIMEIRAS LUTAS: 1932-1945
À fundação da revista em maio de 1932, com a denominação de Anais de
Enfermagem, estão ligados, principalmente, os nomes de Edith de Magalhães
Fraenkel, presidente da Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas
Brasileiras (ANEDB) e Rachel Haddock Lobo, diretora da Escola Ana Neri, que a
fez surgir com seu trabalho e a dirigiu até 1933.
1929 Em julho de 1929, a Associação, representada oficialmente por Edith M.
Fraenkel, foi recebida como membro do Conselho Internacional de Enfermeiras
(ICN), durante o Primeiro Congresso Quadrienal realizado em Montreal, Canadá.
As seguintes enfermeiras brasileiras também assistiram ao congresso: Marina
Bandeira de Oliveira, Rachel Haddock Lobo, Célia Peixoto Alves, Iracema Cabral,
Maria de Oliveira Regis e Alayde Duffles Teixeira Lott.
Encontrando-se nesse congresso com sua ex-diretora e professora de Ética, S.
Lillian Clayton, presidente da Associação Americana de Enfermeiras, Edith M.
Fraenkel foi convidada por esta para participar de uma reunião-jantar das
redatoras das revistas de Enfermagem dos países membros do Conselho. Não ficou
surpreendida quando ouviu de Lillian Clayton o conselho para que a Associação,
no Brasil, começasse imediatamente a publicação de uma revista, "nem que fosse,
a princípio, de pequeno porte"; acostumara-se a ouvir nas aulas de Ética, que
"uma profissão para se desenvolver precisa de uma associação e de uma revista"
(1). Essa parecia ser a crença das enfermeiras norte-americanas. Será oportuno
lembrar, de passagem que, ao diplomar-se a primeira turma de enfermeiras da
Escola Ana Neri, em 1925, sua diretora, Clara Louise Kienninger, aconselhou-as
a substituírem o clássico quadro de formatura por uma revista, com maior
vantagem, tanto econômica como pessoal, uma vez que cada diplomada poderia
conservar a sua, como lembrança. Assim apareceu a revista "Pioneira", em seu
primeiro e único número(2).
Ao retornar da reunião, Edith Fraenkel transmitiu a sugestão recebida de
Lillian Clayton a Rachel Haddock Lobo, Marina Bandeira de Oliveira e Célia
Peixoto Alves, hóspedes do mesmo hotel: o grupo entusiasmou-se e, ali mesmo,
começou a estudar as possibilidades da criação de uma revista e lançar as bases
do plano que deveria ter prosseguimento quando regressasse ao Brasil. Quando
isto se deu (3) a equipe de trabalho foi formada, juntando-se a ela Zaíra
Cintra Vidal, recém-chegada dos Estados Unidos, onde permanecera de maio de
1927 a março de 1929.
1931 Em julho de 1931, Bertha L. Pullen foi substituída na direção da Escola
Ana Neri por Rachel Haddock Lobo, que havia se preparado para o cargo nos
Estados Unidos no período de maio de 1927 a dezembro de 1929, e vinha exercendo
a vice-diretoria dessa escola desde o seu regresso daquele país. Em setembro
daquele ano, 1931, terminou, também, o contrato de Ethel O. Parsons que, depois
de dez anos de inteira dedicação ao trabalho, foi substituída no cargo de
superintendente geral do Serviço de Enfermeiras, ao qual era subordinada a
Escola, pela presidente da Associação, Edith M. Fraenkel.
Dessa maneira, a Escola tornou-se, também, o centro das atividades que tinham
por fim a criação da revista. Espírito batalhador, sua diretora lançou-se com
firmeza e decisão à tarefa, sem avaliar o volume das dificuldades a enfrentar,
mas contando sempre com o incentivo, cooperação e entusiasmo de Edith Fraenkel
a quem cabia, em função dos cargos que ocupava, a responsabilidade direta pelas
decisões que eram tomadas. Tudo o que havia sido planejado para iniciar a
publicação foi conseguido em pouco mais de dois anos, isto é, entre princípios
de 1930 e maio de 1932.
Em uma das reuniões informais realizadas pela Associação nesse período, Rachel
Haddock Lobo apresentou, para apreciação das associadas, o croqui e as
principais características que a revista teria(1). O título seria Anais de
Enfermagem, e a capa, idealizada e desenhada por um sobrinho seu, estudante da
Escola de Belas Artes, teria o simbolismo dos monumentos egípcios como tema;
seria de cor verde, tendo, centralizado, o triângulo projetado por Isabel
Stewart, enfermeira norte-americana, com o lema, "Ciência, Arte, Ideal"(4).
Foi, também, instituída a Comissão do Jornal da ANEDB, presidida por Rachel
Haddock Lobo, com os membros: Zulema de Castro Amado, Maria de Castro Pamphiro,
Zaíra Cintra Vidal, Sílvia Albuquerque Arcoverde de Albuquerque Maranhão,
Alayde Cavalcanti, Marina Bandeira de Oliveira, Maria do Carmo Ribeiro, Rosaly
Rodrigues Taborda e Célia Peixoto Alves, todas indicadas pela Associação.
1932 O primeiro encontro dessa comissão foi no dia 17 de março de 1932, na
Escola de Enfermeiras Ana Neri; nessa data foi feita a distribuição dos cargos
pelos seus membros, ficando Rachel Haddock Lobo como redatora-chefe (1932-
1933), Célia Peixoto Alves, secretária (1932-1938), Zaíra Cintra Vidal,
redatora revisora (1932-1933) e Edméa Cabral Velho, tesoureira (1932-1941).
Como colaboradoras permanentes aceitaram participar: Rosaly Taborda, para
enfermagem científica e prática (1932-1941), Marina Bandeira de Oliveira, parte
literária (1932-1936), Edith de Souza, parte de livros (1932-1941), Célia
Peixoto Alves, crítica humorística (1932-1937), Zaíra Cintra Vidal, página do
estudante (1932-1933), e Zulema de Castro Amado, tradutora de notícias
estrangeiras (1932). Além dessas, participariam apenas como colaboradoras:
Alice Álvares de Araujo, Heloísa Veloso, Iracema dos Guaranys Melo, Juracy
Serpa Pyrrho, Magdalena Almeida Kasprzykowski (Werneck), Maria AméliaC. Rosas,
Maria de Castro Pamphiro e Sílvia Maranhão, Ficou ainda resolvido que o jornal
seria trimestral, custando cada número 3$000 (três mil réis) e que o primeiro
número sairia a 20 de maio desse ano.
Como fora planejado, depois de dois anos de expectativas saiu o primeiro número
de Anais de Enfermagem na data prevista, isto é, maio de 1932; foi impresso nas
oficinas gráficas doJornal do Brasil. No editorial, intitulado Era Nova, Rachel
H. Lobo traçou as primeiras diretrizes que deveriam nortear as publicações do
periódico. "A enfermeira", disse ela, "a verdadeira enfermeira, deve preencher
a enfermagem dos três eu do doente - o eu moral, o eu espiritual e o eu físico,
objetivação do ideal profissional. Neste complexo de requisitos, que só uma
enfermeira instruída e altamente cultivada pode realizar, está a "ERA NOVA" da
enfermagem de que será o arauto esta publicação, a primeira entre nós"(5).
Referindo-se ao acontecimento, disse Edméa Cabral Velho que, "inegavelmente,
deve-se a Rachel Haddock Lobo o valor desse trabalho pois a maior sobrecarga
caiu sobre seus ombros". Sua inteira dedicação culminou com o oferecimento do
papel e pagamento das despesas com a gráfica(1). Essa foi a primeira doação
feita à revista.
O papel desempenhado por Edith Fraenkel nesse acontecimento foi de relevância.
Ao sair esse primeiro volume as enfermeiras, reunidas, ofertaram-lhe uma
estatueta em bronze representando uma coruja, símbolo da sabedoria, pousada
sobre um livro também de bronze em um pedestal de mármore; na lombada foram
gravadas as palavras 1ºVOLUME. Esse documento histórico encontra-se em poder de
Amália Corrêa de Carvalho, a quem foi ofertado pela própria Edith Fraenkel,
depois de transferir-se de São Paulo para o Rio de Janeiro, em 1956.
Com relação à origem da revista, nada melhor que o testemunho da própria Edith
Fraenkel. De carta datada de 20 de fevereiro de 1958, dirigida a Helena de
Barros Silveira, secretária da Escola de Enfermagem da Universidade de São
Paulo e sua amiga pessoal, foi tirado o seguinte trecho: "Aí envio finalmente a
estatueta de Florence Nightingale e a coruja (...). A coruja foi-me dada por D.
Rachel Haddock Lobo em uma manifestação que me prestaram as enfermeiras, por
ocasião da publicação do 1º número dos "Anais de Enfermagem", iniciativa minha
(...)".
Marina de Andrade Rezende, editor da Revista Brasileira de Enfermagem de 1957 a
1965, em pesquisa feita em 1962 atendendo solicitação de esclarecimentos sobre
a verdadeira origem da revista feita por Amália C. Carvalho, assim concluiu o
seu estudo: "Tenho dúvidas de que uma pessoa tenha sido sozinha a fundadora dg
revista. Com admiração, presto homenagem às que considero fundadoras: a Edith
de Magalhães Fraenkel, na época presidente da Associação que teve a revista
como seu órgão oficial e que, com a diretoria deve ter tomado a resolução de
aceitar para a Associação a primeira atividade de publicação; a Rachel Haddock
Lobo, sob cuja responsabilidade, na qualidade de Redatora-chefe, a revista foi
efetivamente publicada; a Célia Peixoto Alves, secretária, da fundação até
1938; a Zaíra Cintra Vidal, redatora revisora chefe de 1933 a 1938; a Edméa
Cabral Velho, tesoureira dos primeiros tempos"(6).
A Comissão do Jornal da Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas
Brasileiras realizou outras reuniões nos anos de 1932 a 1935. A 17 de abril de
1933, Rachel Haddock Lobo acertou com os membros presentes que o número
seguinte da revista deveria sair, também, a 20 de maio desse ano, mas a doença
e seu falecimento, pouco depois, impediram a realização do plano. A 23 de
outubro, Zaíra Cintra Vidal tomou posse do cargo de redatora-chefe, indicada
que havia sido, por unanimidade de votos, em reunião geral anterior da
Associação. Nessa data foi fixado o dia 25 de novembro para a saída do segundo
número. Já em fevereiro de 1934, o preço de cada exemplar foi aumentado para
10$000 (dez mil réis) e em julho de 1935, a redatora-chefe informou que a
revista, sem o auxílio da Associação, não poderia enfrentaras despesas com
gráfica(7).
Administração da Revista
1932-1933 Rachel Haddock Lobo foi a primeira redatora-chefe; permaneceu no
cargo até sua morte, em setembro de 1933, quando foi substituída por Zaíra
Cintra Vidal (1933-1938), que era também vice-presidente da Associação.
1938 Por ocasião das eleições da nova diretoria da Associação, realizada a 3 de
novembro de 1938, Zaíra Cintra Vidal aproveitou para declarar "não poder e nem
desejar continuar à testa do Jornal visto muito se ter preocupado e
contrariado". Por proposta de Edith Fraenkel, Alayde Borges Carneiro foi
indicada redatora-chefe. No ano seguinte, a 28 de janeiro de 1939, foram
designadas para auxiliar na direção de Anais de Enfermagem, Firmina Sant'Ana,
como secretária e Maria Mendes da Rocha, tesoureira. A primeira, que já vinha
atuando como segunda redatora-chefe, pediu demissão em fins desse ano. Quando o
pedido foi comunicado, a 15 de setembro, a nova redatora-chefe aproveitou,
também, para falar sobre a revista; declarou-se desanimada com as dificuldades
que vinha encontrando para conseguir material para os números seguintes e com o
aumento no preço do papel. Foi nessa reunião que a presidente Hilda A. Krisch
sugeriu que fossem impressos "três números em um só exemplar"; pediu, também,
às sócias que auxiliassem Alayde Carneiro, que "tanto tem se esforçado para se
desobrigar com êxito da árdua tarefa que lhe foi imposta". Foi lembrado, por
Juracy Pyrrho Pacheco da Silva, que seria conveniente conseguir anúncios para
auxiliar nas despesas(8).
Houve, também, nesse período (1932-1941), algumas mudanças nos grupos das
colaboradoras; Maria Madalena Almeida Kasprzykowski (Werneck) participou, como
colaboradora permanente responsável pela página da estudante, de 1934 a 1941;
Ermengarda Johansen (de Faria Alvim), como desenhista, de 1934 a 1936; e Celina
Flores Pernasetti, como desenhista, de 1937 a 1941. Nesse período, ou seja, de
1937 a 1941, eram colaboradoras permanentes, além das duas acima citadas,
apenas Rosaly R. Taborda, com o mesmo encargo, e Edith de Souza, responsável
pela seção de bibliografia.
Dentre as simplesmente colaboradoras, Madalena Almeida, Iracema dos Guaranys
Melo, Lídia Gonçalves e Sílvia A. A. Maranhão foram substituídas, em 1934, por
Carrie Reno (Teixeira), Adelina Zourob (Fonseca), Maria Adelaide Witte
(Fernandes), Maria Oliés e Mafalda Leone. Essa categoria de colaboradoras
passou a não constar do expediente da revista a partir de 1937.
De 1941 a 1945, a publicação da revista foi interrompida.
Entre 1940 e 1943, parece ter havido séria crise de interesse pela Associação
(9). Quando Zaíra Cintra Vidal tomou posse da presidência, a 25 de setembro de
1943, encontrou-a com apenas vinte associadas, de acordo com o relatório que
apresentou ao término de seu primeiro mandato, em 1945.
1943 Naquele ano, 1943, houve uma tentativa para fazer a revista renascer. Na
reunião de 10 de outubro de 1943, a presidente Zaíra Cintra Vidal tratou de
vários assuntos, dentre os quais, três relacionavam-se com a revista: 1) o
aluguel, pago pelo SESP, de uma sala para a associação e para a revista,
durante um ano; 2) a aprovação, pelas associadas, de que fosse lavrado em ata
um ato de louvor ao SESP; nessa oportunidade, Safira Gomes Pereira propôs, e
foi unanimemente aprovado pela assembléia, que as enfermeiras norte-americanas,
componentes do SESP, fossem consideradas sócias honorárias da ANEDB; 3) o
último ponto, o mais importante, dizia respeito ao "reerguimento dos Anais de
Enfermagem'. Para que isto se desse, foi nesse mesmo dia eleita nova diretoria,
ficando Rosaly Taborda como redatora-chefe, Delizeth de Oliveira Cabral,
secretária e Ana Jaguaribe da Silva Nava, tesoureira.
1944 Em 1944, Rosaly Taborda foi dirigir o serviço de Enfermagem da Santa Casa
de Santos, Estado de S. Paulo; não foi substituída na redação da revista apesar
de ter sido cogitado, por Zaíra Cintra Vidal, o nome de Ana Nava para o cargo.
Todas essas tentativas não foram suficientes para reerguer a revista.
A 16 de novembro a presidente, Zaíra Cintra Vidal, lembrou que a revista estava
sem redatora-chefe. E, "considerando as vantagens oferecidas pelas oficinas de
S. Paulo quanto a preço, qualidade do papel e duas capas em cores, sugeriu que
fosse aclamada redatora-chefe Edith Fraenkel, então naquela Capital, que assim
poderia atender aos interesses do periódico. A assinatura custaria vinte e
cinco cruzeiros (...). Nessa ocasião, lançou um apelo às enfermeiras para que
colaborassem enviando artigos".
Edições anuais
De 1932 a 1941, a Associação conseguiu manter as publicações de Anais de
Enfermagem quase ininterruptamente, embora de maneira muito irregular. A
previsão inicial para edição de quatro números anuais não se concretizou; em
1932 foi editado apenas o seu primeiro número; em dezembro de 1933 saiu o
número dois; em 1934 foram publicados os números três, quatro e cinco, em
abril, julho e outubro, respectivamente; em 1935 apareceram os números seis e
sete, de janeiro e maio; o número oito só apareceu em novembro de 1936; nesse
ano, a revista passou pela primeira transformação em seu formato e na
apresentação da página de rosto; o texto continuou em coluna dupla e o tamanho
ficou igual ao que tinha até 1975; em maio, setembro e dezembro de 1937 foram
editados os números nove, dez e onze, respectivamente; em 1938, também saíram
três números: o doze em março, treze e catorze correspondentes aos meses de
junho/setembro, e quinze, de dezembro; o número dezesseis abrangeu os anos de
1939/40 e o número dezessete saiu em abril de 1941; essa foi a última revista
desse primeiro período. Foram dezesseis publicações em dezessete números, nos
primeiros dez anos de existência, correspondentes aos volumes de I a IX(10).
De novembro de 1938 a setembro de 1941, a Associação esteve sob a presidência
de Hilda Anna Krisch; os problemas de manutenção da revista ou jornal, como
era, também, chamada, agravaram-se no princípio do seu mandato com o aumento no
preço do papel, motivado pela II Grande Guerra (1939-1945).
É de se imaginar o que de obstáculos não deve ter enfrentado o corajoso grupo
de enfermeiras que compunha a direção da entidade de classe e da revista, nesse
período, face ao desequilíbrio financeiro que as caracterizaram durante todos
esses primeiros anos. Além do mais, o excesso de atividades profissionais a que
estavam sujeitas as associadas impediam uma dedicação integral aos assuntos da
revista. Das onze reuniões programadas pela Comissão do Jornal, entre 1932 e
1935, três não puderam ser realizadas por falta de "quorum".
Não houve, por parte das suas fundadoras e colaboradoras, a preocupação de
relatar, em qualquer das suas primeiras edições, os fatos que precederam e
acompanharam sua fundação, as montagens da revista e nem os obstáculos que
tinham que enfrentar; queixaram-se, sim, da falta de colaboração em artigos. O
número de julho de 1934 fez constar, na seção "Crítica Humorística", entre as
"Cousas que incomodam: VI - a falta de artigos para a Revista"; e no de janeiro
de 1935, entre "O que não devemos esquecer: 3 - Colaborar com artigos que
interessem a profissão".
1933-1934 Uma ou outra notícia, entretanto, foi publicada. As primeiras páginas
do número de dezembro de 1933 foram inteiramente dedicadas à memória de sua
fundadora e primeira redatora-chefe, que a morte havia levado a 25 de setembro
desse ano.
O editorial do número quatro, abril de 1934, trouxe a descrição da capa e uma
justificativa da escolha de sua ilustração. Escreveu sua autora, Lycia Ribeiro
Lopes, referindo-se à escolha do simbolismo egípcio:
(...) Anais de Enfermagem não poderia fugir à sedução que aquele povo
misteriosamente exerce sobre os que cultivam a história da
civilização. Eis porque as fundadoras desta interessante revista
marcaram a sua capa com os monumentos simbólicos que a destinguem.
Compreendemos perfeitamente toda a imensa beleza que na arte egípcia
encontraram as fundadoras e diretoras desta revista, a ponto de
tomarem como tema da capa de "Anais de Enfermagem" a linda e
impressionante mitologia daquele povo, rica em divindades e pródiga
de encantadora filosofia(11).
PERÍODO INTERMEDIÁRIO: 1946-1947
1946 Edith M. Fraenkel, redatora-chefe e presidente da ABEn - Seção de S.
Paulo, organizou logo seu campo de trabalho instalando, na Escola de Enfermagem
de S. Paulo, da Universidade de São Paulo (EEUSP), da qual era diretora, a
redação e a administração de Anais de Enfermagem. Seus primeiros auxiliares
foram Marina Bandeira de Oliveira, secretária; Safira Gomes Pereira,
tesoureira; e José Maria Machado, editor responsável; este último foi
substituído por José Finocchiaro e Enio Barbato nesse mesmo ano. Na presidência
da Comissão de Propaganda ficou Glete de Alcântara, a quem deveriam ser
endereçados todos os pedidos de assinatura.
O preço inicial desta foi de trinta cruzeiros por ano e cinqüenta por dois
anos; a impressão passou a ser feita na gráfica daRevista dos Tribunais, em São
Paulo.
Ao recomeçara publicação, a redatora definiu seus objetivos quando escreveu: "a
enfermagem necessita de um órgão de publicidade não só para divulgação de
informações e troca de idéias (...), como para estimular o espírito de
pesquisa, no intuito de melhorar as nossas técnicas, através da publicação dos
resultados obtidos, dos quais advirão inestimáveis proveitos em prol do bem-
estar e da saúde do nosso povo"(12).
No início dessa segunda fase, os volumes XV e XVI, correspondentes aos anos de
1946 e 1947, ainda saíram com certa irregularidade. Como pode ser verificado
pela análise dos exemplares, na seriação dos volumes foram considerados os anos
de interrupção, de 1942 a 1945, que corresponderiam aos volumes de XI a XIV. No
primeiro ano, 1946, foram publicados quatro exemplares, os de número 18 a 21,
todos em capa verde, com o símbolo egípcio simplificado, tendo no centro o
mesmo lema, em triângulo; esses números correspondiam aos meses de janeiro/
março, abril/junho, julho/setembro e outubro/dezembro. Já em 1947 foram
publicados apenas os números 22 e 23, referentes aos quatro primeiros meses do
ano.
O aspecto interior da revista era menos compacto que o que tem hoje; a
distribuição do assunto era feita em coluna dupla, páginas de 18x24 cm, o que
tornava a leitura mais agradável e o volume, de manuseio mais fácil.
Nesse período, a revista, apesar de tiragem irregular, contou com uma
quantidade apreciável de anunciantes, comparada com a situação atual; chegou a
onze anúncios no primeiro exemplar, intercalados com artigos científicos,
notícias e informações, atos legislativos, consultas, fotografias e índice
bibliográfico anual. Recebeu auxílio financeiro de várias instituições,
principalmente do "Centro Acadêmico XXXI de Outubro" da Escola de Enfermagem da
Universidade de S. Paulo. O número 19, de abril/junho de 1946, assinalou a
contribuição do Serviço Especial de Saúde Pública (mil cruzeiros), da
Associação Brasileira de Enfermeiras Diplomadas (mil quatrocentos e oitenta e
cinco cruzeiros), do Centro Acadêmico "XXXI de Outubro" (mil cruzeiros), da
Escola Ana Neri (mil cruzeiros) e da Escola de Enfermagem da Universidade de
São Paulo (novecentos cruzeiros).
A festa de Sto. Antônio (12 de junho), tradicionalmente realizada na Escola da
Universidade de S. Paulo pelo corpo docente e corpo discente foi, nesse ano de
1946, em benefício de Anais de Enfermagem que recebeu, do Centro Acadêmico, a
valiosa contribuição de mais novecentos e quinze cruzeiros. Rosaly Taborda na
reunião mensal da ABED de novembro desse ano, pediu que fosse "lançado em ata
um voto de louvor a Glete de Alcântara, pela sua cooperação em Anais de
Enfermagem, (...) extensivos às alunas da Escola de S. Paulo, que muito
contribuíram para a revista". No ano seguinte foi a redatora-chefe que, ao
apresentar relatório, destacou a valiosa colaboração de Glete de Alcântara que
consagrava grande parte de seu descanso diário à referida revista. "Se a
revista circula", disse Edith Fraenkel, "devemo-la à dedicação de Glete de
Alcântara". Outras manifestações semelhantes de reconhecimento foram feitas
pela ABED, ressaltando a colaboração que as alunas dessa Escola vinham
prestando à redação e à administração de Anais de Enfermagem(8).
1947 Em 1947 houve mudança na designação de alguns dos cargos; Edith Fraenkel
tornou-se diretora e Glete de Alcântara, secretária; a tesoureira foi Hermínia
Nogueira. Desapareceu a Comissão de Propaganda. Foram indicadas as redatoras
responsáveis pela revista nas seções estaduais então existentes: Amazônia,
Leontina Gomes; Bahia, Haydée G. Dourado; Minas Gerais, Waleska Paixão;
Distrito Federal, Leda Moreira; Rio de Janeiro, Ermengarda de Faria Alvim, mais
tarde auxiliada por Hermínia Nogueira; e São Paulo, Ruth Borges Teixeira. Os
editores continuaram os mesmos.
O número de janeiro/março de 1947 foi inteiramente dedicado ao I Congresso
Nacional de Enfermagem, realizado nesse último mês. Iniciava-se, assim, uma
tradição só quebrada em 1968, quando os trabalhos dos congressos passaram a ser
publicados em mais de um número.
Outras iniciativas dessa fase tiveram continuidade: a publicação de atos
legislativos, do quadro da organização da ABEn e, de uma certa maneira, o
sistema de paginação. Este foi individualizado, por número de revista e não por
volume, nos anos de 1948/49 e 1970/71. Nos demais períodos seguiu o sistema por
volume anual. A publicação de atos legislativos pertinentes foi sempre
considerada de interesse. No VII Congresso Nacional de Enfermagem, em 1954, a
Assembléia Geral deliberou que a revista deveria publicar o noticiário da
Comissão de Legislação, a partir do primeiro número de 1955.
Por outro lado, houve uma certa inconstância na escolha do local para a
publicação do Expediente; ora aparecia na primeira, ora na última contra-capa;
firmou-se na primeira, de 1948 a 1952. A partir de 1953, começou a aparecer
sempre na página de rosto. A publicação do índice bibliográfico anual foi
interrompida de 1950 a 1959; voltou a ser publicado de 1960 a 1968, e tornou a
desaparecer em 1969,.
Essas informações, plenas de detalhes, mostram que a mudança em curto prazo do
corpo administrativo da revista, principalmente do editor, é responsável por
tantas alterações em sua organização, nem sempre inteiramente justificáveis.
PROGRESSOS E VICISSITUDES: 1948-1954
1948 Sem haver descontinuidade administrativa, mas tendo como fundamento a
experiência adquirida nesses primeiros anos de trabalho publicitário e a
vontade de acertar, fazendo o melhor, a redação da revista modificou-a por
completo em 1948, quando começa a terceira fase de sua história. Foi iniciada
nova seriação com o volume 1, considerando-se, esse ano como o primeiro da
série.
"As alterações sofridas", disse Glete de Alcântara, "não se
verificaram somente na redução do formato para tornar menos
dispendioso seu custo. Procurou-se, de um lado, elevar o nível do
conteúdo da publicação, pela seleção mais rigorosa dos trabalhos, e
de outro, estimular a produção de literatura profissional pelas
próprias enfermeiras. Como órgão de classe, Anais de Enfermagem
precisa refletir o desenvolvimento profissional através de maior
contribuição das próprias enfermeiras. Os números publicados nos
primeiros tempos, após a mudança ocorrida, não revelaram as
alterações profundas que se desejava imprimir(13).
Enquanto trimestral, a publicação permaneceu constante e regular (quatro
revistas por ano) no período de 1948 a 1960. De 1961 a 1963 passou a bimestral,
com o auxílio recebido da Fundação Rockefeller; cessado esse auxílio, continuou
bimestral, porém, foi necessária a fusão de dois, três e até de quatro números
em uma só publicação. A princípio, os quatro números anuais correspondiam aos
meses de janeiro, abril, julho e outubro. Essa divisão passou, em 1953, a
corresponder aos meses de março, junho, setembro e dezembro; mudou em 1961,
para fevereiro, abril, junho, agosto, outubro e dezembro. A distribuição em
seis exemplares foi conservada até 1974, porém, com as mais variadas
combinações de número e de referências mensais, essas últimas, principalmente,
a partir de 1970. Em 1974, a diretoria aprovou sugestão da coordenadora da
revista, Celina de Arruda Camargo, para voltar à numeração antiga, de um a
quatro, considerando que, realmente, são apenas quatro os números publicados
anualmente.
Quanto ao aspecto interno, passou a ser impressa em coluna única, com quadros e
tabelas em pequeno número, uma ou outra ilustração científica ou quadro
fotográfico; tamanho, 15x22, 5 cms.
O aspecto externo foi uma constante até 1954: capa incolor, conservando o mesmo
símbolo egípcio simplificado dos dois anos anteriores -1946 e 1947 - porém,
centralizado.
1954 No congresso realizado em S. Paulo em 1954 houve grandes modificações. A
Assembléia Geral, realizada a 21 de agosto, aprovou emenda apresentada pela
presidente da Comissão de Estatuto, Maria Dolores Lins (de Andrade), por
sugestão da diretoria, referente à mudança do nome da associação e da revista
que passaram a denominar-se Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) e
Revista Brasileira de Enfermagem (RBEn), com nova apresentação, a partir de
1955.
Na reunião da diretoria de 9 de outubro de 1954, Haydée Guanais Dourado,
redatora-chefe, comunicou que, de acordo com a Lei de Imprensa, seriam
necessários dois jornalistas para que a revista conseguisse personalidade
jurídica e direito de importar papel de linha d'água. Nesse mesmo dia ficou
decidido que o jornalista Magno Guanais Dourado ficaria responsável pelo seu
registro, com a nova denominação. Seu nome foi posteriormente substituído pelo
de Maria Geralda Franco, quando esta se diplomou em jornalismo.
Administração da Revista
A administração de Anais de Enfermagem gozou, nesse período, de alguma
estabilidade quanto à direção; esta, contudo, não contou com um grupo constante
de colaboradoras. O trabalho, que não era pouco, exigia e ainda exige a
ocupação das horas que deveriam ser reservadas ao descanso das enfermeiras.
1948 Edith Fraenkel foi denominada diretora até 1948, e redatora-chefe desta
data a 1951. Pela reforma do estatuto, aprovada pela Assembléia Geral realizada
em 1948, foi criada a Comissão de Redação, em caráter permanente, que tinha
como finalidade "manter em dia as publicações de Anais de Enfermagem, conseguir
assinantes, obter anúncios e fazer a divulgação da revista". Na reforma
processada em 1950, foi retirada a expressãoem dia, pois, segundo Irmã Matilde
Nina, o relatório deficitário apresentado pela Comissão de Redação suscitava a
pergunta: "como poderá a Comissão de Redação responsabilizar-se pela publicação
em dia da revista se não houver dinheiro suficiente?"(8).
1949 Em reunião do Conselho Deliberativo da Associação, a 3 de dezembro de
1949, Glete de Alcântara foi indicada presidente dessa comissão, passando Edith
Fraenkel à denominação antiga, de redatora-chefe. Em fevereiro de 1951 Edith
Fraenkel pediu demissão do cargo em caráter irrevogável, sendo substituída por
Maria Rosa Sousa Pinheiro. A Comissão de Redação desapareceu em princípios de
1953.
Glete de Alcântara passou a constar da contra-capa das revistas como diretora
responsável, de janeiro de 1951 a fins de 1954. Segundo seu próprio relato,
porém, de agosto de 1950 a novembro de 1951, por motivo de viagem de estudos ao
exterior, afastou-se "do cargo de secretária", que reassumiu após seu regresso.
Ao ser eleita presidente da Associação em julho de 1952, tornou-se,
automaticamente, a diretora responsável pela revista, "embora as atividades
relativas à sua publicação tivessem passado para as mãos capazes de Maria Rosa
S. Pinheiro" (13).
Como redatora-chefe, Maria Rosa S. Pinheiro trabalhou para a revista de
fevereiro de 1952 a fins de 1954; de agosto deste ano a julho de 1958, como
presidente da ABEn, tornou-se a diretora responsável.
Anais de Enfermagem de junho de 1952 publicou, também, os nomes de um grupo de
redatoras, além das componentes da Comissão de Redação. Foram elas: Cecília M.
D Sanioto (substituída no mês seguinte por Ana Nava), Haydée G. Dourado, Maria
Rosa S. Pinheiro e Waleska Paixão, esta última iniciando, também, no mês
seguinte. Esse grupo desapareceu em princípios de 1953.
1953 Em 1953 a administração da revista compunha-se de diretor responsável, a
presidente da ABED, Glete de Alcântara; diretor secretário, Maria Rosa S.
Pinheiro; redator-chefe, Haydée G. Dourado; e diretor de publicidade, Clélea de
Pontes. O gerente apareceu mais tarde. Essa foi também a diretoria em 1954.
Em julho de 1953, Haydée G. Dourado fez uma sugestão à diretoria que somente
alguns anos depois se concretizou; foi a seguinte: "que a atual Comissão de
Redação de Anais de Enfermagem tenha, por sua presidente, assento na Diretoria
da ABED até que a revista adquira personalidade jurídica e seja estabelecida
sua relação com a ABED".
Colaboração científica
1949 Em 1949 foi constituído um novo grupo de redatoras das seções estaduais;
foram acrescentadas representantes das novas seções e substituídas algumas das
antigas. Nessa ocasião, novembro de 1949, ficou estabelecido, também, que as
colaborações em artigos deveriam ser encaminhadas à secretária pelas
respectivas representantes, que compunham a Comissão de Redação, criada em
1948.
Várias outras substituições foram feitas nessa comissão, como pode ser
verificado pelo exame da contracapa das revistas do período em que ela existiu,
ou seja, de 1942 a 1953. Parece que essa comissão não deu os resultados
esperados; os apelos para maior contribuição por parte das enfermeiras,
recomeçados em março de 1946, continuaram em 1947 e nos anos subseqüentes. Em
reunião da Associação em 1945, a presidente, Zaíra Cintra Vidal (1943-1947),
foi informada por Haydée G. Dourado que Edith Fraenkel havia providenciado
material para a publicação do primeiro número da nova fase "cuja contribuição
de artigos por parte de associadas foi muito pequena".
1950 Em 1950, Glete de Alcântara solicitou maior colaboração das seções,
alegando que a revista não saía regularmente por falta de artigos para
publicação; informou, também, que os números um e dois desse ano haviam saído
com a colaboração quase exclusiva da Seção de S. Paulo e salientou as vantagens
auferidas por quem escreve um artigo, ou seja, "título e desenvolvimento
pessoal (...)".
Esse assunto foi longamente debatido na Assembléa Geral do IV Congresso, 1950,
quando Maria Rosa S. Pinheiro apresentou o relatório da Comissão de Redação, na
ausência de Glete de Alcântara. Elisa Bandeira propôs que cada seção estadual
se responsabilizasse pela publicação de um número da revista e sugeriu que os
artigos deviam ser censurados nas seções, "impedindo a devolução dos mesmos
pela censura de Anais de Enfermagem, em São Paulo". Assim, as colaboradoras
menos experientes não perderiam o estímulo para escrever. Para Irmã Matilde
Nina, a Comissão de Redação deveria organizar um cadastro "das enfermeiras
capazes de colaborar na revista"; deveria também agir de tal maneira, que as
enfermeiras que desejassem colaborar não perdessem o estímulo. Na opinião de
Ella Hasenjaeger, seria interessante que pessoas "especializadas fossem
destacadas para opinar sobre os diversos artigos".
Essas discussões, que mostram a preocupação das enfermeiras pela elevação do
nível das publicações, resultaram na aprovação, pela assembléia geral, das
recomendações da Comissão de Redação, para que fossem formadas comissões de
redação em cada seção ou distrito da ABED, com a finalidade de conseguir
assinantes, anunciantes, colaboração em artigos e notícias para Anais de
Enfermagem. Suas presidentes, indicadas pelas presidentes das seções ou
distritos, passariam a compor a Comissão de Redação da ABED, e agiriam como o
elo de ligação entre as duas comissões. Notícias de fatos de interesse para a
profissão, e os artigos a serem publicados deveriam ser encaminhados por essas
presidentes(14).
1951 Os resultados dessa decisão parecem ter sido positivos. No relatório
apresentado no ano seguinte, 1951, Maria Rosa S. Pinheiro, já como presidente
da Comissão de Redação acumulando com o cargo de redatora-chefe, agradeceu "aos
membros das Comissões de Redação das Seções e a todas as enfermeiras que
angariaram assinaturas, anúncios e escreveram artigos para publicação". Quanto
a esses, escreveu a presidente, "continuamos com as mesmas dificuldades de
colaboração apontadas nos anos anteriores mas também neste ponto estamos
otimistas. Notamos um grande movimento em favor da elevação do padrão de
cultura de nossas enfermeiras: não são poucas as que cursam no momento escolas
superiores a fim de ampliar o seu cabedal de conhecimentos. Esta melhoria do
padrão de cultura dá uma segurança que facilita a produção de literatura
profissional"(15).
Esse otimismo, porém, durou apenas dois anos. O relatório de 1953 salientou as
dificuldades em conseguir matéria para publicação o "que justificava o atraso
na saída dos números"(8).
REFLEXOS DO DESENVOLVIMENTO DA ÉPOCA: 1955-1975
1955 As razões da reforma procedida em 1954 - mudança do nome e do símbolo -
foram explicadas no relatório das atividades da ABEn correspondente ao ano de
1954/1955, apresentado pela presidente. Referindo-se à revista, disse Maria
Rosa S. Pinheiro (1954-1958): "A Revista Brasileira de Enfermagem prossegue sua
trajetória acidentada. Só é publicada por que a ABEn a tem sustentado.
Apresenta-se este ano com vestimenta nova, num esforço por se tornar mais
atraente para sobreviver. O círculo vicioso em que vive ainda não se rompeu; as
enfermeiras por ela não se interessam devido ao seu atraso e este atraso é
causado pelo desinteresse que se traduz em falta de colaborações e falta de
dinheiro. Está, agora, em mãos de gente moça, menos envolvida nos problemas da
Associação; fazemos um apelo para que lhe deis o vosso apoio, renovando as
vossas assinaturas".
A vestimenta nova a que se referiu foi a completa modificação de sua capa. De
acordo com Haydée G. Dourado, "a capa da Revista foi mudada em atenção à
sugestão neste sentido apresentada pelo Professor da cadeira de Periódicos, do
Curso de Jornalismo da Faculdade Nacional de Filosofia, respondendo à consulta
técnica que lhe foi formulada pela Diretoria da Revista"(16). A capa, criação
do grande decorador e desenhista Santa Rosa, passou a variar de cor conforme o
número da publicação; os símbolos egípcios foram abandonados e em seu lugar
surgiu a figura estilizada da dama da lâmpada, encimada pelo título da revista,
em letras minúsculas, em itálico.
O editorial da revista, dedicado à comemoração do seu 30º aniversário em 1962,
assim descreveu as mudanças processadas: "A apresentação gráfica atual é a de
uma revista pobre. Sem ilustrações visto como o clichê encarece a publicação -
a leitura não é amena. O papel é de custo médio. É evidente que dentro das
atuais condições, a Revista tem dificuldade em manter-se financeiramente.
Deverá sair, com mais esforço, desta fase inicial de trabalho voluntário.
Nenhuma revista boa é feita sem que possa fazer face à manutenção de seus
serviços. Eis o desafio diante dos que compreendem o seu papel na enfermagem".
Referindo-se ao símbolo, perguntou a mesma editorialista: "Teria o artista
evocado Santa Catarina de Siena ou Florence Nightingale? Para nós resume ambas;
tem o condão de suscitar imagens que vão às raízes, à essência da enfermagem
que desejamos realizar".
Apenas os números um e três de 1960 saíram com capa diferente, com o escudo da
ABEn como símbolo. Esses números foram impressos pelas Universidades da Bahia e
de Minas Gerais, respectivamente, como homenagem à ABEn, em comemoração ao ano
Florence Nightingale.
O aspecto interno não sofreu modificações até 1975; os números correspondentes
ao X volume, 1958, contém maior número de fotografias e ilustrações científicas
que os demais.
Vinte anos depois dessas alterações, a revista procura modernizar-se. O
primeiro número de 1975 apresentou-se modificado no tamanho, aspecto interno e
página de rosto: fugiu aos modelos anteriores, adotando a medida de 21 x 17, 5
cm. Quanto ao aspecto interno foi adotada a coluna dupla das duas primeiras
fases, e acrescentada a indicação bibliográfica completa de cada um dos
artigos.
A impressão voltou a ser feita no Rio de Janeiro a partir do terceiro número de
1952, a princípio na Oficina Gráfica da Universidade do Brasil. Em uma das
reuniões do Conselho Deliberativo, realizada em outubro de 1956, a Seção de S.
Paulo propôs a transferência da redação novamente para S. Paulo; os protestos
de Maria Geralda Franco, gerente da revista e 1ª tesoureira da ABEn, e de
Doralice Regina Ayres, 1º secretária, determinaram a retirada da proposta.
Administração da Revista
Em 1955, foram dadas novas denominações para os cargos da diretoria da RBEn ou
seja: responsável, a presidente da ABEn, Maria Rosa S. Pinheiro (1954-1958);
diretor redator-chefe, Haydée G. Dourado (1953 até o presente); gerente, Maria
Geralda Franco (1955-1962); e editor, Altair Alves Arduino. Sob a presidência
de Clarice Della Torre Ferrarini (1962-1964), o cargo da presidente da ABEn
voltou a ser de diretor responsável; essas denominações são ainda mantidas.
Em setembro de 1957, Marina de Andrade Rezende passou a editor, cargo que
ocupou até sua morte, em 20 de janeiro de 1965; de 1958 a 1962 foi, também,
diretor responsável. De 1965 a 1975, essa atividade foi desenvolvida por:
Anayde Corrêa de Carvalho (1965 a 1968); Maria Rosa S. Pinheiro (1968-1970);
Vilma de Carvalho (1970-1972); Celina de Arruda Camargo (1972 até o término de
seu mandato, em 1976). Essas três últimas acumularam o cargo de coordenadoras
da Comissão da Revista Brasileira de Enfermagem com o de editor.
As presidentes da ABEn Waleska Paixão (1950-1952), Clarice Della Torre
Ferrarini (1962-1964), Circe de Mello Ribeiro (1964-1968), Amália Corrêa de
Carvalho (1968-1972) e Glete de Alcântara (1972-1974) ocuparam o cargo de
diretor responsável durante os respectivos mandatos. Com o falecimento da
presidente Glete de Alcântara, a 3 de novembro de 1974, a 1ª vice-presidente,
Maria da Graça Simões Corte Imperial tornou-se o diretor responsável.
A gerência da revista foi exercida por Maria Geralda Franco até 1963, Altair
Alves Arduino (1963), llnete Ayres (1964-1966), Irmã Maria Tereza Notarnicola
(de 1966 até a presente data).
Colaboração científica
O atual valor científico-literário das publicações é, tanto o reflexo do
desenvolvimento da Enfermagem nesses anos de progresso em todos os ramos do
conhecimento, quanto das reformas institucionais que se processaram com o
desenvolvimento do país, como um todo.
Em seus dez primeiros anos de vida, a colaboração em artigos para publicação
foi quase totalmente fruto dos trabalhos redigidos pelas diplomadas e docentes
da Escola Ana Neri, única escola, então existente, de currículo considerado
superior. Nos anos de 1946 a meados de 1952, distingüiu-se a Escola de S.
Paulo, da USP, pela colaboração de suas docentes e diplomadas. Nos primeiros
anos que se seguiram a 1953, a contribuição maior ficou com as Seções do
Distrito Federal, de S. Paulo e da Bahia, passando em seguida a ser dada,
também, pelos outros estados, em proporções variáveis.
Com a fixação definitiva do ensino de Enfermagem no nível superior, com a
criação de cátedras nas escolas e, hoje, com a carreira universitária
obrigatória a quem se dedica ao ensino superior, o nível e o número de
publicações elevou-se sensível e promissoramente. Essa melhora foi, porém,
gradativa.
1955 Em outubro de 1955, a diretoria da ABEn tomou conhecimento de que Waleska
Paixão havia se queixado da qualidade dos artigos publicados na RBEn e havia
proposto que a Escola Ana Neri ficasse com a responsabilidade da revisão do
material, antes da publicação. No mês seguinte, Maria Geralda Franco, gerente,
propôs que fossem criados dois núcleos para revisão dos artigos, um no Distrito
Federal e outro em S. Paulo, para evitar que esta "demorasse mais de dois meses
atrasando a saída da Revista".
O relatório da presidente de 1955/56 citou a falta de material para publicação
como uma das causas da irregularidade na sua remessa, ao lado "do atraso da
gráfica, escassez de pessoal de escritório e deficiência no correio", fatores
causais "da anemia crônica de recursos" de que vinha sofrendo a revista. Essa
irregularidade era a responsável pelo cancelamento de assinaturas, diminuindo,
assim, sua maior fonte de renda. "Não cabe apenas à Diretoria da ABEn encontrar
os meios para resolver essa penosa situação, é problema vosso também. Em todos
os Congressos são feitos apelos em nome da Revista; há um movimento momentâneo
de boa vontade, formam-se comissões para angariar assinaturas e. anúncios, mas
o entusiasmo logo esvai-se e nem aparecem os anúncios e nem aumenta o número de
assinaturas (...). Sabiam que este número (de assinantes) é menor hoje do que
cinco anos atrás?", perguntou Maria RosaS. Pinheiro.
Em novembro de 1955, Marina de Andrade Rezende sugeriu a criação de uma seção
de perguntas e respostas, aumento do noticiário e a introdução da página do
estudante; essas inovações teriam por fim tornar mais interessante o conteúdo
da revista.
1959 O apelo aos enfermeiros para que colaborassem, enviando artigos para
publicação, parece ter-se tornado desnecessário de 1960 em diante. A Assembléia
Geral realizada a 21 de julho de 1959 lembrou ainda a responsabilidade das
seções e distritos na ajuda aos "programas de aumento do número de assinaturas,
de obtenção de trabalhos para publicação e de remessa de notícias". Disse,
nessa ocasião, a presidente Marina de Andrade Rezende (1958-1962): "É bem
verdade que começam a aparecer outras colaboradoras, mas seria necessário que
não nos fosse subtraído o concurso das colaboradoras dos primeiros tempos".
Com essa última queixa, as presidentes não mais encareceram a necessidade de
artigos; o editor da revista começou a ter em mãos quantidade suficiente de
material para publicação. Seu maior problema continua sendo a revisão dos
artigos antes de serem publicados, e das provas, depois da primeira impressão.
FINANÇAS
Primeira fase: 1932-1945
As dificuldades financeiras foram uma constante desde a fundação da revista, em
1932. Já em abril de 1933, Célia Peixoto Alves havia sugerido que a Associação
incorporasse o periódico.
1939 É de se supor que os problemas discutidos nas reuniões mensais da ANEDB em
1939 fossem os mesmos, desde o seu aparecimento, ou seja, sua precária situação
financeira e a falta de artigos para publicação. Das sete reuniões da
Associação realizadas em 1939 - seis mensais e uma da diretoria - três trataram
de assuntos relacionados com a revista. Em uma dessas foi discutida a
"independência dos Anais de Enfermagem". Foi decidido "que se fizesse um
empréstimo à revista, sem prazo determinado, de quatro contos de réis (4:
000$000) a fim de dar saída aos quatro números de 1938 e ao primeiro de 1939".
Empréstimos e doações
A decisão sobre o empréstimo confirma a idéia inicial de uma publicação
economicamente independente; essa meta, porém, nunca foi alcançada. O seu custo
foi sempre maior do que seria a quantia a arrecadar de suas assinaturas e de
outras fontes.
Em abril de 1939 a redatora-chefe, Alayde Borges Carneiro, agradeceu o
empréstimo que lhe foi concedido para impressão e manutenção, naquele ano, e
prometeu pagara dívida em "ocasião oportuna". Encareceu, junto às colegas, a
necessidade de maior cooperação tanto para conseguir artigos como para aumentar
o número de assinantes.
Outros pedidos semelhantes, de auxílio financeiro e de colaboração, foram
feitos nas reuniões mensais que se seguiram(8). A fim de colaborar mais
estreitamente, Laís Netto dos Reys, diretora da Escola de Enfermeiras Ana Neri
(1938-1950), concedeu à Associação "duas excelentes salas no edifício da
Residência da Escola, para instalação das sedes da Associação e do Jornal".
1943 Em dezembro de 1943 foi convocada reunião extraordinária para tratar de
proposta apresentada por Laís Netto dos Reys. Esta e as demais diretoras de
escolas de Enfermagem ofereceram auxílio financeiro a Anais de Enfermagem para
que a Associação desistisse do oferecimento do SESP - representado nessa
reunião pela senhora Rodman - de pagamento do aluguel da sede. A pedido da
vice-presidente em exercício, Mirabel Smith Ferreira Jorge, Rosaly Taborda fez
um relato da situação da revista e dos problemas a resolver, dentre os quais, o
do seu registro. Posta em votação, a proposta de Laís Netto dos Reys foi
rejeitada; as enfermeiras presentes apoiaram integralmente o auxílio do SESP,
não dispensando, também, o das diretoras das escolas.
1945 Em setembro de 1945, a revista recebeu auxílio mais positivo, porém, ainda
insuficiente. Na reunião realizada nesse mês ficou resolvido que todas as
escolas de Enfermagem deveriam contribuir. AEscola de S. Paulo havia enviado
setecentos cruzeiros, "Miss" Rice Heig(17) mandou cem cruzeiros e cento e vinte
e cinco foram recebidos de assinaturas das enfermeiras de S. Paulo. Esperava-se
a contribuição das outras escolas. Enquanto isso, a revista tinha em caixa mil
e quinhentos cruzeiros e a edição estava custando, em São Paulo, dois mil
cruzeiros(8).
Segunda fase: 1946-1947
Os obstáculos ao crescimento mais acelerado da revista não foram superados nas
fases seguintes de sua existência. Formou-se um círculo vicioso, em que a
pobreza de publicações certamente influiu no custo e tiragem, na obtenção de
anúncios e de assinantes em número suficiente para evitar os constantes apelos
de ajuda financeira, e no adiamento das suas possibilidades de independência
econômica e jurídica.
Quanto aos assinantes, sendo a revista o órgão de oficial da associação de
classe e, até então, o único meio de comunicação entre as associadas, era
natural esperar que, pelo menos, o número dessas correspondesse ao de
assinantes. Mas Glete de Alcântara queria mais, em 1946 e 1947; queria, não
somente que todas as enfermeiras se fizessem assinantes de Anais de Enfermagem,
como, também, que se interessassem em conseguir maior número de assinaturas,
"uma vez que o dinheiro existente em caixa não cobre as despesas para as
edições de 1948".
Terceira fase: 1948-1954
Assinantes - Em 1949, quando presidente da ABEn - Seção São Paulo, Glete de
Alcântara informou à assembléia geral que, das quatrocentas e quarenta e oito
assinaturas de Anais de Enfermagem em todo o Brasil, no ano de 1948, cento e
noventa e sete haviam sido feitas em São Paulo, representando, portanto, este
Estado, quarenta e três por cento do total.
1950-1951 O apelo para conseguir maior número de assinaturas foi uma constante
nesse período, repetindo-se cada vez que era apresentado relatório
administrativo, com uma única exceção, no ano de 1950/51. Nesse ano, Maria Rosa
S. Pinheiro informou que tinha o prazer de destacar o grande aumento no número
de assinantes, principalmente o verificado no Distrito Federal. O total de 385,
em 31 de outubro de 1950, havia subido para 637, na mesma data do ano seguinte,
distribuídos entre o Rio Grande do Sul e o Território do Amapá; esse número
havia ultrapassado a meta, fixada em 600 assinantes. O resultado permitiu
estabelecer, como meta a atingir em 1952, o ambicioso número de 1.000
assinaturas.
Com essas barreiras a vencer, a manutenção de Anais de Enfermagem era o
constante cuidado do seu corpo administrativo e da diretoria da ABED.
A redatora da revista, porém, procurou ânimo nas lutas vencidas no passado.
Disse ela, no relatório de 1951:
"Como todas as enfermeiras sabem, a nossa revista tem passado por
muitas vicissitudes, desde o seu nascimento.
Se hoje, com o número de enfermeiras diplomadas que temos, Anais de
Enfermagem luta com grandes dificuldades para sobreviver, imaginamos
o esforço heróico que devem ter feito as enfermeiras pioneiras para
manterem uma publicação profissional".
Como um oásis no deserto das dificuldades que estavam sendo enfrentadas, esse
relatório otimista como sua própria autora o definiu, continha um plano para
publicação, em futuro não muito remoto, de seis números em vez de quatro, pois
em sua opinião "três meses é um intervalo demasiado longo sobretudo para
publicação de notícias de interesse para os nossos assinantes". Acreditava que,
com mais um impulso e algum esforço dos enfermeiros brasileiros, Anais de
Enfermagem haveria de se tomar "uma revista prestigiada e economicamente
independente".
1952 Porém, na reunião do Conselho Deliberativo realizada a 20 de julho de
1952, a presidente, Waleska Paixão (1950-1952), referiu-se ao "fato espantoso
de não terem sido renovadas, esse ano, mais de trezentas assinaturas de Anais
de Enfermagem". As dificuldades na remessa dos volumes aos assinantes foi
apontada novamente como um sério problema a resolver.
Anúncios - Quanto aos anúncios - melhor fonte de renda de uma revista
profissional - embora ardentemente desejados, deveriam sofrer uma censura
prévia antes de serem publicados. A assembléia geral realizada em 1950 aprovou
proposta recomendando que cada seção designasse um grupo de trabalho "para
obter anúncios para Anais de Enfermagem e que no Rio e em S. Paulo funcionassem
as comissões também como censoras dos anúncios"... Ao que parece, a comissão
que funcionou em S. Paulo, em 1951, trabalhou de modo satisfatório, pois, as
revistas desse ano apresentaram grande número de anúncios, inclusive um
indicador profissional desse Estado.
Em 1952, a redatora chefe queixou-se de que os anúncios não haviam aumentado na
proporção esperada e sugeriu a criação de subcomissões da Comissão de Redação,
encarregadas especificamente de consegui-los. Embora criadas, os resultados não
foram positivos; apenas no número correspondente ao mês de setembro de 1953
apareceram dois anúncios, de uma página inteira cada um. 1954 Durante o VII
Congresso, 1954, a presidente Glete de Alcântara (1952-1954) fez um dramático
apelo às congressistas para que não deixassem "Anais de Enfermagem
desaparecer". Nesse ano, Maria Rosa S. Pinheiro foi enérgica em seu relatório.
Escreveu:
"(...) As dificuldades têm sido as mesmas dos anos anteriores: falta
de colaboração, falta de anúncios (tiragem de apenas mil e duzentos
números), aumento do custo da revista que sofre o reflexo da alta do
preço do papel e de mão-de-obra, decréscimo no número de assinantes
(...)". Disse ainda: "desde a sua reorganização em 1948 até esta
data, Anais de Enfermagem tem sido publicado, regularmente quatro
vezes por ano; durante estes seis anos e meio nunca faltou. Contudo,
agora, à vista dos cofres vazios, vemo-nos na contingência de
declarar, ou as enfermeiras do Brasil reconhecem o papel que
representa no desenvolvimeto da própria profissão o órgão oficial da
associação de classe e lhe dão o apoio que precisa para sobreviver,
ou então na impossibilidade de fazer frente às despesas e de saldar
nossos compromissos, seremos obrigadas a interromper a sua
publicação. Esta Assembléia deverá decidir sobre o destino de Anais
de Enfermagem.
Baseadas pois na verificação da situação atual viemos propor as
seguintes recomendações: 1) a formação de duas comissões especiais
que trabalhem intensamente durante esta semana de Congresso, uma para
angariar assinaturas, outra para obter anúncios; 2) aumento do preço
da revista, a partir de 1955, para oitenta cruzeiros por um ano e
cento e cinqüenta cruzeiros por dois anos.
Atendendo à primeira recomendação, apresentaram-se como voluntárias Wanda
Miranda, Alaíde Leme e Cecília Calazans, para conseguir assinantes; Maria Edna
Salatino, Madre Marie Domineuc e Beatriz Guedes Galvão, para conseguir
anúncios,
Preço da assinatura - No que se refere ao preço da assinatura, estipulado em
trinta cruzeiros anuais e cinqüenta por dois anos em 1946, subiu para cinqüenta
e noventa, respectivamente, em 1948.
Em 1950, Haydée G. Dourado sugeriu que a anuidade da ABED fosse elevada para
duzentos cruzeiros, "tendo assim, cada sócia, direito a revista", Essa medida
só foi adotada bem mais tarde, em 1962. O aumento verificado no número de
assinantes em 1952 não foi suficiente para equilibrar o orçamento, pois o preço
de custo da impressão de cada número havia subido em proporção superior ao pago
pelo assinante, excluídas as despesas de expedição, correspondência e números
reservados para intercâmbio. A proposta para aumentar para sessenta, e cento e
dez cruzeiros, respectivamente, foi aceita e esses preços vigoraram até 1954.
Nesse ano subiu para oitenta e cento e cinqüenta cruzeiros, respectivamente,
por decisão da Assembléia Geral do VII Congresso, levando em consideração "o
papel que representa no desenvolvimento da profissão o órgão oficial da
associação de classe e dada a impossibilidade deste fazer face às despesas de
publicação". As constantes necessidades de aumento corriam quase que
exclusivamente por conta do alto preço do papel, da impressão e da expedição.
Doações - Anais de Enfermagem sobrevivia, em parte, graças às doações
recebidas.
Com relação às contribuições, em 1950 Edith Fraenkel sugeriu que fosse
solicitada contribuição financeira das seções e divisões, como havia sido feito
em anos anteriores. A idéia foi aprovada em assembléia geral, com a ressalva,
"a menos que aumente o número de assinantes e de anunciantes". De qualquer
maneira, foi recomendado que "cada Seção contribuísse com a importância de mil
cruzeiros para Anais de Enfermagem". O grau de receptividade que essas
solicitações alcançaram nesses anos, de 1948 a 1954, esteve, naturalmente, na
dependência das próprias condições econômicas das seções então existentes,
algumas das quais, recém-criadas. Houve contribuições valiosas das Seções de S.
Paulo, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e Pará; da própria
ABED; das enfermeiras Waleska Paixão e Zaíra Cintra Vidal; das Divisões de
Educação e Saúde Pública; do Centro Acadêmico "XXXI de Outubro" da Escola de
Enfermagem de São Paulo - USP; da União de Religiosas Enfermeiras do Brasil
(UREB) e da própria Escola de Enfermagem de S. Paulo, transformada em sede
administrativa da revista até 1952, arcando, portanto, sua secretaria, com todo
o peso do trabalho. As duas maiores doações, considerando o período a partir de
1946, foram do Centro Acadêmico "XXXI de Outubro" e da UREB, com quantias
equivalentes, seguidos da Seção da Bahia.
As expectativas de progresso que as mudanças aprovadas na reunião de 9 de
outubro de 1954 poderiam significar diminuíram com a informação prestada pela
diretora secretária, nessa mesma reunião. "A Redação da Revista", informou
Maria Rosa S. Pinheiro, "dispunha de vinte e um mil e quinhentos e oitenta
cruzeiros em caixa, até 30 de agosto; em setembro foi gasto em papel, para o
terceiro número, quinze mil e duzentos cruzeiros, tendo restado em conta
bancária, seis mil cruzeiros para o quarto número".
Por proposta de Haydée Guanais Dourado, a Associação devia cobrir a diferença;
a história começava a se repetir no início da quarta etapa de sua existência.
Quarta fase: 1955-1975
Os problemas custo, necessidade de ajuda financeira e empréstimo estavam longe
de serem solucionados.
Contribuição e empréstimo - Em 1956, Waleska Paixão conseguiu um abatimento de
40% da Gráfica da Universidade do Brasil para a impressão da revista.
1955 Os empréstimos para a revista recomeçaram em 1955, com a quantia de trinta
mil cruzeiros, para serem pagos parceladamente, sem juros, graças ao qual
puderam sair os primeiros números de 1956; em 1960 foram mais cinqüenta e cinco
mil cruzeiros; nesse ano, 1960, a presidente Marina de Andrade Rezende havia
lembrado que existia "há muito, um desejo de, conservando a Revista como órgão
de imprensa da ABEn, transformá-la em Sociedade Anônima de Subscrições por
cotas"; Maria Geralda Franco havia apresentado um plano nesse sentido, que
demandava ainda um estudo acurado por pessoas entendidas no assunto.
Em 1962, a Assembléia Geral de 21 de julho recomendou que "as Seções deviam
incluir, obrigatoriamente, o preço da assinatura na anuidade de cada sócia".
1963 Em 1963, a ABEn decidiu pagar, em forma de doação, um empréstimo de
aproximadamente cento e cinqüenta e quatro mil cruzeiros, feito pela revista.
Diante da dificuldade econômica pela qual passava, a diretoria resolveu que
devia ser procurada uma gráfica que se responsabilizasse pela publicação,
continuando a ABEn com o encargo de revisão dos artigos. Essa modalidade foi
tentada em S. Paulo, na presidência de Circe de Mello Ribeiro, mas sem
resultados. Na mesma época, Marina A. Rezende informou à diretoria que os
anúncios estavam barateando o custo da revista e que esperava cobrir o deficit
em breve; apresentou, também, plano para aumentar a cota das sucursais criadas
nas seções para dois mil e oitocentos exemplares, elevando a trezentos os
volumes destinados a vendas avulsas e a quinze, os destinados ao intercâmbio
com revistas estrangeiras. Para diminuir o deficit, sugeriu: 1) publicar os
números em dia; 2) aumentar o número de assinantes; 3) intensificar campanha de
venda de números antigos; 4) obter mais anúncios; 5) obter transporte através
da Força Aérea Brasileira; e 6) oferecer uma página aos auxiliares de
enfermagem.
1964 No ano seguinte, 1964, a decisão tomada previa a redução da tiragem para
três mil exemplares e a fusão de dois números, "uma ou outra vez", continuando
a revista com a distribuição ideal, mas não real, de seis números anuais.
Em outubro de 1965, depois de algumas ponderações, resolveu a diretoria que a
revista deveria deixar de constituir órgão financeira e estruturalmente
independente, uma vez que, na realidade, era a ABEn que providenciava verba
para seu custeio; dessa data em diante o seu orçamento passou a integrar o
orçamento da ABEn.
Os números dedicados ao documentário dos Congressos, geralmente financiados
integral ou parcialmente pelas seções que os organizam e hospedam, ou por sua
intervenção, foram-no pelas Seções do Rio Grande do Sul (1955), Bahia (1960, 1º
Seminário Didático sobre Integração dos Aspectos Sociais e de Saúde nos
Currículos das Escolas de Enfermagem), Universidade de Minas Gerais (1960),
Escola Ana Neri (1961, II Congresso Latino-Americano de Enfermagem - CICIAMS),
Johnson e Johnson do Brasil S. A. (1964, primeiro número), Universidade da
Bahia (1964), Ministério da Saúde e Johnson e Johnson do Brasil S. A.(1965) e
Serviço Nacional de Tuberculose (1970). O número do Congresso de 1972 foi
editado pela Imprensa Oficial de Minas Gerais, mas às expensas da Associação.
Todas essas proezas para conseguir equilibrar as finanças da RBEn não impediram
que fosse enviada uma contribuição de dez dólares, por solicitação da revista
"Nursing Mirror" a todas as revistas de Enfermagem das associações filiadas ao
Conselho Internacional de Enfermeiras, a fim de que fosse oferecido à
presidente desse órgão um colar comemorativo da coroação da Rainha Elizabeth
II. Esta foi a cota que sua situação financeira permitiu oferecer.
O financiamento da Comissão de Seguimento do Levantamento pela Fundação
Rockefeller, solicitado em 1960 e iniciado em princípios de 1961, incluía uma
ajuda financeira para melhorara RBEn. O plano enviado nesta época àquela
Fundação incluiu: 1) o contrato de um gerente em tempo parcial e de uma
secretária em tempo integral; 2) aumento de anúncios; 3) aumento da circulação
e da lista de assinantes; 4) divulgação da revista; 5) edição, a princípio a
cada dois meses, e depois, mensalmente; 6) remessa por via aérea sem despesa
adicional das seções; 7) mecanização da distribuição da revista; e, 8) depois
de levá-la ao conhecimento do público por meio de uma boa administração,
convertê-la em uma agência independente, por participação, da qual a ABEn
ficaria com mais de 50% das cotas.
Essa ajuda foi da ordem de um terço da quantia total concedida à Comissão de
Seguimento, ou seja, três mil dólares para o período de um ano, a terminar em
março de 1962. Referindo-se ao fato no relatório das atividades da ABEn no
período de 1960/61, a presidente Marina de Andrade Rezende disse: "A Fundação
Rockefeller mais uma vez veio de encontro às necessidades da Associação abrindo
projeto de ajuda financeira à Revista que pôde passar por uma série de
alterações administrativas para permitir sua tiragem bimestral, nos meses de
fevereiro, abril, junho, agosto, outubro e dezembro. A ABEn se propôs a fazer
sua expedição pelos meios mais rápidos, ainda que muito mais dispendiosos;
pretende assim habituar o assinante a ter a Revista em mãos mais freqüente e
atualizadamente, criando a necessidade de não se poder passar sem ela.
Alcançada essa etapa, prevê-se o aumento do número de assinantes o que virá
facilitar a campanha de anúncios para cobrir o deficit orçamentário". Nessas
alterações administrativas deveria ser calculada a continuidade do pagamento do
pessoal que seria contratado depois da vigência do projeto.
Nesse período, 1961/62, tornaram-se evidentes as vantagens de um orçamento
equilibrado. "A RBEn foi mantida em dia e a expedição feita rapidamente. O
número de sucursais aumentou de sete para doze (...) e o número de assinantes
de 1085 para 1963, (...). Cumpre agora iniciar uma grande campanha para
obtenção de anúncios (...) que deve abranger indústrias relacionadas com
material e equipamento hospitalar, material de construção e outras (...)" disse
a presidente, em seu relatório.
Chegado ao fim o projeto de ajuda, Clarice Ferrarini enviou, em princípios de
1963, novo pedido à mesma Fundação, incluído também no projeto para a Comissão
de Seguimento, com o mesmo fim. De acordo com informações enviadas por Honorina
dos Santos, 2ª vice-presidente "o orçamento previsto para 1962 havia sido
ultrapassado em novembro daquele ano cabendo à ABEn cobrir as despesas de
compra de papel, impressão e distribuição da edição correspondente ao mês de
dezembro". Informava ainda que as despesas previstas eram reais e apresentavam
o mínimo exigido para manter a revista. Os recursos seriam obtidos por
subscrições, anúncios, doações e venda de números antigos. Explicava que a
doação permitiria assegurar a regularidade e a presteza na impressão e remessa
da revista, o que permitiria assegurar também o número de assinantes e de
anunciantes necessários.
Apesar de todos esses entendimentos e explicações, somente em 1964 a Fundação
Rockefeller informou que, pelas normas vigentes da organização, não seria
possível novo projeto de ajuda.
O fato não impediu, porém, que a tiragem fosse aumentada de duas mil e
quinhentas para três mil cópias em 1963, mas o ano de fartura havia passado. "A
Revista continua com deficiência de verba, o que tem criado muitas
dificuldades, das quais a principal foi o atraso da publicação", queixou-se a
presidente Clarice Ferrarini, no ano da celebração do 30º aniversário, maio de
1962. Esse problema agravou-se de maneira considerável nos anos seguintes.
Circe de Mello Ribeiro (1964-1968) disse, em 1966, que a revista estava
atravessando "talvez uma das suas maiores crises". Com o afastamento da gerente
llnete Ayres, suas tarefas passaram a ser executadas pela 2ª tesoureira, Ir.
Maria Teresa Notarnicola, nesse ano a titulo de colaboração, mas no ano
seguinte já como ocupante do cargo. O controle financeiro ficou sob a
responsabilidade da Comissão Especial de Finanças da qual era, também,
coordenadora.
A crise foi tão séria que, por deliberação da assembléia geral realizada em
1966, atendendo sugestão de Delzuite S. Cordeiro, foi indicada comissão
especial constituída de delegadas de cada região do país, sob a presidência de
Clélia Pinto, para estudar o assuntoRevista.Não foi encontrado relatório do
estudo realizado nessa época.
Nos anos de 1967 e 1969 foram também aprovadas pela diretoria medidas de
contenção de despesas, propostas pela gerente, que incluíram: a diminuição do
número de páginas de cada edição, a diminuição da tiragem para 2.500 exemplares
e a não publicação de tabelas, que encarecia ao dobro o preço da página. O
custo da revista nesse período era de sete cruzeiros por unidade.
A Assembléia de Delegadas de 1968 decidiu que deveriam ser publicados apenas
dois números por ano em 1969 e 1970; o primeiro, correspondente aos números 1,
2 e 3, com assuntos gerais, e o segundo, correspondente aos números 4, 5 e 6.
dedicado aos trabalhos do congresso e publicação dos relatórios.
Com o término da construção da sede em Brasília, a situação financeira da ABEn
começou a equilibrar-se e, conseqüentemente, a da revista também; mas os
atrasos só puderam ser solucionados a partir de 1970, quando a coordenadora da
Comissão de Finanças, em seu relatório, pôde exclamar: "Graças a Deus
conseguimos colocar nossa Revista em dia!".
SUCURSAIS
1958 Para facilitar a remessa e distribuição, despertar o interesse das seções
estaduais e garantir as assinaturas foi estabelecido, em 1958, o sistema de
sucursais da RBEn; por esse sistema, as seções passaram a ser as responsáveis
pela distribuição, nos estados.
A primeira sucursal foi organizada em princípios de 1958, em S. Paulo, cuja
Seção responsabilizou-se por duzentos números de cada edição, obtendo da
direção da revista um desconto de vinte por cento sobre o total do pagamento. A
presidente da ABEn, Maria Rosa S. Pinheiro, em reunião da diretoria realizada
em maio, sugeriu que as seções onde houvesse maior número de assinantes também
se interessassem pela organização de outras sucursais, o que se deu logo em
seguida nas Seções da Bahia e do Rio Grande do Sul. O resultado parece ter sido
satisfatório: facilitou o controle de renovação de assinaturas, de mudanças de
endereços e diminuiu o problema de extravio. Como conseqüência, a Assembléia
Geral de julho de 1959 fez recomendação para que as seções que ainda não tinham
sucursais procurassem criá-las e as que já haviam organizado, que se
encarregassem de não menos de cem exemplares.
1959 Dessa data em diante houve progresso nesse sentido; em 1959 foram criadas
as de Minas Gerais e de Sergipe (extinta em fins de 1960) e em 1960 apareceram
mais as da Guanabara e de Goiás. No ano seguinte, 1961, o número de sucursais
subiu a doze e em 1962 a treze, responsáveis pela distribuição de 2118
exemplares. Somado a esse número a venda avulsa de 229 revistas e nove para o
exterior, deu um total 2356 revistas distribuídas. O número de sucursais
aumentou para vinte em 1966, responsáveis por 3050 exemplares. A tiragem,
porém, diminuiu nos anos seguintes; em 1970 foi de apenas 2.600 exemplares.
REGISTRO
1934 Em 11 de abril de 1934, Anais de Enfermagem, ano primeiro, número um, de
maio de mil e novecentos e trinta e dois, foi registrada por solicitação de
"sua proprietária a Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras"
talão n. 4, pág. 33 - Biblioteca Nacional, Direitos Autorais - a fls. 231 e 231
verso do livro n. quatro, sob o n. 5.514, como seu Órgão Oficial.
1940 Seis anos mais tarde, 1940, na vigência doEstado Novo, Edméa Cabral Velho
lembrou que "uma comissão deveria ir ao Departamento de Imprensa e Propaganda
(DIP) a fim de conseguir o registro dos "Anais de Enfermagem como revista ou
jornal", para que pudessem ser publicados anúncios.
A 25 de setembro de 1940, recebeu a diretora de Anais de Enfermagem, Alayde
Borges Carneiro, o seguinte ofício, n. DI-2.341, do Diretor da Divisão de
Imprensa: "Comunico-vos que a Divisão de Imprensa do DIP tendo em apreço a
recomendação do Conselho Nacional de Imprensa e usando de suas atribuições
legais, resolveu negar registro a esse órgão de publicidade, como revista,
concedendo-o, entretanto, sob a classificação de boletim.
Assim, não podeis fazer a exploração comercial de anúncios ou publicidade
remunerada".
1950 Em março de 1950, Edith M. Fraenkel, presidente da ABED, e Glete de
Alcântara, diretora responsável de Anais de Enfermagem, fizeram nova
solicitação. Nesse mesmo mês e ano "foi registrada no Cartório do 1º Ofício de
Registro de Títulos e Documentos, sob o número de ordem 980, do Livro B, n. 2,
de Registro de Oficinas Impressoras, Jornais e Outros Periódicos a publicação
denominada "Anais de Enfermagem", revista trimestral, com sede à avenida Ademar
de Barros, 240, nesta Capital (S. Paulo), de propriedade da Associação
Brasileira de Enfermeiras Diplomadas, com sede na Capital Federal...". Assim, o
problema do registro de Anais de Enfermagem como revista, iniciado em 1940, foi
solucionado dez anos depois, e Glete de Alcântara pôde comunicar às associadas
que havia conseguido registrar Anais de Enfermagem como revista o que
significava "direito de publicidade e direito de usar a carimboPorte Pago".
Em 1955, foi necessário novo pedido de registro em obediência à Lei de Imprensa
n. 2083, de 12 de novembro de 1953, uma vez que o seu título havia mudado
paraRevista Brasileira de Enfermagem. Esse novo registro deveria ser feito na
Divisão de Marcas do Departamento Nacional de Propriedade Industrial, cujo
Código estabelecia, em um dos seus artigos, que quando houvesse qualquer
modificação "nos elementos característicos da marca, nome comercial, (...)
insígnia ou expressão ou sinal de propaganda" deveria ser pleiteado novo
registro; determinava, ainda, a validade de dez anos para o registro da marca,
prorrogáveis "indefinidamente por períodos idênticos e sucessivos".
A presidente Maria Rosa S. Pinheiro informou, no relatório referente ao período
de agosto de 1955 a outubro de 1956: "não nos foi possível, até esta data,
completar o registro da Revista, o que nos permitiria importar papel para sua
impressão". Maria Geralda Franco, gerente, comunicou à diretoria, em novembro
desse ano, que "a Revista Brasileira de Enfermagem já é registrada em dois
órgãos do Ministério do Trabalho".
As informações sobre o registro da marca são imprecisas e, por vezes,
contraditórias. Em artigo publicado no número dois da revista de junho de 1955,
a página 151, e não contestado pela direção, Rosina Anchieta disse que o
registro havia sido renovado entre 1954 e 1955, em virtude de ter mudado o
nome, e que o fato facultava a importação de papel.
Dois anos mais tarde, janeiro de 1958, a diretoria foi informada de que "estava
tudo pronto para registrar a Revista como jornal; em maio, que "a Revista já
está devidamente registrada na Alfândega, já tendo sido adquirido, ao câmbio
oficial, cinco mil quilos de papel linha d'água de segunda e sem imposto sobre
a importação"; a 15 desse mesmo mês, ainda por Maria Geralda Franco, a
diretoria foi informada "sobre a necessidade de sua presidente fazer
pessoalmente, no Ministério do Trabalho, o registro da Revista Brasileira de
Enfermagem"; e em junho "que a RBEn não pode ser registrada como órgão da ABEn.
Só poderá ser registrada como Fundação Independente". Dai a apresentação de um
plano para sua transformação em Sociedade Anônima, em julho de 1960.
Marina de Andrade Rezende, na edição de abril de 1963, informou, à página 86:
"Ao tratar de conseguir papel para impressão do número de dezembro de
1962, soube que na Alfândega a Revista tem o Registro n. 375.
A 4 de fevereiro de 1963, com um formulário da Seção de Comunicações
do Departamento Nacional de Propriedade Industrial, Termo n. 378.740,
de 19 de maio de 1958, até então arquivado na ABEn, retirei no
Ministério da Indústria e Comércio o Certificado de Registro de Marca
n. 273.047, cujo pagamento de taxa havia sido efetuado a 26 de junho
de 1962".
Tudo faz crer que o registro já havia sido feito anteriormente, pois o mesmo
Código de Propriedade Industrial estabelecia multa para o caso de prorrogação
requerida após "a vigência do último semestre do decênio de proteção legal".
Segundo Haydée G. Dourado, "antes de 1955 foi feito o registro segundo a Lei de
Imprensa e durante a presidência de Maria Rosa s. Pinheiro, o registro da
Marca, ou de Propriedade Industrial".
SEDE DA REVISTA
A Revista Brasileira de Enfermagem teve um escritório próprio somente a partir
de 1955, quando foi fixada na sala 1304, antiga sede da ABEn no Rio de Janeiro,
à Avenida Franklin Roosevelt n. 39. Até essa data, sempre na dependência das
sedes provisórias da ABEn, a redação da revista havia passado pela Escola Ana
Neri, desde sua fundação até 1946; dessa data a julho de 1952, na Escola de
Enfermagem da Universidade de São Paulo. De 1952 a setembro de 1954, voltando
para o Rio de Janeiro, partilhou com a ABEn uma sala à Avenida Rio Branco n.
251, no 13º andar, e de 1954 a março de 1955, nesse mesmo endereço mas no 14º
andar, onde se localizavam os escritórios do SESP.
A REVISTA E O ESTATUTO
A inclusão da RBEn no estatuto da Associação ilustra as várias etapas de seu
desenvolvimento estrutural.
Apareceu pela primeira vez nas reformas efetuadas em 1948, quando foi criada a
Comissão de Redação, com a, finalidade de publicar osAnais de Enfermagem;
constou do artigo 49 que dizia: "A revista Anais de Enfermagem é órgão oficial
da Associação Brasileira de Enfermeiras Diplomadas".
Dois anos antes, 1946, quando foi criado o Conselho Deliberativo, deste passou
a fazer parte a redatora dosAnais da Enfermagem, até 1955. As alterações
efetuadas no estatuto em julho de 1955 incluíram a revista como o quinto órgão
da ABEn, depois da Assembléia Geral, Conselho Deliberativo, Diretoria e
Conselho Fiscal e eliminaram a Comissão de Redação.
Esse estatuto foi alterado em outubro de 1957, quando a revista passou a
constituir um capítulo à parte, formado de um artigo e um parágrafo. Com a
extinção do Conselho Deliberativo passou a figurar como o quarto órgão da ABEn.
Dessa data a outubro de 1965, sua posição não sofreu alterações. O regimento da
ABEn, impresso em 1964, dedicou integralmente o capítulo V à constituição da
Revista, competência da sua Diretoria e atribuições de seus membros. A
diretoria, subordinada à diretoria da ABEn, de mandato de quatro anos, compõe-
se de diretor responsável - a presidente da ABEn - diretor redator chefe,
editor e gerente.
A partir desse ano deixou de constituir um capítulo do estatuto, voltando à
condição de comissão permanente da ABEn; sua coordenadora é membro da
diretoria, posição reclamada por Haydée G. Dourado em 1953.
CONCURSO "MARINA ANDRADE REZENDE"
1963 Quando editor da Revista Brasileira de Enfermagem, Marina de Andrade
Rezende idealizou o denominado "Concurso Semana da Enfermagem", que tinha por
finalidade incentivar a contribuição anual dos estudantes do curso de graduação
e, ao mesmo tempo, aproximá-los do órgão oficial de comunicação da ABEn. Esse
concurso, que seria realizado durante a Semana da Enfermagem, passou a ser mais
uma das atividades da RBEn. Os prêmios seriam entregues durante os congressos
anuais.
Marina de Andrade Rezende iniciou o novo programa enviando circulares às
diretoras de todas as escolas de Enfermagem e presidentes de Centro e
Diretórios Acadêmicos, propondo um tema de importância para a profissão que
deveria ser desenvolvido pelos estudantes.
Para o primeiro concurso, a presidente Clarice Ferrarini entrou em
entendimentos com a Johnson e Johnson a fim de conseguir o prêmio para o melhor
trabalho apresentado. Uma vez aberto, contou com doze trabalhos, recebidos de
oito escolas, que foram avaliados pela Comissão Julgadora durante as
comemorações da Semana da Enfermagem de 1963. O prêmio coube a Lídia Delgado,
estudante da Escola de Enfermagem da Universidade do Maranhão, na época
denominada Escola "São Francisco de Assis", e foi entregue por ocasião do XV
Congresso, realizado em Fortaleza, CE.
O concurso foi repetido, anualmente, até 1969. Foi interrompido em 1970, voltou
em 1971, e deixou novamente de ser aberto em 1972.
Em 1966, foi decidido pela diretoria que o prêmio passaria a denominar-se
"Prêmio Marina de Andrade Rezende". Essa decisão foi homologada pela assembléia
geral em julho de 1970.
1964 Foram os seguintes os prêmios e respectivos patrocinadores: em 1964, o
primeiro prêmio coube, também, à estudante da 2ª série da Escola "São Francisco
de Assis", da Universidade do Maranhão. Nesse ano foram distribuídos três
prêmios, ofertados pelas Seções de Minas Gerais, S. Paulo e Guanabara.
1965 Em 1965, o financiamento foi conseguido por doações de enfermeiras da
OPAS/OMS e do governador do Estado de Minas Gerais. O primeiro recebeu o nome
do doador, "Prêmio Governador Magalhães Pinto" e coube a uma estudante da 2ª
série da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto; o segundo e o terceiro foram
denominados prêmio "Marina de Andrade Rezende".
1966 O concurso em 1966 foi possível graças à Marjorie Spaulding, enfermeira
norte-americana que, querendo "fazer alguma coisa em memória de Marina", doou
cinqüenta dólares ao "Fundo Marina de Andrade Rezende". Parte dessa soma foi
empregada na distribuição dos prêmios; o primeiro coube à um grupo de
estudantes da 3ª série da Escola Wenceslau Brás, Itajubá, MG.
1967-1968 Nos anos de 1967 e 1968 conseguiram, também, o primeiro lugar
estudantes dessa mesma escola; em 1967 foi patrocinado pelo laboratório "The
Sidney Ross Cº - Departamento Winthrop".
Em 1969 coube à aluna da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia Madre Ana
Moeller e o último em 1971, a uma estudante da Escola de Ribeirão Preto, pela
segunda vez.
FUNDO DE IMPRESSÃO
1961 A 23 de outubro de 1961, a diretoria deliberou que deveria ser
providenciada a tradução do livreto Princípios Básicos sobre cuidados de
enfermagem, de Virgínia Henderson, publicação do Conselho Internacional de
Enfermeiras, dando assim início a mais uma atividade de publicação da ABEn, a
terceira.
Para que tal atividade fosse possível, dada a situação de seus recursos
financeiros, decidiu, também, instituir o "Fundo de Impressão" (FI), que
deveria ser iniciado com a doação feita por Maria Rosa S. Pinheiro de seis
lotes de terreno localizados no Parque Jardim Teresópolis, município de Betim,
em Minas Gerais. A comunicação da doação havia sido feita nessa reunião. O
produto da venda desse imóvel deveria ser aplicado em outras publicações, que
não fossem a Revista Brasileira de Enfermagem e o Boletim Informativo, de
acordo com sugestão da presidente.
Por motivos vários, dentre os quais a desapropriação do terreno para passagem
da Rodovia Fernão Dias, a transação não pôde ser feita, na ocasião. Houve então
outra decisão da diretoria, que foi a de utilizar, para aquele fim, parte do
saldo do II Congresso Latino-Americano de Enfermagem, CICIAMS, 1961. Com a
quantia de quatrocentos mil cruzeiros antigos teve início o "Fundo de
Impressão" da ABEn, cuja primeira publicação foi a tradução autorizada daquele
livreto, feita em 1962 por Anyta Alvarenga, e orçada em duzentos e dez mil
cruzeiros antigos. "Com pouco e, pouco a pouco, a ABEn põe à disposição das
enfermeiras duas novas possibilidades: a de obter livros sobre enfermagem, em
português e a de publicar livros que venham a escrever", disse Marina de
Andrade Rezende na apresentação do folheto.
Em julho desse ano, Marina A. Rezende, editor da RBEn e responsável pelo BI,
foi também indicada para presidir comissão especial para elaborar anteprojeto
do regimento e a comissão que se encarregaria da administração do Fundo, cargos
que ocupou até sua morte em 1965.
1963 No ano seguinte, 1963, o controle do "Fundo de Impressão" passou a ser
feito pela diretoria da ABEn, "até que a RBEn consiga se autonomizar".
1965 Em 1965 foi impresso o livro "Equipe de Enfermagem - organização e
funcionamento" de Eleanor C. Lambertsem, traduzido por Clarice Ferrarini e
Hortência Aguiar. A diretoria decidiu que toda renda proveniente da venda de
livros fosse destinada a publicações, agora sob o rótulo "Fundo de Impressão
Marina de Andrade Rezende". Com a movimentação dessa verba esperava, também,
contar com mais uma fonte de recursos para levantar as finanças da ABEn. No
mesmo ano, a presidente Circe de Mello Ribeiro conseguiu que as autoras do
"Manual do Auxiliar de Enfermagem", docentes da Escola de Enfermagem da
Universidade de S. Paulo, concordassem em que o mesmo fosse publicado pela
Associação. O contrato foi firmado em 1966; as autoras continuavam gozando dos
direitos autorais, com 10% da venda do total de exemplares, ao preço de cinco
mil cruzeiros antigos por unidade.
As impressões desse Manual foram renovadas em anos posteriores encontrando-se,
atualmente, em sua quinta edição.
1966 Em 1966 foi encerrada a conta bancária especial do Fundo de Impressão cuja
importância foi depositada na conta geral da ABEn, passando o Fundo para
responsabilidade da Comissão Especial de Finanças, sob a presidência de Irmã
Maria Tereza Notarnicola, 2ª tesoureira da ABEn.
Foram ainda editados pela ABEn: "A Enfermagem Moderna como categoria
profissional: obstáculos a sua expansão na sociedade brasileira", de Glete de
Alcântara; "I Seminário Regional de ensino Médio de Enfermagem, 1966";
"Princípios de Física e Química aplicados à Enfermagem", de Leda Ulson Matos,
em 1970; esta publicação foi possível graças a doação feita por Maria Rosa S.
Pinheiro.
Antes desses havia sido editada, também, a tradução do livro de Esther Lucille
Brown, "Enfermagem para o Futuro", feita por Maria Rosa S. Pinheiro, Glete de
Alcântara e Maria de Lourdes Verderese.
Ella Hasenjaeger, ao apresentar relatório à Assembléia Geral do III Congresso
Nacional de Enfermagem, 1949, como secretária executiva da ABED, fez dois
agradecimentos; o primeiro à Tenente Amélia Lyszyk, pelo esforço que fez ao
tentar traduzi-lo; e o segundo às tradutoras.
Dentre as publicações do SESP, em colaboração com a ABEn, destacam-se os
chamados livros de leis, editados por aquele Serviço; o primeiro, sob a
responsabilidade de Marina de Andrade Rezende com o título "Enfermagem: leis e
decretos"; e o segundo, com o título "Legislação e assuntos correlatos", sob a
responsabilidade de Anyta Alvarenga, editado em 1974.
NOTAS
1. Informações prestadas por Edméa Cabral Velho, transmitidas por Edith M.
Fraenkel.
2. Informações de Izaura Barbosa Lima e Heloísa Maria Carvalho Veloso,
prestadas em entrevista gravada a 13 de junho de 1972.
3. Rachel HaddocK Lobo permaneceu nos Estados Unidos, com bolsa de estudo, de
maio de 1927 a dezembro de 1929, e Célia Peixoto Alves, de junho de 1928 a
fevereiro de 1930. Marina Bandeira de Oliveira não tinha compromisso com datas
uma vez que havia viajado às próprias expensas.
4. Anais de Enfermagem, abr. 1934, pp. 11-12.
5. Anais de Enfermagem, maio de 1932, p. 1.
6. Rev. Bras. de Enf. dez. 1962, pp. 496-515.
7. Livro de "Atas das reuniões dos membros que constituíram a Comissão do
Jornal da Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras, denominado
"Anais de Enfermagem". Arquivos da ABEn.
8. Livro de Atas n. 2.
9. O Livro de Atas n. 2 assinala a realização de apenas oito reuniões da
Associação nos anos de 1940 e 1942: uma em 1940, quatro em 1941 e três em 1942.
10. O volume II, que deveria incluir apenas os números de 1933, foi repetido
nas publicações de 1934; por esse motivo, em 1941, saiu o volume IX e não o X
como deveria.
11. Anais de Enfermagem abr. 1934, p. 3.
12. Editorial de Anais de Enfermagem, jan./mar., 1946.
13. Rev. Bras, de Enf., dez. 1962, p. 516.
14. Anais de Enfermagem jan. 1951, p. 33.
15. Anais de Enfermagem, jan. 1952, pp. 135-138.
16. Rev. Bras, de Enf., mar. 1955, p. 3.
17. Informou Marina de Andrade Rezende, em artigo publicado na RBEn de dezembro
de 1962, que provavelmente trata-se de Ella Hasenjaeger, uma vez que nessa
época não havia no SESP enfermeira norte-americana com esse nome. Há, porém,
dois fatos que devem ser historiados: 1) Bertie Meekins Rice fez parte do grupo
da Missão Rockefellerenviada ao Brasil, e aqui esteve de 27 de abril de 1922 a
agosto de 1927; 2) na reunião da Comissão do Jornal da ANEDB, realizada a 17 de
abril de 1933, quando eram discutidos os trabalhos que deveriam ser publicados
na edição seguinte da revista, ficou combinado que Marina Bandeira de Oliveira
escreveria um artigo "sobre Miss Rice e Maria Eugenia Celso". Dado o longo
intervalo de tempo decorrido -1933-1945 - parece mais provável ter sido a
doação feita mesmo por Ella Hasenjaeger.
18. Livro de Atas das reuniões da Diretoria, n. 3.
1 Texto original integrante da 3ª parte da obra: Realizações socioculturais,
capítulo III Publicações, 1976.